Discurso durante a 128ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação contra matéria veiculada pela revista Veja, envolvendo S. Exª, intitulada “O mar não está para peixe!”; e outro assunto.

.

Autor
Romário (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RJ)
Nome completo: Romario de Souza Faria
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA:
  • Indignação contra matéria veiculada pela revista Veja, envolvendo S. Exª, intitulada “O mar não está para peixe!”; e outro assunto.
DESPORTO E LAZER:
  • .
Aparteantes
Fátima Bezerra.
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2015 - Página 420
Assuntos
Outros > IMPRENSA
Outros > DESPORTO E LAZER
Indexação
  • REPUDIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, MOTIVO, TENTATIVA, DIFAMAÇÃO, ORADOR, ASSUNTO, CONTA BANCARIA, BANCO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, SUIÇA, AUSENCIA, DECLARAÇÃO, DINHEIRO, RECEITA FEDERAL, PEDIDO, INDENIZAÇÃO, JORNALISTA, ORGÃO DE PUBLICAÇÃO.
  • REGISTRO, REUNIÃO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, JOSE EDUARDO CARDOZO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, DIRETOR GERAL, POLICIA FEDERAL, ASSUNTO, SOLICITAÇÃO, ACESSO, DOCUMENTO, JUDICIARIO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PROCESSO, EMPRESA NACIONAL.

            O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente.

            Srªs Senadoras, Srs. Senadores, eu vim aqui relatar um episódio que aconteceu nos últimos dias. Tive uma amostra, embora essa não tenha sido a primeira, do que há de pior no jornalismo, Presidente Paim, esse jornalismo que se manifesta quando alguns profissionais pensam que detêm a exclusividade da informação e da verdade. Esse pensamento arrogante, aliado ao mau-caratismo e movido por interesses escusos, pode ter efeitos devastadores na vida de qualquer cidadão, especialmente quando praticado por um grande veículo de grande comunicação.

            Há duas semanas, os jornalistas Leslei Leitão e Thiago Prado, da revista Veja, me procuraram alegando ter em mãos o extrato de uma conta minha no Banco BSI, na Suíça, com o saldo de R$7,5 milhões. Fui enfático ao responder. Disse que não tinha a conta mencionada e nenhuma relação com aquele banco. Consequentemente, o extrato não poderia existir, mas eles insistiram na veracidade do documento. Eu, então, ironizei: se o dinheiro for meu, eu vou lá buscar.

             Mesmo diante da minha negativa, os jornalistas não tiveram a prudência de investigar e apurar com afinco a veracidade do documento. Eles resolveram publicar uma matéria mentirosa e difamatória, baseados unicamente num documento falso, sem nenhuma comprovação, intitulada “O mar não está para peixe!”

            A publicação rapidamente se espalhou, foi reproduzida, Sr. Presidente, por inúmeros jornais do Brasil e do mundo. Recebi milhares de questionamentos - não pela origem do dinheiro, porque, graças a Deus, tenho uma condição financeira confortável, fruto do meu trabalho fora da política e de muitos anos -, mas pelo fato de a quantia não ter sido declarada à Receita Federal. Diante da grande repercussão e do meu compromisso público com milhões de brasileiros, peguei um avião e viajei até a Suíça para passar a limpo a história, obviamente pagando todas as contas do meu bolso.

            Naquele país, constitui dois advogados em Genebra, onde cheguei acompanhado pela minha ex-mulher, Isabella, hoje minha amiga, que é fluente em francês e pôde me auxiliar com o idioma, já que é a língua da Suíça francesa - falamos de Genebra. Nessa reunião, os representantes do BSI confirmaram que o extrato é falso e que eu não tenho nenhum vínculo com a instituição financeira, muito menos uma conta. Imediatamente comuniquei a todos, por minhas redes sociais, a veracidade dos fatos.

            Hoje recebi - tenho aqui em mãos, Presidente - do banco suíço BSI a confirmação definitiva de que o extrato da suposta conta - com o saldo de R$ 7,5 milhões - em meu nome, é falso. Com essa constatação de grave delito penal, o banco também me comunicou que fez uma queixa penal ao Ministério Público de Genebra para que eles possam apurar o crime.

            Paralelo a isso, o Ministério Público Federal do Brasil também emitiu uma certidão comprovando que não há no órgão nenhuma apuração dessa suposta conta bancária mantida por mim na Suíça. Tenho aqui também a certidão do Ministério Público, desmentindo, mais uma vez, a revista Veja.

            Diante desses fatos, volto aqui a questionar os métodos de reportagem da revista. O jornalismo, quando exercido com responsabilidade e profissionalismo, Presidente, é um dos mais importantes pilares da nossa democracia, com certeza, mas não podemos aceitar que crimes sejam cometidos disfarçados de jornalismo.

            Eu sou uma pessoa pública e, graças a Deus, tenho recursos para me defende, mas muita gente não tem. Esse tipo de irresponsabilidade não pode passar em branco. Estou processando a revista Veja e os jornalistas que escreveram a matéria, cobrando uma indenização por danos morais no valor de dez vezes o que eles disseram que eu tinha na Suíça.

            Serei sempre a favor da liberdade de expressão, mas, neste caso, se trata de um fato criminoso, Sr. Presidente, e, por isso, eles terão que esclarecer à Justiça brasileira e à suíça quem falsificou esse extrato.

            Ser vítima de injustiça é muito ruim, mas, por outro lado, isso serviu para mostrar a falta de ética da Veja, uma revista sem credibilidade, que já sofreu diversos processos e, mesmo assim, não deixa de fazer publicações sem provas. O que ficou bem claro pela repercussão do assunto é que as pessoas não consomem mais mentiras sem reagir.

            Não posso dizer que fiquei totalmente surpreso com esse ataque, porque eu sabia que isso iria acontecer. Assumi recentemente a Presidência da CPI do Futebol e, ao mesmo tempo, as pesquisas de opinião mostram meu nome à frente na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro. A partir do momento em que se mexe com interesses de pessoas poderosas, corruptas e safadas, passamos a sofrer intimidação e difamação, uma prática comum desse pessoal.

            No entanto, se acharam que a matéria me intimidaria, se enganaram completamente. Não fujo de briga e sempre cresci nas guerras. Foi assim na minha vida pessoal e na minha vida como jogador de futebol. E na política não é diferente. Vamos moralizar o futebol brasileiro com a ajuda de todo mundo que realmente quer ver transparência e honestidade na condução do esporte preferido do nosso País.

            Para terminar, Presidente, queria dizer que fizemos ontem a segunda reunião da CPI do Futebol, quando aprovamos alguns requerimentos importantes neste começo de trabalho. Também tivemos uma reunião com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, e com o Diretor-Geral da Polícia Federal, Sr. Leandro Daiello, para solicitar que a CPI do Futebol tenha acesso às informações que serão recebidas da justiça norte-americana nos processos que correm contra brasileiros e empresas brasileiras naquele país. Estamos avançando a passos largos, e esse foi o primeiro gol da CPI.

            Aos que estão me vigiando, peço que continuem o trabalho, porque estou servidor público e devo satisfação a cariocas e brasileiros. Como bem disse um dia Thomas Jefferson: "O preço da liberdade é a eterna vigilância". E eu prezo muito pela minha.

            Diferentemente do que disse a revista Veja, o mar sempre esteve, está e continuará para peixe.

            Era isso o que tinha a dizer.

            Muito obrigado, Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Romário, a Senadora Fátima Bezerra quer fazer um aparte a V. Exª.

            A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Senador Romário, quero aqui dizer a V. Exª que nós nunca tivemos dúvida de que V. Exª estaria na tribuna desta Casa prestando contas ao povo do Rio de Janeiro, prestando contas ao povo brasileiro, portanto desmentindo categoricamente as calúnias plantadas pela revista Veja. Nunca tivemos dúvida porque, ao longo desse tempo, acompanhamos sua história de vida, do menino que enfrentou muitos desafios, de sua história exitosa no futebol profissional e, agora, de sua história e de sua trajetória como Parlamentar. E aqui me sinto muito à vontade para dizer isso, porque fui sua colega lá na Câmara dos Deputados durante quatro anos e agora estou sendo sua colega aqui, no Senado, inclusive tendo a honra de dividir com V. Exª a Mesa Diretora de uma das comissões mais importantes do Senado enquanto comissão temática, que é a Comissão de Educação, Cultura e Esporte. Então, nunca tivemos dúvida, Senador Romário, porque a sua vida, a sua história de vida, a sua trajetória do ponto de vista profissional sempre foi pautada por dignidade, por honradez, por seriedade, por compromisso e por espírito público. V. Exª tem toda razão quando lança mão dos instrumentos de que dispomos e vai à porta da Justiça buscar, portanto, a reparação do que foi feito, do que foi plantado, repito, de forma caluniosa por uma revista que, infelizmente... Não foi o senhor, não foi você a primeira vítima. Quantos brasileiros e brasileiras têm sido vítimas desse jornalismo, infelizmente pautado na falta de ética, de seriedade, de respeito aos princípios da pessoa humana? Então, quero aqui só deixar este nosso registro e dizer aos que nos veem neste exato momento da alegria que tenho...

(Soa a campainha.)

            A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - ... de estar lá, junto com você, na Mesa Diretora da Comissão e de dar o meu testemunho da sua dedicação, da sua seriedade e do seu empenho.

            O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito obrigado, Senadora Fátima.

            Agradeço pelas palavras e, da mesma forma, quero dizer que é um grande orgulho e uma grande honra poder participar deste mandato aqui sendo seu colega e, principalmente, juntos, dividirmos a Mesa de uma das comissões mais importantes desta Casa, que é a Comissão de Educação, Cultura e Esporte.

            Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Romário, aceite a solidariedade total desta Presidência.

            Eu lhe confesso que eu recebi também, pelo WhatsApp, essa acusação infundada em relação a V. Exa, e sabia que não procedia, porque li também a sua resposta, que foi construída. Nesse momento, eu achei importantíssimo - V. Exa é um homem conhecido no Brasil e no mundo - que o Brasil saiba que V. Exa, como disse muito bem... Eu achei importante a resposta que V. Exa deu - desculpe a forma descontraída -: “ora, se tiver esse dinheiro lá, eu vou buscar!” Em uma demonstração tranquila de que não devia e não tinha. E eu fiquei sabendo ainda ontem - e V. Exa fez na tribuna agora esse pronunciamento - que V. Exa foi à Suíça e conferiu, e que realmente é totalmente improcedente.

            Então, fica aqui a nossa solidariedade. V. Exa continua sendo e será o Romário, tão querido do povo brasileiro. Parabéns a V. Exa.

            O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Obrigado, Presidente. Mais uma vez, quero agradecer a V. Exa pelas palavras e dizer que estou sempre à disposição.

            Um abraço, obrigado e boa noite.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2015 - Página 420