Discurso durante a 133ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a reverenciar a memória de Eduardo Campos, em razão do transcurso de um ano de seu falecimento, nos termos do Requerimento nº 841, de 2015, do Senador Roberto Rocha e outros Senadores.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a reverenciar a memória de Eduardo Campos, em razão do transcurso de um ano de seu falecimento, nos termos do Requerimento nº 841, de 2015, do Senador Roberto Rocha e outros Senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/2015 - Página 25
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EDUARDO CAMPOS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, POLITICA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente; Sr. Senador Roberto Rocha; Senador Fernando Bezerra; Sr. Carlos Siqueira, nosso grande Líder do PSB; nosso colega, amigo, Renato Casagrande, é muito bom tê-lo aqui mais uma vez; Srª Emília Ribeiro; amigo Jucá; Márcia Rollemberg; senhoras e senhores, é impossível começar a falar de Eduardo Campos sem lembrar Miguel Arraes. Sobretudo no meu caso que carrego comigo o orgulho de ter dado a ele meu primeiro voto aos 18 anos de idade e de nunca ter me arrependido.

            Lembrar de Arraes significa lembrar da luta pelas reformas de base, e o Brasil até hoje espera muitas delas, Senador Pedro Simon. Significa lembrar o respeito aos trabalhadores, que hoje estamos outra vez precisando lembrar. Significa lembrar a necessidade de um desenvolvimento econômico justo, eficiente, como já ouvimos aqui em algumas manifestações. Significa lembrar a luta pela democracia, pela liberdade, pela participação e pela soberania, como Carlos Siqueira, aliás, falou aqui para nós.

            Falar de Eduardo Campos é lembrar as lutas de Miguel Arraes naquele momento - tudo que, para nós jovens, de repente desapareceu, por causa de tanques de guerra nas ruas do Brasil; no meu caso em especial, de Recife. Eu estava na manifestação em frente ao Palácio das Princesas, na tentativa de defender o governo Arraes, onde dois colegas caíram mortos, vítimas das balas das armas que derrubaram Arraes.

            Agora estamos aqui para lembrar o neto dele, vítima de um avião, interrompendo sonhos, também. Interrompendo sonhos, mas não matando os sonhos - os sonhos do Eduardo, que defendia as reformas de hoje. Algumas iguais às do passado, outras diferentes.

            Lembrá-lo é lembrar a necessidade de uma política com honestidade, com transparência, com competência, com compromissos - e não a política do acordo e do conchavo, sem transparência, carregada de desonestidade, seja de mensalão, seja de petrolão. E sem competência, como a gente tem visto hoje no Governo atual - um ministério carregado de fragilidade, sem representatividade, sem competência.

            Lembrar Eduardo é lembrar os direitos dos trabalhadores no mundo de hoje. Trabalhadores que precisam, sobretudo, de formação para garantir um emprego. E formação continuada para garantir que seu emprego seja permanente, e não provisório.

            E significa, sobretudo - como lembrou aqui o Senador Valadares -, a necessidade de educação, no Brasil, como vetor do progresso, como o caminho para acabar com a estupidez de, em pleno século 21, na era do conhecimento, desprezarmos cérebros. Essa estupidez que o Brasil comete, incinerando cérebros, tapando cérebros, e a imoralidade de dar educação desigual no Brasil.

            Lembrar Eduardo é lembrar que é preciso parar a imoralidade da educação desigual e a estupidez da negação de educação, porque - como foi lembrado aqui pelo Valadares - ele defendia o filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão. Senador Renan, era uma questão de mais uma ou duas semanas para que o discurso de Eduardo Campos explicitasse que, no caso da educação, a responsabilidade tem que ser da União brasileira, que não é possível deixar a educação nas mãos dos pobres Municípios e diante da desigualdade entre os Municípios.

            A Agenda Brasil que o Senador Renan lançou anteontem abre a possibilidade dessa discussão da adoção das escolas das cidades pobres pelo Governo Federal, em uma marcha a que a gente pode chamar de federalização. O discurso de Eduardo Campos certamente caminharia na direção de quebrar a desigualdade social e regional, oferecendo escola com a mesma qualidade para todas as crianças.

            Um tanque de guerra tirou Arraes; um avião tirou Eduardo; mas os sonhos do primeiro não morreram, porque nós não desistimos. Aquele avião onde estava Eduardo não matou os nossos sonhos; tirou-nos o melhor líder que nós tínhamos naquele momento, mas não tirou os sonhos, porque nós não desistiremos do Brasil até o dia em que o filho do trabalhador estudar na mesma escola do filho do patrão.

            Os políticos são lembrados por muitas coisas: os que chegam ao poder, até por alguns fatos, mas os bons, independentemente de terem chegado ou não ao poder, são lembrados pelas grandes frases que disseram. E o Eduardo disse duas grandes frases que se unem formando um só pensamento. Há a frase que estava no dia do seu enterro carregada por professores de uma cidade do interior de Pernambuco; a frase que dizia isto que o Valadares citou, isto que eu repeti: “O Brasil só será um país eficiente, justo no dia em que o filho do mais pobre estudar na escola do filho do mais rico”. E ele disse também: “Não desistiremos”.

            Eduardo, esta homenagem é o momento de nós dizermos a você - e de você ao Brasil: o Brasil não será justo, não será eficiente, não será decente enquanto nós não tivermos o filho do mais rico na mesma escola do filho do mais pobre. E, Eduardo, nós não desistiremos até que isso aconteça, realizando o seu sonho.

            É isso que eu tenho a dizer, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/2015 - Página 25