Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Celebração dos 71 anos de criação da Rádio Difusora Acreana; e outro assunto.

.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA:
  • Celebração dos 71 anos de criação da Rádio Difusora Acreana; e outro assunto.
HOMENAGEM:
  • .
Publicação
Publicação no DSF de 26/08/2015 - Página 465
Assuntos
Outros > IMPRENSA
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA DE RADIO E TELEVISÃO, ESTADO DO ACRE (AC), COMENTARIO, HISTORIA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, ASSUNTO, ORIGEM, EMISSORA, RADIO.
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ENFASE, CARREIRA, POLITICA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, BIOGRAFIA, CARTA, SUICIDIO.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, cumprimentando todos os colegas Senadores e Senadoras e já falando rapidamente, porque vou presidir a Comissão de Reforma Política, e hoje é um dia de muito trabalho, pois pretendemos avançar na nossa agenda e criar condições para que matérias importantes da reforma política possam vir ao plenário, venho à tribuna, cumprimentando hoje especialmente o povo acriano, os jornalistas, que nos ajudam a celebrar os 71 anos da Rádio Difusora Acreana, a nossa voz das selvas.

            Tenho aqui um histórico, que vou pedir que conste nos Anais do Senado Federal, uma verdadeira saga da comunicação na Amazônia. A Difusora Acreana completa exatamente hoje 71 anos. Quero cumprimentar todos os servidores, funcionários, jornalistas. Muitos deram sua vida à própria difusora. Fiz isso, há pouco, em um programa ao vivo de Brasília.

            Quero dizer que esta é a rádio que, para mim, foi o primeiro veículo de comunicação que tive contato, toda uma população ocupando nossa Amazônia dependia dela para ter alguma maneira de se comunicar. Era uma comunicação de mão única. As nossas mensagens viraram livros, viraram parte da história bonita do nosso Estado, ocuparam programas nacionais da televisão brasileira, foram contadas no Brasil e fora do Brasil por conta de uma cultura criada.

            Imaginem, as pessoas, com dificuldade para escrever, para se comunicar, tinham de fazer um bilhete, para que aquele bilhete, aquela mensagem fosse lida na rádio, dando notícia para a família ou parte da família que tinha ficado no seringal. E, nessa história de buscar se comunicar, o bilhete tinha de ser escrito pela pessoa que queria mandar a mensagem e lido por outra. E nisso muito folclore foi criado, muitas histórias interessantes foram criadas, porque era um linguajar que às vezes levava ao riso e outras vezes agravava a própria notícia.

            Então, a nossa ZYD-9, Rádio Difusora Acreana, completa hoje exatos 71 anos, e eu, que estabeleci uma relação de ouvinte, depois, de Prefeito, de Governador, com a história da Difusora, sempre me comunico com o povo do Acre através dos seus programas, daqui de Brasília, queria parabenizar a todos.

            Tive muita satisfação de ter ajudado a construir uma parte que sei que orgulha muito os jornalistas da Difusora Acreana, assim como o ex-Governador Binho e, agora, o Governador Tião Viana também. Nesta semana, a informação que tenho é a de que ele assumiu o compromisso de fazer novos investimentos na nossa A Voz das Selvas.

            E queria pedir ao Presidente que fizesse constar nos Anais do Senado essa história bonita da Rádio Difusora Acreana, que começou lá atrás, em 1944, com o Governador Silvestre Coelho e com o Dr. Wilson Aguiar, Diretor do Departamento Territorial de Imprensa e Propaganda, e que segue, sendo um dos instrumentos mais importantes de integração do nosso Estado e de utilidade pública para o nosso povo.

            Por último, Sr. Presidente, era apenas fazer... Já fiz ontem, e V. Exª, gaúcho, está aí e fez uma fala ontem. Eu não pude estar aqui, na sessão em homenagem à memória de Getúlio Vargas e queria aqui também deixar... Li os três livros do Lira Neto. Acho que estamos vivendo uma fase muito difícil no nosso País.

            Quando li os três volumes, foi um mergulho na cultura, na história, na formação política brasileira, na formação dos partidos, nessa cultura política do nosso País. Está ali, traduzida nas páginas tão bem escritas por Lira Neto, um jornalista - com todo respeito aos historiadores, eu sempre falo - que conseguiu contar - e ontem eu com a Senadora Ana Amélia falávamos, tínhamos e temos a mesma compreensão - uma história, e conta de uma maneira extraordinária, que nos leva a acumular conhecimento sobre a cultura política do Brasil.

            Então, a história de Getúlio Vargas, que nasceu no dia 19 de abril de 1882 - portanto ele nasceu junto, perto da República. Ele é talvez a figura mais importante da política brasileira no tempo da República, por conta da vida que teve, dos feitos, dos defeitos, das crises e das conquistas que possibilitou ao nosso País.

            A história de Getúlio Vargas é uma história primorosa. O desfecho dela é trágico. Porque foi há 61 anos, em um dia 24 de agosto, que ele chocou o País com um suicídio, com uma carta testamento - que, aliás, são duas cartas testamento, uma escrita à mão e uma outra datilografada -, ou seja, ele organizou sua saída da vida, mas deixou ao País um legado de realizações e, ao mesmo tempo, um legado de contradições.

            Ele é um dos grandes líderes da política, como Juscelino Kubitschek, e talvez tenham nos deixado ambos uma grande lição: que o melhor caminho é cumprir a Constituição; o melhor caminho é o da tolerância em vez do ódio; o melhor caminho é ter o fortalecimento das instituições e não a destruição delas. E eu, particularmente, tiro uma lição: eu acho que o Brasil, o nosso País, tem certa dificuldade de lidar com grandes brasileiros. Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek são exemplos disso.

            Eu concluo fazendo aqui esse registro. Não vou falar dos feitos, porque foi um governo muito vinculado à política do trabalho, das garantias dos trabalhadores - V. Exª sabe bem, falou aqui ontem que seu pai era getulista -, à criação da Petrobras, à criação dos direitos trabalhistas, às políticas sociais.

            Durante muito tempo, Getúlio Vargas e o próprio Juscelino fizeram os brasileiros terem orgulho de ser brasileiros, mas também tiveram seus problemas.

            Concluo minha fala lendo um pequeno trecho de uma das cartas, já que eram duas.

            Fala Getúlio Vargas na despedida antes de se suicidar:

Deixo à sanha dos meus inimigos, o legado da minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia. A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.

Acrescente-se a fraqueza de amigos que não defenderam nas posições que ocupavam à felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês, à insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país contra a minha pessoa.

Se a simples renúncia ao posto a que fui levado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranquilo no chão da pátria, de bom grado renunciaria.

Mas tal renúncia daria apenas ensejo para, com mais fúria, perseguirem-me e humilharem-me.

Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas.

Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não dos crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.

Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos.

Que o sangue dum inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.

Agradeço aos que de perto ou de longe me trouxeram o conforto de sua amizade.

A resposta do povo virá mais tarde

            E concluo com o último parágrafo da segunda carta, que também é parte da história brasileira hoje:

Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.

Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. 
Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

            Essa é a carta-testamento de Getúlio Vargas, que peço também que possa constar mais uma vez nos Anais do Senado e que se faça uma reflexão sobre esses momentos difíceis que o País viveu e que, todos juntos, trabalhando intensamente, possamos encontrar maneiras de melhorar o nosso País, seguir melhorando a vida do nosso povo.

            Então, fica aqui o registro pelos 71 anos da Rádio Difusora Acreana e essa singela, simples fala minha em homenagem à memória de Getúlio Vargas.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

DOCUMENTOS ENCAMINHADOS PELO SR. SENADOR JORGE VIANA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matérias referidas:

- A Voz dos tempos;

- Principais realizações de Getúlio Vargas;

- Breve biografia: Getúlio Dornelles Vargas;

            - As duas cartas de Getúlio Vargas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/08/2015 - Página 465