Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Crítica às medidas tomadas pelo Governo Federal, sob a gestão do PT, para evitar a crise econômica; e outro assunto.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Crítica às medidas tomadas pelo Governo Federal, sob a gestão do PT, para evitar a crise econômica; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2015 - Página 164
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ERRO, TENTATIVA, NEGAÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, INTERFERENCIA, ECONOMIA, BRASIL.
  • REGISTRO, APREENSÃO, AUSENCIA, ENGAJAMENTO, BANCADA, SENADOR, DEBATE, PROPOSTA, MODERNIZAÇÃO, ECONOMIA, BRASIL, AUTORIA, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Sem revisão do orador.) - Presidente Hélio José, eu me inscrevi faz um longo tempo para comentar a posição do Senador Renan Calheiros, mas, naquele período, a Senadora Gleisi Hoffmann fez uma fala e eu quero me referir a ela.

            Ela fez uma análise do que o Governo Lula e Dilma, especialmente, no primeiro mandato, o que esses dois Governos, que são um só, fizeram para evitar que a crise chegasse aqui na dimensão lá de fora. E é verdade. Ela contou o que foi feito e, obviamente, não contou os equívocos brutais, como o gasto no BNDES e outras coisas.

            Agora, fiquei pensando: imagine se a Presidente Dilma, durante a campanha, tivesse feito aquele discurso e depois dito “agora, gente, se reeleita, eu vou ter que fazer ajustes, vou ter que mexer em alguns gastos, eu vou ter que agir na taxa de juros, vou ter que fazer aumento de impostos”. Ela chegaria, hoje, com uma credibilidade que impediria a crise que estamos atravessando.

            O grave foram as mentiras que foram ditas, foi esconder o que viria.

            Essa é apenas uma referência à fala da Senadora Gleisi, que, de fato, tem razão quando coloca que se conseguiu evitar que a crise chegasse naquele período, mas se tentou esconder, Senador Donizeti, que ela viria.

            Dito isso, quero falar sobre o pronunciamento do Senador Renan.

            Na semana passada, o Vice-Presidente Temer disse, na televisão, que o Brasil estava precisando de liderança. Ao ouvir o Senador Renan, tive a impressão de pensar: está aí o cara que o Temer estava buscando. Ele chegou aqui assumindo uma posição de liderança de como enfrentar a crise. Por um lado, isso é bom, porque se está precisando. Por outro lado, é preocupante para as instituições.

            Mas eu acho que o importante a se falar é neste documento em si e como fazer para levá-lo adiante.

            Veja a minha preocupação, Senador. Eu olhei aqui e havia uns oito Senadores, menos de 10%. Agora é capaz de haver menos. Depois de um discurso daquele, esta Casa deveria estar cheia, debatendo o assunto, levando a sério. Temos menos de 10% dos Senadores. Temo que isso vá morrer. Eu temo que fique como um discurso em uma tarde de terça-feira. E isso só não ocorrerá, esse desaparecimento das pessoas, se forem transformadas em posições consistentes e sérias.

            Eu lamento que não esteja aqui o Senador Renan, porque eu ia propor que, além da reunião de amanhã - para a qual, aliás, ele me telefonou convidando, com o Ministro Levy -, ele criasse um grupo de trabalho. Não precisa mais do que uma semana para transformar essas idéias - que a mim me pareceram muito genéricas algumas delas, outras pareceram boas, e faltam muitas - em um documento.

            É isso o que quero sugerir e peço que o senhor, como Presidente, transfira para ele essa preocupação.

            Porque há coisas que a gente tem que eliminar. Há coisas que parecem que foram colocadas aqui por algum lobista. Esse negócio de “revisão do marco jurídico que regula área indígena como forma de compatibilizá-la com atividades produtivas”, paciência! Isso não tem nada a ver com ajuste. “Regulamentar o ambiente institucional dos trabalhadores terceirizados” cheira a voltar a terceirização, que conseguimos impedir aqui.

            Há coisas que não fazem sentido como medidas concretas para enfrentar esse momento e há coisas que faltam. Por exemplo, aqui eu anotava algumas que faltam: não há uma proposta clara para o emprego; não fala em redução de gastos, inclusive, na redução de ministros, de ministérios, como falou a Senadora Rose de Freitas; não fala em incentivo à poupança - a gente não sai da crise se o País não deixar de ser um País consumidor e tiver um equilíbrio com a poupança; não fala em produtividade; não fala em capacidade de inovação; não fala em garantia da manutenção das conquistas sociais dos últimos 12 anos que nós tivemos - isso tem que estar escrito em qualquer proposta, apoiar o Governo para que não haja retrocesso no social; não fala aqui, por exemplo, na adoção das escolas, das cidades que foram mal no Ideb, mal no Enem. Temos de fazer alguma coisa por essas crianças que estão sendo jogadas fora por falta de educação.

            Eu creio que, se não fizermos isso, esse documento não passará de uma semana, será apenas um gesto de um dia na mídia, viraria uma espécie de documento João - esse marqueteiro cujo nome nunca me lembro...

            O SR. PRESIDENTE (Hélio José. Bloco Maioria/PSD - DF) - João Santana.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - João Santana. Vai parecer uma coisa de João Santana, e não um documento que queira mudar o Brasil.

            E aí, finalmente, está faltando algo fundamental. Suponha que a gente faça esse documento. A minha pergunta é quem vai governar para levar adiante. E quando eu falo quem, Senador Eduardo, eu não falo o nome de pessoa, porque aí tem a Presidenta Dilma, que foi eleita e tem um mandato. Mas ela sozinha, o próprio Michel Temer disse que não está tendo a liderança suficiente. Ele não citou o nome dela, mas ele disse que falta uma liderança.

            Essa liderança pode ser até em torno dela. Eu espero que seja, porque não é bom interromper o mandato.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas como vamos construir? Como vamos garantir governabilidade, sem o que nós não vamos levar adiante nem essa proposta nem outra?

            Segundo, como vamos quebrar a voracidade corporativista que foi até criticada por diversos e que faz com que os custos estourem?

            Três, como é que vamos controlar essa visão dos partidos pensando apenas em 2016 e 2018?

            São três coisas: quem governa; como trazer as corporações para o nosso lado - e aí as patronais, as sindicais, trabalhadores - para o lado do Brasil, e não da sua corporação; e como fazer com que nossos partidos vejam sem a miopia que termina em 2016 e 2018. Sem essas respostas nós não vamos fazer com que esse documento dure mais de uma semana.

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu espero sinceramente que ele dure, porque o Presidente Renan Calheiros teve uma iniciativa que todos nós devemos parabenizar e querer que dê certo. Mas como está não vai dar. Por isso, a minha tentativa de contribuir.

            Reúna o grupo, Presidente Renan. Dê um prazo de uma semana para transformar isso num documento consistente, numa espécie de carta ao povo brasileiro. Aliás, ele disse que não era isso uma carta. Transformemos isso, para que vire um balizamento do que é preciso fazer nos próximos meses e anos inclusive.

            Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2015 - Página 164