Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa do diálogo como forma de construir uma saída para a crise político-econômica que atinge o País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Defesa do diálogo como forma de construir uma saída para a crise político-econômica que atinge o País.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2015 - Página 124
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • REGISTRO, NECESSIDADE, DEBATE, GRUPO, PARTIDO POLITICO, APOIO, OPOSIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, OBJETIVO, ANALISE, SOLUÇÃO, CRISE, GOVERNO FEDERAL, CRITICA, IMPEACHMENT, CASSAÇÃO, CHAPA, RENUNCIA, VONTADE, PARCELA, SOCIEDADE, DEFESA, MANUTENÇÃO, GESTÃO, MODELO, ATUALIDADE.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Jader, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, faz já alguns bons meses - creio que desde o final de março, pelas pesquisas que eu fiz - que venho falando aqui da crise previsível e da necessidade de um grande diálogo nacional.

            É perfeitamente previsível que chegaríamos a uma crise desse tipo. Ninguém pode prever as coisas, mas dá para imaginar o grau, por três razões fundamentais. Primeiro, o desgaste com que chegaria a Presidente da República depois de se eleger com uma campanha que, além de prometer o que não poderia fazer de maneira alguma, acusou os seus adversários de coisas que eles não fariam. É claro que ela chegaria desgastada. Ela chegaria desgastada porque já estava no segundo mandato.

            O Brasil ia entrar em crise, porque cada eleição presidencial cria uma espécie de lua de mel do eleito com a população, mesmo com quem não votou nele. Mas ela chegava com um casamento de 12 anos desgastado com a República, tendo mentido para os parceiros, que são a população, tendo dilapidado o patrimônio com medidas de desajuste. Era óbvio que haveria uma crise.

            Segundo, o descrédito como ela se portava pelo fato de que o desajuste foi criado por ela. É diferente chegar um Presidente, na República, Senador Ataídes, que diga: “O meu antecessor fez um desajuste e agora eu tenho que fazer um ajuste”; e um Presidente ou Presidenta que chegue e diga: “Agora eu vou ter que fazer um ajuste para corrigir o desajuste que eu fiz. Eu prometi que não faria esse ajuste e eu disse que os outros que fariam. E por isto pedi voto: para não deixar que os outros fizessem esse ajuste para corrigir o desajuste que eu criei”.

            Então, o desajuste que foi provocado, o descrédito como chega e a desmoralização da corrupção - que até hoje não toca diretamente na Presidente, mas toca em todo o seu entorno, passa por onde ela esteve também, sobretudo na Petrobras -, quando vemos essas três coisas, obviamente haveria uma crise muito profunda. Some-se a isso, naquela época realmente não dava para prever, a desorganização das bases de apoio do Governo.

            Então, desde março que eu não só falo da crise - aliás, da crise, desde o ano anterior-, mas falo de um diálogo. Pois bem, cheguei ao ponto aqui de dizer que temos grupos de Senadores, independentes dos seus partidos, alguns da Base de Apoio, como eu, do PDT, outros que são de oposição, que estão dispostos a participar do debate.

            Na sexta-feira, Senador Jader, eu recebi, junto com outros Senadores, um convite para um jantar na Presidência da República, com a presença da Presidente, que é quem fez o convite, e eu disse que não iria. Poderia parecer: como é que alguém que fica falando em diálogo não vai a um jantar em que o convite veio da Presidente? Mas eu expliquei na hora por que eu não iria. Primeiro, porque não se trata de um diálogo, era ou uma festa ou aplausos.

            Diálogo não se faz com Base de Apoio. Diálogo se faz com quem não é da Base de Apoio, senão não é diálogo; senão pode até chamar de entendimento, e eu prefiro chamar de aplauso.

            Segundo, não se faz diálogo com 35 pessoas. Trinta e cinco, que era o número que se imaginava, é muito mais do que aquele que permite um diálogo olhando nos olhos, dizendo com franqueza as coisas, dizendo: Presidente, apesar de tudo, o melhor caminho é não haver nenhuma interrupção, como alguns propõem, no mandato de nenhum dos eleitos. Porque as quatro perspectivas que temos adiante todas são muito negativas: a perspectiva de impeachment, isso é ruim, não é bom; a perspectiva de cassação da chapa, isso é pior ainda; a perspectiva de renúncia, que é um gesto unilateral, isso não é bom; e a perspectiva de continuar mais três anos e meio o governo como está, isso não é bom também para o Brasil.

            Tudo que se apresenta por aí... Porque não dá para se tirar na loteria uma nação; quem tira na loteria é o indivíduo, se está endividado - eu posso tirar na loteria e ser salvo. Um país não se tira na loteria, até porque o Lula dizia que o pré-sal era a loteria e, na época, eu fui um dos que disseram que isso não era loteria. Não existe loteria para um país, sobretudo do tamanho do Brasil, que não cabe dentro de um poço de petróleo, nem de 10, nem de 20, nem de 100.

            Então, estamos diante de uma crise com poucas alternativas. Porque uma alternativa seria um candidato novo, mas faltam três anos e meio. Então, não tem essa chance de dizer para se esperar. Esperar três anos e meio? Não dá! São mais de 40 meses! Não dá para ter uma margem de recuperação da economia, porque a nossa poupança é baixa, e isso é uma tradição brasileira. O dólar vai crescer, até porque a taxa de juros subindo nos Estados Unidos vai atrair dólar do mundo inteiro para lá e não para cá. Não vai ser fácil enfrentar a crise energética, porque há fenômenos naturais também, apesar de que grande parte do problema vem do desajuste que se fez no setor elétrico. E, finalmente, o outro problema, que é a corrupção, não vamos ter resultados fáceis, rápidos. A corrupção, quando ela é limpa, melhora o país, mas, num primeiro momento, gera uma crise moral no país. No primeiro momento, quando se descobre a coisa, existe uma baixa estima. As crianças hoje mesmo já brincam com a corrupção. Levará anos para a gente ver os resultados positivos da Operação Lava Jato e das outras operações. Tem que ser feito, é óbvio, felizmente. Mas, no primeiro momento, o impacto é o contrário do que se espera. No primeiro momento, é o impacto de desmoralização de toda a classe política; depois é que virá a saída.

            Pois bem, eu quero voltar a insistir aqui na necessidade de que nós estejamos à altura do momento, encontrando um caminho para qualquer das quatro alternativas. Eu não vejo a quinta. Qualquer das quatro tem que ser concertada, com C, para não criar um desconserto, com S, do Brasil.

            Seja a renúncia, seja a continuação da Presidente, que é o mais tranquilo para o Brasil, seria o mais tranquilo para o Brasil cumprir o mandato dela. Até a renúncia tem que ser concertada, não pode ser à la Jânio Quadros, de um dia para a noite. Tudo isso tem que ser concertado.

            Esse concerto tem de partir dela, e eu não estou vendo. Não estou vendo, porque o discurso continua sendo de arrogância, porque o discurso continua sendo “nós estamos certos”, o discurso continua sendo de não dizer que “nós cometemos alguns equívocos”. Eu nem falo em pedir desculpas. Eu falo em reconhecer os equívocos. É diferente: reconhecer o equívoco é menos duro, menos forte do que pedir desculpa por ele. Eu falo: desculpa é uma coisa pessoal; agora, reconhecer os equívocos não é uma coisa pessoal, é uma coisa que a gente percebe e sabe.

            Eu não estou vendo ainda essa vontade de um diálogo por parte do Governo.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - E o pior é que por parte da oposição também, muitas vezes, eu não vejo. Porque aquilo que eu ouvi chamarem aqui de FLAxFLU parece que tomou conta do jogo político brasileiro. Em vez de buscar um consenso, que é o papel da política, a gente está querendo ver quem faz mais gol, que é o que acontece no futebol. Política não é lugar de ver quem faz mais gol, é lugar de ver como se consegue consenso.

            Eu quero aqui, Senador Jader - e concluo em um minuto -, dizer que o fato de eu não ter ido a esse jantar não significa, em nenhuma hipótese, que eu não estou aqui à disposição de qualquer um de vocês que fazem mais liderança do que nós do baixo clero, como se diz, qualquer um. Estou disposto a conversar, dialogar e ver até que ponto é possível ajudar o Brasil a sair desta crise. Mas diálogo não se dá na frente de 35, 50 pessoas, que são da Base...

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... e, sim, em grupos pequenos. Também acho que não deve ser individualmente, não, porque hoje está tão desmoralizado que, se você for a um debate, a um diálogo individualmente, vão pensar que você foi pedir cargo, vão pensar que você foi pedir liberação de verba. Mas grupos de cinco, seis, sete, dez pessoas. E, por isso, no mesmo documento em que eu disse que não ia, dirigido ao Vice-Presidente Temer, eu disse para ele que eu gostaria muito de participar de um diálogo junto com outros Senadores - que eu sei que aqui há, porque nós estamos conversando - e que não estamos nem no FLA nem no FLU, mas, sim, no BR, no BR do Brasil, esse time que, às vezes, dá a impressão de que não está em campo, porque parece que estão jogando só para acertar no adversário e não para construir um projeto novo de que o Brasil precisa.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu queria colocar, minha predisposição mantida para o diálogo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2015 - Página 124