Discurso durante a 128ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à Srª Nise da Silveira pelo seu pioneirismo no tratamento humanizado de pacientes com transtornos mentais.

Autor
Marta Suplicy (S/Partido - Sem Partido/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem à Srª Nise da Silveira pelo seu pioneirismo no tratamento humanizado de pacientes com transtornos mentais.
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2015 - Página 414
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ASSUNTO, HOMENAGEM, MEDICO, PSIQUIATRIA, MOTIVO, MELHORIA, TRATAMENTO MEDICO, DOENÇA MENTAL, INSERÇÃO, MUSICA, ARTES, ANIMAL, DEFESA, NECESSIDADE, APROVAÇÃO, PROJETO DE RESOLUÇÃO, OBJETIVO, PREMIO, CIDADÃO, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO, TRATAMENTO.

            A SRª MARTA SUPLICY (S/Partido - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Prezados Senadores e Senadoras, telespectadores da TV Senado, a edição de hoje do jornal O Globo nos brinda com o excelente artigo do escritor Marco Lucchesi sobre Nise da Silveira, que ele tão bem descreve como uma "das pessoas mais corajosas que conheci". Eu também acho.

            Marco Lucchesi celebra a reedição de seu belíssimo livro Imagens do Inconsciente. Quem não leu não deve perder.

            Aqui, no Senado, eu quero destacar que há uma valiosa iniciativa do Senador Petecão, que está na pauta de votações da Comissão de Educação, Cultura e Esporte: o Projeto de Resolução no 4, de 2015, que cria o Diploma Nise Magalhães da Silveira, para homenagear personalidades que tenham dado relevante contribuição para o desenvolvimento de técnicas e de condições de tratamento humanizado na área da saúde. A proposta é conceder o diploma anualmente a três pessoas, em sessão especial do Senado, sempre no mês de outubro.

            Nós temos que aprovar essa iniciativa o quanto antes, para, já no ano que vem - neste ano, não dá mais -, colocarmos em ação o justo reconhecimento aos que se destacaram nos rumos da ciência em prol da saúde, da ética e da trajetória humana, nos valores de Nise da Silveira. Isso também vai ser um grande estímulo a avanços.

            Nise da Silveira revolucionou a psiquiatria ao se recusar a tratar com eletrochoques os pacientes com transtornos mentais e ao introduzir arte, música, tratamento com auxílio de animais de estimação. Era à frente de seu tempo.

            Eu estou falando da Nise da Silveira, mas, nesses dias, eu vi, na televisão, documentário sobre Hemingway e fiquei tão espantada. Eu sabia que ele tinha tido problemas de alcoolismo, que tinha sido internado, mas não tinha detalhes dessas internações por depressão, que o levaram a tomar eletrochoque e a ter uma perda de memória, que era um instrumento muito forte da sua obra, na sua área de criação, na literatura, o que realmente teve um peso no restante da sua vida e que acabou levando ao suicídio.

            Nise da Silveira era exatamente uma pessoa que tinha compreensão do mundo mental e da necessidade de usar outras técnicas que não as mais violentas para com as pessoas nessa situação. Como eu disse, ela era à frente do seu tempo. Ela considerava criminoso tratar seres humanos dormindo amontoados, espoliados, dopados a torto e a direito, e, por isso, trouxe a humanização como ponto chave para o tratamento.

            Se nós formos olhar os jornais, hoje, há uma matéria sobre manicômios, que não deveriam mais existir com essa palavra, nem com o que se viu hoje, no jornal, como denúncia. Nós vemos ali a imitação desse tipo de tratamento que antigamente se fazia. Depois, Nise da Silveira foi uma pioneira, e hoje nós temos certa regressão e um descaso muito grande, haja vista que eu estava vendo também o corte no orçamento da cidade de São Paulo em relação a tratamento de doença mental. Conversando com outros colegas Senadores, o mesmo se passa em diferentes Estados.

            Voltando à Nise da Silveira, ela acompanhava as manifestações de seus pacientes, deixando que se expressassem em telas, na música, no lúdico. Com isso trouxe a possibilidade...

(Interrupção do som.)

            A SRª MARTA SUPLICY (S/Partido - SP) - ...de evolução em seus tratamentos.

            Dizia Nise que Jung tinha uma fala numa direção que ela gostava muito e que se resumiria em "é preciso ver o outro lado do psicótico", ou seja, o que ele comunica, o que ele expressa. E, de fato, já vimos na arte genialidades. E ela revelou várias.

            Agora, também me lembrei do Bispo, que foi um dos premiados na Bienal, que foi um dos grandes interesses da Bienal, que viajou todo o mundo, que era uma pessoa que também trabalhava dentro de um manicômio e que possui uma obra supervalorizada hoje.

            Cada vez mais, Nise é revisitada, seja em documentários - a TV Globo, que hoje homenageamos em seus 50 anos, já nos trouxe bons registros -, seja em espetáculos, que têm sido montados com sucesso, como a montagem Nise da Silveira - Guerreira da Paz, interpretada e dirigida pelo carioca Daniel Lobo, com coreografia de Ana Botafogo e com participações multimídia do poeta Ferreira Gullar, do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa e da Monja Coen.

            Teatro, música e dança recontam a trajetória da brasileira que criou ateliês de artes em hospitais psiquiátricos, para estudar a simbologia implícita na pintura dos pacientes.

            Enfim, a vida de Nise é emblemática.

            Nascida em Maceió, em 1905, graduou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1926. Foi aprovada em concurso para o cargo de médico psiquiatra da antiga Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental e se viu afastada do serviço público de 1936 a 1944, em decorrência de seu ativismo político no Partido Comunista Brasileiro.

            Presa durante o Estado Novo, dividiu cela com Olga Benário e conviveu, no mesmo presídio, com Graciliano Ramos, como ele contou em seu célebre Memórias do Cárcere.

            Foi uma jornada extraordinária! É uma mulher séculos à frente, que muito nos orgulha por ser brasileira, por ser uma mulher tão revolucionária e de vanguarda. E hoje é tão homenageada!

            Eu também soube de um documentário sobre a história da vida dela que está com problemas de financiamento. É um filme quase pronto, que está agora interrompido pela dificuldade de patrocinadores. Isso também fica como um pedido para quem estiver nos acompanhando e puder ter alguma ideia de como auxiliar a complementação desse filme tão importante hoje para homenagear Nise da Silveira.

            Quero cumprimentar o Senador Petecão por sua iniciativa valiosíssima.

            Tenha a certeza, Senador, de que tem em mim uma entusiasta para aprovarmos e para agraciarmos os que se destacarem nos rumos da ciência em prol da saúde, no espírito de Nise da Silveira.

            Registro meus cumprimentos também a Marco Lucchesi pelo artigo belíssimo de hoje. Parabéns!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2015 - Página 414