Comunicação inadiável durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Insatisfação com a manifestação do ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso que sugeriu a renúncia da Presidente Dilma Roussef.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Insatisfação com a manifestação do ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso que sugeriu a renúncia da Presidente Dilma Roussef.
Publicação
Publicação no DSF de 25/08/2015 - Página 112
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • CRITICA, PRONUNCIAMENTO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, SOLICITAÇÃO, RENUNCIA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, PAIS, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs. Senadoras, quem nos ouve pela Rádio Senado e quem nos assiste pela TV Senado, na semana passada, o ex-Presidente Fernando Henrique pediu que a Presidenta Dilma tivesse grandeza e renunciasse a seu mandato. Segundo a mídia, ele fez isso para tentar unificar a oposição e seu Partido e dar respostas às manifestações e aos movimentos de rua.

            Como homem sensato e equilibrado, imagem que sempre procurou mostrar, ensaiou uma análise eloquente da fragilidade política da Presidenta e dos grandes desafios do País para lançar sua proposta. Fez isso depois de ter dito, na semana anterior, que a Presidenta Dilma era uma pessoa honrada.

            Olhando longe da história recente, parece que Fernando Henrique está, de fato, exercendo seu papel de dirigente oposicionista e querendo dar uma saída ao PSDB, já que o movimento por impeachment tem encontrado resistência de vários setores, inclusive de apoiadores do PSDB e de setores mais conservadores, como mostrou o posicionamento do Sr. Roberto Setubal, Presidente do Itaú/Unibanco, nesse domingo.

            Além de pedir que esquecessem o que escreveu, parece que o ex-Presidente Fernando Henrique esqueceu também a sua história. Em 1999, tal qual a Presidenta hoje, ele vivia uma baixa popularidade, havia crise econômica, com dólar alto, com os escândalos das privatizações, das negociatas da reeleição e dos grampos do BNDES, nada investigado, tudo engavetado. E havia também movimento nas ruas, sim, debate sobre pedido de impeachment e a palavra de ordem "fora FHC". Era esse o quadro de 1999, quando o Presidente Fernando Henrique presidia este País.

            E havia mais, havia ajuste fiscal pesado, e o PMDB era um Partido aliado e fiador. O nosso Vice-Presidente da República atual, Michel Temer, era Presidente da Câmara dos Deputados. Fernando Henrique só não era, por ser homem, tão xingado e desrespeitado como a Presidenta Dilma o é, por ser mulher.

            Lembro isso para mostrar que já passamos por períodos semelhantes na nossa curta história democrática e que a crise política e as dificuldades econômicas que estamos vivendo já foram enfrentadas em condições piores, inclusive. Mas também o faço para mostrar a falta de grandeza de uma liderança testada e vivida na lida do poder como Fernando Henrique, que já sentiu essa realidade e que, naquele momento, invocava a defesa da legalidade, o respeito ao Estado de direito, a democracia, para se defender.

            Se é verdade que o PT colocou gente nas ruas e fez movimento por impeachment, exagerou e pediu a renúncia de Fernando Henrique, também é verdade que o PSDB faz a mesma coisa agora, Sr. Presidente. As manifestações que têm acontecido pelo País são partidárias, sim, no sentido de terem lado, de quererem uma determinada política. Basta ver que, daqueles que foram para a rua, quase 80% votaram no PSDB.

            Ter grandeza, Presidente Fernando Henrique, é ter vivido uma situação e ter aprendido com ela, é compreender as dificuldades pelas quais passa uma Presidenta, por já ter vivido momento semelhante, e não apostar contra o País, na sua instabilidade. Pedir a renúncia da Presidenta Dilma apenas demonstra atitude de vingança e de apequenamento diante da sua história vivida.

            V. Exª está pedindo para a Presidenta Dilma fazer algo que V. Exª não fez, mesmo estando em condições absolutamente semelhantes.

            Sair da vida pública com baixa aprovação popular é uma contingência do exercício do cargo e que a história poderá resgatar no futuro. Viver a experiência do poder maior de uma Nação e não aprender com ela para posicionar-se diante da vida pode ser um problema de caráter.

            Obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/08/2015 - Página 112