Discurso durante a 119ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato da visita de comitiva, da qual S. Exª fez parte, ao Japão e à Rússia para tratar da relação comercial do Brasil com esses países, principalmente em relação à pecuária e à logística.

Autor
Wellington Fagundes (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Wellington Antonio Fagundes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
INDUSTRIA E COMERCIO:
  • Relato da visita de comitiva, da qual S. Exª fez parte, ao Japão e à Rússia para tratar da relação comercial do Brasil com esses países, principalmente em relação à pecuária e à logística.
Outros:
Aparteantes
Donizeti Nogueira.
Publicação
Publicação no DSF de 14/07/2015 - Página 225
Assuntos
Outros > INDUSTRIA E COMERCIO
Outros
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, COMITE, VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, RUSSIA, ASSUNTO, CONTRATO BILATERAL, COMERCIO, EXPORTAÇÃO, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, RECEBIMENTO, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE.

            O SR. WELLINGTON FAGUNDES (Bloco União e Força/PR - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todo o público que nos assiste pela TV Senado, que também nos ouve pela Rádio Senado, também pela Agência e pelas redes sociais, quero aqui fazer uma saudação a todos os ouvintes da Voz do Brasil.

            Sr. Presidente, entre o dia 2 e 9 deste mês, representando a Comissão de Agricultura do Senado, por indicação da nossa competente Presidente Ana Amélia, integrei a comitiva criada pelo Governo brasileiro, juntamente com a Ministra Kátia Abreu, empresários brasileiros e também, representando o Ministério, alguns diretores e assessores da Ministra, para que estivéssemos no Japão e na Rússia, com o objetivo de comércio bilateral com esses dois países, principalmente no setor da pecuária e da logística, ou seja, a busca de mercados para a exportação de carne, leite e derivados e, claro, toda a produção agrícola.

            Além de tratar do desembaraço da carne brasileira para os mercados asiáticos, também pudemos discutir com os russos e japoneses um tema fundamental, que é o avanço da nossa logística de infraestrutura de transportes. Como Presidente da Frente Parlamentar de Logística de Transportes e Armazenagem, tivemos oportunidade de discutir os investimentos lançados pelo Governo da Presidente Dilma e a disposição do Brasil em receber investimentos em rodovias, ferrovias e portos.

            Retornei desses dois países convicto de que o Brasil continua no centro das atenções mundiais. Apesar de nossos problemas internos na alçada política e econômica, lá fora, Sr. Presidente, nossos parceiros nos olham com grande otimismo, com notável entusiasmo naquilo que podemos produzir, animados com os nossos projetos e propostas em tudo que podemos fazer e, sobretudo, confiantes nas potencialidades em que podemos avançar. O Brasil, Sr. Presidente, goza, portanto, de otimismo, entusiasmo e confiança, e isso precisa ser valorizado por nós.

            Nessa missão, participamos primeiro de diversas reuniões com autoridades japonesas e depois também com líderes da Rússia. O agronegócio é, sem dúvida alguma, a grande arma de que o Brasil dispõe. Temos uma cadeia de produção impressionante, força de vontade imensa e o desejo de crescer cada vez mais.

            Nessa viagem, ficou bastante claro que existe uma grande demanda internacional pelos nossos produtos - isso é um fato inquestionável. E devemos olhar com muita atenção esse quadro, porque, digo com certeza, se existe um caminho seguro para confrontarmos a crise econômica, esse caminho é o da produção. Nesse Brasil mais simples, sugiro novamente explorar ao extremo essa que é uma das nossas mais fortes vocações, a de produzir alimentos.

            Na etapa do Japão, trabalhamos para derrubar o embargo que existe à carne bovina. É um mercado imenso, de grande alcance, que está fechado ao Brasil desde 2012. Além disso, a missão internacional, que teve ainda a participação de representantes da Câmara dos Deputados e de diversos empresários, abriu a possibilidade do comércio para exportar a carne in natura, fato que nunca aconteceu na história da relação comercial entre o Brasil e o Japão.

            Para isso, estivemos com o Ministro da Agricultura japonês. E mostramos a ele que é possível promover a adequação das normas sanitárias para estabelecer esse grau relevante de negócio. A Ministra Kátia Abreu, Sr. Presidente, foi taxativa ao dizer ao Ministro Yoshimasa que o nosso País não tem problemas para acertar essas regras - o caminho é possível.

            E a própria Ministra garantiu que o Brasil quer ser exemplo nessa questão fitossanitária, porque somos um país, como já disse aqui, com vocação de produção agrícola, e, claro, essa responsabilidade e a consciência são de todos nós. E o Brasil, como a própria Ministra colocou, abre as portas, está aberto para receber as críticas, receber as missões, para que a gente cumpra à risca as exigências de cada um desses países.

            O Brasil dispõe da Plataforma de Gestão Agropecuária (PGA), que monitora toda a produção animal do País. Mostramos às autoridades japonesas que temos, seguramente, um sistema confiável e um dos mais modernos do mundo. E, assim, veio a boa notícia, Sr. Presidente: estamos muito próximos de alcançar esse objetivo: a Ministra da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, Keiko Nagaoka, comprometeu-se a enviar, no segundo semestre, agora, possivelmente ainda em agosto, a nosso convite, uma equipe para vistoriar frigoríficos, propriedades rurais e laboratórios brasileiros.

            Será a última etapa desse imenso trabalho. E aqui quero cumprimentar as autoridades sanitárias brasileiras, todos os técnicos e especialistas, que não têm medido esforços para a melhoria do nosso sistema sanitário.

            Esperamos que, até o final do ano, a nossa carne bovina possa ser exportada ao Japão, a exemplo do que acontece na Arábia Saudita, África do Sul, China, Egito, Argentina e Estados Unidos - que, inclusive, foi aberto agora com a ida da Presidente Dilma e também da Ministra Kátia Abreu.

            Como disse anteriormente, o Brasil tem amplas condições de dar as respostas que os japoneses desejam, que os russos desejam, que a comunidade internacional deseja. No caso do Japão, vale lembrar que se trata de um mercado crescente para o Brasil, de grandes e históricas parcerias. No ano passado, para se ter uma ideia, o Japão foi o sétimo principal destino das exportações agrícolas brasileiras - a nossa carne de aves, o país a que mais exportamos é o Japão. O Brasil somou US$2,29 bilhões, o que representou 37,5% do total exportado pelo Brasil para o Japão.

            Conversamos com o Ministro das Finanças daquele país, Taro Aso, que hoje é Vice-Primeiro-Ministro e também já foi Ministro da Economia e de Finanças do Japão, com o qual a missão tratou das perspectivas de alianças comerciais entre os dois países. Mais uma vez a Ministra Kátia Abreu apresentou o potencial de investimento em obras de infraestrutura no Brasil durante seminário com empresários japoneses na confederação da indústria do Japão, a Keidanren.

            Também estivemos reunidos com o Sr. Toshiyuki, vice-presidente da Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão), que é a responsável pela implementação da Assistência Oficial para o Desenvolvimento. Essa entidade apoia o crescimento e a estabilidade socioeconômica dos países em desenvolvimento. Inclusive essa agência há anos investe no desenvolvimento da produção do Cerrado brasileiro, com o Prodecer. E tivemos aqui uma grande parceria com uma empresa binacional Brasil-Japão, em que toda a nossa Região do Centro-Oeste brasileiro, principalmente, experimentou um grande desenvolvimento, sendo hoje o Centro-Oeste o grande produtor das commodities agrícolas para exportação para todo o mundo.

            De lá, Sr. Presidente, partimos para Moscou. Na segunda etapa da missão, nos reunimos com o Ministro da Agricultura da Rússia, Alexander, e participamos de um seminário sobre as perspectivas de cooperação no agronegócio e em segurança alimentar entre os dois países, evento esse realizado na Câmara de Comércio e Indústria daquele País.

            Ainda estivemos no encontro empresarial da cadeia de proteínas, organizado pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e pela Associação de Importadores de Carne da Rússia. Também fizemos uma parada no Food City, um grande centro de distribuição de alimentos na cidade de Moscou.

            Nessa passagem pela Rússia, com os bons ventos do BRICS, a reunião de cúpula dos países emergentes, que se realizou em Ufá, a aproximadamente duas horas da capital russa, empresas brasileiras receberam autorização do Ministério da Agricultura da Rússia para exportar também leite em pó e derivados do leite brasileiro. Este é um fato inédito que mostra a força da nossa produção e também a nossa capacidade industrial.

            Hoje, nós temos uma produção de leite crescente no País, de aproximadamente 5%, e o nosso consumo é de 3%. Portanto, temos um excedente e temos que buscar o comércio para exportar esse produto. O Senador Donizete está aqui também representando a Ministra, com certeza, porque ele, como primeiro suplente e hoje titular nesta Casa, sabe do papel e da importância que a Ministra tem tido junto àquele Ministério.

            Nossos produtores, Sr. Presidente, esperam exportar, no médio prazo, 20 mil toneladas por ano de leite em pó para o mercado russo, que importa anualmente 630 mil toneladas do produto, o que equivalente aproximadamente a US$1,2 bilhão.

            Portanto, vivenciando uma cultura que determina os padrões de comportamento da sociedade japonesa e o pragmatismo dos russos, tivemos a oportunidade de tratar sobre os investimentos em logística, porque não adianta nada produzir se não tivermos os caminhos viáveis e seguros para escoar a nossa produção.

            Como todos sabem, quanto mais deficitária a logística, mais caro o custo de se produzir e também, é óbvio, de se levar a produção aos mercados.

            Desculpem o trocadilho, colegas Senadoras e Senadoras: não há outro caminho. O investimento em logística, em infraestrutura de transporte, tem que estar em nossa pauta de prioridade.

            Para se ter uma ideia, a safra 2014/2015, em curso, estima uma produção de 206,3 milhões de toneladas, numa área de 57 milhões de hectares. Isso representa um crescimento de 6,6% - ou 12,7 milhões de toneladas - em relação à produção obtida na safra anterior, quando foram produzidos 193,62 milhões de toneladas.

            Esse crescimento da produção, Srªs e Srs. Senadores, representou um aumento na área plantada inferior a 1%. Isso mesmo: menos de 1%. Para ser preciso, de acordo com o levantamento oficial da Conab, apenas 0,8%.

            E vamos avançar ainda mais. As estimativas apresentadas na publicação Projeções do Agronegócio - Brasil 2014/2015 a 2024/2025, elaborada pelo Ministério da Agricultura e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a produção brasileira de grãos deve aumentar quase 60 milhões de toneladas até o final dos próximos dez anos, ou seja, a safra do País passará das atuais 206 milhões de toneladas, em 2014/2015, para 259,7 milhões de toneladas de 2024/2025.

            Ainda segundo o relatório, divulgado na semana passada, enquanto estivemos nessa missão no Japão e na Rússia, os produtos mais dinâmicos do agronegócio brasileiro deverão ser soja em grão, trigo, carne de frango, carne suína, açúcar, algodão em pluma, cana-de-açúcar, maçã, melão e celulose.

            Esse trabalho, que considero fundamental...

            Pois não, Senador Donizeti.

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Wellington, a relevância das viagens que a Presidenta da República e a Ministra Kátia Abreu têm feito é muito grande. O que avançou, nesses últimos três meses, a questão dos acordos em relação aos produtos agropecuários vai trazer para o Brasil nesse período um crescimento muito grande; vai continuar, certamente, liderando a balança comercial. Então, é muito importante isso. Eu quero parabenizar V. Exª pelo relatório, a prestação de contas da viagem, que vem mostrar a importância de não se ficar preso aqui ao Gabinete da Presidência da República nem do Ministério, ir ao mundo, levar as nossas potencialidades e apresentar para esse mundo lá fora, aos grandes compradores, que o Brasil, nessa questão da produção de alimentos, para ajudar a combater a fome no mundo, está só começando. Nós ainda temos muito a crescer. Eu acredito que os dados colocados por V. Exª, neste momento, para 2024, provavelmente serão superados. Nós vamos superar essa meta, chegando a um montante ainda maior da produção brasileira. Isso porque nós temos uma pesquisa agropecuária importante, uma das melhores do mundo; nós temos terras com abundância, sem termos que desequilibrar a natureza, sem degradar mais. Aliás, nós ainda temos muitos milhões de hectares de terra degradada para retornar à produção agrícola e pecuária no País sem termos que desmatar mais. Então, isso é importante, inclusive para os acordos de clima que temos que cumprir. Então, eu queria agradecer a oportunidade de fazer este breve comentário aqui e parabenizá-lo pelo relatório, que vem muito bem detalhado para informar o povo brasileiro, os telespectadores da TV Senado e os radiouvintes da Rádio Senado da relevância dessa viagem que fizeram a Presidenta Dilma e a Ministra Kátia Abreu, acompanhadas por alguns Parlamentares, inclusive V. Exª, aqui, honrando esta Casa. Muito obrigado.

            O SR. WELLINGTON FAGUNDES (Bloco União e Força/PR - MT) - Eu diria, Senador Donizeti, que, além de crescer, também aprender, porque acho que o Brasil está engatinhando ainda na relação comercial. E, aí, tanto as nossas embaixadas, como, também, eu acho que essa experiência que tivemos, de o Parlamento brasileiro acompanhar a Ministra Kátia Abreu e a Presidente Dilma, que estiveram lá na Rússia, foi fundamental, inclusive com a parceira com os nossos empresários, levando os nossos empresários para discutir com os empresários japoneses, russos e de qualquer país do mundo. Essa relação comercial é uma crescente de aprendizado e de relação de convivência.

            Então, a nossa ida lá já permitiu a vinda de uma comissão do Ministério da Saúde e, provavelmente, também do Ministério da Agricultura japoneses, que estará aqui já agora, em agosto.

            Eu gostaria de, mais uma vez, parabenizar a Ministra Kátia pela sua desenvoltura: a sua capacidade de estar lá falando com a classe política desses dois países, mas também com a classe empresarial, mostrando a força da produção do agronegócio brasileiro e exatamente nessa linha de que estamos aumentando a nossa produção praticamente sem abrir novas áreas.

            V. Exª, que é do Estado de Tocantins, sabe que, para a nossa Região - inclusive, a Ministra também defendeu muito a Região do Matopiba, região geopolítica que a Presidente Dilma já criou por decreto, onde o País vai investir em um desenvolvimento sustentável -, a infraestrutura, a questão da logística, mas também a pesquisa e o apoio ao produtor são fundamentais.

            Nessa região do nosso Estado, por exemplo, em que fazemos divisa ali, só na região do Araguaia, temos alguns milhões de hectares, Senador Benedito de Lira. Só a região do Araguaia, com essa área já aberta, pode produzir tudo o que produz o Mato Grosso; e o Mato Grosso, com a área aberta que já temos, tem condição de produzir tudo o que se produz no Brasil. Acrescentando, por exemplo, essa área do Matopiba, nós temos condições de duplicar, triplicar, sem nenhuma questão ambiental de agressão ambiental. Muito pelo contrário; fazendo inclusive a recuperação, porque hoje está provado que a agricultura convive muito bem com a pecuária, com a criação de proteína, de modo geral, animal no Brasil.

            Quero aqui só concluir dizendo que esse trabalho, que considero fundamental, conclui que o mercado interno e a demanda internacional serão os principais fatores de crescimento para a maior parte dos nossos produtos.

            Portanto, temos que ser incisivos na meta de avançar sobre o crescimento da logística. Não podemos permitir o engessamento da nossa produção por falta de rodovias, ferrovias e também das nossas hidrovias, que praticamente não utilizamos no Brasil. Em todo lugar do mundo são utilizadas hidrovias como promoção da logística. No Brasil, questiona-se a questão ambiental.

            Nós temos tecnologia hoje, e não são mais os rios que precisam se adaptar às embarcações; as embarcações podem, perfeitamente, se adaptar a cada condição regional. Temos aqui um exemplo de hidrovia bem explorada pela Emasa, do nosso companheiro Senador Blairo Maggi, que é um exemplo. Hoje, inclusive, esse trabalho está sendo feito para que possamos inverter um pouco essa logística. Atualmente, tudo o que se produz no Mato Grosso tem que ir para o Porto de Santos ou para Paranaguá, que estão hoje extremamente superlotados. Então, é importante desenvolvermos também essa logística para o Norte do Brasil; fazer com que as hidrovias possam realmente nos ajudar a diminuir o custo Brasil.

            Se quisermos tirar o Brasil da crise, se quisermos ajudar o nosso País a vencer as grandes barreiras que enfrentamos no momento e as que poderão acontecer, temos que ter a clareza de que a base de tudo está na produção e na logística de transporte.

            Eu não tenho dúvidas de que o Brasil tem totais condições de ocupar o espaço e ser um dos grandes protagonistas da alimentação no mundo. Os mercados estão ávidos. O que precisamos é fazer bem a nossa parte.

            Sr. Presidente, quero aqui agradecer a tolerância também e dizer que sou um entusiasta. Acredito no Brasil, acredito na força de trabalho do brasileiro e, principalmente, nessa parceira frutífera que estamos plantando com outros países, por meio de acordos não só comerciais, mas acordos também de transferência de tecnologia e experiência. A Ministra, inclusive, convidou para que viessem ao Brasil delegações dos dois países para conhecerem de perto e para trocarmos informações científicas e de produção.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/07/2015 - Página 225