Discurso durante a 136ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com suposta dissociação entre os quereres sociais e as medidas adotadas pelos governantes.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Preocupação com suposta dissociação entre os quereres sociais e as medidas adotadas pelos governantes.
ECONOMIA:
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
GOVERNO FEDERAL:
Aparteantes
Acir Gurgacz, João Capiberibe.
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2015 - Página 23
Assuntos
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Outros > ECONOMIA
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • REGISTRO, PAUTA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ENFASE, SOLICITAÇÃO, IMPEACHMENT, COMENTARIO, IMPORTANCIA, ATENÇÃO, MANIFESTAÇÃO, INTERNET, APREENSÃO, MOTIVO, DIVERGENCIA, REIVINDICAÇÃO, POPULAÇÃO, ATUAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
  • CRITICA, JOAQUIM LEVY, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), MOTIVO, DEMONSTRAÇÃO, AUSENCIA, APREENSÃO, REFERENCIA, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, COMENTARIO, AUMENTO, PREÇO, DOLAR, INFLUENCIA, COMPRA E VENDA, MERCADORIA, BRASIL.
  • CRITICA, PROPAGANDA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DIVERGENCIA, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, LASIER MARTINS, JOÃO CAPIBERIBE, ACIR GURGACZ, RANDOLFE RODRIGUES, LIDICE DA MATA, SENADOR, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, FORMA, MELHORIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ALTERAÇÃO, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA NACIONAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente José Medeiros, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, mais uma vez o povo brasileiro foi para as ruas - e foi para as ruas em centenas de milhares. Pode-se discordar do tamanho exato da quantidade de pessoas, mas não se pode deixar de perceber que o povo foi para a rua em centenas de milhares, ou seja, ou um pouco mais ou um pouco menos de um milhão de pessoas. E isso não é pouco, Senador.

            Não se trata de pessoas que apenas manifestaram-se conversando sobre o Governo. Não; pessoas que saíram de casa em um domingo para ir à manifestação. E o que se pode depreender disso, em primeiro lugar, é que essa não foi a maior das manifestações em número de participantes; nem foi menor do que as menores, mas foi a mais forte. Isso fica claro.

            Mais forte no sentido de que não houve manifestações de golpistas, salvo raríssimas exceções. Nas anteriores, tinha mais. “Queremos os militares de volta”, não teve.

            Segundo, não teve violência. Não teve aqueles mascarados fazendo balbúrdia, baderna. Não houve. Ela foi firme no sentido de “não” à ideia de volta de regime militar e “não” à violência. Mas ela foi firme também em outra coisa, ela foi firme na mensagem. É a primeira vez que a gente vê com clareza a mensagem de impeachment predominando sobre todas as outras. O impeachment na palavra, em bandeiras imensas, ou impeachment sob a forma de “Fora Dilma”, “Fora PT”, que é o principal Partido do Governo, embora a gente esqueça que não é o único, porque o PDT também faz parte; o PMDB também faz parte; o PCdoB também faz parte e tantos outros, uma verdadeira sopa de letrinhas na composição desse Governo.

            Então, essa foi, sem dúvida alguma, a mais forte das manifestações, sem falar da grandeza fundamental de ser a terceira, se eu não me engano, das grandes e ser mais uma das centenas de manifestações que, todos os dias, aparecem neste País, em frente ao aeroporto, em frente a um shopping, em frente a uma escola, no meio de uma rua. O Brasil está em ebulição já faz alguns anos. Em ebulição.

            Além disso, a gente tem que entender o momento de hoje. Hoje as pessoas se mobilizam sem sair de casa, através da internet, como há pouco conversávamos. Cada casa com computador é uma trincheira de luta. E é uma trincheira que mobiliza as pessoas fisicamente para irem para um lugar. Eu tenho chamado isso, Senador, desde antes mesmo do senhor estar aqui conosco, de guerrilha cibernética. É uma guerrilha que se faz por meio da informática. 

            Essa é a terceira das gigantescas, e é a centésima, ducentésima alguma coisa das pequenas manifestações. O povo, na verdade, está mobilizado e na rua. A gente tem que entender isso. Mas tem que entender também que o pior está por vir. Disso eu não tenho a menor dúvida e lamento muito dizer: o desemprego vai crescer. E vai crescer trazendo uma onda de indignação ainda maior e em camadas mais pobres da população.

            A inflação não está sob controle, como tenta dizer o Ministro, como tenta dizer a Presidente, como tentam dizer aqui os representantes do PT, que fazem discurso como se estivessem no paraíso.

            Eu confesso, Senador, que, na quarta ou quinta-feira, quando veio aqui o Ministro Levy, não sei se o senhor estava presente, na sala do Presidente Renan, eu fiz uma pergunta a ele, na verdade duas, eu fiquei surpreso de como ele nem respondeu. Eu disse: “Ministro, eu tenho duas perguntas muito rápidas para lhe fazer. Quais são as suas maiores preocupações e em que nós podemos ajudar para superá-las?” Não respondeu. Ele não tem preocupações, é como se fosse o Ministro da Dinamarca, ou da Suíça, ou de Marte, talvez.

            Isso é que assusta, porque o pior está para vir. E a gente tem que enfrentar isso, em vez de se esconder. Há anos eu digo aqui dessa crise, escrevi, Senador, tenho um livrinho assim, de dois, três anos atrás, chamado, “A economia está bem, mas não vai bem”. Quinze pontos que a gente previa que iriam trazer problemas, e era ridicularizado o discurso, era tido como coisa de negativista, pessimista.

            Não há nada pior, quando a gente quer ajudar um povo, do que esquecer os problemas que vêm adiante. O poder cega, e essa cegueira é uma tragédia para quem está no poder e para o povo também. O pior está para vir. E não reconhecer, não dizer, enganar o povo é trair, é traição. Esconder a tragédia é traição. O Brasil foi traído pelo discurso ufanista que o Presidente Lula fez, que o Governo fez, que o PT fez. Um ufanismo mentiroso que levou o País a essa situação.

            Eu não minto. O pior, lamentavelmente, está para vir. O dólar vai continuar crescendo, e o dólar crescendo até melhora a nossa indústria de exportação, mas piora a inflação, porque cada coisa que se usa, produzida no Brasil, com componentes importados, sobe de preço, aí o produto sobe também. E com a globalização, é raro o produto que não é importado.

            Eu, como nordestino, adoro tapioca. Massa de tapioca é uma coisa fundamental. A massa de tapioca tem um conteúdo importado no saquinho em que vem guardada, na máquina que é usada para produzir. Tudo tem um conteúdo importado. E o dólar não vai baixar. E se baixar será ao custo de o Governo comprar dólar no mercado, e aí as nossas reservas vão lá para baixo. Sabe o que acontece quando as reservas caem? A credibilidade cai e aí deixa de ser investido dólar aqui, e aí o dólar sobe de novo.

            Economia não se faz com brincadeiras, e o Governo fez muitas brincadeiras nos últimos anos com a economia. Aqui a gente falava: os pacotes. Economia com base em pacote não funciona, porque exige mais pacotes. E quantos pacotes o Governo fez de desoneração disso, depois desoneração daquilo, de baixa da tarifa de energia elétrica. Então, o pior está para vir nas tarifas. As tarifas vão ter que subir ainda. É uma ilusão achar que não vão subir as tarifas públicas. A recessão. Não chegamos ao fundo do poço. E a Lava Jato. A Lava Jato ainda vai trazer coisas muito sérias, gerando uma crise ainda maior na popularidade da Presidente. Abaixo de 8% é quase impossível, mas é capaz.

            Mas sabe o que eu acho, Senador, que é o pior que pode vir na popularidade? Não é nem ela cair para 7%, é ela subir para 9%, e o Governo comemorar como se fosse uma grande coisa. Vai ser uma desmoralização o Governo comemorar que a popularidade da Presidente subiu para 9%. É uma desmoralização completa, mas pode acontecer.

            Então, o pior, a meu ver, está para vir. Mas tem uma coisa mais grave: é o divórcio que existe hoje entre as ruas e as urnas, as ruas e as urnas que elegeram a Presidente.

            Há um divórcio completo entre o Governo Dilma e aquilo que as urnas falaram e o que as ruas estão falando. E isso vale para quase todos os governadores e prefeitos. Há um divórcio entre a vontade das ruas e a vontade das urnas, que somos nós aqui. E esse divórcio pode trazer problemas muito sérios, porque o povo está dizendo coisas que nós não dizemos aqui, até porque nós temos uma responsabilidade ao falar aqui, com a Constituição, que as pessoas não têm necessidade de ter, interpretando a Constituição.

            O povo está com raiva, o povo quer mudar o Governo. Não tem a obrigação de saber se isso fere ou não a Constituição. Essa é sua obrigação, essa é minha obrigação, essa é obrigação dos juízes. O povo tem a obrigação de manifestar a sua indignação.

            E aí a gente vai ter uma dificuldade: como é que nós vamos agir, se o povo quer mudar o Governo antes que termine o mandato da Presidente, e nós sabemos que isso hoje fere a legalidade, fere a Constituição? Nós vamos nos isolar, ou nós vamos embarcar no populismo.

            Isso vai chegar aqui, porque com o crescimento, com o agravamento, vai haver um aumento da vontade de interromper o mandato da Presidente, e se demorar muito, de todos nós também. Virá faixa que “todos se vão”, que “todos partam”, que “saiam todos.” Vai chegar a isso. Como é que a gente vai resolver esse problema, Senador?

            Entre nós sermos os zeladores da Constituição, junto com a Justiça, nós querermos falar o que o povo quer ouvir, e essas duas coisas se chocando, só há uma maneira: um grande diálogo nacional, um grande debate. Não podemos ter medo do debate, nem do diálogo. O Senador Aloysio há pouco falou aqui que não se pode fazer diálogo com quem a gente não leva a sério, porque não tem mais legitimidade. Mas eu acho que o Governo atual está sem legitimidade, Senador.

            Mas há a legalidade ainda. Pela legalidade, o mandato da Presidente vai até o final de 2018.

            Senador.

            O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Mas, Senador Cristovam, V. Exª tocou num ponto muito importante e preocupante, que é essa dicotomia entre as ruas e a legitimidade de quem está no poder. E que abrange todos. Esse alerta é muito importante. Em determinado momento, quando da Queda da Bastilha, foi muito interessante o final do dia do comandante daquela prisão. Ao entregar o serviço para o outro, ele escreveu: “Um dia normal, com alguns distúrbios nas ruas”. Poucas horas depois, a cabeça dele estava nas ruas, na ponta de uma lança. A França foi varrida. Aparentemente, este Governo tem se comportado desta forma: não dá importância a essa gritaria. Mas o alerta de V. Exª serve para todos. Poderemos ser todos varridos porque o povo está demonstrando. Já veio em 2013, veio depois e depois, de forma ordeira, pacífica, mas demonstrando sua indignação. O seu alerta vai mais longe ainda e poucos notaram isso. Aquela amostra dos que foram à rua, comemorada pelo Governo - e que foram poucos -, na verdade é um concentrado e uma pequena essência do que, na verdade, está mobilizado em todo o País. A própria popularidade da Presidente da República demonstra e confirma a sua fala: a população não está se mobilizando, ela está mobilizada.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É.

            O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Esse alerta nós temos de ter em mente e observar seu raciocínio. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Além disso, Senador, a paciência está se esgotando. Se vocês prestam atenção às falas, nas manifestações de antes e nas de ontem, sentem que o povo tem menos paciência hoje. Está se cansando, se esgotando, como aconteceu na França, como o senhor disse, e como aconteceu agora, na Ucrânia - não faz dois anos -, em que o povo foi para a rua uma vez, foi depois, e depois foi e ficou na rua e só saiu quando o presidente pegou o avião e foi para a Rússia, exilado.

            Nós estamos brincando com fogo. O povo ainda foi e voltou para casa. Não vai demorar, o povo vai para a rua e fica na rua. Não será um milhão de pessoas, mas que sejam 100 mil, espalhados em cinco ou seis lugares, o que fará inviável o funcionamento da sociedade. Para tudo. É como se fosse uma greve geral. E nós, parece que não estamos alertas. Agora, eu insisto - e sei que não é compreendido em geral - que é preciso diálogo. Não é compreendido, Senador, porque nós entramos em um Fla x Flu da política. A política é, hoje, PT e PSDB, ou a política é: fica Dilma ou fora Dilma. É isso o que está. Chama-se dicotomia a isso. Isso não é bom. A gente tem de pensar, tem de entender, tem de compor. Mas, como dizia aqui o Senador Aloysio, se não há respeitabilidade, não há diálogo. Com isto estou de acordo: tem de haver respeito mútuo. E não está havendo respeito da parte do Governo para conosco. Os discursos são grosseiros, arrogantes. Mesmo assim, há meses tenho dito aqui que é preciso haver diálogo e que é preciso ouvir.

            Na semana passada, Senador, finalmente, eu recebi o convite para ir conversar com a Presidente da República, junto com um grupo de Senadores independentes. E tentamos até encontrá-lo, Senador José Medeiros, mas o senhor estava viajando, para ver se V. Exª queria ir também nesse bloco, porque nós o consideramos independente.

            E nós fomos. Eu fui. Nunca havia conversado com a Presidente, apesar de ter 12 anos de mandato, de ter sido do Partido dos Trabalhadores, e de ter sido, inclusive, Ministro da Educação, durante um curto tempo, em que ela era também. Eu já a havia cumprimentado, já havíamos falado em pé, em solenidades., mas nunca tinha tido conversa. Fomos. E eu fui com a certeza de que ela nem iria ouvir, por isso levamos por escrito uma carta, assinada pelos seis Senadores que foram, e a entregamos. E essa carta tinha alguns pontos que eu acho importante falar.

            O objetivo central da carta, nós dizíamos, Senador José Medeiros, era dizer: Presidente, nós temos três alternativas adiante. Nós temos a alternativa do impeachment; nós temos a alternativa da cassação pelo TSE e nós temos a alternativa de continuar um Governo sem credibilidade e sem competência nem capacidade de gestão. Estou fazendo acusações graves de coisas que são visíveis, mas colocamos na carta que entregamos. As três alternativas são complicadas, dizíamos. As três sacrificam o País.

            Cassação é uma coisa muito grave. Cassar o mandato da Presidente, do Vice-Presidente e entregar o poder ao Presidente da Câmara dos Deputados - isso é grave para o País - e fazer uma outra eleição em 90 dias, isso não vai ser uma coisa tranquila.

            O impeachment é grave, não tanto quanto a cassação, porque temos um Vice-Presidente que assume, mas é uma perturbação do processo. Estou supondo dentro da legalidade, da Constituição, do respeito à ordem, que, sim, permite impeachment, como foi feito no caso do Presidente Collor. Dizer que é golpe o impeachment da Presidente Dilma é reconhecer que houve golpe contra o Collor, e não houve golpe. Duas alternativas ruins.

            A terceira é ruim para o Brasil: mais três anos e meio de um Governo na atual circunstância. O que é preciso fazer? Diálogo, um debate para qualquer das três. A solução tem que ser fruto de um grande acordo nacional em que todos digam: “Esse é caminho”, ou a maioria, pelo menos, como se fez quando Itamar assumiu tirando Collor.

            Pois bem, para se fazer isso nós dissemos, na carta que entregamos lá, que queríamos sugerir alguns pontos para ela fazer para retomar a credibilidade.

            Primeiro, ela tem que reconhecer os erros que cometeu em dois momentos. O erro que cometeu durante a campanha eleitoral, prometendo coisas que não fez e que não ia fazer - e qualquer pessoa minimamente lúcida sabia que não ia fazer do jeito que dizia -, que ia fazer de outra maneira porque precisava, sim, de um ajuste; e a outra, os equívocos durante a política econômica, graves erros, que nós dissemos aqui, que muitos de nós avisamos. Tem que reconhecer, ainda que possa dizer, sim - e não estaria errada -, que ela cometeu os erros com a boa intenção de querer evitar que aqui chegasse a crise econômica de 2008 nos Estados Unidos e na Europa. Então, foram erros de boa-fé, mas foram erros, Senador Acir, que estava presente na reunião.

            O segundo ponto é que tem que dizer que, a partir de agora, diante da crise, a Presidente pertence ao partido Brasil, não ao PT, nem ao PDT, nem ao PMDB, nem ao PCdoB, a nenhum dos partidos da sua Base; ela é de todos. Tinha que assumir isso.

            Terceiro, uma sugestão: que ela viesse falar para o povo brasileiro, aqui, no Congresso. Mas por que aqui? Primeiro, porque aqui é a Casa do povo - temos que tentar que o seja - e segundo, Senador, porque ela falaria sem marketing, sem marqueteiro, como é o que acontece quando prepara um discurso pela televisão, que é lido ou, se não for lido, é dito pelo marqueteiro. Falar aqui, nesta tribuna, naquela ali, da mesa, e falar ao povo brasileiro.

            O outro é reduzir o número de ministérios e melhorar o ministério, porque reduzir o número de ministérios todo mundo já fala, mas melhorar o ministério não se tem falado, e isso está sendo necessário fazer.

            O outro ponto é ouvir as vozes do povo na rua e as vozes de todas as lideranças, inclusive da oposição.

            É preciso ouvir, mas ouvir de verdade, como, aliás, ela nos ouviu, porque nós fomos lá temendo que ela nem ouviria. Por isso levamos a carta. Se não ouvisse, deixaríamos a carta. Não só ela ouviu a conversa durante um bom tempo, como a carta foi lida pelo Senador Lasier, porque é o que tem a melhor voz aqui, como jornalista e locutor que é. Ele leu a carta, e ela respondeu bem a cada ponto.

            Em um dos pontos, ela não o recusou, mas disse uma coisa, e ela tem razão. Nós nem deveríamos ter colocado ali aquele ponto. Era o ponto de que ela deveria dar mais importância à Lava Jato. Mas ela lembrou uma coisa verdadeira: em nenhum momento na história deste País, o Ministério Público e a Polícia Federal foram tão independentes do governo como no Governo dela. Isso é verdade, eles estão fazendo o trabalho completamente. Nós nem deveríamos ter colocado aquele ponto, porque não era necessário.

            No resto, ela manifestou entendimento. Não se comprometeu com nada. Não disse: “vou fazer”. Não. Mas manifestou sensibilidade, o que, a meu ver, abriu margem para isso que eu falo que é procurar um caminho. Que qualquer das três alternativas a gente construa com o acordo das ruas e das urnas. E das urnas - tenha ou não tenha legitimidade, a legalidade garante o mandato.

            Para concluir, Senador, eu quero dizer que, no final de tudo isso, eu puxei do meu bolso um cartão de visita e entreguei para ela, “aqui está o meu cartão de visitas”, com o que eu simbolizei algumas coisas. Primeiro, Senador Acir, é que eu tenho tão pouca intimidade com ela que eu passei um cartão de visita. Você não passa cartão de visita para irmão. Você não passa cartão de visita para amigo - “Está aqui o cartão de visita”. Segundo, para dizer, e eu falei isso: quando a senhora quiser conversar sobre algum artigo ou discurso ou posição que eu tenha feito, aqui está o meu telefone. É o diálogo isso. É o diálogo, porque eu vou continuar fazendo discursos críticos, como estou fazendo este, mas não fugindo de um diálogo entre todas as forças deste País.

            Nós precisamos de um diálogo entre as ruas e as urnas. E entre nós que saímos das urnas e, às vezes, não dialogamos entre nós, não conversamos, não procuramos um caminho para que este País vá muito além de 2018, muito além de agosto, setembro, outubro, novembro.

            Esse diálogo eu vou continuar insistindo, porque isto aqui se chama Parlamento. Parlamento significa o lugar onde se parlamenta; parlamentar significa conversar; e conversa significa diálogo. E tem mais: diálogo não é entre quem pensa igual. Diálogo é entre quem pensa diferente. Aliás, essa é a razão pela qual eu não fui, não aceitei o convite de ir ao Palácio da Alvorada debater como Senador da Base de Apoio. Eu disse: não vou. Não vou, primeiro, porque há o Líder que me representa, que é o Senador Acir; segundo, porque não se dialoga entre 40 pessoas; e, depois, porque Base de Apoio, em geral, aplaude, não dialoga, não debate. Então, eu disse: não vou. Mas vou, sim, quando for para dialogar.

            Aqui também está o Senador Capiberibe, que estava presente, com os nossos outros Senadores. Eu creio que foi um ponto importante, bom, positivo. Eu estou satisfeito de ter feito aquele gesto e, inclusive, de ter dado o cartão de visitas, no final, para que ela soubesse onde me encontrar, se eu puder ajudar no diálogo sem abrir mão daquilo que é fundamental: este Governo se recompor, corrigindo os erros que cometeu e comete; depois de reconhecer que cometeu esses erros.

            É isso, Senador. Eu quero...

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Com o maior prazer, Senador Acir.

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO.) - Uso este aparte para cumprimentá-lo não somente pelo seu pronunciamento, mas pelo trabalho que V. Exª fez com relação a essa vontade de querer conversar e dialogar com o Governo, através, evidentemente, da nossa Presidenta. E lembro muito bem que, nesse encontro, a Presidenta ainda lhe disse: “Eu leio seus artigos e concordo com eles”.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Foi, é verdade. (Risos.)

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO.) - “Concordo com eles.” (Risos.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Seria muita pretensão eu  reconhecer isso aqui, Senador Acir, mas fico satisfeito que o senhor tenha dito isso.

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO.) - Ela lembrou e disse: “Você sabe, Cristovam, que eu concordo com eles.” Então, foi muito positiva realmente a posição de V. Exª, como também a posição do Senador Lasier, do Senador Capiberibe, do Senador Randolfe, da Senadora Lídice da Mata. Eu entendo que este é o caminho: o diálogo. E o diálogo é para se fazer com ideias diferentes, como V. Exª muito bem colocou. Se formos dialogar todos pensando da mesma forma, o diálogo será improdutivo. Então, o diálogo em que se levam sugestões, em que se faz, como a Presidenta fez, ouvindo, eu entendo que é da maior importância para o nosso País. É aquilo que V. Exª sempre colocou: V. Exª quer conversar, quer dialogar e quer levar as suas sugestões. Eu entendo que assim se faz política. Eu acredito que, a partir desta crise que temos neste momento - crise econômica, crise política -, nós sairemos muito mais fortalecidos, principalmente as instituições. O Brasil, com certeza, sairá muito mais fortalecido após a crise. Então, continuemos dessa forma, sem apontar os defeitos do Governo, como V. Exª faz, assim como eu faço. Essa questão da alta dos juros é um problema que estamos enfrentando. Eu entendo que não é esse o caminho para sairmos da crise. Tirarmos o dinheiro do mercado produtivo e colocarmos no mercado financeiro é um retrocesso muito grande, nós estaríamos retrocedendo vinte anos, quando víamos os maiores lucros serem dos bancos e não da classe produtiva do nosso País. Mas continuando o diálogo para levar aquilo que entendemos que é melhor para a população brasileira. Então, meus cumprimentos não somente pelo pronunciamento, mas por toda aquela ação que foi feita na semana passada.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Acir, foi bom o senhor falar, porque até reconheço que quem tentou juntar, quem conversou fui eu, o Capiberibe, mas, no fim, no fim, aquele encontro foi o senhor que propiciou, foi o senhor que foi o intermediário, foi o senhor que fez o contato. Talvez até a gente ainda estivesse esperando aqui a possibilidade desse diálogo. Então, quero aqui, de público, reconhecer que foi o senhor que tomou essa iniciativa e fez os contatos para viabilizar aquele encontro.

            Senador Capiberibe.

            O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - Senador Cristovam, Senador Gurgacz, participamos seis Senadores desse encontro, e acho que foi muito importante esse diálogo com a Presidente Dilma. Foi levantada aqui a questão dos artigos de V. Exª, dizendo que a cidadã Dilma concorda, mas a Presidente Dilma   tem outra posição. Porque há uma diferença. Como cidadã, certamente ela estaria fazendo tudo diferente do que fez na campanha. Porque os equívocos começam, Presidente, na campanha: acenar com possibilidades que já se tinha certeza de que não seriam cumpridas, como, por exemplo, a redução da tarifa de energia. Já se sabia que não poderia ser cumprida, mas a estrutura de campanha, composta por uma diversidade enorme de partidos políticos, considerava que os meios justificavam os fins, e valia, inclusive, mentir para a sociedade brasileira. Eu tenho certeza de que a cidadã Dilma nunca aceitaria isso, mas a camisa de força que é imposta às pessoas físicas que se transformam em pessoas públicas são infinitamente poderosas. A cidadã Dilma concorda plenamente com seus artigos, como tantos brasileiros, só que ela depende deste Plenário, ela depende da outra Casa, ela depende de uma série de fatores, de categorias importantes, como foi citado agora pelo Senador Gurgacz, como os banqueiros. Os lucros dos bancos estão acima do Estado, estão acima da política, estão acima de todos nós. Mas eu fiquei satisfeito em ouvir a Presidente Dilma. Discordei dela em alguns momentos, mas quero concordar com uma coisa: ela não deve. Ela não deve e, se ela não deve, não há a menor possibilidade de impeachment. A única possibilidade de impeachment seria se, de fato, houvesse uma digital nas investigações que estão sendo conduzidas de maneira absolutamente inédita no País. As investigações estão sendo conduzidas de maneira que só a democracia permite. Não haveria como fazer nem revelar à sociedade a dimensão, o tamanho da corrupção lá atrás, na ditadura. Senador Cristovam, o Juiz Baltasar Garzón nos revela que a corrupção do Brasil era fortíssima na ditadura e a transição não combateu isso. Aqui a ditadura não apenas assassinou, torturou, exilou brasileiros, mas também desviou fortunas. E, naquela época, ai de quem denunciasse um crime de corrupção. Portanto, eu vejo que o nosso diálogo com a Presidente, a manifestação de milhares de pessoas na rua, as investigações da Lava Jato, que ninguém vai deter, é um sinônimo de que estamos com nossas instituições funcionando e a democracia muito forte.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

            Eu também creio que valha a pena lembrar que havia, sim, corrupção antes. Mas há uma diferença: eu fui do Partido dos Trabalhadores que prometia que, no nosso governo, não haveria mais corrupção. E que não cumpriu. E talvez até tenha agravado.

            Nós prometíamos que, no governo do Partido dos Trabalhadores, nem ladrão conseguiria roubar, porque nós construiríamos uma forma tal de honestidade no governo que, se alguém virasse ladrão ali dentro, ele não ia conseguir roubar. E, no fim, o que nós vemos é uma tolerância muito grande, e a Lava Jato está mostrando isso. É uma rede, Senador Ataídes, que foi eu não digo iniciada, mas mantida, pelo menos, e até mesmo, provavelmente, ampliada - provavelmente, eu não posso garantir.

            É isso que frustra, e frustra também quando nós vemos alguns dizendo: mas todos fazem lá no governo. Não se pode falar isso. Não existe isso de todos fazem. Nós estamos aí para deixar que não se faça. Esse é o nosso compromisso. Mas, pelo menos agora, graças à democracia, que também não é um produto do atual governo, é a democracia construída com a Constituição de 1988, nós podemos divulgar tudo o que se sabe pela mídia e temos juízes, como o Juiz Moro, temos Ministério Público, como o Procurador Janot.

            Felizmente, temos a democracia e, agora, precisamos usá-la para punir quem roubou e criar vacinas, para que ladrão não consiga roubar, mesmo que eles continuem por perto dos governos.

            É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2015 - Página 23