Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque à aparente contradição entre os lucros auferidos pelas instituições financeiras e o cenário de crise econômica do País; e outros assuntos.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Destaque à aparente contradição entre os lucros auferidos pelas instituições financeiras e o cenário de crise econômica do País; e outros assuntos.
ECONOMIA:
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2015 - Página 124
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • ELOGIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PARTICIPAÇÃO, MULHER, TRABALHADOR RURAL, LOCAL, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), COMENTARIO, TRABALHO, CAMPO, FAMILIA, ORADOR.
  • APOIO, DISCURSO, ROMERO JUCA, SENADOR, REFERENCIA, CRISE, ECONOMIA, BRASIL, ENFASE, CONTRADIÇÃO, LUCRO, BANCOS, AUMENTO, DESEMPREGO, INFLAÇÃO, DEFESA, REDUÇÃO, TAXA, JUROS, OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA, COMPETITIVIDADE, CRIAÇÃO, EMPREGO, ELOGIO, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO, MOTIVO, APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, CRESCIMENTO, PAIS.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente Amorim.

            Srªs e Srs. Senadores, antes de iniciar a minha fala, que será sobre economia e juros também, quero parabenizar a Marcha das Margaridas.

            Minha mãe foi uma Margarida. Minha mãe ajudou meu pai, trabalhando na roça, a criar 14 filhos. Minhas irmãs mais velhas também foram Margaridas, trabalharam na roça no Estado de Santa Catarina.

            Essa é uma profissão digna porque é dali que sai o sustento da família, não só das famílias das Margaridas e de seus esposos, mas de praticamente toda a população brasileira, como também - por que não? - alguns produtos para exportação.

            Parabéns às Margaridas de Rondônia. Parabéns às Margaridas do Brasil.

            Todos nós, Sr. Presidente, brasileiros, estamos acompanhando o momento delicado pelo qual passa a economia do nosso País.

            Quero parabenizar o Senador Romero Jucá pela fala que aqui proferiu, ainda há pouco.

            Embora o Governo Federal tenha adotado diversas medidas para retomar o crescimento econômico, as notícias nesse segmento não são as mais animadoras.

            No momento em que o desemprego e a inflação continuam a preocupar todos nós, diversos jornais publicaram os lucros das maiores instituições financeiras no segundo trimestre do corrente ano.

            O Banco Itaú, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, teve um lucro líquido de R$5,98 bilhões, quase R$6 bilhões no primeiro semestre. O Bradesco, R$4,47 bilhões, quase R$4,5 bilhões. Ambas as instituições registraram o maior lucro líquido da história para um segundo trimestre. O maior lucro da história para um segundo trimestre, olhem a contradição.

            Com essa informação, podemos dizer que vivemos um período de aparente contradição. De um lado, temos previsão de queda da economia brasileira, aumento da inflação e desemprego; de outro lado, temos as instituições financeiras alcançando lucros recordes.

            Recentemente, ouvi do Presidente da Abimaq que os juros - ele jogou pesado mesmo - estão pornográficos. Está faltando, ex-Ministro e Senador Fernando Bezerra, um José Alencar, Vice do Presidente Lula, que cobrava, todas as semanas, a queda dos juros. Não dá mais para aguentar as altas taxas de juros. Além disso, aumentam as dívidas do País, aumentam as dívidas dos Estados e dos Municípios. Não adianta economizar, fazer ajuste fiscal por um lado, e os juros corroerem por outro.

            A política monetária adotada hoje, que se utiliza de juros altos para diminuir a demanda, leva a que a população que deseja e necessita comprar não possa mais fazê-lo. Enquanto isso, repito, os bancos alcançam os maiores lucros da história. Mais uma vez repito: saudades do José Alencar! Portanto, essa equação não fecha.

            Recordo que demanda baixa significa, ao lado de um possível controle da inflação, produção baixa, desemprego e, ao final da linha, uma estagnação de toda a economia, que certamente levará a perdas de todos os segmentos, inclusive do próprio setor bancário.

            É importante lembrar que a economia brasileira se valeu até aqui de uma demanda interna que se encontrava reprimida há muito tempo. Podemos dizer que havia mais brasileiros com desejos reprimidos de demanda do que todos os argentinos. Ou, segundo alguns estudos, duas vezes os nossos hermanos argentinos. Dois países do tamanho da Argentina espalhados pelo nosso imenso Território, rico em possibilidades de produção.

            O Governo Federal propiciou que esses brasileiros tivessem acesso ao que antes lhes era impossível. Isso é verdade. Se hoje temos uma situação de inadimplência dessa mesma população, é exatamente em função da exorbitância das taxas de juros cobradas pelo sistema financeiro. Assim, o País acaba sendo penalizado de duas formas: diretamente, por ter de retornar aos tempos de desejos e demandas reprimidas, que não são somente por bens e serviços supérfluos, mas muitos deles de necessidade imediata para a construção da verdadeira cidadania e para alcançar o objetivo de todos nós, de ao menos diminuir as nossas desigualdades regionais e pessoais de distribuição de renda; e, indiretamente, porque juros altos afetam em maior montante a dívida pública, em detrimento de gastos em educação, saúde, segurança pública e o próprio fomento à economia. 

            Diversas vezes, já estive nesta tribuna comentando sobre a alta taxa de juros e seus efeitos colaterais nocivos. A taxa de juros mais baixa permite às indústrias o desenvolvimento e o aquecimento da economia. Como consequência disso, o País torna-se mais competitivo e gera mais oportunidades de empregos.

            Registro, ainda, que não sou contra o lucro por parte das instituições financeiras, mas sou favorável a que todos os ganhos decorrentes do nosso esforço produtivo sejam melhor distribuídos, não só aos bancos.

            Vivemos uma grande crise econômica, reclamada por todos os trabalhadores e empresários brasileiros; ao mesmo tempo, os bancos alcançam os maiores lucros da sua história. A crise penaliza, portanto, com intensidade, exatamente quem produz. Aí está a grande contradição da nossa crise.

            Sabemos que a retomada para o crescimento do País não é fácil. O Governo Federal tem que ter sabedoria para corrigir o que deu errado e coragem e ousadia para tomar medidas que alavanquem o Brasil rumo ao crescimento e ao desenvolvimento tão desejado e sonhado por todos nós brasileiros.

            A crise é mais visível, obviamente, onde moram os brasileiros. Ela é mais sentida, portanto, nos Estados e Municípios. Para o cidadão, é lá que se realiza a vida e, consequentemente, é lá que ele sente, com maior intensidade, a crise. Daí que o Senado Federal, como Casa da Federação, tem que participar ativamente desse debate. Nós não podemos permanecer inertes a essa situação evidente de geração de maiores desigualdades, contrária ao nosso discurso de diminuí-las.

            Os agentes financeiros são necessários, eles promovem o financiamento da produção, mas não podemos esquecer que eles trabalham exatamente com os recursos gerados pela produção do empresário e do trabalhador. É preciso que essa equação seja resolvida. Na situação atual, a crise afeta muitos, para não dizer todos, porque alguns poucos lucram ainda mais com ela.

(Soa a campainha.)

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO) - Para concluir, Sr. Presidente, mais dois minutinhos.

            Sr. Presidente, por último, quero parabenizar o Presidente do Senado, Senador Renan Calheiros, pela apresentação da Agenda Brasil.

            Trata-se de importante iniciativa que visa impulsionar o País.

            Dentre as medidas propostas, destaco as seguintes: desoneração da folha e acesso a crédito subsidiado a metas de geração de empregos; melhoria das regras para concessões de infraestrutura; garantir maior segurança jurídica nos contratos de investimentos; novas regras para investimentos em mineração; e proibição de programas federais que geram despesas para os Estados e Municípios sem novas receitas.

            E importante lembrar que todas as propostas apresentadas serão debatidas pelo Parlamento, onde poderão ser aprimoradas. E espero que não demore muito, que seja rápido.

            Num momento de crise como o nosso...

(Soa a campainha.)

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO) - ... o importante é que caminhos sejam apontados para que o Brasil possa retomar o seu rumo, que é o do desenvolvimento e do crescimento.

            Portanto, parabenizo o Senador Renan Calheiros pelas propostas e espero que elas sejam votadas, o mais rápido possível, no Congresso Nacional, na Câmara e no Senado.

            Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2015 - Página 124