Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à política de aumento de juros e seus impactos para o agronegócio.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Críticas à política de aumento de juros e seus impactos para o agronegócio.
Publicação
Publicação no DSF de 26/08/2015 - Página 486
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • APREENSÃO, CRESCIMENTO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, MOTIVO, POLITICA, AUMENTO, TRIBUTOS, COMBATE, INFLAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, REDUÇÃO, IMPOSTOS, JUROS, OBJETIVO, MANUTENÇÃO, EMPREGO, INVESTIMENTO, ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, INVESTIMENTO PUBLICO, INFRAESTRUTURA, CONCESSÃO, EMPRESA PRIVADA, CONSTRUÇÃO, RODOVIA, FERROVIA, PORTO, AEROPORTO, CORTE, QUANTIDADE, MINISTERIOS.

            O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Apoio Governo/PDT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nossos amigos que nos acompanham através da TV e da Rádio Senado, parece que nós combinamos, eu e o Senador Blairo Maggi. Viajamos juntos ontem e conversamos muito sobre economia. E a nossa fala aqui, Senadores, mais uma vez, é exatamente sobre a política de elevação dos juros do Governo brasileiro.

            Tenho combatido sistematicamente, nos últimos anos, essa política que insiste em retornar especialmente em época de crise. Parece que a elevação dos juros e também de tributos é a única fórmula que os economistas do Governo brasileiro conhecem para combater a inflação, gerar superávit primário e controlar o fluxo de capitais. É evidente que os juros altos evitam a fuga de capitais, mas é praticamente só isso, mais nada. O resto é nocivo à economia brasileira.

            Desde setembro do ano passado, a taxa Selic subiu sete vezes seguidas, chegando a 14,25% ao ano. Imaginem uma empresa que precisa fazer um empréstimo, pagar 14,25% de Selic e as demais taxas! Essa empresa vai ter de ter um lucro de aproximadamente 20% a 25%, para poder pagar o seu empréstimo.

            Eu entendo que não é esse o caminho para retomarmos a economia brasileira. Basta vermos que a inflação se mantém na casa dos 6%; que a atividade produtiva teve uma retração de 8,7% no primeiro semestre; que o desemprego no Brasil já é de 8,25%, e está na casa dos dois dígitos em quatro capitais, incluindo São Paulo; e que somente o setor financeiro está obtendo lucros crescentes. Dia a dia, semana a semana, mês a mês, o lucro dos bancos aumenta numa maneira impressionante: no primeiro semestre deste ano, os bancos brasileiros obtiveram lucros superiores a 20% em relação ao mesmo período do ano passado.

            O mais interessante é que vemos outros países, como a China, os Estados Unidos e o Japão e até mesmo a Rússia e a Índia, que fazem parte dos BRICS, fazendo exatamente o contrário, para superar este momento de crise financeira internacional: estão baixando os juros. Hoje mesmo, como reação à forte queda dos mercados de ações da China, no início desta semana, o Banco Central chinês anunciou a redução dos juros e a liberação de mais financiamento pelos bancos para reativar a economia chinesa. A taxa de juros, na China, caiu de 4,85 ao ano para 4,6.

            A mesma medida foi adotada pelos Estados Unidos, para enfrentar, em 2008, a sua pior crise, desde a Grande Depressão, de 1929. Em 2008, o Banco Central dos Estados Unidos (FED) reduziu a taxa de juros de 1% para 0,25%. Taxa essa que persiste até o momento e que contribuiu para o aquecimento da indústria e do mercado interno dos Estados Unidos.

            O Comitê de Política Monetária dos Estados Unidos já indicou que poderia adotar uma política de alta dos juros em 2015, mas agiu com imprudência e manteve os juros no mesmo patamar, justamente para evitar fuga de capitais dos países emergentes, também da Europa ou de economias que, apesar da crise, ainda se mantêm estáveis e com juros baixos, como Coreia do Sul, Japão, Chile e Austrália.

            Naquele ano de 2008, o governo brasileiro também reduziu os juros, e o tsunami da crise financeira internacional se transformou em uma marolinha por aqui. Evidentemente que hoje temos outras variáveis em questão, como aumento da dívida pública, que forçou o Governo a trilhar o caminho da austeridade fiscal. Aliás, o aumento da dívida pública também se deve, em parte, à alta dos juros, mas não é aumentando os juros que vamos aumentar a arrecadação ou fazer o superávit primário.

            Eu estou muito preocupado com o futuro de nossa economia, da população que vê seu emprego ameaçado e que começa a desconfiar, cada vez mais, da capacidade do Governo em adotar medidas acertadas para superarmos esta crise. Para mim está mais do que na hora de a equipe econômica do Governo rever esta política de elevação dos juros e tentar fazer a receita inversa. Essa estratégia não está funcionando.

            Mais um exemplo é a redução de 3,13% na arrecadação de julho deste ano em relação ao mesmo mês de 2014 - uma queda de 3,13%. O resultado é o pior para o mês desde 2010, Senador Moka, ou seja, com a taxa de juros no atual patamar, é praticamente impossível qualquer superávit primário, pois a elevação dos juros tem reduzido o crédito, os investimentos, a movimentação de capital; tem reduzido a produção e o consumo de bens e serviços. A consequência é a recessão que bate à nossa porta.

            Alguma coisa tem que ser feita com urgência. Não podemos deixar que essa crise chegue ao campo, nas lavouras de todo o País. A agricultura, que vem resistindo bravamente até aqui às diversas crises na economia, segurando o superávit em nossa balança comercial e o crescimento do PIB, pode ter neste ano uma quebra de produção.

            Isso, porque não há mais crédito em condições apropriadas, o chamado crédito subsidiado, com juro baixo, para o pré-custeio da safra 2015/2016. Os produtores estão apreensivos e com o pé no freio na hora de comprar os insumos para lavoura, pois, ao baterem na porta dos bancos, para obter o tradicional financiamento para o pré-custeio da safra, a resposta dos gerentes é que não há crédito. Ou quando há, os juros são proibitivos.

            O Banco do Brasil, responsável por 65% do crédito agrícola, emprestou R$3,5 bilhões para o pré-custeio com juros subsidiados neste ano. Em 2014, Senador Moka, o mesmo banco liberou R$8 bilhões no mesmo período - mais do que o dobro foi liberado. A liberação de crédito via Pronaf, que atende a agricultura familiar, também reduziu bastante e, com isso, o agricultor acaba plantando menos, reduzindo também a geração de emprego e renda no campo.

            Eu sempre tenho apoiado o Governo em quase todas as medidas do ajuste fiscal - em praticamente todas elas! -, pois entendo que é necessário, mas não concordo em aumento de juros e de tributos para ajustar contas. Não podemos colocar, no ombro dos trabalhadores, dos empresários, dos agricultores, daqueles que produzem e fazem nossa economia girar, a conta pelos erros cometidos no passado e pela falta de criatividade e habilidade para a construção de caminhos alternativos.

            A redução da máquina pública, com o anúncio do corte de dez Ministérios, é uma medida acertada, mas ela não vai ser nunca suficiente para resolver a questão da nossa economia. O anúncio de um pacote de investimentos em infraestrutura e na concessão de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos para iniciativa privada também é uma medida acertada e pode, sim, contribuir muito para a reativação da nossa economia, assim como o anúncio dos investimentos na produção e distribuição de energia elétrica. Mas não adianta nada o Governo anunciar estes investimentos, se não tiver dinheiro para executar e pagar essas obras.

            Por isso é que insisto numa mudança da política de juros. Essa medida já foi testada e aprovada quando veio a crise internacional em 2008. Na época, em vez de aumentar tributos, como sempre se fez, o Governo baixou vários tributos e também reduziu os juros, usando essa política para estimular a economia, fazer baixar os preços e impulsionar o consumo. E a roda da economia girou e nós atravessamos aquele momento delicado. O resultado foi que, em 2009, tivemos crescimento econômico e geração de mais empregos e, em 2010, crescemos 7,5%.

            Portanto, é isso que queremos que o Governo faça novamente, em nome da manutenção da atividade produtiva, do consumo e, principalmente, em nome do emprego.

(Soa a campainha.)

            O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - Há que se fazer algo para que a nossa economia volte a crescer e a roda da economia volte a girar, gerando emprego; emprego que gera impostos; impostos que se transformam em obras importantes, principalmente de infraestrutura, para o nosso País e, em especial, para o nosso Estado de Rondônia.

            Eram essas as palavras.

            Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/08/2015 - Página 486