Pronunciamento de Ana Amélia em 06/08/2015
Discurso durante a 129ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal
Encaminhamento de artigo da economista Mônica Baumgarten de Bolle intitulado “Efeito Chimarrão” publicado no jornal Folha de S. Paulo; e outro assunto.
- Autor
- Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
- Nome completo: Ana Amélia de Lemos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ECONOMIA.
ATIVIDADE POLITICA.
:
- Encaminhamento de artigo da economista Mônica Baumgarten de Bolle intitulado “Efeito Chimarrão” publicado no jornal Folha de S. Paulo; e outro assunto.
- Publicação
- Publicação no DSF de 07/08/2015 - Página 297
- Assunto
- Outros > ECONOMIA. ATIVIDADE POLITICA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, ECONOMIA NACIONAL, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, CRISE, ECONOMIA, RIO GRANDE DO SUL (RS), AVISO, POSSIBILIDADE, SEMELHANÇA, SITUAÇÃO, ESTADOS.
- CRITICA, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, TENTATIVA, DIVISÃO, POVO, IDEOLOGIA, ELOGIO, JORGE VIANA, SENADOR, ATUAÇÃO, DIFERENÇA, PARTIDO POLITICO.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Apoio Governo/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Presidente Jorge Viana, eu até dispenso o uso da tribuna porque penso que, diante desta situação extremamente delicada que o País está vivendo, precisa haver de todos nós uma atitude de grande responsabilidade, equilíbrio e serenidade. Isso não significa dizer abrirmos mão das nossas prerrogativas e do compromisso que temos com o País.
Tenho sido aqui, V. Exª sabe, é testemunha, uma Senadora independente, disposta a ajudar o País, independente de quem esteja ali na Presidência da República. Ontem, tivemos duas manifestações que apenas sinalizam aquilo que já vimos sabendo: a declaração do Vice-Presidente Michel Temer, um homem muito equilibrado, que, quando abre para dizer que a crise é grave, e chama, faz uma conclamação à união dos brasileiros, das lideranças em torno de um projeto, a gente se pergunta: mas o que significa isso? Tendo uma Presidente no Poder, o que significa? Não vamos ampliar ainda mais o espectro da crise.
O Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que é o responsável, com o Ministro Barbosa, do Planejamento, pelo ajuste fiscal, da mesma forma insiste na necessidade de evitar o que se chama, aqui, a pauta bomba do Congresso Nacional.
Eu chamo a atenção exatamente para essa responsabilidade. Não adianta fustigar ou tentar provocar ainda mais, ou agravar ainda mais a situação que estamos vivendo. Nós precisamos assumir aqui uma responsabilidade enorme. E acho, Senador Jorge Viana, que aqui, quanto mais cautela tivermos, melhor será para o País. Temos que tratar dessas questões com a responsabilidade que temos.
O Brasil vai ser chamado às ruas novamente no dia 16 de agosto. Qual será o tamanho dessa manifestação? Também não acredito que o índice de popularidade baixo da Presidente da República seja motivo para tentar enfraquecer, tirar a Presidente, apeá-la do poder sem uma fundamentação legítima, grave, que justifique qualquer iniciativa na Câmara.
Então, eu penso que, neste momento, quando todos nós tínhamos que estar vigilantes, atentos e, sobretudo, responsavelmente trabalhando, é que temos que ter essa cautela.
Hoje, o Diário Oficial da União acaba de publicar aquilo que nós aqui tratamos, que foi o indexador da dívida. E o indexador da dívida foi fruto também de entendimento do Governo Federal. Foi publicado, está em vigor.
Mas a situação para criar ainda mais o espectro da crise não é só política, não é só econômica, é também federativa.
O Estado do Rio Grande do Sul não está pagando integralmente o salário dos servidores, limitou a até R$2.150,00.
Por isso, eu queria pedir a V. Exª a transcrição, nos Anais do Senado Federal, de uma análise extremamente precisa, feita pela economista Monica de Bolle, publicada no jornal Folha de S.Paulo de hoje, cujo título é: “Efeito Chimarrão”. E, lamentavelmente, o sul maravilha, como ela define e como é considerado o nosso Estado do Rio Grande do Sul, pode ser o efeito para o País inteiro, dada a fragilidade, a dificuldade financeira agudíssima que leva um governo do Estado recém-eleito a tomar iniciativas como essa de parcelar salários.
E o Presidente do Supremo chama o governador aqui, sob a ameaça de uma intervenção no Estado.
Então, essa questão federativa, meu caro Senador Jorge Viana, é aguda e eu gostaria, então, de solicitar essa transcrição do “Efeito Chimarrão”, em que a economista Monica de Bolle faz uma radiografia perfeita e bem acabada em relação à crise que o Rio Grande do Sul está vivendo no dia de hoje. Mas essa crise vinda lá dos Pampas pode se espraiar pelo Território brasileiro, porque ontem aqui tivemos que também renegociar matérias relacionadas à questão federativa. Com a presença do nosso Relator aqui, podemos ampliar exatamente esse debate.
Mas é essa manifestação, com a responsabilidade que tenho, como representante do meu Estado, de termos cumprido o compromisso com os Municípios brasileiros, com os Municípios do meu Estado do Rio Grande do Sul.
O Senador Fernando Bezerra e o Senador Moka, que estão aqui, são testemunhas desse esforço que fizemos para cumprir o compromisso assumido com a Casa e com os Municípios brasileiros.
Muito obrigada, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu cumprimento V. Exª, Senadora Ana Amélia, e os colegas que estão aí, Senador Moka e Senador Fernando Bezerra.
Nós estamos vivendo uma quadra muito difícil mesmo. Para que a senhora tenha uma ideia, Senadora Ana Amélia, ontem fiz um discurso - houve aqui uma sessão comemorativa dos 50 anos...
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Da Rede Globo.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... da Rede Globo, e o Acre tem uma história, uma relação com essa televisão por conta de envolvimentos acrianos, como Armando Nogueira...
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Apoio Governo/PP - RS) - A Glória Perez.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... como Glória Perez. Eu, no Governo, fiz algumas parcerias com a Fundação Roberto Marinho, na área da educação, e, desavisadamente, agora, pessoas questionando o fato de eu ter feito uso da tribuna, falando que fiquei fazendo elogios.
Primeiro, fiz um discurso, contando a história da relação de grandes acrianos com os 50 anos da Globo. Eu tenho sido um crítico duro, duro. Tenho lido desta tribuna matérias mais do que tendenciosas, que assumem o papel de partido político. Mas estamos vivendo uma quadra de intolerância, de patrulhamento de parte a parte, que é inaceitável. Eu jamais vou me curvar a esse tipo de coisas. Não estou aqui para agradar um ou outro, estou aqui para tentar representar o povo do Acre, a história do Partido dos Trabalhadores e o povo brasileiro. E tento fazer isso com absoluta independência e fidelidade a quem me pôs aqui.
Agora, pegam uma fala... Eu estava me referindo, por exemplo, ao papel que o Armando Nogueira teve de criar uma linguagem num noticiário - não estou falando do conteúdo do noticiário, da linha editorial do noticiário. Ele criou palavras. Era uma pessoa que amava a palavra, o Armando Nogueira. O Jornal Nacional não tem sotaque.
Aí, imediatamente, transformaram, como se eu tivesse fazendo uma avaliação da linha editorial do Jornal Nacional. Eu tenho muita crítica. Já falei e vou seguir falando: tem sido dura a relação de setores da imprensa com o PT, com o nosso Governo, e faço o bom combate aí. Agora, não se pode misturar as coisas.
É exatamente por falta de diálogo e de respeito e por conta desse patrulhamento indevido que o País está nessa condição. Ninguém conversa com ninguém, setores não conversam.
O ex-Presidente Lula está sendo perseguido hoje do jeito que está, mas em outro momento pode ser o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Nós deveríamos tratar melhor os ex-presidentes. Nós deveríamos ter uma maneira...
Ex-Presidente da República, aqui, não tem foro privilegiado. E há gente que acha que foro privilegiado é um privilégio. É não. Quando você dá foro privilegiado para alguém, você está pondo-o em risco, você põe um tribunal nas costas dele. Um tribunal! Ao contrário, não é um privilégio; é uma instância superior, que agrava o fato de você ocupar um cargo. Nós não fazemos isso hoje no País.
Nós temos o ex-Presidente Fernando Henrique, o ex-Presidente Lula, que não conversam entre si. Está errado! Se eles não conversam, erro dos dois. Pior para o País eles não conversarem, porque quem perde é o povo brasileiro no final.
Hoje, estão tentando apagar o legado do Presidente Lula, o legado do PT. Quem disse que, se o PT sair do Governo e entrar o PSDB, nós vamos ter normalidade? Podemos ter uma situação muito pior. Eu falei outro dia aqui e repito: setores da oposição brasileira não aguentam meia Lava Jato. Meia Lava Jato: nem o lava, nem o jato.
Agora, este é o País em que estamos vivendo. E como vamos fazer? Tomar atitudes em defesa do País, para aprofundar o combate à corrupção, sim, mas sem jogo de carta marcada. E do mesmo jeito, abrir a porta do diálogo, aceitar resultado de eleição, ter tempo para esperar a próxima. Nós não estamos fazendo isso. Parece que a eleição não tem fim. Só vai prejudicar o País isso. Eu vou seguir nessa linha.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Senador.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Se houver outra sessão, virei aqui. Se houver outros eventos, virei, porque é exatamente por essa posição extremista, de um lado e de outro - há de todo lado -, que o País chega a uma situação como essa.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Senador.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Peço desculpas, mas eu queria até fazer esse esclarecimento, aproveitando a manifestação de V. Exª, Senadora Ana Amélia.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Olha, Senador Jorge Viana...
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - E quem está fazendo versão indevida da minha fala, que veja, assista, ouça a minha fala, para não distorcer o que eu falei.
Obrigado, Senadora.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Senador Jorge Viana, eu quero primeiro exaltar a sua atitude de ter subido à tribuna para, como eu ontem também, ter feito referências à história e à contribuição que a TV Globo tem com a cultura brasileira, com a economia brasileira, com a criatividade brasileira, com o talento brasileiro. E eu quero elogiá-lo, porque V. Exª demonstra aquilo que eu vejo como ideal de um político: a independência e a capacidade de dizer e estar nos lugares impensáveis, porque a TV Globo, como as demais televisões, Record, o SBT, a Band, todas, todas têm mostrado a realidade que estamos vivendo, que não necessariamente agrada aos donos do poder.
Mas o compromisso da emissora, do jornal, da rádio é fazer isso. E hoje há um poder - é um poder, Senador Jorge Viana -, que são as chamadas redes sociais, que, talvez, tenham um poder maior, porque elas são imediatas e delas não temos controle - e penso que não podemos ter - e, às vezes, nós somos grandes vítimas.
Eu quero elogiar V. Exª, que, a despeito de não concordar com a linha editorial, que, eventualmente, seja mais para um lado ou para o outro, que o senhor tenha vindo aqui para avaliar o conjunto da obra da Rede Globo e de sua história de 50 anos e de uma grande acriana - falo da Glória Peres, mas também, como jornalista, de Armando Nogueira, o grande mestre Armando Nogueira, tem até esse seu modo de falar.
Eu queria dizer a V. Exª também, Senador - e agora com toda a isenção que eu tenho aqui pela relação que tenho com V. Exª, eu sou sua amiga e admiradora -, eu preciso também dizer o seguinte: este País ficou assim não por pessoas como o senhor, mas por pessoas da maioria de seu partido, o Partido dos Trabalhadores, que criou - criou, sim - uma forma, eu diria, de separar o Brasil. Nós temos de ter a visão clara das coisas. Lamentavelmente, eu acho que, quando Fernando Henrique Cardoso - que também conheço e respeito - se nega, seria mais ou menos praticar o que Jesus Cristo fez: levou uma tapa na face e deu a outra face.
Eu fui atacada criminosamente na campanha do ano passado - criminosamente, Senador. Se fosse um debate político limpo, não teria nenhum problema. Mas calúnia e difamação! Isso é crime. E isso aconteceu. Eu fiz uma campanha limpa e respeitosa com todos. Então, é essa radicalização criada na origem, e V. Exª não partilha dessa forma de agir, pois conheço V. Exª e o conheci mais ainda quando cheguei aqui para conviver com V. Exª. Porque também me lembro de uma viagem de avião, como jornalista, em que V. Exª - agora, farei uma revelação aqui ao público -, sentadinho, ao fundo do avião - e já havia saído do poder -, disse assim: “Vou sugerir ao Presidente Lula que crie uma figura de um embaixador, de uma figura que não seja do Governo, mas que tenha uma representatividade oficial...”, e citou o nome de Fernando Henrique Cardoso. Eu me lembro disso e de que me impressionei muito, porque Lula havia recém-assumido a Presidência da República.
Então, eu estou fazendo este depoimento para dizer que pessoas como V. Exª contribuem, sim, mas que o que o seu partido fez, ao longo do tempo, foi para exatamente rachar o Brasil, exatamente estabelecendo isso. Por que as pessoas reagem em relação ao partido dessa forma? É exatamente por conta de coisas como essa. E não é porque eu fui vítima, não. É porque eu vejo que muitas coisas que foram ditas na campanha também, hoje, a população está cobrando, porque as coisas não aconteceram como foi prometido.
Então, permita-me, Senador. Eu quero cumprimentá-lo por ter vindo ontem à tribuna falar pelos 50 anos da Rede Globo e por ter assumido, e lamento que as pessoas não tenham entendido o seu gesto.
Muito obrigada.