Discurso durante a 138ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo Federal pela falta de razoabilidade na execução do ajuste fiscal.

Autor
Ronaldo Caiado (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Ronaldo Ramos Caiado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Críticas ao Governo Federal pela falta de razoabilidade na execução do ajuste fiscal.
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2015 - Página 147
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • REGISTRO, CRISE, ECONOMIA, CRESCIMENTO, DESEMPREGO, INFLAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRITICA, AJUSTE FISCAL, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PREJUIZO, TRABALHADOR, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, VOTAÇÃO, AUMENTO, TRIBUTOS, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, ABRANGENCIA, FUNDOS, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, DESVINCULAÇÃO DE RECEITAS DA UNIÃO (DRU).

            O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Oposição/DEM - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Sras e Srs. Senadores, o debate na data de hoje é focado principalmente neste momento em que o País passa por toda essa turbulência política e econômica, com um quadro avassalador do ponto de vista do desemprego, da inflação e das denúncias de corrupção, que, cada vez mais, comprometem e minam a credibilidade - se é que ainda existe - do atual Governo do PT, do ex-Presidente Lula e de Dilma.

            Sr. Presidente, nós não conseguimos entender o ajuste fiscal proposto pelo Ministro Levy. Às vezes, ele volta à prática do ex-Ministro Mantega. Se alguma sugestão pudesse ser dada, eu diria que, realmente, neste momento, ele fosse mais Levy e menos Joaquim, porque a Casa não sabe exatamente o que ele deseja.

            Num primeiro momento, o Governo propôs uma política restritiva e penalizadora aos aposentados e aos trabalhadores, atingindo a legislação trabalhista, que o Governo, em todo momento, dizia defender no período eleitoral.

            Agora, temos uma matéria que será votada hoje, o último item do ajuste fiscal. É uma matéria que propõe aumentar a carga tributária, aumentar os impostos, para que os empresários tenham de demitir os funcionários, já que não suportam o aumento feito, muitas vezes em mais de 100%, outras vezes em até 200%.

            Mas vejam os senhores que, na hora em que ele diz que tem de aumentar a carga tributária, ele vai para mídia hoje e diz o seguinte: nós vamos liberar linhas de crédito para o setor automotivo e aí vamos fazer uma linha de crédito subsidiada. Mas como, se está, ao mesmo tempo, aumentando a carga tributária hoje aqui, na Casa?

            É lógico que vamos derrotar esse projeto de lei com caráter de urgência urgentíssima da Presidente da República, porque os Senadores aqui estão vendo que o Governo se acha no direito de penalizar 60 segmentos da atividade econômica do País e, de repente, pinçar um segmento, o automotivo, e dizer: agora vou liberar um crédito subsidiado.

            Ora, os Senadores e as Senadoras não têm como avalizar essa proposta da Presidente Dilma, porque, além de toda a prepotência do Governo de agir sem consultar a sua base e muito menos o que pensam os Senadores e de se achar no direito de escolher os campeões para drenar toda a verba do BNDES e, aí sim, servir-se dela no caixa dois da campanha eleitoral, o mesmo Governo, ao mesmo tempo em que afirma que vai com isso conseguir levantar essa área da economia, priorizando o setor automotivo, apresenta uma emenda à Constituição brasileira, uma PEC, no dia 8 de julho, da qual tomamos conhecimento na data de ontem, que propõe - vejam os senhores e as senhoras, independentemente de posição partidária, o presente da Presidente Dilma e também do Ministro Levy às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste - e resolve ampliar a abrangência exatamente da DRU (Desvinculação de Receitas da União). E aí colocou isso como receitas, que serão bloqueadas em 30%, para que possam ser utilizadas pelo Governo, principalmente para fazer superávit primário, já que ela não consegue arrecadar e muito menos fazer o País crescer. Nas contribuições sociais e econômicas, a regra atual é de 20% e passa para 30%.

            Agora, vejam bem o presente que é dado ao Norte, ao Nordeste e ao Centro-Oeste! Chamo a atenção dos nossos Pares. Criou exatamente esse contingenciamento, esse bloqueio, essa retirada de 30% do FCO, do FNE e do FNO, ou seja, dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte. E esses são exatamente, Sr. Presidente, verbas e repasses que nos foram concedidos na época da Constituinte. O legislador, à época, viu a necessidade de essas regiões terem um tratamento diferenciado para poderem competir, amanhã, com as Regiões Sul e Sudeste, em que havia uma infraestrutura ampliada, em condições de competitividade. O que o legislador quis com esse repasse de 3% do IPI e do Imposto de Renda foi exatamente dar um mínimo de oxigênio aos empresários, aos produtores rurais, enfim a todo o setor produtivo dessas três regiões do País, com um crédito que tivesse, sim, um custo diferenciado.

            O que a Presidente fez, neste momento, atinge exatamente as regiões mais carentes do País. Ou seja, ela é benevolente com o ABC Paulista, a região mais rica do Brasil, vai irrigar o ABC Paulista com mais R$5 bilhões agora só para o setor automotivo, mas vai tomar R$3,8 bilhões das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

            Ou seja, é inimaginável, é inadmissível nós aqui imaginarmos que a Presidente da República ache que dará conta de aprovar uma emenda constitucional, que depende de 49 votos em duas votações no Senado Federal e de 308 votos em duas votações na Câmara dos Deputados, que desmerece a presença e a representatividade dessas bancadas dessas três regiões. Essas regiões, de maneira alguma, vão admitir serem penalizadas pela retirada daquilo que é único oxigênio para que os cidadãos sobrevivam com custos menores de empréstimos, exatamente o FCO.

(Soa a campainha.)

            O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Oposição/DEM - GO) - Sr. Presidente, não parou por aí. Os senhores prefeitos e governadores serão duramente penalizados. Ou seja, vai contingenciar também, ou vai retirar também 30% de todas as compensações financeiras de recursos hídricos e minerais. Os Estados já recebem pouco, como também os Municípios. E, a partir de agora, este repasse que era feito, essas contribuições que eram feitas para os Municípios banhados principalmente pelas hidrelétricas e para aqueles Municípios que têm em seu território mineradoras... Eles terão também um contingenciamento de 30% de toda essa receita.

            Com isso, Sr. Presidente, fica claro...

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Permita-me um aparte, Senador Ronaldo Caiado?

            O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Oposição/DEM - GO) - Pois não, Senador Flexa.

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Eu estava escutando o seu pronunciamento...

(Interrupção do som.)

            O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Oposição/DEM - GO) - Está havendo um problema no (Fora do microfone.) microfone, Senador Flexa Ribeiro.

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Eu escutava o pronunciamento de V. Exª. Eu me dirigia ao plenário, e V. Exª, ainda na tribuna, falava de algo que traz uma angústia para todos nós. Ontem, por ocasião do projeto que foi aprovado e que trata da irrigação para o Semiárido, no Nordeste, pude ler que o Governo tinha encaminhado ao Congresso uma PEC que aumentava a DRU de 20% para 30% e que incluía na DRU os Fundos Constitucionais. Ou seja, o que estávamos  aprovando não ia ter efeito prático, porque o financiamento para a irrigação que seria feito pelo Banco do Nordeste... Por sinal, hoje, estavam em audiência na Comissão de Desenvolvimento Regional. Só o Basa, ao longo do tempo... A maldade é tão grande, ou o desconhecimento do Governo é tão grande, que se leva esse corte até 2023. Ou seja, ou eles não estão acreditando que vão sair no máximo até 2018 e que, então, nós vamos endireitar este País, com a retomada do Governo, ou, então, não estou entendendo, porque eles fazem a maldade em longo prazo, para 2023, cortando do Basa R$6 bilhões.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Do Banco do Nordeste, devem cortar uns R$18 bilhões. Do Centro-Oeste, onde é o Banco do Brasil que opera, devem ser cortados outros R$6 bilhões. Então, é uma preocupação de todos nós. Não entendo, não posso conceber que, no Senado Federal, às 18 horas, nós não tenhamos conhecimento se haverá Ordem do Dia ou não. Se houver a Ordem do Dia, o que nós vamos votar? Então, o Brasil está numa crise. Credibilidade o Executivo já perdeu; legitimidade já perdeu. O Congresso, nesta hora, tem de estar forte, com confiança, para que os brasileiros possam ter, no Congresso, o apoio de que precisam, para que o Brasil possa sair da crise. No meu Estado, Estado do Pará, o Governador Simão Jatene, que é Governador pela terceira vez, é um gestor de altíssima competência.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Oposição/PSDB - PA) - O Estado do Pará é um dos poucos Estados que tem todos os seus índices dentro da normalidade e que está numa situação muito boa. Mas, hoje, ele diz que essa crise é a mais grave de todas as que ele já enfrentou. As prefeituras estão quebradas.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Oposição/PSDB - PA) - V. Exª está falando, e o Senador Otto estava dizendo que o que está acontecendo, como dizem os que são do agronegócio, é que a vaca está desconhecendo o bezerro. Não dá nem para conversar mais. Então, Senador Caiado, o que está acontecendo é que o Governo não paga ninguém, não está pagando nem promessa. A Presidenta Dilma, durante o processo eleitoral, como se diz no meu Pará e deve-se dizer em Goiás, na sua terra, vendeu a mãe e não entregou! Essa é a situação lamentável em que se encontra o Governo.

            O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Oposição/DEM - GO) - Senador Flexa, agradeço o aparte de V. Exª.

(Soa a campainha.)

            O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Oposição/DEM - GO) - Ele reforça a nossa tese de que, hoje, todos nós, Senadores e Senadoras, com a responsabilidade que temos para garantir o trabalho e o emprego a milhares de brasileiros, precisamos derrotar esse projeto do ajuste fiscal, com urgência constitucional, do Governo, que está trancando a pauta. Como V. Exª colocou muito bem, o horário do início de votação é às 4 horas da tarde, mas, até o momento, não temos ainda a pauta e muito menos o Relator aqui, para encaminhar a matéria em votação.

            O Governo sabe que não tem como construir uma maioria para aprovar algo que é totalmente incongruente. Ou seja, ele é benevolente com alguns setores e penalizador com outros. Vamos salvar o trabalho, o emprego e os trabalhadores, derrotando o projeto de lei do Governo Federal. Amanhã, o Governo não terá sucesso para votar nenhum outro projeto, se não retirar essa PEC da DRU, que penaliza enormemente as regiões mais carentes do País.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2015 - Página 147