Pronunciamento de Humberto Costa em 13/08/2015
Discurso durante a 133ª Sessão Especial, no Senado Federal
Sessão especial destinada a reverenciar a memória de Eduardo Campos, em razão do transcurso de um ano de seu falecimento, nos termos do Requerimento nº 841, de 2015, do Senador Roberto Rocha e outros Senadores.
- Autor
- Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
- Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Sessão especial destinada a reverenciar a memória de Eduardo Campos, em razão do transcurso de um ano de seu falecimento, nos termos do Requerimento nº 841, de 2015, do Senador Roberto Rocha e outros Senadores.
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/08/2015 - Página 29
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, EDUARDO CAMPOS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, POLITICA.
O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão
do orador.) - Sr. Presidente; Srª Márcia Rollemberg; ilustre Senador Romero Jucá; ex- Governador, ex- Senador, Presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande; Senador Roberto Rocha, nosso companheiro; Presidente do PSB, nosso companheiro conterrâneo Carlos Siqueira; Drª Emília Ribeiro, aqui representando o Ministério da Ciência e Tecnologia, o nosso Governo, quero dizer que venho à tribuna hoje em nome do PT, mas também em meu nome pessoal.
Entendo que esta homenagem que o Senado presta hoje, uma iniciativa do Senador Roberto Rocha e de vários companheiros nossos que se associaram a esse requerimento, é absolutamente justa. Quero listar, em breves palavras, algumas razões pelas quais considero que estamos aqui prestando, acima de tudo, um ato de justiça.
Eduardo Campos foi alguém que conseguiu, ao longo da sua trajetória, construir pontes, construir relações, produzir consensos. É uma história profundamente vinculada a outro grande brasileiro que nos deixou também muitas saudades, que foi o ex- Governador Miguel Arraes.
A relação entre o PT e Arraes, a relação entre o PT e Eduardo Campos e a minha relação pessoal com ambos vêm lá de trás, quando, em 1979, pudemos materializar, com a vinda de Arraes, a admiração, o respeito e a compreensão do papel que ele exercia quando voltou ao Brasil, após a anistia. Naquele momento, naquela recepção, estávamos todos lá. O Presidente Lula ainda era uma liderança sindical, procurando organizar um novo partido político. Depois daquele momento, essa relação Lula-Arraes-Eduardo só fez se fortalecer.
Já em 1989, quando disputamos a eleição presidencial com Lula e chegamos ao segundo turno, apesar de integrante do PMDB, o Governador Miguel Arraes - naquele momento, Eduardo já o acompanhava -, em nenhum momento, vacilou quanto ao campo em que ele deveria participar naquela disputa. Aliás, já no primeiro turno, tivermos apoios importantes de Miguel Arraes, e, no segundo turno, a sua participação foi decisiva, inclusive para que tivéssemos obtido um resultado tão importante.
Aí, pessoalmente, iniciou-se uma relação com Eduardo. Em 1990, fomos eleitos Deputados Estaduais: eu fui eleito pelo PT; ele, naquele momento, pelo PSB, Partido que o abraçou, assim como ao Arraes, em 1990, naquela disputa. Como Deputados Estaduais, fizemos parte de um mesmo bloco, que fazia oposição ao governo naquele momento. Pude ali conhecer o compromisso, a liderança e, acima de tudo, a coragem política de Eduardo Campos.
Em 1994, Eduardo Campos foi eleito Deputado Federal, eu também. Perdemos a eleição com Lula, mas,
com o apoio do PSB, com o apoio de Arraes e de Eduardo, em Pernambuco, ele foi o mais votado naquela ocasião. Nossos destinos se separaram naquele momento, porque ele passou a ocupar uma função fundamental no Governo Arraes, no terceiro Governo Arraes. Eu estava na Câmara dos Deputados.
Vivemos terríveis turbulências, que ele soube, com sua força, com sua coragem, superar. Fiz parte também da vivência daquela turbulência quando fomos, juntamente com Arraes, candidatos majoritários naquela eleição: ele foi candidato ao governo do Estado; eu fui candidato ao Senado. Foi uma eleição extremamente difícil. Mas, nos momentos de dificuldade, podemos conhecer cada pessoa. Aquele momento me transformou num admirador ainda maior de Arraes e de Eduardo também, que, em meio a toda aquela turbulência, teve uma vitória importante.
Novamente, estivemos juntos em 2002, especialmente no segundo turno, quando elegemos Lula. Edu- ardo já era reconhecido nacionalmente como um grande articulador. Elegemos o Presidente, construímos um governo onde Eduardo exerceu um papel político fundamental na condição de Ministro da Ciência e Tecnologia. Naquela época, muitos cientistas e muitos técnicos diziam: “Colocaram um político no Ministério da Ciência e Tecnologia.” Mas nós vimos que o Presidente Lula, mais uma vez, por sua intuição, fez o movimento certo. Eduardo deu ao Ministério da Ciência e Tecnologia um patamar extremamente importante. Dialogou com a comunidade científica, construiu ações fundamentais, entre elas aquela que se tornou mais conhecida, uma das mais importantes de discutirmos, uma legislação que pudesse tratar de pesquisa científica em relação a células-tronco.
E aí o Brasil avançou bastante nessa área.
Vimos Eduardo ser um protagonista importante na crise que vivemos em 2005 e em 2006, quando ele voltou ao Congresso e, sem dúvida, exerceu um papel fundamental na estabilização do Governo naquele momento.
Em 2006, estivemos em caminhos opostos no primeiro turno, na eleição mais singular que talvez o Brasil já tenha vivido, em que dois adversários chegaram a participar, inclusive, de um mesmo palanque, defendendo uma candidatura presidencial e um projeto para Pernambuco. Não foi por outra razão que, no segundo turno, nós nos unimos e tivemos uma grande vitória. E ele teve a oportunidade de produzir um grande projeto que uniu Pernambuco.
Sempre nós dissemos que, sem Lula, Pernambuco não teria avançado o quanto avançou. Mas, sem Edu- ardo, nós não teríamos aproveitado essa oportunidade que o Governo Federal nos deu. Ele foi capaz de apresentar projetos arrojados, de unir o empresariado, de unir os políticos, de unir a sociedade, para fazer uma grande gestão em que a parceria foi o tom principal. Ele conseguiu, na prática, provar que é possível mexer nas estruturas do Estado para atender a população, como ele dizia, de uma forma bem nordestina, para “fazer a máquina moer” para os que mais precisavam. Acho que essa foi, sem dúvida, a grande contribuição que ele deu para o nosso Estado. E para o Brasil deu a contribuição de ser alguém capaz de produzir pontes.
Sem dúvida, sem ser repetitivo e sem nenhum tom de demagogia, Eduardo faz falta hoje, neste mo- mento em que o Brasil está tão polarizado, quando vemos muitas vezes a intolerância avançar. Se vivo ele es- tivesse, qualquer que fosse a sua posição, como Presidente, como um político sem mandato, como fosse, sem dúvida, ele estaria hoje cumprindo o seu papel para tentar unir a nossa sociedade, superar a crise e construir um Brasil melhor.
Por isso, aqui, em nome do Partido dos Trabalhadores, em meu nome, em nome do ex- Presidente Lula, quero expressar nestas palavras o sentimento de reconhecimento, o sentimento de gratidão e, acima de tudo, o sentimento da compreensão do papel que Eduardo cumpriu e que, certamente, seu legado vai continuar a cumprir no nosso País.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Muito obrigado a todos e a todas. (Palmas.)