Discurso durante a 127ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar o cinquentenário das atividades da TV Globo.

Autor
Marta Suplicy (S/Partido - Sem Partido/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a comemorar o cinquentenário das atividades da TV Globo.
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2015 - Página 17
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, COMENTARIO, INFLUENCIA, CONSOLIDAÇÃO, IDENTIDADE, POPULAÇÃO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO, VALORIZAÇÃO, CULTURA, DIVULGAÇÃO, BRASIL, EXTERIOR.

            A SRª MARTA SUPLICY (S/Partido - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Saúdo o Presidente do Senado Federal, Senador Renan Calheiros; o Senador Ronaldo Caiado, signatário da presente sessão; Senador Eunício Oliveira, líder aqui presente; o Ministro de Estado do Turismo, Sr. Henrique Alves; o Ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva; o Ministro de Estado da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Afif Domingos; Vice-Presidente Institucional e Editorial do Grupo Globo, Sr. João Roberto Marinho; Vice-Presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet, e o elenco da TV Globo aqui presente, que já nos deu tantas alegrias, como Francisco Cuoco, Laura Cardoso e Malu Mader.

            A TV Globo comemora 50 anos em grande estilo. Desde o ano passado, a emissora tem uma programação que está celebrando essa data simbólica. As primeiras transmissões de televisão, via satélite, ocorreram em 1965. Foi nesse mesmo ano, em 26 de abril, que entrava no ar a TV Globo, no Rio de Janeiro, que mais tarde seria a Rede Globo. A partir de então, os traços que se destacam nas ações da TV Globo foram muitos, e acho que os que me antecederam já os mencionaram. Mas eu privilegiaria a busca pelo novo, pela inovação, pela antena em relação ao que a população quer discutir, quer ouvir e prioriza, e também pela preocupação em preservar nossa cultura, não só regionalmente, mas criando programas em que temos o prazer de ver o brasileiro ali.

            Em especial, cito o programa, que eu adoro, da Regina Casé, que vejo. Mas isso é o Brasil, olha o Brasil ali. É uma alegria poder compartilhar aquele momento e saber das coisas, às vezes novas, que são trazidas.

            Também foi mencionada, e concordo com a importância - parece-me que foi o Senador Cristovam que mencionou -, a visibilidade do Brasil lá fora dada pelas nossas novelas, que levam a nossa história e o nosso jeito de ser.

            Isso eu traduziria como um soft power, que é muito importante, porque as nações também são entendidas não só com tanques, militarismo e tal, mas com a possibilidade de presença, de identidade. Não é à toa que esses institutos que ensinam línguas, como a Cultura Inglesa, ou, quando se trata do ensino do chinês, existem mais de mil instituições chamadas Confúcio, ou a Aliança Francesa estão tão presentes. Nós não temos essa presença no ensinar a nossa língua no mundo, mas temos a nossa cultura apresentada por meio do que a Rede Globo tem feito. Isso é importantíssimo para a imagem brasileira.

            Depois, quero também saudar o padrão técnico elevado que sempre se perseguiu nas telenovelas no Brasil, no Jornal Nacional, no Fantástico, no Globo Repórter. Vimos recentemente a comemoração do jornalismo, com a memória de 16 profissionais. Achei importante, foi um resgate bonito e as pessoas se emocionaram.

            Quero também falar dos filmes, das séries nacionais e estrangeiras que têm sido produzidas, que são um registro da vida contemporânea, das transformações da nossa sociedade. Daqui a 50 anos, quando quisermos saber como funcionávamos, quais eram as características, as discussões que se tinha no Brasil, o maior registro será o da TV Globo. Espero que vocês o preservem muito bem, porque isso será muito consultado nos próximos cem, duzentos anos para se saber como éramos neste momento, tão fidedigna é a cobertura jornalística e contemporânea dos costumes e usos.

            E também eu não posso deixar de mencionar a ousadia - eu vou dizer ousadia, e nem sei se devo - com que a TV Globo tem se colocado em relação aos costumes. Muitas vezes as pessoas dizem: “vai um pouco além”, “estão exagerando”, isso ou aquilo. Mas a TV Globo dá uma imensa contribuição no momento em que coloca temas difíceis, temas polêmicos, abordados de diferentes ângulos, para que a população possa discutir. Isso não só quebra preconceitos, tabus, mas faz a sociedade avançar.

            Eu posso dizer isso, de forma até muito agradecida, pela oportunidade que eu tive de fazer o TV Mulher. E não tenho nenhum acanho de dizer que eu acredito que, para a mulher brasileira, a TV Mulher, que funcionou de 1980 a 1986, foi um antes e um depois, um divisor de águas, porque realmente trouxe questões de que não se falava, questões da sexualidade, com que eu trabalhava, e também questões de política, da forma que Henfil falou.

            Foi uma beleza também a contribuição que deu. Lembro que, naquela época, aquilo era feito de forma absolutamente precária. Ele inventava ali, com as pessoas até que trabalhavam atrás das câmeras, e falava coisas que não podiam ser faladas, como eu também falava. Mas ele também falava. E ali foi de uma ousadia muito grande o que a TV Globo fez.

            Aliás, eu vou até lembrar uma conversa com o seu pai. Um dia ele me disse assim: “Marta, você está acabando com a família brasileira”. Eu falei assim: “Não sei, Dr. Marinho, eu acho que talvez a gente esteja colocando o novo, não é?” Ele falou: “É, talvez, talvez”.

            Eu acho que nós não acabamos com a família brasileira, mas nós colocamos as coisas que estavam muito endurecidas na sociedade. Aquilo permitiu à sociedade avançar naqueles momentos. Foi muito ousado, como continuam a ser os temas em que a Globo tem avançado.

            Eu também quero dizer dos prêmios que a Globo recebeu. Não só, pela primeira vez, o Prêmio Emmy Internacional, na categoria Popular Arts, com o especial infantil Vinicius para Crianças - Arca de Noé. Depois, em 1982, a emissora recebeu novamente o prêmio, mas desta vez com o especial Morte e Vida Severina, baseado na obra de João Cabral de Melo Neto. E das novelas, em 1985, como foi falado já e comemorada a liberação de Roque Santeiro, que foi um marco, do Dias Gomes, cuja exibição tinha sido vetada na época militar, em 1970, e teve interpretações memoráveis da Regina Duarte e do Lima Duarte. Esses exemplos de pioneirismo se seguiram também anos a fio.

             Também quero mencionar que a TV Globo teve, nesses anos, corajosas revisões de suas posições, e isso tem meu enorme respeito. A minha homenagem pessoal, quando Prefeita de São Paulo, foi poder batizar uma grande avenida, em São Paulo, como Avenida Roberto Marinho.

            Quero parabenizar todas as inovações, ousadias e a determinação da Globo, e cada reconhecimento de que melhorar, todo dia, é uma meta e um compromisso com os telespectadores. Então, parabéns à Globo, a João Roberto e à família Marinho, aos colaboradores, e uma vida muito longa.

(Manifestação da galeria.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2015 - Página 17