Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de pesquisa realizada pelo Senado acerca da violência contra a mulher.

Autor
Marta Suplicy (S/Partido - Sem Partido/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Registro de pesquisa realizada pelo Senado acerca da violência contra a mulher.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2015 - Página 122
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Indexação
  • COMENTARIO, REALIZAÇÃO, PESQUISA, AUTORIA, SENADO, ASSUNTO, DIREITO, MULHER, LEI MARIA DA PENHA, ENFASE, APREENSÃO, INTEGRIDADE, FISICA, MORAL, REFERENCIA, CLASSE SOCIAL, BAIXA RENDA, AUMENTO, DESEMPREGO.

            A SRª MARTA SUPLICY (S/Partido - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Senador Raupp, é que eu também vou para a discussão da reforma política.

            Quero parabenizar as Margaridas, a Marcha tão forte, como sempre, e que significa tanto para nós, mulheres brasileiras. Essa possibilidade de sentir o pulsar das mulheres do campo, as suas necessidades, as suas propostas, isso enriquece o Congresso Nacional e a sociedade como um todo.

            Também queria falar sobre a pesquisa que o Senado realizou e que ontem foi apresentada na Comissão de Combate à Violência contra a Mulher. Parabenizo o Senado, que, na verdade, agora é o único órgão que, a cada dois anos, faz uma pesquisa consistente sobre violência contra mulher. É interessante porque muitos órgãos poderiam fazê-la, mas é o Senado que está ...

(Soa a campainha.)

            A SRª MARTA SUPLICY (S/Partido - SP) - ...tendo essa preocupação. Então, parabenizo a nossa Casa por essa iniciativa.

            E os dados nos levam à reflexão, porque nós fizemos grandes avanços em relação ao combate à violência. O mais importante de todos, elogiado internacionalmente, é a Lei Maria da Penha.

            Porém, ao mesmo tempo em que temos esse avanço, a pesquisa mostra que aumentou o medo da mulher, a insegurança da mulher frente a um ataque de qualquer tipo à sua integridade, e isso principalmente entre as mulheres mais pobres. Uma em cada cinco brasileiras é vítima da violência doméstica.

            Eu fiquei pensando, Senador Raupp, no que está por trás disso. É uma maior visibilidade, porque aparece mais que as mulheres estão sendo atacadas? Ou é um aumento maior da violência contra a mulher? Também pensei em outra possibilidade: toda vez que se liga a televisão se vê escândalo de corrupção ou crime, e os crimes contra a mulher são passados com pormenores, porque são horríveis, cruéis, são crimes que realmente chocam a sociedade - é um que estupra, mais dois que também estupram e jogam do precipício, é outro que esquarteja... Então, eu me perguntei: será que também dá essa agonia na mulher, principalmente numa mulher menos protegida, com menos condição social, de andar na rua em lugares mais escuros e ser vítima de um ataque? Isso pode ser também.

            Acredito que, na consciência de homens, hoje - que são os maiores agressores das mulheres, principalmente no âmbito doméstico -, essa questão da Lei Maria da Penha e do receio de haver uma questão jurídica a partir de uma agressão acabem influenciando. Então, fico meio na dúvida sobre como seria esse aumento da insegurança ou do medo.

            O DataSenado neste ano, de junho a julho, ouviu 1.102 brasileiras - a pesquisa é telefônica - de todas as regiões do País - são 27 unidades da Federação -, a partir dos 16 anos até mais de 60. São desempregadas, domésticas, estudantes, aposentadas, pensionistas, servidoras, donas de casa, funcionárias da iniciativa privada, de todas as etnias. Esta é a sexta edição da pesquisa.

            Cem por cento das entrevistadas responderam que sabem da existência da Lei Maria da Penha - isso é ótimo! Realmente, a persistência das mulheres e do Governo, que criou a lei, rendeu frutos. É preciso ressaltar o papel da mídia também, que ajudou a colocar essa pauta para todas as mulheres terem acesso.

            Sessenta e três por cento das mulheres acreditam que a violência está aumentando, e esse percentual está na média da pesquisa histórica.

            Um número muito alto de mulheres afirmou que as mulheres não são tratadas com respeito no Brasil. Quanto a isso, nós também podemos pensar em várias possibilidades, porque houve uma piora de oito pontos percentuais, e a sensação é pior para as mulheres mais idosas e menos escolarizadas. De novo, alcança as mulheres mais fragilizadas pela idade e as menos escolarizadas - provavelmente, uma faixa mais pobre da população -, que sentem que estão sendo desrespeitadas. Com relação às empregadas domésticas, 59% delas sentem que são as menos respeitadas.

            Embora a maioria, 56% das mulheres, aponte estar mais protegida com a Lei Maria da Penha... Antes 66% se sentiam mais protegidas. Quer dizer, essa queda passa por essas hipóteses que eu levantei, e seria interessante investigarmos o que está acontecendo. Por que a mulher está se sentindo mais exposta a uma agressão? Se formos considerar que é uma violência doméstica, não é uma agressão que ocorre quando ela está pegando um ônibus em uma rua escura, é uma agressão dentro da sua casa... Isso, muitas vezes, pode estar relacionado - eu já vi muitas pesquisas - a alcoolismo, a desemprego. Pode estar começando a acontecer um aumento do desemprego, o que pode bater em casa, e esse tipo de agressão começa a ocorrer.

(Soa a campainha.)

            A SRª MARTA SUPLICY (S/Partido - SP) - Esse excesso de informação violenta também é responsável pelos medos, por tudo mais. Em casa, situações que a mulher talvez não fosse classificar como agressões, hoje, com mais informação - pensando no lado bom... Um desrespeito, uma agressão verbal, uma fala abusiva já pode ser considerada uma agressão - coisas que a avó dela não consideraria nunca; a sua mãe, talvez. Aí nós estamos melhorando. Esse índice é bom, não é ruim. Então, precisamos saber em que patamar nós estamos.

            O problema da violência doméstica é grave. O sofrimento emocional é muito complicado, porque depois tem uma decorrência que pode ser depressão, ansiedade.

(Soa a campainha.)

            A SRª MARTA SUPLICY (S/Partido - SP) - Nós queremos dizer - só para completar - que essa pesquisa é extremamente bem-vinda. Precisamos agora de maiores detalhamentos e que outras instituições e institutos de pesquisas se debrucem sobre o tema da mulher.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.

            Obrigada, Senador Raupp, por me ceder este espaço.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2015 - Página 122