O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Eduardo Amorim, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, nossos telespectadores da TV Senado e também da Rádio Senado, os visitantes que estão aqui conosco, eu subo à tribuna esta tarde, Sr. Presidente, para falar um pouco sobre uma festa tradicional do meu Estado, uma festa tradicional da cidade de Cuiabá, capital do meu Estado, que já completa 118 anos, em homenagem ao padroeiro da cidade de Cuiabá, que é a Festa de São Benedito.

            É uma festa tradicional, religiosa, que encerrou a sua agenda de comemorações no último domingo e recebeu mais de 100 mil participantes desde quando começou, na quinta-feira. Os visitantes encontram nessa festa apresentações culturais, shows e uma vasta feira gastronômica, valorizando a culinária cuiabana, porém a minha referência fica por conta do significado dessa festa. A devoção é tão grande que se tornou um símbolo da religiosidade e crença dos moradores da capital mato-grossense.

            O Santo Negro, como é conhecido, ou Santo dos pobres. Isso se dá porque foram os escravos que primeiro homenagearam o Santo com festas e oferendas, o que aconteceu pela primeira vez no ano de 1721. Portanto, há 294 anos acontece esse evento. Desde então São Benedito passou a ser símbolo de luta e de fé para os negros há mais de 290 anos e é reverenciado em Cuiabá. Porém, oficialmente, a Festa de São Benedito surgiu em 1897, a partir da criação do Estatuto da Irmandade, aprovado pelo Bispo diocesano Dom Carlos Luiz D'Amour. Na época, somente as famílias mais abastadas participavam desse grupo, pois eram elas que mantinham a igreja e também a festa.

            Hoje, a mobilização da festa conta com a colaboração de todos e ultrapassou o limite das paredes da igreja. Digo isso, senhoras e senhores, porque 30 dias antes da grande festa, da grande comemoração e dos rituais, os fiéis de São Benedito já começam a percorrer as casas junto com os festeiros, os casarões antigos de Cuiabá, os órgãos públicos, levando a benção da bandeira, convidando a todos para a festa e arrecadando doações para o grande evento religioso que se programa.

            No ano passado, o coordenador da festa, Cláudio José de Assis, sugeriu inclusive mudanças no regimento do evento. Onde antes aparecia no texto o compromisso de - aspas - "obrigação principal de promover o esplendor do culto ao glorioso São Benedito e a prosperidade da irmandade" - fecham-se aspas -, agora aparece - abrem-se aspas - "proporcionar solidariedade e compromisso com as atividades paroquiais, pautando-se pela opção preferencial aos pobres". Fecham-se aspas.

            Assim sendo, os recursos arrecadados na festa e as ofertas feitas durante o ano ajudam a igreja a construir creches, salões comunitários, capelas e a manter uma escola de primeiro grau no Bairro Planalto, com 280 crianças, uma escola para crianças deficientes, com 40 matriculadas e duas creches, cada uma com 75 crianças entre dois e sete anos.

            Isso mostra a valoração da fé como agente transformador do ser humano, refletindo-se positivamente no desenvolvimento social.

            O ideal dessa festa une todos num mesmo sentimento: o de auxiliar os que necessitam, melhorando a sua expectativa de vida e revivendo a sua fé. É nisso que cada um que participa da organização dessa importante festa acredita. E mais, isso faz com que outras pessoas também passem a acreditar e se sintam parte dessa transformação.

            Centenas de pessoas se dividem nas tarefas de preparação. As tarefas vão desde a escolha e a posse dos festeiros, que terão 365 dias subsequentes para peregrinar pela festa, arrecadando fundos para sua realização, até os dias finais do evento, que concentram em média 20 mil pessoas todos os dias.

            O estatuto da festa prevê a eleição de um juiz de vara, de um juizinho, de uma juizinha de ramalhete, de um capitão de mastro, do alferes de bandeira, do rei e da rainha.

            Há, ainda, as comissões de apoio, como as de segurança, comunicação, reza e esmolas.

            Enfim, todos que trabalham e se dedicam pela manutenção do ritual respeitado há anos, em reverência ao santo que se tornou o padroeiro de Cuiabá e sua nobre causa: os menos favorecidos.

            Na Procissão da Bandeira, por exemplo, os festeiros caminham pela cidade durante o ano inteiro, acompanhados de uma banda, que toca músicas típicas, como o rasqueado cuiabano, hinos de São Benedito e conjuntos regionais.

            Já na semana da festa, quando o mastro da bandeira com rosto de São Benedito é erguido, isso significa que a festa começou. Os visitantes participam de missa festiva às 5 horas da manhã, todos os dias, degustam o tradicional - como fala o "cuiabanês" - “tchá cô bolo”, um jantar tradicional, que inclui o maria isabel, farofa de banana, feijão tropeiro, entre outros. E o mais famoso e mais gostoso, sem dúvida nenhuma, para mim é o maria isabel, Presidente, que é um arroz com carne, que é uma carne maturada, defumada, como se fazia antigamente no Pantanal Mato-Grossense. É realmente uma delícia. E também assistem a apresentações culturais que marcam a história de Mato Grosso, como o siriri e também o cururu, herança dos portugueses.

            Então, senhoras e senhores, a festa mais longa do Estado, em todos os seus detalhes, tem por objetivo celebrar a fé católica, promover a festa, valorizando a cultura cuiabana e evangelizando comunidades. Mas, acima de tudo, destaco o fomento às iniciativas sociais, através de projetos que possam mudar a realidade de crianças carentes, suas comunidades, e envolver a todos na construção direta da história de Cuiabá, a história de Mato Grosso.

(Soa a campainha.)

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Parabéns aos festeiros de São Benedito por tantos anos em que cultivam essa tradição e essa fé.

            Portanto, a partir de domingo, Sr. Presidente, quando terminou a festa oficialmente, um novo rei, uma nova rainha, um novo festeiro já foi eleito, e a partir de segunda-feira, ele começa a trabalhar, para que daqui a um ano ele possa realizar essa festa.

            E o mais impressionante, Sr. Presidente, é o envolvimento das famílias cuiabanas, as famílias mais tradicionais, que fazem dessa festa um encontro, um encontro de família, um encontro daquelas pessoas mais antigas da cidade e que vão passando, ano após ano, geração após geração, esse costume do encontro, do “tchá cô bolo”, do maria isabel, e da conversa franca na rua e na praça.

            Fui, sábado à noite, participar dessa festa junto com minha esposa, Terezinha, e minha filha, Belisa, e tive a oportunidade de encontrar centenas de pessoas que já não as via há alguns anos, mas que são amigos fraternos e que se dedicam no dia a dia e que fazem as comidas. As famílias fazem comidas e vendem nessa grande festa e todo o dinheiro é revertido para essa festa.

            Portanto, uma belíssima festa centenária. Eu espero que ela possa continuar e, com toda certeza, continua com o apoio não só da Igreja, mas da política, do governo do Estado e daqueles que têm a responsabilidade de levar adiante a cultura e a preservação da cultura e da fé do povo brasileiro, mato-grossense e cuiabano.

            Muito obrigado, Presidente.