Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à iniciativa do Presidente Renan Calheiros de criação da Agenda Brasil.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Apoio à iniciativa do Presidente Renan Calheiros de criação da Agenda Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2015 - Página 149
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • APOIO, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO, CRIAÇÃO, PROPOSTA, MODERNIZAÇÃO, ECONOMIA, COMBATE, CRISE, BRASIL, CRITICA, AUSENCIA, OBSERVAÇÃO, PERIODO, DIFICULDADE, ECONOMIA INTERNACIONAL.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Srª Presidenta.

            Srªs e Srs. Senadores, gostaria de poder falar na presença do Senador Renan Calheiros, Presidente desta Casa, a fim de cumprimentá-lo pela iniciativa, pela discussão com os Senadores e a apresentação de uma pauta programática. Podemos ter divergências ou não sobre diversos pontos que ali estão, mas é uma pauta programática, que tem a responsabilidade e a oportunidade de unir Parlamentares não só da Base do Governo, mas também Parlamentares que estão na oposição, para a construção de uma pauta positiva para o Brasil. Acho que se há uma coisa relevante no que disse o Presidente Renan Calheiros, quando fez a apresentação dessa pauta, é que nós precisamos rediscutir o dito presidencialismo de coalizão, que na maioria das vezes é formado não pelo programa, mas, sim, por serem pragmáticas as relações de governabilidade.

            E, se hoje enfrentamos uma crise política e uma dificuldade nas relações da Base de Governo, não é diferente do que enfrentamos em outros momentos da nossa história. Aliás, desde a Nova República, enfrentamos situações difíceis com o presidencialismo de coalizão. Em 1999, tivemos uma crise na base aliada de quem é hoje oposição.

            Então, nós precisamos rever isso, Senador Cristovam. Eu acho que a reforma política pode ser uma oportunidade, mas, mais do que isso, é uma pauta programática, é uma pauta de projetos de construção do País que será capaz de fazer com que uma base se unifique em torno de um programa e de um projeto. E eu acho que esse mérito foi construído pelo Presidente Renan, apesar de que possamos ter divergências sobre temas que ali constam.

            Mas eu queria também, se V. Exª me permite, Srª Presidenta, respeitando as opiniões divergentes, mas avaliando o que acontece em nossa economia, resgatar o que acontece na economia mundial. Nós temos por costume no Brasil fazer a avaliação da conjuntura econômica, olhando única e exclusivamente a economia interna, como se fôssemos uma ilha, como se o Brasil não sofresse nenhuma implicação do que acontece externamente. E aí eu não posso deixar de fazer uma referência, ao começar aqui a minha reflexão, à crise econômica mundial iniciada em 2007, em que tivemos a queda do sistema de financiamento habitacional nos Estados Unidos e depois a quebra do Banco Lehman Brothers. E como o Governo do Presidente Lula, à época, conseguiu dar resposta a essa crise grave, que arrastou vários países, inclusive, economias ditas maduras e sustentáveis, como na Europa, a uma situação de quase falência, e que estão começando a se recuperar agora?

            Aliás, os próprios Estados Unidos estão começando um processo de recuperação agora. A China, considerada o motor da economia da História, também teve consequências graves. E nós, aqui no Brasil, apesar da força dessa crise, conseguimos defender o nosso emprego, defender a nossa renda, defender a qualidade de vida do povo brasileiro.

            O Presidente Lula foi ousado. Em vez de adotar medidas que costumam ser utilizadas por outros governos em crises como essa, como a restrição de crédito e o corte de despesas no orçamento, muito pelo contrário, foi à frente e fez com que o Brasil pudesse responder à altura. Lembro que o crédito foi ampliado, os juros foram reduzidos, os programas sociais de governo foram colocados em prática, quando se desenvolveu aquele que julgo ser um dos maiores programas desse governo, contemplando a área social e a parte de infraestrutura: o programa Minha Casa Minha Vida.

            Graças a essa ousadia, nós não tivemos aqui no Brasil o resultado que a Grécia teve. Nós não tivemos aqui no Brasil o resultado que a Espanha teve.

            A Espanha chegou a ter desemprego de 20%; a Itália, de 25%. Aliás, na Espanha, mais de 40% da juventude ficou desempregada. A Grécia até hoje está se arrastando, com problemas graves, para recuperar a sua economia, o que não é diferente também da Espanha e da Itália, que agora que começam. Nós não sofremos isso. É importante ter isso claro. O Brasil conseguiu dar resposta consistente àquele momento.

            É claro, fizemos gastos públicos maiores? Fizemos. Fizemos medidas contracíclicas. Podemos ter exagerado? Podemos ter exagerado, mas fizemos isso para proteger o povo brasileiro.

            E nós não podemos nos esquecer de que, no primeiro momento, no primeiro mandato da Presidenta Dilma, nós tivemos um verdadeiro tsunami de dólares, neste País, das economias que tentavam proteger as suas economias. Tivemos que lidar com uma crise cambial e, mais uma vez, demos resposta, não deixamos que aquela crise avassaladora pudesse contaminar aqui, inclusive, o nosso emprego e a nossa renda. De novo fizemos medidas importantes, para que pudéssemos responder a isso. E de novo tentamos dar competitividade às nossas empresas, desonerando folha, reduzindo tributo, aumentando os gastos em programas sociais, melhorando o crédito, dando crédito para a indústria. Fizemos isso para proteger, mais uma vez, a nossa economia.

            Nosso desemprego não chegou a 20%. Nossos problemas com a renda não chegaram como chegaram na Europa, onde as pessoas que tinham comprado suas residências foram colocadas para fora de casa, porque não podiam pagar. Nós não tivemos essas situações críticas.

            É verdade que temos situação econômica difícil e que chegamos ao limite da utilização dos recursos fiscais, para fazer frente a uma crise econômica. Mas nós utilizamos esses meios para proteger a vida da população.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Agora, nós precisamos fazer um ajuste fiscal, que não é o mesmo ajuste da Grécia. Que não é o mesmo ajuste da Espanha. Que não é o mesmo ajuste da Itália. Ele é mais suave, mas é um ajuste.

            Estamos tendo consequência de aumento de preço? Estamos tendo. A inflação tem um pico? Estamos. Aumentamos o nosso desemprego? Sim. Mas está na casa de 6,5%, jamais a 12%, como nós já tivemos.

            Hoje nós temos reservas internacionais, temos um colchão de proteção social, não temos a miséria, como nós já assistimos há 15, 20 anos, neste País.

            Portanto, eu digo isso para me contrapor aos discursos que foram colocados aqui, como se nós estivéssemos na pior crise da nossa história, como se as coisas fossem insolúveis, como se o Governo da Presidenta Dilma e o do Presidente Lula tivessem pensado, apenas, em um projeto de poder. O projeto que se pensou neste País foi um projeto de inclusão.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Um projeto para fazer com que as pessoas pudessem ter dignidade. Tudo se paga um preço!

            Portanto, nós precisamos fazer essa reflexão. Por isso, o que nós estamos vivendo hoje não é uma crise de um governo. Nós estamos vivendo hoje uma crise - ou uma dificuldade econômica - resultado de uma profunda crise internacional, uma das maiores da nossa história, maior que a quebra da Bolsa de Valores de 1929. E é óbvio que o Brasil sente os efeitos, mas nós estamos conseguindo dar respostas.

            Por isso que eu queria fazer essas considerações, Srª Presidenta, ao mesmo tempo em que saúdo o Presidente Renan por ter essa pauta, que pode nos colocar, sim, em uma discussão saindo dessa discussão política. Resultado de uma eleição acirrada, de uma vitória apertada da Presidenta Dilma e de uma dificuldade imensa da oposição de reconhecer o resultado, de querer ganhar a eleição, novamente, em um terceiro turno. É uma pena o que nós fazemos aqui para que a gente dê governabilidade a esse País.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Porque as pautas-bomba que estão sendo votadas no Congresso e na Câmara - e faço aqui uma crítica ao meu Partido, o PT, que votou junto, lá, com o PSDB, com o PMDB -, que essas pautas não prevaleçam, porque elas não são contra a Presidenta Dilma, elas não são contra um Governo do PT, elas são contra o País. E se nós temos capacidade de unir PT, PSDB e PMDB para votar pauta-bomba, eu sei que temos capacidade de unir esses partidos para votar uma agenda positiva a favor do Brasil.

            E quero dizer à oposição que tem responsabilidade, sim. Não é porque é 20%. Tem responsabilidade. Porque muitas das votações que acontecem hoje aqui, a oposição está votando contra aquilo que defendeu no passado. Se nós tivemos a responsabilidade de votar errado lá atrás, não pode ser desculpa para quem quer acertar.

            Por isso, quero fazer um apelo a esta Casa. É em favor do Brasil que nós temos, Srª Presidenta, que votar uma pauta programática.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2015 - Página 149