Discurso durante a 114ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cobrança de um entendimento entre os parlamentares a fim de buscar possíveis saídas para a crise do País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Cobrança de um entendimento entre os parlamentares a fim de buscar possíveis saídas para a crise do País.
Aparteantes
Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 08/07/2015 - Página 186
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, NECESSIDADE, ENTENDIMENTO, PARLAMENTO, OBJETIVO, RESOLUÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paim, fui chamado pelo senhor para falar, já que eu estava inscrito. Mas eu nem estava, no momento, querendo fazer a fala, porque estou inscrito no final, já que eu era o primeiro, mas cedi meu lugar ao Senador Flexa Ribeiro.

            De qualquer maneira, este é um momento, Senador Tasso, em que a gente não pode deixar de falar quando alguém pede para a gente falar, Senador Paim. Nem temos o direito de ficar calados. O que está acontecendo neste País hoje exigiria é que estivéssemos aqui 24 horas falando todos nós. Por 24 horas, teríamos de todos aqui falar sobre os problemas que o Brasil enfrenta.

            Eu até fico satisfeito de ver todos os que aqui assistem à sessão na defesa do interesse legal e justo que eles têm.

            Mas há uma coisa maior hoje do que o interesse de cada um de nós e de cada categoria: como é que este País vai continuar funcionando, com suas instituições e com sua economia organizada, apesar do desajuste total da economia, do custo que traz o ajuste e do risco às instituições, se continuar por mais três anos e meio um Governo desacreditado, que cometeu erros muito grandes, que não reconhece os erros, que continua com arrogância e com um comportamento que é patético? Falei isto há pouco, pensando muito nisto: é um Governo que está patético! Como é que a gente vai continuar assim por três anos? Ou como é que a gente não vai continuar assim, o que também traz problemas muito sérios?

            Ou seja, estamos numa encruzilhada, e qualquer dos caminhos que tomarmos é muito perigoso, é muito arriscado para a ideia de que a economia deve avançar, de que a Justiça deve prevalecer e de que as leis devem continuar. As três coisas estão complicadas.

            A economia está ameaçada. Basta ter um pouquinho de juízo, como eu e muitos outros aqui, como o Senador Tasso, falamos tantas vezes no ano passado! Aconteceu tudo que a gente previa, lamentavelmente. Mas era obvio que ia acontecer isso. Era óbvio que viria a inflação com aquelas desonerações e com aqueles gastos. Era óbvio que haveria, mais dia, menos dia, uma recessão por conta do ajuste necessário para corrigir o desajuste criado. O ajuste é necessário, mas o desajuste foi criado.

            Mesmo assim, a arrogância não deixou ouvir aqueles que não eram da turma. E a arrogância continua. A sensação é a de que uma patota continua governando sem ouvir aqueles que têm voz discordante. Esses é que devem ser escutados! São os que têm vozes discordantes que podem trazer coisa nova.

            Eu insisto que, se não criarmos uma forma de nos entendermos, nem que seja aqui, nem que seja no Congresso - o ideal seria que isso fosse feito pelo Congresso e pelo Executivo também -, se não encontrarmos isso, vamos descobrir, de repente, que despertamos no meio de um caos, que ainda não chegou, mas que chegará, como chegou a tantos outros países. Isso é visível. Parece que cada um de nós não quer que aconteça um desastre, mas faz tudo exatamente como deve fazer para que o desastre aconteça, como se fôssemos apenas atores de um drama teatral, em que o ator faz o que está ali decidido para fazer, mesmo sabendo que o final é uma tragédia.

            Está na hora de a gente se sentar.

            Quando eu vejo isto aqui, vazio desse jeito, num momento de tanta, de tanta, digamos, confusão, de tanto problema, aí me assusto ainda mais. Está na hora de a gente ficar aqui, discutir, brigar - Parlamento é para se brigar, aqui dentro, dentro da lei - e encontrar um caminho. Eu não estou vendo a procura clara de um caminho.

            É claro que seria tudo mais fácil se a Presidente tomasse a iniciativa de procurar um entendimento nacional. Para isso, eu vou insistir: ela tem que reconhecer os erros e tem que pedir desculpas pelo comportamento no processo eleitoral. Tem que ser assim para ganhar a credibilidade necessária, para as pessoas se sentarem à mesa e começarem a negociar, com o respeito dos 3,5 anos que ela ainda tem, porque teve mais votos do que o candidato que se opunha a ela. Tem que ser reconhecido isso. Mas ela tem que construir a credibilidade que perdeu e que perde cada vez que fala. Isso é que está sendo trágico! Essa entrevista de hoje da Folha é um desastre para a instituição presidencial, um desastre completo. As falas nos Estados Unidos - e houve bons acordos, foi uma boa viagem - foram negativas para o processo. A Presidente deveria tomar essa iniciativa.

            Eu soube que, ontem, reuniu as bases de apoio. Deveria chamar para conversar quem não é da base de apoio também e que se dispusesse a ir. Alguns vão dizer: "Eu não vou, porque não confio. Não vou, porque não quero." Ou: "Não vou, porque o meu projeto é outro." Que diga de público. Tem que ouvir as discordâncias.

            É hora de se ouvir as discordâncias neste País - eles, lá, ouvindo as discordâncias que eu tenho, e eu ouvindo também as discordâncias que eles têm; eles dizendo por que tem que ser desse jeito - e de colocarmos o Brasil, o futuro, as próximas semanas à frente dos interesses pessoais, corporativos e partidários de cada um de nós, até porque ainda faltam alguns meses para a eleição, mas não faltam muitas semanas para evitarmos um caos legal, um caos político, para onde o Brasil parece caminhar.

            Antes de terminar, passo a palavra para o Senador Tasso Jereissati, que pediu um aparte.

            O Sr. Tasso Jereissati (Bloco Oposição/PSDB - CE) - Senador Paim, Presidente desta sessão, Senador Cristovam, é fundamental, muito bom e extremamente necessário ouvirmos, neste momento, palavras equilibradas e sensatas como as de V. Exª. O País, acredito, de acordo com a vida política, passa pela maior crise que eu já presenciei. É política, é econômica, é de credibilidade, é social...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É moral.

            O Sr. Tasso Jereissati (Bloco Oposição/PSDB - CE) - É moral, principalmente moral, e nós não temos perspectiva. Nós olhamos para frente e não vemos como sair dessa crise no curto prazo. É preciso encontrar uma saída, como V. Exª explicitou tão bem. É preciso encontrar uma saída. Acho que, hoje, mais do que nunca, temos que envidar todos os esforços aqui, nesta Casa, porque a saída está no Parlamento, pois nós não temos governo. Esse é um fato. Até penso em dizer isto com muita ênfase, mas nós não temos governo. V. Exª tem experiência vasta na política, no Parlamento e sabe que essa ausência de governo, aqui, dentro desta Casa, é absolutamente inédita. Não existe uma presença que faça agenda, que dê o tom, que dê o rumo. Não há grupos que discutem, como V. Exª tão bem colocou. Sou contra, sou a favor desse rumo, e as coisas vão passando ou não vão passando, mas indo em direção a determinado rumo. Como disse o Presidente Fernando Henrique, nós estamos sem rumo, absolutamente sem rumo, numa imensa crise econômica e sem rumo. E o que é pior - novamente V. Exª disse muito bem -: cada vez que a Presidente fala, aprofunda essa crise. Aquilo que é fundamental para o Executivo - V. Exª já foi Governador, assim como eu - é ter credibilidade. Não precisa ser um gênio da Administração Pública, não precisa ser um administrador que estudou Administração, os problemas econômicos e sociais. Precisa ter credibilidade, aquela percepção da população. Mesmo que as opiniões sejam opostas, é preciso que haja uma liderança que conduza, que tenha força, que tenha boa-fé e que esteja rodeada daquilo que é há de melhor no País. Isso foi perdido. Eu só vejo uma saída, que é nós, aqui, nesta Casa, darmos esse rumo e damos ao País a sensação de que tem alguém cuidando dele. Aqui, vou dizer uma coisa que é até um pouco temerária da minha parte. Em relação às manifestações de hoje, às manifestações que houve aqui, que são legítimas, que são justas, não podemos ficar apenas ao julgo e às pressões ocasionais corporativas, momentâneas de grupos que, por mais legítimos que sejam, deixam cada vez a nau mais à deriva. Precisamos raciocinar sobre isso. Convoco políticos com a experiência e com a credibilidade que V. Exª tem nesta Casa, no Congresso e na Câmara dos Deputados, assim como o Senador Paim, para que possamos sentar e começar a discutir. Quase todos aqui são homens de equilíbrio. Nem todos, mas quase todos são, e os homens de equilíbrio devem procurar uma saída. Mesmo que firam alguns interesses do momento, que apontem para o País um rumo e deem à população brasileira um mínimo de segurança, no sentido de que alguém está tomando conta da casa. Parabéns pelo seu pronunciamento!

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Tasso, quero dizer que comparto totalmente, aceito sua convocação.

            Senador Tasso, o senhor usou uma palavra que eu queria tomar e propor algo que pode ser que muitos considerem como estapafúrdio: a ideia de credibilidade. O que a gente faz quando perde credibilidade diante de um banco para o qual a gente pediu dinheiro emprestado? A gente vai lá e renegocia o crédito. Acho que a Presidente deveria pedir uma moratória. Ela tem mais três anos e meio. A saída dela nesse momento vai ser complicada. Por que ela não nos pede uma moratória para recuperar essa credibilidade e nos pergunta o que deve ser feito para que volte a ter credibilidade ou, pelo menos, tente ter credibilidade? Eu gostaria de oferecer, na minha posição, nas minhas reflexões, o que eu acho que a Presidente da República, no cargo hoje, depois de uma eleição passada há 6 meses apenas, pouco mais, precisa, para receber de nós uma nova chance de credibilidade. Talvez seja esse o caminho para a convocação que o senhor faz; quais são os termos de uma moratória que a Presidente está precisando para recuperar a credibilidade, sem a qual, a cada dia, vai piorando a situação dela, do Governo e do Brasil.

            É isso, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/07/2015 - Página 186