Discurso durante a 125ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta para a situação do País e críticas à gestão da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Cássio Cunha Lima (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cássio Rodrigues da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Alerta para a situação do País e críticas à gestão da Presidente Dilma Rousseff.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2015 - Página 898
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO ECONOMICA, SITUAÇÃO POLITICA, BRASIL, CRITICA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, FORMA, GESTÃO, SITUAÇÃO, AUSENCIA, POLITICAS PUBLICAS, OBJETIVO, COMBATE, CRISE.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Jorge Viana, Senadores, telespectadores, ouvintes da Rádio Senado, eu creio que, na inauguração desse novo cronômetro do painel eletrônico, vamos respeitar, obviamente, o tempo, em colaboração com a Presidência, que, de forma gentil, fez o revezamento com este orador.

            O Senado da República volta hoje, após 15 dias de recesso, às suas atividades, em um dia em que o Brasil acompanha mais um desdobramento da Operação Lava Jato, e não temos nada, nada, nada a comemorar, a não ser aquilo que é dever de todos nós, em defesa das instituições, da democracia e do aprofundamento das apurações que estão em curso.

            Acredito que o País tem, nesse instante, uma oportunidade muito, muito importante de rever a sua forma de fazer a política, que chegou a um grau de esgotamento que exige dos líderes nacionais uma atitude firme, responsável e serena, para que o País possa avançar, e, deste episódio, tão duro para a vida dos brasileiros, a construção de um momento em que prevaleça a necessidade de estarmos, de um lado, fortalecendo as instituições, garantindo que a nossa democracia saia mais forte de todos esses episódios, que são lamentáveis, mas, também, apontando caminhos para que a nossa sociedade, para que as pessoas, de forma geral, possam enfrentar os desafios que estão postos de forma cada vez mais aguda, de maneira mais contundente, no seu cotidiano.

            Há um número crescente de brasileiros decepcionados, frustrados, revoltados e indignados, muitos dos quais - tenho escutado esse depoimento de várias pessoas -, hoje, se recusam, até mesmo, a acompanhar o noticiário, a assistir o telejornal, a ler a imprensa escrita, a ouvir uma emissora de rádio, tamanho o conjunto de notícias desalentadoras para a Nação brasileira.

            Sim, o sentimento é de desalento, porque nós temos, Senador Ataídes, um país que, historicamente, não consegue vencer os desafios na prestação do serviço público com o mínimo de qualidade. De outro lado, uma população inteira perplexa com tudo que está sendo revelado com as investigações da Operação Lava Jato. E para completar esse quadro de extrema gravidade e preocupação, uma economia que se esfacela, dia após dia, pela inércia, pela incapacidade gerencial, pela impossibilidade de liderar um processo de recuperação da nossa economia por parte da Presidente da República, Dilma Rousseff.

            A inflação já chega a quase 10%. Para os mais pobres, essa inflação já ultrapassou os dois dígitos. Nós estamos com uma perspectiva, com uma projeção de redução do Produto Interno Bruto, que é a soma das riquezas do País, que beira os 2%. Algumas projeções já apontam para uma retração do PIB superior a 2%. Estamos chegando ao maior patamar da taxa de juros desde 2006, com 14,5% da taxa Selic. Em São Paulo, a locomotiva econômica do nosso País, o desemprego já atingiu 13,2%.

            Ou seja, nós estamos diante de uma situação em que o Senado e também a Câmara Federal têm uma responsabilidade extrema neste momento grave da história brasileira. Precisamos ter - repito -, sobretudo nós outros da oposição, porque não falo aqui apenas em meu nome pessoal, mas falo em nome da Bancada do PSDB, a qual tenho a honra de liderar no Senado Federal, em primeiro lugar, em apoio às instituições para que elas continuem funcionando, para que elas possam cumprir o seu papel constitucional, para que elas possam agir nos parâmetros da Constituição, dentro do rigor da lei. Também falo em nome do PSDB, em apoio às investigações que estão em curso.

            Em paralelo, durante esse período do recesso, sinais de tentativas de diálogo por parte do Governo em relação à oposição foram manifestados. Nós, da oposição, nunca estivemos fechados ao diálogo. Nós sempre atuamos no que diz respeito à necessidade de construção de um ambiente em que o País possa ser maior do que qualquer divergência política partidária, até porque não fomos nós, a oposição brasileira, que tentou dividir o País entre nós e eles, como, infelizmente, foi tentado durante mais de uma década por parte de lideranças expressivas do Partido dos Trabalhadores. Mas é preciso que um gesto  primeiro seja praticado, um primeiro passo seja dado para que se crie um ambiente mínimo necessário para qualquer tipo de discussão e entendimento, um gesto de humildade, de reconhecimento de erros graves que foram praticados, o quê, até a presente data, não acompanhamos por parte do Governo, comandado pela Presidente Dilma Rousseff. Não é possível que se queira, nesta quadra, em circunstâncias tão graves que o País enfrenta, prevalecer a postura da arrogância, a postura do quero, posso e mando. Não será dessa forma que encontraremos saídas para o Brasil.

            Portanto, o que a oposição coloca como condição sine qua non, como pré-requisito indispensável para que se crie qualquer ambiente de discussão é o reconhecimento de erros graves que foram praticados e, mais do que isso, um pedido formal de desculpas ao povo brasileiro. As pessoas estão sentindo na própria pele e no próprio bolso as consequências danosas de um conjunto de equívocos que foram praticados em nome da manutenção de um projeto de poder. E não é possível que uma sociedade inteira seja penalizada, como o povo brasileiro está sendo, com as pessoas vivendo, no seu dia a dia, dificuldades extremas. O Senador Paulo Paim acaba de sair da tribuna trazendo um relato do que acontece hoje no Rio Grande do Sul, e a realidade gaúcha não está muito distante de praticamente todos os Estados da Federação, fruto de um quadro que tende, lamentavelmente, a se agravar.

            O que preocupa é exatamente isso. Nós não estamos vendo o fim de um processo com o renascimento de um país novo. Não. Estamos ainda num processo que tende a aprofundar e a agudizar a crise. E é necessário que tenhamos - repito, insisto - responsabilidade com o País, com a Nação, mas sem nos afastar da firmeza, da altivez e da coragem que o momento exige e que, sobretudo, a sociedade espera, principalmente de nós que ficamos na oposição. E estamos na oposição por uma decisão soberana do povo brasileiro. E nós não vamos nos afastar desse papel.

            Não se vai tentar, não vai ser possível apagar todo esse incêndio com pingos de água. Foi dito, semana passada, que não se quer ver “o circo pegar fogo”, usando uma linguagem que é muito popular no nosso País. O problema é que o circo já pegou fogo. Ele está em pleno incêndio. E há quem não consiga sequer enxergar os sinais nítidos do fogo e da fumaça. E é isso que preocupa. É isso que faz com que a situação se torne ainda mais grave do que ela é, quando você não tem a capacidade sequer de reconhecer a gravidade do problema e se mostra deslocado da realidade, se mostra distante do que está acontecendo no dia a dia do País, na vida das pessoas. E é essa sensação de desgoverno, de ausência completa de comando, de rumo para o Brasil que aumenta o quadro de instabilidade, que joga no chão a credibilidade do Governo da Presidente Dilma Rousseff, que padece não apenas de uma crise de popularidade. A crise de popularidade não é problema. Todos os governantes podem estar expostos a crises de popularidade. O que é grave é quando o Governo perde a credibilidade.

            E é esta sensação que permeia o Brasil inteiro: de uma imensa nau, um navio transatlântico, como é o nosso País, sem comando, sem rumo, sem prumo, porque quem está à frente da Presidência da República, lamentavelmente, se mostra incapaz de governar o País, de gerenciar o próprio Governo e, sobretudo, criar uma agenda que possa permitir uma sinalização de saída para uma crise que se aprofunda, dia após dia, tanto no campo ético, como no campo político e, sobretudo, no aspecto econômico.

            Portanto, em nome do PSDB, estamos aqui, mais uma vez, para trazer a nossa palavra de fortalecimento às instituições, de apoio às investigações. Diante do sofrimento de milhões e milhões de brasileiros atingidos pelo desemprego, atingidos pela diminuição do poder de compra, afetados pela volta da inflação, sem uma perspectiva de futuro melhor, que nós tenhamos a grandeza necessária, a maturidade que exige o momento, para que esta crise seja vencida com o engrandecimento do País. Infelizmente não assistimos a qualquer gesto, a qualquer atitude do atual Governo que aponte nessa direção.

            Fica claro aquilo que já foi dito anteriormente, para concluir o meu pronunciamento, Sr. Presidente, e respeitar o tempo que me foi concedido: não haverá chance de qualquer tipo de diálogo sem que antes o Governo peça desculpas ao povo brasileiro e, sobretudo, numa postura de humildade, reconheça, perante a Nação, os graves erros que foram praticados em nome da perpetuação de um projeto de poder político, em detrimento de um projeto de país. O que rigorosamente aconteceu no Brasil nos últimos anos foi isto: abandonou-se um projeto de país para abraçar, única e exclusivamente, um projeto de poder.

            Sem um pedido formal de desculpas, sem o reconhecimento de responsabilidade diretas, não há como a oposição ter qualquer disposição para o diálogo em respeito ao povo brasileiro.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2015 - Página 898