Discurso durante a 125ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque à necessidade de diálogo entre a Presidente Dilma Rousseff e parlamentares em busca de alternativas para enfrentar a crise do País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Destaque à necessidade de diálogo entre a Presidente Dilma Rousseff e parlamentares em busca de alternativas para enfrentar a crise do País.
Aparteantes
Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2015 - Página 919
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, EXISTENCIA, DIALOGO, DILMA ROUSSEFF, MEMBROS, CONGRESSO NACIONAL, OBJETIVO, ELABORAÇÃO, SAIDA, CRISE, POLITICA, MELHORIA, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revi-

são do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Senador Fernando Bezerra, eu vinha hoje falar de outra coisa, porque há meses eu falo aqui da necessidade de encontrarmos um caminho para o Brasil atra- vés de um diálogo, afinal, parlamentar significa dialogar; sinônimos. Mas eu vi o seu discurso, e que foi muito generoso em função de um artigo meu que trata desse assunto, o discurso do Senador Cássio, o discurso do Jorge Viana, e eu acho que eu não tenho o direito de não tocar nesse assunto sobre o qual, Senador Ataídes, eu venho falando já há algum tempo.

    Eu havia considerado não mais tocar nisso pela quantidade de incompreensões que eu consegui, por- que cada vez que você fala em diálogo, os que defendem a Presidente Dilma dizem que é golpismo, e os que são contra dizem que é para protegê-la. É impressionante como esse Fla x Flu impede raciocinar hoje no Brasil politicamente. Você tem que estar de um lado ou do outro, e não do lado do Brasil. E, de fato, ao pensar só na

ótica de um Partido, você não está na ótica do Brasil porque você está pensando na próxima eleição e o Brasil

vai durar séculos.

Então, eu estava achando que não era tempo mais de falar disso pela incompreensão de quase todos,

mas hoje os três discursos, todos três acenaram na direção de que é preciso caminhar na direção de um diálogo.

Alguns têm uma condição, outras têm outra condição, outros querem que dê um jeito, alguns acreditam

mais do que outros, mas começa a haver a ideia.

Para mim, é óbvio que nós precisamos fazer isso desde muito tempo atrás. Quando terminou a eleição,

Senador Ataídes, três fatos mostravam que a Presidente Dilma teria muita dificuldade de governar. Primeiro,

os desajustes que ela criou - eu fui um dos que denunciou aqui e fico feliz de ver o senhor se lembrar daquele

texto assim, um livrinho, chamado A economia está bem, mas não vai bem; em 2011, - porque dava para prever

os problemas que estavam vindo; primeiro os desajustes.

O segundo - eu vou usar uma palavra forte, mas eu acho que tem que ser -, essas mentiras da campanha,

tanto contra os adversários quanto nas promessas. Qualquer pessoa que pensasse um pouquinho saberia

que isso ia cobrar um preço muito alto. A Presidente Dilma teve a má sorte de ter uma figura, de quem até

que eu gosto, chamada Mantega cuidando dos ajustes e um chamado João Santana cuidando das mentiras.

Era claro que ela ia ter dificuldades.

Terceiro, a explosão do assunto da corrupção, a Lava Jato. É óbvio que esses três fatos levariam à necessidade

de que a Presidente, que acabou de ser eleita, que tinha quatro anos de mandato e que ganhou a eleição

com alguns milhões de votos a mais que o segundo, no qual eu voltei, ia precisar fazer um diálogo. No dia

do reconhecimento da vitória, naquela noite, ela chegou a falar nisso, mas, a partir daí, esqueceu, não voltou a

falar. Quando a crise foi se acirrando, eu fui um dos que vim aqui mostrar o óbvio, que era a necessidade desse

diálogo. E fui acusado, como eu já disse, de que eu era conivente com os erros, ou que era golpismo contra o

Governo, e que eu estava em cima do muro, que é uma coisa que nos incomoda muito a qualquer um, sobretudo,

talvez, a nós, pernambucanos, não é, Senador Fernando? Incomoda muito isso! Mas estamos num tempo

tal que, quem não pensa desse lado ou daquele está em cima do muro.

Eu decidi, entretanto, voltar a falar aqui, porque não dá para a gente deixar de se preocupar. O que vai

acontecer se as coisas continuarem como estão? Veja como é perigoso. Vai ser muito difícil a Presidente Dilma

ter capacidade de governabilidade por mais três anos e meio. O próprio desempenho dela nos últimos meses;

a perda de apoio dela, aqui nesta Casa, no Congresso, em todos os partidos; a dificuldade até que ela tem para

passar mensagem das coisas que faz. A situação de um ajuste que vai contra, aparentemente, a maneira que

ela pensa, dá impressão de que ela faz descontente esse ajuste E aí repercute na credibilidade. Então, haverá

uma dificuldade muito grande.

Daí a dizer: “Logo, como vai ter dificuldade, vamos interromper o mandato dela.” Pensemos um pouco. Há

três formas de interromper um mandato. Uma renúncia, que é menos dolorosa, porque renúncia é uma opção

pessoal, mas não depende de nós aqui. Mesmo assim é complicado. Nós tivemos quatro presidentes eleitos

apenas na democracia, dois sairiam em metade do mandato. Isso não é bom. Como professor que sou, digo

que não é bom nem para a formação das crianças do ponto de vista pedagógico da política.

E há o impeachment. O impeachment é muito dolorido para um país. É algo complicado. Estamos diante

da dor de 3,5 anos de um governo sem governabilidade e de um impeachment, que é doloroso também.

E o outro seria o TSE cassar. E nós teríamos como Presidente da República, provavelmente, o Presidente

da Câmara dos Deputados por 90 dias, para haver uma eleição. E como seriam esses 90 dias? Como seriam 90

dias de uma eleição sob a Presidência do atual Presidente da Câmara? E não digo, porque é ele, mas porque é

algo inusitado. Ele não teve votos para ser Presidente, como teve o Presidente ou o Vice.

Some-se a isso a economia. Há uma economia - em parte, pelos erros, mas, em parte, por outras coisas

- que tem o dólar alto, como o Senador Ataídes falou, os juros altos, o desemprego alto, as despesas altas e a

receita baixa, todos os cenários negativos. Há a Petrobras devastada, empresários gigantes presos, e isso traz

uma consequência econômica. Inflação alta. Enfim, há um quadro muito ruim na economia.

E, na política, há uma Presidente com uma popularidade quase zerada - 8% ou não chega a isso -, sem

partidos que lhe deem sustentação, com antagonismos vindos seja de oportunistas, seja de pessoas com mágoa

pela campanha eleitoral - e não adianta dizer que temos que passar a borracha, porque é difícil -, com

dirigentes políticos presos.

Nesse quadro, tudo o que pode acontecer é ruim, se deixarmos que flua naturalmente, se não tentarmos

tomar as rédeas desse processo. E, quando eu digo tomar as rédeas, não é fulano, cicrano ou beltrano, não é o

partido A, B ou C, não é a Justiça ou o Congresso, mas nós os que temos a obrigação de liderar este País, todos

aqueles que tiveram votos, todos aqueles que, na última eleição, tiveram votos suficientes para serem vereadores,

deputados estaduais, Deputados Federais, Senadores, prefeitos, governadores, Presidente. Nós temos

de buscar. Se não buscarmos definir um rumo que não seja o rumo natural das coisas seguirem soltas, nós

não estamos à altura do momento, que é o título do artigo a que o senhor se referiu. Eu, num gesto de certo pessimismo, digo que nós - primeira pessoa, eu sou um deles - não estamos à altura, mas temos que tentar.

Já faz alguns meses que sugeri a amigos em comum que tentassem encontrar Fernando Henrique Car- doso e Lula, eles que são dois líderes, por mais problemas que tenha cada um daqui com um ou com outro. E eu lembro, Senador Fernando, e faço aqui uma inconfidência: quando eu era Governador, do PT, e Fernando Henrique, Presidente, eu tentei muito que houvesse esse diálogo. E esse diálogo nunca houve, em geral, por- que o PT e o Lula se recusavam, Fernando Henrique tentava.

Depois das eleições de 1998 - eu, derrotado para reeleição, Fernando Henrique, reeleito e Lula, derrotado

-, Fernando Henrique me ligou numa noite, em novembro, e disse:“Eu soube que Lula está na cidade, você não consegue trazê-lo aqui?”Eu liguei para Lula. Num primeiro momento, ele não quis; pouco depois, ele aceitou. E fomos às 10h, 11h da noite. E vou dar um detalhe que tem um simbolismo interessante: primeiro, eu não sabia que aquele Palácio da Alvorada é quase todo vazio, o Presidente mora num apartamento pequeno, simples. Foi Fernando Henrique quem abriu a porta do apartamento e disse para Lula, comigo presente: “Venha, Lula, conhecer o lugar onde você vai morar um dia”. Lula acabava de perder a terceira eleição, todo mundo já dizia que estava morto politicamente e que o candidato a Presidente seria José Dirceu ou até eu, como falavam, ou Tarso Genro, na eleição de 2002. Fernando Henrique teve este gesto: “Venha conhecer”. E até nos mostrou e depois ficamos até de madrugada conversando.

Isso não avançou. Ali poderia ter surgido algum tipo de entrosamento. Não é conluio, não é troca de favores, é combinação do que interessa para o País. Não deu. E, a partir daí, as coisas foram se radicalizando. E talvez o momento mais grave de radicalismo seja esta última eleição, talvez o mais grave, em que as coisas quase se estraçalharam.

É nesse momento que a gente tem que ver quem são os grandes estadistas que são capazes de levar adiante o diálogo. E aí dizem: “Mas eu não confio”. Gente, se você confia muito, você não dialoga, você casa. Na política, você dialoga até com quem você não confia. Ou vocês acham que Nixon, quando foi à China, confiava em Mao Tsé-Tung? Não. Eles sabiam que era possível construir interesses em comum; tentaram e conseguiram. Ou Carlos Prestes, quando se encontra com Getúlio, depois de o Getúlio ter tomado decisões que levaram à morte da mulher de Carlos Prestes na tortura da Alemanha nazista? Eles se amavam? Não, não se amavam. Eu até diria que eles talvez se odiassem, mas eles sabiam que havia uma coisa maior a ser debatida, discutida.

Eu creio que hoje nós estamos vivendo um momento como esse, um momento em que é preciso, sim, conversar, falar, parlamentar, publicamente, sem subterfúgios, sem pedir uma coisa ou outra, mas oferecendo coisas ao Brasil.

E é nesse sentido, Senador Moka, que, num rompante, sem pensar muito, há pouco, falando aqui num aparte ao Senador Fernando Bezerra, eu disse que, se a Presidente Dilma, e é dela que tem que partir, quiser o diálogo - e ela parece que tem feito alguns gestos, procurou até os governadores, embora ache que não foi diálogo, na verdade -, eu gostaria de ir lá conversar com ela. E eu acho que alguns outros Senadores aqui acei- tariam. E acho que não deve ser Senador dos que estão do lado dela - não precisa dialogar com quem está do lado. Também talvez não seja a hora de levar os que são do outro time, no Fla-Flu que há aqui. Leve os críticos respeitosos, os críticos que não estão disputando, porque há o crítico que disputa e há o crítico que não dis- puta. Eu, por exemplo, não disputo; eu estou fora desse processo, dessa disputa entre os grandes lá em cima. Se me convidar, eu vou, Senador Moka. Não vou de público convidá-lo, se ela me convidar também, se é que me convidará, para não constranger. Por que ela não convida uns três ou quatro que não são do seu lado, que vão dizer verdades para ela, respeitosamente?

E essa ideia de que tem que pedir desculpas, que eu próprio falei quando eu listei aqui, meses atrás, o que é era preciso - eu não dizia a palavra “desculpas”, era reconhecer os erros -, no caso de reconhecer os er- ros, é para quem falar institucionalmente, como Líder de Partido. Eu não falo institucionalmente, então, não precisa pedir desculpa, não precisa reconhecer erro, não precisa nada. É só dizer o que é que está achando da situação, porque a gente fala aqui e não chega lá; não chega a canto nenhum. Eu gostaria de ter um canal para dizer o que é que eu estou achando da situação, como brasileiro, mais até do que como Senador, e não como candidato, mas como sofredor do que vai acontecer neste País em qualquer das hipóteses que estão aí, se nós não tomarmos as rédeas do processo de uma forma concertada - que eu fiz questão de dizer concertada com “c”, não é consertada com “s”, que é na marra, que é da mecânica. Falo de concertada da política, do maestro.

Isso deveria partir da Presidente. Ela deveria falar isso. Ela deveria procurar, deveria procurar as institui- ções. E, enquanto não procura as instituições, procure pessoas. Vamos dialogar, vamos conversar, com espírito público, com a obrigação que nós temos, diante dos votos que nós tivemos, de tentar estar à altura do mo- mento. Pode até, depois, a história descobrir: “Esses caras não estavam à altura, mas pelo menos tentaram”. O

ruim é se disserem: “Nem tentaram estar à altura do momento”; deixaram tudo correr frouxo e, na volúpia de

uns, no egoísmo de outros, na pressa de outros, na insensibilidade de mais alguns, o Brasil terminou na situa- ção em que está e que ainda pode piorar muito.

O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Permite um aparte, Senador?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Com o maior prazer. Eu estou ansioso até. Eu quero agradecer o seu pronunciamento, foi em função dele que eu decidi falar isso. Eu vinha falar de outra coisa, ia fugir desse tema, achava que já não era mais hora de falar, que já tinha passado, mas, pela sua fala elogiosa ao meu discurso em que eu proponho esse tipo de diálogo, é que eu falei. Por isso, eu fiz ques- tão de falar. Sem a fala do Senador Moka, meu amigo, hoje aqui, eu não teria o meu discurso satisfatório para mim. Por favor, Senador Moka.

O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - V. Exª sabe, Prof. Cristovam Buarque, a admiração, a estima que tenho. V. Exª é um homem independente, assim como há vários Senadores aqui independentes...

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Inclusive o senhor.

O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - ... dos seus partidos, Senadores independentes. Eu acho que essa fala seria importante e acho mesmo que a Presidente Dilma deveria, de vez em quando, mu- dar os interlocutores, porque ela acaba conversando com as mesmas pessoas. Eu não estou desmerecendo as pessoas com as quais ela conversa, mas nós já tivemos a oportunidade - e eu pessoalmente já fiz isto -, no meu apartamento, de ter reuniões com vários Parlamentares, de partidos diferentes, de lideranças diferentes, com um único objetivo: ter um consenso sobre alguma coisa, não necessariamente “temos que tomar uma decisão”. Quando se ouvem pessoas, sobretudo pessoas que têm desprendimento, pessoas que têm indepen- dência e pessoas que colocam a Pátria, o País acima das disputas locais, partidárias, paroquiais, aí nós vamos encontrar o caminho. Esse é o caminho. O que me parece que V. Exª propõe é exatamente isso. E eu, talvez, na minha ingenuidade, acho que esse grupo estaria preparado, se nós, com certa antecedência, fizéssemos aqui uma reunião entre nós e não de grandes líderes, como diz V. Exª. Quem sabe a Presidente Dilma pudesse ouvir interlocutores independentes...

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Isso!

O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - ... sem nenhuma outra motivação que não seja tirar este País desta crise econômica e política, ao mesmo tempo. Muitíssimo obrigado pelo aparte.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu é que agradeço, Senador Moka.

É preciso que sejam pessoas que não vão lá indicar ninguém, que não vão lá pedir liberação de verba nenhuma, mas que vão lá dizer o que estão sentindo, o que estão sofrendo e a preocupação que têm.

Uma coisa que está me angustiando também é como, olhando o imediato, nós não estamos percebendo o desastre que será para todos. Erra quem acredita que esta crise vai tocar apenas no PT, na Dilma e no Lula. Erra, porque vai tocar em todos nós que temos mandato. Não vai demorar para que, em vez de impeachment, o povo queira eleição geral, o que nem a Constituição prevê, e o povo vá para a rua gritar “eleição geral” para mudar todos e para que, como diziam na Argentina, “se vaiam todos”, que todos saiam. Erra quem achar que se pode pensar no Brasil em função de 2016 ou 2018. Ou pensa em 2022, 2026 etc., ou não vai conseguir en- contrar um caminho satisfatório.

E a independência é uma característica de alguns aqui, independentemente de partidos. O próprio Se- nador Paim, que está aqui conosco, tem um grau de independência grande, sendo do PT. O senhor do PMDB, eu do PDT, o senhor do PSB, nós temos graus de independência capazes de colocar o interesse do Brasil e o longo prazo na frente, não por modéstia ou o que seja, mas por percepção da crise.

E aí, Senador, antes de passar a palavra ao Senador Fernando Bezerra, eu quero dizer o seguinte: em tem- pos de burrice, ingenuidade é sabedoria. E o senhor disse “talvez por ingenuidade”, mas, em tempo de burrice, ingenuidade é sabedoria. Então, eu me coloco ao seu lado. Eu me considero um dos ingênuos, o que não quer dizer que é sabedoria. É falta do outro lado, como um olho só. Talvez seja a hora de alguns ingênuos dizerem o que pensam e proporem aquilo que acham que é preciso, ainda que não seja possível.

Senador Fernando.

O SR. PRESIDENTE (Fernando Bezerra Coelho. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - PE) - Senador Cristo-

vam Buarque, eu não poderia deixar de aparteá-lo, mesmo estando na Presidência dos trabalhos desta sessão. Eu acho que V. Exª foi feliz no seu pronunciamento ao fazer uma avaliação da crise política, da crise econômi- ca, da crise ética em que o País está mergulhado. Essas crises estão contratadas. Os desdobramentos da crise econômica serão sentidos, como alguns apostam, nos próximos 12 meses; outros mais pessimistas apostam que serão sentidos nos próximos 18 meses. Quanto à crise ética, as instituições estão funcionando, como a Procuradoria Geral da República, a Polícia Federal e a Justiça Federal, que têm que ir até o final, para, de fato,

passarem todo o Brasil a limpo.

Agora, a crise política é o centro do pronunciamento de V. Exª. Acho que sua fala é uma exortação àquilo

que V. Exª conceituou muito bem: é o momento da concertação política. Talvez, os que estejam no Governo e, talvez, os que estejam na oposição não estejam percebendo que temos agora um período muito curto para dar espaço a essa concertação política, porque tem de falar mais alto o interesse nacional, o interesse do Brasil, o interesse das instituições.

Portanto, que suas palavras possam ecoar no início deste período legislativo! E que a gente possa encon- trar aqui outras vozes que possam se levantar, para podermos criar um ambiente de diálogo que encaminhe uma solução para as crises que estamos vivenciando!

Parabéns a V. Exª!

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

Já tivemos exemplos disso. Na saída do regime militar - tenho idade para ter participado disso não com cargos, mas como auxiliar de alguns Parlamentares na época, especialmente o nosso amigo Fernando Lyra -, ocorreu isto: os militares perceberam que o povo estava na rua e que não dava para segurar mais. Eles podiam ter segurado por alguns anos e aumentado, inclusive, a violência. Isso dava para ser feito. Não ia acabar, não, o regime militar, só pela pressão na rua. Eles dialogaram, eles tomaram a iniciativa. O Golbery tomou a iniciativa.

(Soa a campainha.)

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - E, do outro lado, havia gente que es- tava à altura. Tancredo Neves e uma quantidade enorme de outros estavam à altura disso. Inclusive, o nosso Marco Maciel estava do lado deles, mas teve sabedoria. O que era ingenuidade até um dia, de repente, virou sabedoria. Houve esses gestos que permitiram que déssemos um grande salto, para sairmos de um regime militar ditatorial para um regime democrático civil.

Hoje, parece até mais simples, e, ao mesmo tempo, todos estão achando mais difícil. Espero que cada um de nós cumpra o papel de tentar, com ingenuidade, como disse o Senador Moka, mas sem deixar de ten- tar, sem ficar na omissão.

Tenho dito, Senador, que existem os golpistas que dão golpe e os golpistas por omissão, que são aque- les que fecham os olhos aos problemas, que ficam em casa e que, de repente, descobrem o golpe. Golpe não é dado só por quem está do outro lado querendo desfazer a instituição, mas também...

(Soa a campainha.)

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ...por aqueles que não estão do lado da instituição percebendo os riscos e procurando defendê-la corretamente.

Obrigado, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2015 - Página 919