Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque a notícias favoráveis acerca da economia brasileira e defesa da proatividade para a resolução dos problemas enfrentados pelo País.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Destaque a notícias favoráveis acerca da economia brasileira e defesa da proatividade para a resolução dos problemas enfrentados pelo País.
Publicação
Publicação no DSF de 05/08/2015 - Página 89
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • CRITICA, QUANTIDADE, ARTIGO DE IMPRENSA, ASSUNTO, HIPOTESE, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, COMENTARIO, MATERIA, OBJETO, DEFESA, SITUAÇÃO, ECONOMIA, PAIS.
  • DEFESA, NECESSIDADE, FOMENTO, CONSUMO, OBJETIVO, MOVIMENTAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem nos ouve pela Rádio Senado, quem nos assisti pela TV Senado, quero aqui fazer um cumprimento. Estamos reiniciando os trabalhos da Casa, recomeçamos ontem as sessões, hoje começam nossas sessões deliberativas. Vamos ter temas importantes para discutir.

            A responsabilidade deste Parlamento, do Congresso Nacional, é muito grande com o País. E espero, sinceramente, que o Congresso, o Senado da República esteja à altura dessa responsabilidade, dando as respostas de que precisamos, votando as matérias que são necessárias, para que a gente tenha o equilíbrio econômico-financeiro e, sobretudo, retomemos o nosso desenvolvimento econômico.

            E é sobre a economia que gostaria de falar um pouco aqui, a economia que tenho visto no cotidiano. Quando terminamos nossa sessão legislativa e saímos de recesso, para voltarmos agora, os debates aqui sempre estavam muito acalorados, com críticas muito ferrenhas ao momento da economia brasileira, dizendo que nós estávamos no pior dos momentos. Lembro-me até de um debate que fiz com o Senador Aloysio Nunes em que ele dizia que o Brasil estava numa situação realmente muito ruim da economia, estava quebrado, com dificuldades, e eu dizia a ele: tenho lido algumas matérias de jornais que estão atestando o contrário, em alguns setores, do que V. Exª está falando. E falava para ele sobre investimentos estrangeiros, falava para ele sobre o desenvolvimento na área da agricultura, trocávamos essas ideias.

            E eu queria contar aqui um fato muito interessante que aconteceu comigo nesse recesso e que eu acho que ilustra bem a situação que nós estamos vivendo e a necessidade de nós termos um olhar diferenciado para este momento.

            Eu estava em uma farmácia, aqui em Brasília, no domingo, onde fui fazer uma compra, e encontrei um conhecido que trabalhou comigo na Câmara dos Deputados, quando eu trabalhava lá, quando o Paulo Bernardo era Deputado Federal. Ele me encontrou, me cumprimentou, eu perguntei como ele estava, e ele disse que estava bem, mas que estava muito preocupado com o momento do País; que estava tudo muito ruim, que o Brasil realmente - e ele trabalha na área de orçamento - estava indo por um caminho extremamente perigoso, que a nossa economia estava ruim. Enfim, ele pintou o caos e terminou assim: “eu tenho cidadania espanhola e vou para a Espanha”. Eu devo ter feito uma cara muito estarrecida, porque ele disse assim: “para a Espanha, sim, porque lá eles já tiraram o nariz para fora”. Aí eu virei para ele e disse assim: mas eu nunca soube que nós estivemos com o nariz para dentro ou tampado, aqui no Brasil, porque os índices de desemprego que a Espanha apresentou ao mundo - de 40% entre a juventude e de mais de 20% na sua população economicamente ativa - nós não chegamos e não chegaremos a ter no Brasil.

            Pelo que me consta, o Brasil soube enfrentar a crise internacional - que se iniciou lá em 2008, com a quebra do Lehman Brothers, com o sistema financeiro americano - muito melhor do que a Espanha. Podemos ter gasto mais recursos do orçamento, ter investido mais em programas sociais, ter feito gastos maiores, talvez, que os recomendáveis, mas nós seguramos as pontas aqui, não passamos pelo o que a Espanha passou. A Espanha colocou as pessoas para fora de casa. Quem não conseguia pagar a sua casa, o seu financiamento, o banco chegava lá e colocava para fora. Nós não tivemos nenhuma situação dessas.

            Então, eu disse assim para ele: nós não estamos com o nariz tampado para que você me diga uma coisa dessas. Aí, ele continuou insistindo: “Não, mas nós estamos em crise, sim. Veja o setor da construção civil. Eu tenho um filho que é engenheiro e uma filha que também trabalha nessa área, no setor de construção, e eu me preocupo com eles”. Aí eu disse assim: que eu saiba, o setor da construção civil, o setor da engenharia não está em crise. Eu não tenho aqui, mas não tenho nenhum dado de que nós tenhamos problemas com desemprego na área de engenharia. Ele disse: “Ah, agora não, mas podemos ter no futuro, porque o Brasil não tem infraestrutura, a Espanha tem.” Eu digo: mais um motivo para pensarmos diferente; como não temos infraestrutura, vamos precisar de muitos engenheiros.

            Eu disse para ele: eu coordenei na Casa Civil o Plano de Investimento em Logística. Nós tínhamos dificuldade de ter engenheiro para fazer projeto básico para poder licitar concessão no País. E, não sei se você sabe, a Presidenta acabou de lançar o Plano de Investimento em Logística 2, exatamente para que a gente tenha investimento em infraestrutura. Então, o senhor pode ficar muito tranquilo porque não faltará emprego para os seus filhos nos próximos anos. Nós vamos, sim, precisar de profissionais da área de engenharia. Aliás, a Presidenta vai lançar o Minha Casa, Minha Vida 3. Três milhões de habitações populares terão que ser feitas. Isso responde a quem precisa de habitação e, sobretudo, responde ao mercado da construção civil.

            Estou contando isso porque, às vezes, a gente passa a fazer uma avaliação da realidade nem sempre pelo que estamos vivendo, mas muitas vezes pelo que os outros comentam - e muitas vezes induzidos por notícias negativas. Se ligarmos a televisão hoje, todos os telejornais, indistintamente, trazem um monte de notícia negativa e poucas notícias positivas. O que eu quero dizer com isso? Você liga o jornal, dá a impressão de que você está no pior país, que vai acabar a economia brasileira. Que não vamos mais ter emprego, que não temos mais condições de ter desenvolvimento econômico, que não vamos mais ter programas sociais. Aí, você vai andar no País - e eu fiz isso muito no recesso, agora, no interior do meu Estado - e não é isso que a gente encontra.

            Não estou dizendo aqui que não temos dificuldade econômica. Aumentou o nosso índice de desemprego, aumentou a inflação - você vai ao mercado e vê que as coisas estão mais caras -, o valor do crédito aumentou. Claro, estamos com dificuldades. Aumentou o preço da luz. Mas daí a dizer, Sr. Presidente, que estamos na maior crise financeira e econômica dos últimos tempos, que tudo é o pior dos últimos 12 anos, dos últimos 15 anos? Espera aí! Isso é uma avaliação política em cima de uma dificuldade econômica. E isso pode gerar crise.

            Então, escrevi um artigo sobre isso e publiquei no meu Face, publiquei num blogue do Paraná, e um comentarista do Facebook disse assim: “Lembra, Ministra, quando diziam” - me chamou de Ministra - “Lembra, Ministra, quando diziam ‘imagina na Copa’? Agora, quando é para dar uma notícia boa na economia” - porque falam tanto que temos uma crise -, “falam ‘apesar da crise’.” Aí eu fiquei pensando e digo: é verdade.

            Eu fui Ministra-Chefe da Casa Civil no momento em que a gente preparava a Copa do Mundo. Nós tínhamos lá o grupo que cuidava da área de segurança, o grupo que cuidava da área de infraestrutura, o grupo que acompanhava os estádios; tínhamos isso muito bem organizado. Mas todas as matérias de jornais sobre a Copa diziam que ela daria errado no Brasil, que não tínhamos condições de fazer a Copa, que éramos incompetentes, incapazes, que a Copa não ia sair. E, quando se via, às vezes, um aeroporto cheio, o pessoal dizia: “Imagina na Copa!” Quando havia um problema de segurança: “Imagina na Copa!” Isso permeou o discurso antes da Copa.

            Bem, veio a Copa. E nós fizemos uma das melhores Copas do mundo dos últimos tempos, elogiadíssima internacionalmente. Conseguimos ter uma boa segurança, os estádios estavam prontos, a infraestrutura, a rede hoteleira, a receptividade brasileira. O Brasil deu um show na Copa do mundo. Aí, depois, vieram questionar a questão dos valores, a questão do padrão FIFA, mas o fato é que o “imagina na Copa” não se realizou. Agora, estamos no “apesar da crise”.

            Esse “apesar da crise” tem me incomodado, porque as pessoas não estão conseguindo olhar a realidade para saber distinguir o que é um problema, uma dificuldade econômica que temos, e que é conjuntural, do que é, efetivamente, uma crise estrutural na nossa economia. Porque crise nós já tivemos. Quem não se lembra do momento em que tivemos a retirada do dinheiro da poupança? Quem não se lembra da crise de desemprego que chegava a 13%? Quem não se lembra de crise em que as pessoas não tinham o que comer, quando nós tínhamos 30 milhões de pessoas...

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... no desemprego? Quem não se lembra disso? Isso era crise. Nós devíamos para o Fundo Monetário Internacional, andávamos de pires na mão, não tínhamos reservas externas, não tínhamos um colchão de proteção social. Aquilo era crise; hoje, não. Hoje, temos dificuldades econômicas, mas temos respostas e saídas para a nossa economia.

            E, aí, em razão dessas críticas todas e do debate que se deu a respeito desse tema na rede social, eu pedi à assessoria do meu gabinete para fazer um levantamento na imprensa escrita de notícias que pudessem nos falar um pouco de questões positivas da economia. Achei até que iam ser poucas as notícias. É bem verdade que todas estavam escondidas, ou seja, o espaço nobre dos jornais não era para elas. O espaço nobre dos jornais era para as notícias ruins, crises. Mas dessas notícias nós fizemos a discussão e...

(Interrupção do som.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Mas essas notícias existiram, e eu quero dar alguns exemplos. E, mesmo assim, elas vinham com o “apesar da crise”.

            Então, começa assim:

            “Apesar da crise financeira, há como seguir realizando investimentos no Brasil.”

            “Economia criativa - setor cresce e salários também.”

            “Vale volta ao lucro depois de três trimestres no vermelho.”

            “Apesar da crise, investidores garantem portos no Estado.”

            “Em sua 1ª edição, Fenin Fashion Rio movimenta mercado da moda em tempos de crise.”

            “Supermercados ignoram a crise e abrem 8000 vagas.”

            “Embraer registra lucro líquido de R$405 milhões.”

            “Lucro líquido da Ambev cresce 27% no trimestre.”

            “Após três trimestres seguidos de perdas, Vale lucra mais.”

            “Lucro do Santander no Brasil sobe R$1,6 milhões.”

            “Apesar da crise, lucro do Bradesco cresce.”

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - “Toyota busca 500 trabalhadores para fábricas.”

            “BRF, Renner e Magazine Luiza têm lucro no 2º trimestre.”

            “Brasília registra crescimento na construção civil gerando 11 mil empregos em junho.”

            “Audi do Brasil bate recorde.”

            “WEG tem mais um trimestre com balanço positivo.”

            “Cielo lucra R$869 milhões.”

            “Grupo anuncia mais 11 concessionárias no Espírito Santo: Toyota, Jeep, Land Rover, Mercedes e Lexus.”

            “GM investirá R$6,5 bilhões.”

            “Dez anos depois, Dunkin' Donuts volta ao Brasil.”

            “Onze cidades que estão gerando empregos apesar da crise.”

            “Brasil atinge meta do milênio em redução de pobreza.”

            “O desemprego no Brasil e na Europa: onde mesmo está a crise?”

            E aí por diante.

            Aliás, a última notícia que tivemos é de que os investimentos estrangeiros cresceram no Brasil. Ora...

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... um país em crise profunda e estrutural não traz investimentos estrangeiros. Não traz.

            Ontem a manchete do Valor Econômico era de que as empresas, apesar da crise, estavam crescendo em receita de dois dígitos.

            Portanto, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, o que quero problematizar, pontuar, neste Senado, nesta tribuna, e debater é exatamente sobre a forma com que estamos avaliando o nosso País. Nós não estamos numa crise estrutural. Nós estamos passando um momento de dificuldade.

            Agora, se nós persistirmos no pessimismo, se o Congresso Nacional não der base e apoio para que o Governo faça as medidas necessárias para que enfrentemos este momento, se nós não tivermos o entusiasmo para investir, para consumir e ficarmos com o discurso de paralisia, aí nós vamos entrar na crise.

            É aquela velha máxima: se você quer que um banco quebre, diga que ele está quebrado.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Portanto, o apelo que faço a este Congresso, a este Senado que volta do recesso é o de que tenhamos responsabilidade com o País.

            O que votarmos aqui, achando que vamos votar... Ou se os setores votarem, achando que vão votar para serem contrários à Presidenta, para serem contrários ao PT, para serem contrários ao Governo que está aí, vão votar sendo contrários ao Brasil.

            Temos um País que venceu desafios enormes e tenho certeza de que vamos vencer os desafios que temos agora.

            Portanto, que o “apesar da crise”, que está sendo divulgado como o “imagina na Copa”, não passe disto: não passe de um jargão negativo, cujo tamanho a história vai mostrar exatamente.

            Mas, para isso, precisam de nós, dos agentes políticos - dos Senadores, dos Deputados, dos dirigentes deste País. Precisam do otimismo, da esperança...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... do otimismo, da esperança, mas principalmente da responsabilidade com o futuro brasileiro.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/08/2015 - Página 89