Comunicação inadiável durante a 134ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio às ofensas direcionadas a uma estudante de Medicina em razão de discurso proferido durante a cerimônia de comemoração de dois anos do Programa Mais Médicos.

Autor
Fátima Bezerra (PT - Partido dos Trabalhadores/RN)
Nome completo: Maria de Fátima Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Repúdio às ofensas direcionadas a uma estudante de Medicina em razão de discurso proferido durante a cerimônia de comemoração de dois anos do Programa Mais Médicos.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/2015 - Página 154
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • REPUDIO, OFENSA, DESTINATARIO, ESTUDANTE, MEDICINA, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), MOTIVO, DISCURSO, LOCAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CERIMONIA, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, CRIAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, PROGRAMA MAIS MEDICOS, DEFESA, INVESTIGAÇÃO, PUNIÇÃO, AUTOR, CRIME.

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Srª Presidente Senadora Ana Amélia, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, telespectadores, ouvintes da Rádio Senado, semana passada eu ocupava esta tribuna e falava com muita alegria e emoção sobre a história da jovem estudante de medicina Ana Luiza, que muito nos havia emocionado quando do seu discurso durante a cerimônia de dois anos do Programa Mais Médicos, solenidade realizada semana passada, no Palácio do Planalto, presidida pela Presidenta Dilma.

            Naquela ocasião, Ana Luiza, claro, emocionou não só a mim, emocionou muita gente aqui deste Plenário, emocionou o meu Estado, o Nordeste, emocionou o Brasil. Por quê?

            Porque Ana Luiza, no seu discurso, falava da sua história.

            E qual é a história de Ana Luiza? É uma menina de origem muito simples, lá de Caicó, na região do Seridó, lá no meu Estado. Ela dizia das transformações que a educação tinha e tem provocado na sua vida após ela ter tido a oportunidade de iniciar seus estudos na Escola Multicampi de Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o que só foi possível, como Ana Luiza fez questão de ressaltar, graças à política de expansão do curso de Medicina do Governo da Presidenta Dilma, expansão essa que praticamente dobrou a oferta de vagas no interior do País.

            A Escola Multicampi de Ciências Médicas lá da UFRN, na região do Seridó-Trairi... E eu quero aqui dizer também que me empenhei muito, junto com a Profª Ângela, reitora da nossa universidade, para que isso acontecesse, ou seja, para que nós levássemos também o curso de Medicina para o interior do Estado e, dessa vez, exatamente à Escola Multicampi de Ciências Médicas, lá em Caicó, Seridó, e lá no Trairi. E é exatamente essa escola que está possibilitando que uma menina de origem simples, repito, origem humilde, filha de um agricultor, possa realizar o seu sonho de cursar Medicina e ser doutora.

            Pois bem, Srª Presidente, hoje é com um sentimento de indignação e tristeza que volto a esta tribuna para dizer que a jovem Ana Luiza está sendo ameaçada por várias pessoas em sua página do Facebook, inclusive, segundo denunciou a própria estudante, por médicos e estudantes de Medicina. Essas pessoas invadiram a sua página, a página de Facebook de Ana Luiza, insultando a jovem com palavras como... Me dá vergonha e, ao mesmo tempo, revolta de ter que fazer este relato aqui da tribuna do Congresso Nacional, mas eu vou ter que fazê-lo. Pois bem, essas pessoas invadiram a página do Facebook da estudante Ana Luiza com palavras como - abro aspas - “vadia”, “ignorante” e “médica vagabunda pobre” - fecha aspas - e dizendo que ela, Ana Luiza, merecia levar uma surra. Isso aconteceu, Srª Presidente, depois de ela agradecer à Presidenta Dilma, durante cerimônia no Palácio do Planalto, por ter possibilitado a netos e filhos de agricultores, que há alguns anos labutavam de sol a sol sem nenhuma perspectiva de futuro, poderem não só sonhar, mas concretizar, como ela, o sonho de se tornarem doutoras e doutores.

            Agora, Srª Presidente, eu me pergunto, diante dessa manifestação de intolerância, de ódio inaceitável frente à estudante Ana Luiza, a que ponto nós chegamos.

            É triste perceber esse ódio crescente contra as ações sociais que o Governo do nosso Partido, o Partido dos Trabalhadores e aliados, corajosamente tem adotado, como a de permitir o acesso de jovens no interior do País ao ensino superior e de levar a saúde pública às localidades mais distantes do País - é disso que trata o Mais Médicos, algo impensável há doze anos.

            Pois bem, Srª Presidente, quando a gente vê essa inclusão social, quando a gente vê, repito, os filhos do povo, os filhos da classe trabalhadora, uma menina filha de um pequeno agricultor, de um assentado, de um pedreiro, terem o direito de fazer um bom curso técnico ou de fazer um curso de nível superior, inclusive o curso de Medicina... Quando tudo isso era para estar sendo festejado, era para estar sendo celebrado, o que nós estamos vendo? Estamos vendo setores conservadores da nossa população, de forma preconceituosa, criticando, ameaçando, inclusive, a menina de morte. Isso nos leva a fazer aqui uma constatação com tristeza: a de que, infelizmente, os valores estão invertidos. Nós deveríamos era estar festejando, celebrando o fato de pessoas como Ana Luiza, que antes chegavam à fase adulta muitas vezes sem nem mesmo saberem ler, agora poderem se tornar médicas.

            Quero aqui, Srª Presidente, dizer que a Presidenta Dilma já se manifestou, que o Ministro Renato Janine, Ministro da Educação, também já se manifestou, que a Ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci, também já se manifestou. Ou seja, manifestaram-se de forma pública, expressando toda a sua solidariedade à estudante Ana Luiza.

            As palavras de Ana Luiza, Srª Presidente, tenho certeza, inspiraram milhares de jovens em todo o País, mas também serviram para provocar a ira de uma parcela reacionária e preconceituosa de setores conservadores da população, que está mostrando a sua cara nesta onda conservadora que tem sido incentivada no País por setores irresponsáveis e descomprometidos da política - inclusive com discursos de ódio proferidos aqui no Congresso Nacional por determinados segmentos, discursos que são chancelados e reproduzidos longamente.

            São falas incompatíveis com a democracia e com a convivência social. Repito: infelizmente, a gente escuta esses discursos serem proferidos por setores, por bancadas aqui dentro, de perfil conservador e retrógrado. Na verdade, Sr. Presidente, como bem lembrou Ana Luiza, “o machismo e parte da elite mostraram sua cara”.

            Eu quero aqui, neste momento, me dirigir a Ana Luiza e sua família, dizer-lhes, na condição de sua conterrânea, de norte-rio-grandense, que, assim como a Presidenta Dilma, como o Ministro da Educação e como a Ministra das Mulheres, nós estamos ao seu lado. Nós não vamos aceitar intimidações de maneira nenhuma, até porque nós sabemos também, infelizmente, que setores conservadores não estão satisfeitos de ver a chamada classe C dividir com seus filhos os bancos das universidades...

(Soa a campainha.)

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) -... muitas vezes tomando, com esforço e competência própria, como fez você, as vagas que anteriormente apenas eles conquistavam.

            Portanto, diante disso, quero aqui dizer a V. Exª das iniciativas que nós estamos tomando, Senadora Ana Amélia.

            Primeiro, já pedimos à Procuradoria da Mulher, aqui presidida pela Senadora Vanessa Grazziotin, que comunique o ocorrido aos órgãos de segurança para que as denúncias contra Ana Luiza sejam investigadas como caso de polícia e que os agressores respondam na forma da lei.

(Soa a campainha.)

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Quero dizer também, Srª Presidente, que estamos apresentando um requerimento de voto de repúdio ao Plenário do Congresso, à Comissão de Direitos Humanos e à Comissão de Educação, Senadora Ana Amélia, da nossa Casa, para que o Plenário do Congresso e as Comissões de Direitos Humanos e de Educação não se omitam diante dessas ações covardes, eivadas de intolerância, de preconceito, de discriminação, para que essas ações, enfim, e aqueles responsáveis por essas ações de conteúdo agressivo, covarde sejam punidos.

            Quero também dizer, Srª Presidente, que estou entrando em contato...

(Soa a campainha.)

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - ... com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos e com a Coordenadoria de Direitos Humanos e a Secretaria de Política das Mulheres lá do meu Estado, para que também sejam acionados os órgãos de proteção, se necessário for, exatamente à estudante Ana Luiza.

            Por fim, Srª Presidente, pediria só um pouquinho de sua generosidade e a dos demais para ler aqui, Senadora Ana Amélia, apenas alguns trechos da carta que Ana Luiza fez publicar em seu Face após, exatamente, essas agressões que ela vem sofrendo, Senador Requião, depois de seu discurso proferido lá na solenidade do Mais Médicos.

(Soa a campainha.)

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - A carta de Ana Luiza - abro aspas:

Vim aqui para deixar coisas claras. Vim falar por que a minha garganta não aguenta o nó que se formou. E eu nunca fui de calar. Fui convidada a falar sobre a transformação que a educação causou em minha vida e sobre a alegria de cursar Medicina. E assim escrevi um texto, de coração e de peito aberto. E hoje penso em tudo que eu disse e tudo que eu queria ter dito mas não foi ouvido. [...]

            Mais adiante, Srª Senadora, ela prossegue:

Fui atacada em minha página pessoal brutalmente por MÉDICOS E FUTUROS MÉDICOS, além de outras pessoas. O machismo e a elite mostraram sua cara.

(Soa a campainha.)

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Mais adiante, ela diz:

Fui chamada de vadia, de MÉDICA VAGABUNDA DE POBRE, ignorante, não merecedora de cursar Medicina. Me foi dito que iam fazer de TUDO pra que eu não conseguisse emprego depois de formada. [...]

            Mais adiante, ela coloca em sua carta, Srª Presidente:

minhas palavras [as palavras dela] foram pros profissionais de saúde que dão o sangue todo o dia, mesmo com condições péssimas de trabalho, com salários atrasados, numa saúde abandonada e caótica. Eles, sim, são verdadeiros heróis. Minhas palavras foram direcionadas àqueles que acreditam e lutam por um mundo transformado a partir da educação e do amor.

(Soa a campainha.)

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) -

Minhas palavras foram um agradecimento aos professores, [...] [aos trabalhadores, e o reconhecimento, exatamente, do compromisso e das ações do Governo.]

            E, finalmente, Srª Presidente, ela termina sua carta dizendo:

Esperança, vontade de mudar, EMPODERAMENTO de um povo PELO seu povo.

Eu sei que eu não sou nada nesse sistema corrompido e intrincado. Eu sei que não sou ninguém diante dos poderosos deste País.

(Soa a campainha.)

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) -

Mas eu tenho outra novidade, eu não estou sozinha, e gente como eu é quem te causa os piores pesadelos à noite. E eu vou seguir, mesmo frágil, mesmo com medo, mas sempre acreditando.

            Agora, Ana Luiza, naquela solenidade, você disse à Presidenta Dilma: “Coragem, Presidenta Dilma!” Pois, agora, eu digo a você, Ana Luiza: coragem! Nada nos impedirá de sonhar, como você mesma disse. Coragem, Ana Luiza! Nós estamos com você. Como você mesma disse, “nada nos impedirá de sonhar” - e eu acrescento - e de continuar lutando para realizar os nossos sonhos.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Senadora Fátima Bezerra, não há nenhuma razão para haver uma violência inaceitável. A democracia pressupõe contraditório. Há pessoas que não concordam, mas sempre em um nível de respeito e que temos de acatar, mesmo não concordando com as opiniões que não são idênticas às nossas. Agora, foi inaceitável a violência, a agressão, mesmo verbal ou física de qualquer natureza. Então, queria manifestar a solidariedade contra o gesto de violência com a jovem sua conterrânea.

            Agradeço a V. Exª.

            Atendi o tempo regulamentar que a senhora pediu, bem além do que é uma comunicação inadiável.

            A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Senadora Ana Amélia, eu apenas pedi porque nós vamos instruir os requerimentos de moção e de repúdio que nós apresentamos, tanto no Plenário como nas Comissões.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/2015 - Página 154