Comunicação inadiável durante a 100ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discurso de desfiliação do PSDB por não concordar com a posição do partido no cenário político atual.

Autor
Lúcia Vânia (S/Partido - Sem Partido/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Discurso de desfiliação do PSDB por não concordar com a posição do partido no cenário político atual.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2015 - Página 201
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, VIDA PUBLICA, SITUAÇÃO, POLITICA NACIONAL, REGISTRO, SAIDA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO POLITICO, MOTIVO, CRITICA, POLITICA PARTIDARIA.

            A SRª LÚCIA VÂNIA (Bloco Oposição/PSDB - GO. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje a esta tribuna para comunicar às Srªs e aos Srs. Senadores a minha desfiliação do PSDB.

            Não poderia deixar de fazer aqui os agradecimentos a todos com os quais convivi no Partido ao longo de mais de 20 anos. Embora o meu primeiro mandato de Deputada Federal tenha sido pelo PMDB, todos os demais o foram pelo PSDB.

            Tive a honra de receber o convite do Presidente Fernando Henrique Cardoso para ocupar a Secretaria Nacional de Assistência Social em seu primeiro Governo, quando tive um grande desafio: desmontar um sistema social obsoleto, fragmentado e assistencialista que se esgotou, afundado na corrupção e na troca de favores por votos.

            Implantei a Lei Orgânica da Assistência Social, discutida por toda a sociedade e aprovada pelo Congresso Nacional. A Assistência Social deixava de ser favor e caridade e passava à categoria de direitos, fazendo parte da Seguridade Social, ao lado da saúde e da previdência, como política pública.

            Com a implantação da Lei Orgânica nascia o primeiro programa de transferência de renda universal e não contributivo, o Benefício da Ação Continuada, LOAS, que destina um salário mínimo para idosos e pessoas portadoras de deficiência.

            Implantei o PETI, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, três vezes premiado pela Unicef. Tiramos 100 mil crianças dos canaviais de Pernambuco e Alagoas, do sisal da Bahia, e das carvoarias do Mato Grosso do Sul. Hoje o programa atende a cerca de 1 milhão de crianças. Formulei a Lei Nacional do Idoso, criamos os Centros de Convivência, hoje espalhados por todo o Brasil.

            Participei ativamente de todos os momentos da vida partidária. A minha dedicação foi por inteiro, identificação, admiração e, acima de tudo, comprometimento com os valores e princípios defendidos pelo partido: austeridade fiscal, comprometimento com o efetivo resultado social.

            Coordenei, ao lado dos Senadores Tasso Jereissati e Sérgio Guerra, as campanhas de José Serra e Geraldo Alckmin; coordenei em Goiás a campanha ali vitoriosa de Aécio Neves.

            Hoje me sinto desconfortável no partido. Talvez eu não tenha tido a capacidade de fazer a transição para este novo momento. Saio em busca de um novo espaço que me traga motivação, uma nova compreensão deste momento ímpar que vivenciamos no País.

            Invoco as palavras do Dr. Campos da Paz, que recebeu homenagem póstuma nesta Casa, para expressar a minha inquietação, abre aspas: "Nestes tempos em que as utopias se esgotaram e por falta de rumos, valores e referenciais, a sociedade se canibaliza, é preciso mais do que nunca buscar o contraditório".

            Sr. Presidente, não acredito em uma oposição movida a ódio. Preocupa-me a interpretação que parte da Oposição faz da indignação das ruas. Na minha visão, este confronto que se estabeleceu no Congresso Nacional entre Oposição e Situação, para dar respostas a uma sociedade órfã de lideranças, é simplesmente irracional.

            Nós estamos adubando os caminhos para os extremos, para os radicais se aninharem em todos os espaços da vida nacional. Nós estamos estimulando a violência, no lugar de buscarmos alternativas inteligentes para combatê-la.

            Todos nós sabemos que o País está em convulsão. Os desmandos e a corrupção enfraquecem a defesa dos princípios e valores de uma sociedade civilizada.

            O nosso papel, mais do que nunca, precisa ser de equilíbrio e de sensatez, sem, contudo, deixar de condenar os desvios, a má gestão, o descompromisso com o dinheiro público. Mas isso deve ser feito com a preocupação de oferecer alternativas e reavivar esperanças.

            Saio em busca dessa utopia.

            Sr. Presidente Renan, não poderia encerrar as minhas reflexões sem agradecer a V. Exª a compreensão que tem tido nesta Casa em relação ao papel da mulher na vida política do País.

            Os espaços conquistados permitem à bancada feminina mostrar a sua competência, o seu valor, o seu talento e até mesmo a sua forma peculiar de se relacionar com o poder, mais suave, menos competitiva, menos afoita nos confrontos agressivos, mas não menos eficiente e não menos aguerrida.

            Acredito que seja esta a motivação que tem levado V. Exª, insistentemente, a abrir oportunidades para que as mulheres ocupem espaços de poder nesta Casa.

            Encerro as minhas palavras afirmando que a credibilidade é um atributo do qual eu não abro mão. E, conhecendo os meus eleitores, sei que sempre esperam da minha atuação parlamentar perseverança, firmeza e determinação. E isto quero continuar oferecendo ao meu País.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2015 - Página 201