Pronunciamento de Fernando Bezerra Coelho em 03/08/2015
Discurso durante a 125ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Destaque à importância do Porto Digital como centro tecnológico no Estado de Pernambuco; e outros assuntos.
- Autor
- Fernando Bezerra Coelho (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PE)
- Nome completo: Fernando Bezerra de Souza Coelho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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CIENCIA E TECNOLOGIA:
- Destaque à importância do Porto Digital como centro tecnológico no Estado de Pernambuco; e outros assuntos.
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ECONOMIA:
- Aparteantes
- Cristovam Buarque.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/08/2015 - Página 911
- Assuntos
- Outros > CIENCIA E TECNOLOGIA
- Outros > ECONOMIA
- Indexação
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- COMENTARIO, IMPORTANCIA, CENTRO DE TECNOLOGIAS ESTRATEGICAS DO NORDESTE, MOTIVO, DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO, REGIÃO NORDESTE, ELOGIO, JARBAS VASCONCELOS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), INICIATIVA, CRIAÇÃO, PROJETO, OBJETIVO, INVESTIMENTO, PORTO, TECNOLOGIA DIGITAL, REGIÃO.
- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, AUTORIA, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, ASSUNTO, DEFESA, REALIZAÇÃO, DEBATE, SOCIEDADE, CLASSE, POLITICA, OBJETIVO, ENCERRAMENTO, CRISE, ECONOMIA.
O SR. FERNANDO BEZERRA COELHO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há exatos 15 anos, um grupo de professores da área da Ciência da Computação decidiu que o Nordeste brasileiro não perderia mais profissionais para outros centros de formação pelo mundo. Estavam dispostos a fundar, em Pernambuco, um novo polo de tecnologia, com a capacidade de manter por lá pessoas que saíam da academia e, ao mesmo tempo, atrair gente nova, disposta a pensar e inovar.
Essa ideia foi o pontapé inicial para a criação do Porto Digital, uma engrenagem que envolve instituições de ensino, Governo e iniciativa privada, com o objetivo de imaginar e desenvolver novas soluções para o mundo. Um centro com a habilidade de manejar vários setores da economia criativa, na computação, comunicação, design e artes.
O Porto Digital é hoje uma realidade e um grande orgulho para Pernambuco e para todos nós nordestinos. Um arranjo produtivo inovador, que gera empregos qualificados para quase 8 mil pessoas e que se tomou referência nacional.
Semana passada, Srª Presidente, a revista Exame, uma das mais conceituadas do País, classificou o Porto Digital como o Vale do Silício brasileiro, pela sua capacidade de formar e receber profissionais da economia criativa.
Mais de 250 empresas estão ancoradas no Porto Digital, que hoje ocupa uma área de aproximadamente 150ha na região central do Recife, que vem sendo requalificada com a instalação e consolidação de novos empreendimentos. Desde a instalação do Porto Digital, já foram mais de 50 mil metros quadrados de imóveis históricos restaurados em toda a extensão territorial do Parque Tecnológico.
O Início dessa experiência renovadora está no Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco. Lá foram formados os cientistas que iniciaram o processo de criação do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, o nosso Famoso Cesar. Surgia ali o desejo de estalar um polo de alta tecnologia. Professores obstinados, como o Professor Sílvio Meira e Clylton Galamba, encontraram na figura do então Secretário Estadual de Ciência e Tecnologia, Cláudio Marinho, o parceiro ideal para a empreitada. Marinho apostou na ideia e decidiu aproveitar o fato para revitalizar o território do Recife antigo. Hoje, mais de R$90 milhões já foram investidos na recuperação de prédios históricos, que atualmente abrigam empresas de economia criativa.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero aqui fazer uma referência especial ao meu antecessor no Senado, o hoje Deputado Federal Jarbas Vasconcelos, que, quando governou Pernambuco, teve a sensibilidade de compreender o que era o Porto Digital. Ele desenvolveu políticas públicas capazes de incentivar a atração de empresas para a região. Os impostos foram diferenciados e o Governo investiu na melhoria da infraestrutura do bairro, dotando a região com 10km de fibra ótica e Internet rápida. Essas ações possibilitaram que grandes corporações, como a Microsoft, a IBM e a HP, por exemplo, pudessem chegar ao Porto Digital.
No ano passado, a Fiat anunciou que irá abrir no Recife um centro de design, pesquisa e tecnologia. Será o quinto centro no mundo da fábrica italiana. Um dos fatores que motivou a escolha da capital pernambucana foi justamente o Porto Digital.
Aqui, Sr. Presidente, devo destacar a participação decisiva do Governador Eduardo Campos, que trabalhou firmemente para que a Fiat fosse para Pernambuco e incentivou, de maneira direta, a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação científica em meu Estado.
Ao mesmo tempo em que atrai multinacionais, o Porto Digital segue trabalhando no sentido de gerar mais renda. Três grandes incubadoras amparam mais de 50 empresas de pequeno e médio porte, garantindo a elas todo o suporte necessário para que os novos negócios possam prosperar.
Nessas empresas estão jovens recém-formados com muitas ideias boas e pouco dinheiro, mas que, graças ao suporte do Porto Digital, conseguem desenvolver seus projetos. É a chamada aceleradora de negócios, uma ferramenta fundamental para o sucesso do Porto Digital.
Nesses 15 anos de existência, muitos bons negócios foram realizados sob o guarda-chuva do Porto Digital, que não para de inovar. A iniciativa agora ultrapassa as fronteiras do Recife, com a inauguração de dois Armazéns da Criatividade no interior do Estado - o primeiro em Caruaru e o outro em Petrolina -, estimulando a inovação no Agreste e no Sertão de Pernambuco.
Quero aqui cumprimentar todos os empresários, os trabalhadores e os colaboradores do Porto Digital, saudando de forma especial o diretor do seu núcleo de gestão, o Prof. Francisco Saboya.
Ele tem feito um trabalho brilhante, garantindo visibilidade e buscando novos parceiros dentro e fora do País, com capacidade de investimento para impulsionar ainda mais o setor.
Sr. Presidente, Srs. Senadores, na volta aos trabalhos legislativos aqui no Senado Federal, não poderia deixar de fazer referências às visitas que fiz pelo meu Estado - no Agreste, em Garanhuns, em Bom Conselho, em Inajá, em Caruaru no meu Sertão de Pernambuco, em Petrolina e na capital, no Recife.
Por onde andei, conversando com prefeitos, ex-prefeitos, vereadores lideranças sindicais, representantes de setores produtivos e empresariais, todos estão preocupados com a grave crise política, econômica e ética que o Brasil vem enfrentando a um só tempo.
E por isso eu gostaria de aqui registrar um artigo publicado no Jornal O Globo, de autoria do meu conterrâneo, Senador por Brasília, o Prof. Cristovam Buarque, que foi muito feliz em procurar identificar a urgência para se abrir um diálogo entre as lideranças políticas e da sociedade civil que possam identificar um caminho para a superação da grave crise que nós estamos enfrentando.
E acho que o Senador Cristovam foi feliz porque a dificuldade de encontrar um caminho ou pelo menos um encaminhamento para o enfrentamento dessas três crises que se conjugam se deve ao fato de que, de um lado, é preciso ter humildade para reconhecer os erros e os descaminhos que foram percorridos e, de outro lado, é preciso também ter compreensão de que nós precisamos preservar a institucionalidade, precisamos valorizar o regime democrático, precisamos ter em mente que apenas caminhamos 25 anos sob a égide da nossa nova Constituição Cidadã.
Por isso acho que o artigo do Prof. Cristovam Buarque, do Senador pelo Distrito Federal, é oportuno e merece uma reflexão de todas as lideranças desta Casa, e parece que estava antevendo o ambiente de radicalização. Ele não podia prever o que acabou acontecendo e que também está noticiado na grande imprensa brasileira: até onde se está escalando esse radicalismo?
À colocação de uma bomba caseira em frente ao Instituto Lula não foi dada a devida atenção nem pela imprensa, nem pelas autoridades constituídas, nem pelas lideranças políticas. É importante que haja um posicionamento duro, no sentido de que as investigações possam ser feitas com celeridade e que se possa identificar quem, de fato, promoveu a colocação daquele artefato e com que objetivo, aonde se quer chegar.
Eu falo isso porque o Senador Jorge Viana, ocupando a tribuna desta Casa, disse que a bomba caseira não tinha como alvo o Presidente Lula; tinha como alvo o Instituto Lula. Mas o que é o Instituto Lula senão a própria figura do ex-Presidente da República?
E eu quero aqui, Sr. Presidente, traduzir o meu sentimento, que aprendi em casa, aprendi com meu pai: é nos momentos de dificuldade que devemos manifestar nossa solidariedade.
Eu tenho respeito pela figura do Presidente Lula - retirante, nordestino, pernambucano. Saiu do Estado tangido pela seca para se firmar como a grande liderança política deste País. Governou o Brasil durante oito anos, e governou promovendo a maior inclusão social da história deste País.
Estamos nos aproximando do aniversário da morte do Governador Eduardo Campos. Estamos nos aproximando do dia 10 de agosto, quando Eduardo, se vivo fosse, estaria completando 50 anos de idade. Tive o privilégio de ser seu auxiliar; tive o privilégio de ser o seu Secretário de Desenvolvimento Econômico, e pude ver de perto o esforço que ele e o Presidente Lula fizeram para colocar Pernambuco no mapa do desenvolvimento. Os investimentos, que não foram poucos, na infraestrutura econômica do Estado - refinaria, polo petroquímico, polo naval, polo automotivo. E uma revolução na área educacional. A presença da universidade federal, que saiu do litoral, que ganhou o interior, no agreste, no sertão. A presença de dezenas de escolas técnicas, que vieram para qualificar e dar oportunidade de vida aos jovens e aos adolescentes do meu Estado.
Portanto, quero trazer aqui a minha palavra, como Senador de Pernambuco, para cobrar responsabilidade por parte das autoridades constituídas, a partir da Presidenta da República, a partir do Ministro da Justiça, que não pode dar apenas o formal e achar que essa bomba caseira foi um episódio menor, qualquer. Não! Ela está dentro de uma escalada de radicalismo político. Ela está dentro desse ambiente que o Senador Cristovam Buarque colocou muito bem.
As lideranças políticas empresariais da sociedade civil organizada no nosso País já não conseguem se entender, já não conseguem abrir espaço para dialogar, para saber o que, de fato, nós estamos enfrentando para que a gente possa, com paciência, com humildade, com verdade, com boa vontade, encontrar caminhos para superação dessa grave crise política.
Eu sou um otimista por convicção. O Brasil é maior do que as suas crises. Já superamos muitas no passado, mas, é verdade, muitas nós poderíamos ter evitado, como, diz o artigo do Senador Cristovam Buarque, a que nos levou ao golpe de 64. Agora, estamos vivendo momentos tão difíceis quanto aqueles vividos no passado. E é por isso que a responsabilidade se impõe para que, nesse segundo período legislativo, as lideranças políticas no Senado e na Câmara, as lideranças partidárias, as lideranças sindicais possam abrir espaço, não para falar apenas o que pensam ou o que identificam, mas possam abrir espaço para ouvir as outras opiniões, para formar um denominador comum, para formar um consenso de poder por cima das vaidades, dos egos, dos interesses pessoais para a gente poder colocar o interesse da Nação brasileira.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Permite-me, Senador?
O SR. FERNANDO BEZERRA COELHO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - PE) - Pois não, Senador Cristovam Buarque.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Em primeiro lugar, Senador Fernando Bezerra, para, ao seu lado, manifestar a minha preocupação com essa bomba. Em política, bomba é bomba, mas, nas disputas militares, há uma diferença grande entre uma bomba atômica e uma bomba caseira. Mas, como gesto político, tem a mesma dimensão nefasta de sair dos meios democráticos, do diálogo, da discussão para o uso de um instrumento violento. Por isso, essa bomba, não adjetivo, essa bomba política ela é grave e precisa ter o repúdio de todos. Hoje foi na frente do Instituto Lula, amanhã pode ser na frente do Instituto FHC, o instituto X, Y, Z. Essa não é a maneira de manifestarmos contra quem quer que esteja na política, sobretudo em um período democrático. Então, aqui, minha solidariedade a sua posição. Segundo, quero agradecer a sua generosidade em citar o meu artigo de uma maneira elogiosa. E terceiro, aproveitar e pegar carona, Senador Acir, na sua colocação, para fazer aqui uma proposta, que eu posso até subir à tribuna e depois fazer. Eu venho defendendo essa ideia da necessidade de um diálogo há muito tempo. Há muito tempo. Porque nós estamos vivendo um momento em que qualquer alternativa que não for fruto de um diálogo consensuado, concertado - concerto com “c” - vai levar a riscos muito grandes. Isso tem que partir da Presidente. Eu cheguei a sugerir, por meios diversos, que Fernando Henrique e Lula conversassem. Mas isso tem que partir da Presidente. A Presidente disse, Senador Acir, que quer o diálogo. Pois eu quero aqui dizer que, se ela me convidar, e eu tenho certeza que se ela convidar alguns Senadores para conversar sobre o momento político, nós iremos. Eu irei, Senador Acir. Agora, acho que ela não deve convidar pessoas do “fla-flu”. O PSDB, que é contra, ou outros que não são do PSDB mas são contra, esses deve chamar também. Mas aí é outro... E nem também os que vão bajular, ou os que vão pedir cargos, ou os que vão pedir liberação de verba. Eu estou disposto a ir. Não vou pedir verbas, não vou indicar ninguém, eu vou dizer algumas verdades, no intuito de encontrar um caminho para sairmos dessa crise. Porque todas as alternativas são complicadas. A primeira delas, a continuação do Governo Dilma, nas atuais circunstâncias, por mais três anos e meio não é uma coisa boa para o Brasil. A interrupção do mandato dela, por impeachment, por renúncia, ou por anulação não será algo que você dizer que atravessará a história tranquilamente. Então, veja, as alternativas são muito ruins. Como é que a gente vai escolher uma? Dialogando, conversando. Agora, tem que partir dela. Hoje, o Senador Cássio aqui manifestou disposição, pelo que eu saiba, do próprio PSDB, colocando uma condição que, no caso do Partido, eu acho correta: ela pedir desculpas pelo que houve de erros. Eu até acho que não precisa desculpas, basta reconhecer. Reconhecer que errou ao seguir o Mantega daquele jeito, que errou ao seguir o marqueteiro dela daquele jeito, que errou ao acreditar em alguns diretores da Petrobras no seu tempo. Errou. Reconhecer erro não é nada grave. Mas isso quando houver um debate institucional. Eu não tenho a menor possibilidade de propor nada institucional. Do meu Partido, o Líder é o Senador Acir, o Presidente é o Senador Lupi, que, aliás, são afinados com o Governo diretamente. Eu sou apenas um filiado do PDT e um Senador do Distrito Federal, mas sou um brasileiro e estou absolutamente preocupado com o que virá aí. Por isso, creio que nenhum de nós tem o direito de se negar a um debate, a um diálogo com a Presidente Dilma, se ela convidar. Eu estou disposto a fazer isso. Só estive com ela uma vez, num almoço que ela ofereceu aos Senadores do PDT, do PSB e do PCdoB, nunca outra vez. Em função daquilo, eu lhe mandei um documento, uma carta sobre como ela poderia fazer a revolução educacional no Brasil. Nunca tive notícias de qualquer encaminhamento. Dessa vez não vou levar encaminhamento nem para a educação. Nada. Nada, nada. Eu quero, como brasileiro, manifestar minha angústia, minha preocupação e me colocar à disposição do Brasil - não da Dilma, nem da oposição, do Brasil -, para saber como a gente vai sair deste momento tão crítico que está atravessando. Então, aproveito o seu discurso, empolgado, talvez, pela sua fala e pelo seu elogio ao meu artigo, em que eu já propunha o diálogo. Eu já propunha, há meses, aqui, que isso é necessário. Então, peço desculpas de pegar carona no seu discurso. Talvez seja a única maneira de fazer propostas como esta, que, se a gente refletir muito, desiste de fazer: não quer correr o risco, se acomoda. Então, eu, empolgado pela sua fala, me coloco nessa condição. Nós precisamos dialogar, mas dialogar com a verdade, sem intenções outras, a não ser fazer com que o Brasil atravesse esta grave crise, que é política, econômica e moral ao mesmo tempo.
O SR. FERNANDO BEZERRA COELHO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - PE) - Eu agradeço o aparte do Senador Cristovam Buarque.
Apenas, Sr. Presidente, desejo discordar: o Senador Cristovam Buarque não é um mero filiado do PDT, nem um mero Senador da República, é um dos melhores quadros da política nacional. E é neste momento de crise que acho que a palavra do Senador Cristovam Buarque, as suas sugestões devem ser refletidas e consideradas.
O artigo de V. Exª e o esforço que vem pregando aqui, neste plenário, durante esses primeiros meses que aqui convivo no Senado Federal são sempre uma exortação ao diálogo.
E acho que é através dessa convocação ao diálogo que poderemos desarmar as diversas bombas que estão sendo jogadas no cenário da política econômica brasileira, na política social brasileira, na política partidária brasileira e reacender a esperança, a fé e a confiança do povo brasileiro no futuro do nosso País.
Muito obrigado.