Discurso durante a 124ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração pelos 10 anos de Bispado de Dom Roque Paloschi no Estado de Roraima.

Autor
Ângela Portela (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Ângela Maria Gomes Portela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Comemoração pelos 10 anos de Bispado de Dom Roque Paloschi no Estado de Roraima.
Publicação
Publicação no DSF de 18/07/2015 - Página 22
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, BISPADO, RORAIMA (RR), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

DISCURSOS ENCAMINHADOS À PUBLICAÇÃO, NA FORMA DO DISPOSTO NO ART. 203 DO REGIMENTO INTERNO.

            A SRª ÂNGELA PORTELA (Bloco Apoio Governo/PT - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, comemoram-se hoje os 10 anos de Bispado de Dom Roque Paloschi, nosso Bispo de Roraima. Gaúcho de Lajeado, ele se identifica com a região e se tornou uma das mais importantes lideranças católicas do País.

            Dezessete de julho de 2005, é oitavo bispo de Roraima. No seu trabalho missionário reorganizou a Diocese em quatro grandes áreas pastorais - indígena, migrante e cidade e acolheu como igrejas irmãs: Brasília, Vicenza/Itália e afogados da Ingazeira, em Pernambuco.

            Formado em Filosofia pela Universidade Católica de Pelotas-RS e em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, antes do episcopado passou por algumas Paróquias, a exemplo de São Grabriel-RS, Santana do Livramento-RS, Missionário da Igreja Gaúcha dentre outros, além de um importante trabalho realizado na igreja solidária de Moçambique.

            A Diocese de Roraima abrange todo o Estado com uma superfície e extensão muito grande. Segundo Dom Roque a Igreja conta com a presença de novas forças missionárias que vieram somar dando assim maior vigor à presença e ação seja no meio dos povos indígenas, ribeirinhos, como entre as pessoas do campo e das periferias da cidade.

            Antes de mais nada, Dom Roque é um grande defensor da Amazônia e, principalmente, dos moradores desse vasto e nem sempre compreendida. Na sua visão, a Amazônia é região cobiçada pelos interesses minerários que reúnem grandes empresas transnacionais a setores políticos e econômicos de nosso país.

            Cito aqui o próprio Dom Roque: “recordamos os 30 anos da exploração no Carajás como prova de que a mineração em grande escala traz consequências funestas: é um tipo de economia que absorve a maior parte dos empreendimentos econômicos sem conseguir diversificá-los nem construir uma perspectiva de sustentabilidade na região”.

            Esses empreendimentos em larga escala, de que a mineração é o melhor exemplo, mas não único, provocam a chegada de milhares de trabalhadores, a criação espontânea, mas artificial, de vilas e cidades e o acúmulo de toneladas de rejeitos.

            Dom Roque ensina: “Não existem experiências bem sucedidas de políticas preventivas ao fim do minério. Quando a exploração mineira se esgota (muitas vezes antes do previsto), os impactos deixados se tornam irreversíveis e a recuperação social, econômica e ambiental fica comprometida”.

            Exatamente por isso, Dom Roque costuma repetir um importante questionamento. A quem pode interessar um crescimento econômico assim? É este o desenvolvimento em que acreditamos, aquele que gera vida para todos e vida em abundância? As respostas são claras.

            Uma preocupação permanente do bispo de Roraima refere-se aos índios. Ele lembra que os povos indígenas já levantaram sua voz, de maneira firme e clara, contra esses grandes projetos em seus territórios. Dom Roque gosta de citar uma frase por eles colocada em documento final de um encontro que reuniu representantes de várias nações: “Para nós, o que tem importância é a terra, a vida, as florestas, os animais, a cultura, a tranquilidade e essa forma de vida garantida para nossas futuras gerações”.

            Não é um desafio apenas brasileiro. Dom Roque lembra que, do território guianense, 68% podem ser afetados por projetos de mineração e hidrelétricas. Na Venezuela, avançam as concessões de vastas áreas amazônicas do país para empresas chinesas, enquanto 90% das terras indígenas ainda não foram demarcadas.

            Na sua ótica, os povos indígenas têm o direito de serem consultados e definirem livremente o caminho que querem seguir. É nesse sentido que Dom Roque costuma citar uma frase do papa Francisco, ao se dirigir aos bispos brasileiros, no Rio de Janeiro, a 27 de julho de 2013. “A Igreja está na Amazônia não como aqueles que têm as malas na mão, para partir depois de terem explorado tudo o que puderam”, disse o Papa.

            Uma luta constante do Bispo de Roraima se refere ao enfrentamento da impunidade dos crimes ligados à terra. Na visão de Dom Roque, ao longo dos anos, instalou-se em muitas regiões amazônicas um cenário de evidente violência contra as comunidades indígenas e de atentados contra a vida e a integridade física dos índios. “O que caracteriza a impunidade”, ensina Dom Roque, é precisamente a ausência de investigações determinadas e bem conduzidas, a falta de apuração de responsabilidades e a conivência com o poder estabelecido.

            Para ele, vive-se momento de reflexão e determinação, de perseverar na busca permanente da justiça, fonte da paz e da liberdade. Nós sabemos que a verdade nos fará livres, e que a fidelidade a ela nos fortalecerá em meio às dificuldades.

            Muito querido pelo povo roraimense, Dom Roque Paloschi tem feito muito por nosso estado e por nossa região. Manifesto aqui minha convicção de que muito ainda fará no futuro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/07/2015 - Página 22