Discurso durante a 18ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada a reverenciar o transcurso dos 61 anos da morte de Getúlio Vargas.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Sessão solene destinada a reverenciar o transcurso dos 61 anos da morte de Getúlio Vargas.
Publicação
Publicação no DCN de 26/08/2015 - Página 22
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT-PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nosso companheiro Senador Elmano Férrer; Deputado Paes Landim; Presidente do Instituto João Goulart, João Vicente Goulart; Deputado Afonso Motta; escritor José Augusto Ribeiro, que escreveu a biografia A Era Vargas; biógrafo do ex- Presidente João Goulart, Chico Castro; Senadores; Senadoras e integrantes desta sessão solene, venho a esta tribuna não apenas em meu nome, em nome da bancada de Senadores do PT, mas também em nome do Partido dos Trabalhadores. O Presidente Rui Falcão, impossibilita- do de comparecer a esta sessão, pediu-me que representasse o nosso partido, e eu, na condição de membro da Executiva Nacional, faço-o com muita satisfação. Poder falar de Getúlio Vargas, da sua importância histórica para todos é algo que faz com que todo brasileiro sinta, ao mesmo tempo, prazer e orgulho em fazê-lo.

    Getúlio Vargas é, na verdade, a inspiração de todos aqueles movimentos sociais, dos partidos com a preocupação social colocada em primeiro plano -- os partidos de esquerda, assim como o próprio partido do qual faço parte e fui um dos fundadores, que tem no Presidente Luiz Inácio Lula da Silva o seu mais importante representante.

    Todos nós nos inspiramos nas ações, nos atos, nas posições políticas, nas atitudes de Getúlio Vargas, um homem que, vindo de uma situação social em que a desigualdade existia, foi capaz de se sensibilizar com ela, alguém de um mundo ainda muito arraigado em termos da realidade dos costumes políticos da Velha República foi capaz de identificar a renovação como um caminho para o destino do nosso País.

    Como líder da Revolução de 1930, modernizou o Brasil, deu uma contribuição histórica para que nós pudéssemos, no campo da política, no campo da economia, no campo social, superar aquela República que, em verdade, pouco de republicana tinha e avançar com importantes conquistas históricas em dois governos que, ao final, representaram praticamente mais de uma década à frente da Presidência da República -- de 1930 a 1945, mais os anos da década de 50.

    Nesse processo, Getúlio Vargas mudou a face do Brasil, com decisões estratégias que criaram as condições de o Brasil atingir o desenvolvimento econômico que posteriormente veio a ter, de criar a infraestrutura mínima para que hoje possamos ser o que nós somos e, acima de tudo, para desenhar o Estado brasileiro dentro da visão da modernidade.

    Estão aí marcas importantes, que foram fundamentais para que o Brasil saísse daquela visão do subdesenvolvimento e passasse a se industrializar, a se urbanizar, a garantir inclusão social para milhões e milhões de brasileiros.

    Ainda hoje, temos como instrumentos importantes para o desenvolvimento a Companhia Siderúrgica Nacional, a PETROBRAS, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, hoje BNDES, o Banco do Nordeste do Brasil, tão importante para o desenvolvimento da nossa região, para a redução de desigualdades regionais,

a Companhia Vale do Rio Doce, a Fábrica Nacional de Motores, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a ELETROBRAS e a sua preocupação até mesmo com a nossa capacidade de pensar e planejar este País, com a criação, por exemplo, do IBGE.

    Fora isso, há aquilo que todos nós sabemos que foi a grande marca dos governos de Getúlio Vargas: a construção de uma cidadania, as políticas sociais, os direitos mais elementares que os trabalhadores europeus e americanos já tinham, há mais de um século, e que, no Brasil, era uma aspiração muitas vezes vista como algo muito difícil de ser alcançado.

    E ele, como Presidente do Brasil, nesses dois períodos históricos, o fez com coragem, com clareza, e, acima de tudo, com compromisso político com os trabalhadores brasileiros. Essa marca ninguém tira de Getúlio Vargas.

    Da mesma forma que aconteceu naquela época, hoje nós vemos a repetição de determinados momentos históricos. Ninguém faz as coisas que Getúlio Vargas fez sem sofrer a resistência dos poderosos, daqueles que eram contra o Brasil ter o seu desenvolvimento nacional, a sua constituição como uma nação independente que desse aos trabalhadores os direitos sociais. Por isso, decorrente dos governos, especialmente do segundo Governo de Getúlio Vargas e dos seus sucessores -- eu digo sucessores dentro da constituição de um movi- mento trabalhista no Brasil -- essas manifestações se expressaram.

    É interessante, ao ler A Era Vargas ou a biografia mais recente de Lira Neto ou os livros de História, ver como as situações são semelhantes. Analisamos 1954, 1964 e, hoje, 2015, e as coisas são muito semelhantes. Os poderosos de sempre, os que nunca tiveram compromisso com a democracia e a liberdade, reproduzem, como um vídeo da época, o que aconteceu em 1954. Novos atores, os novos Carlos Lacerda, têm a mesma posição radical, ideologicamente de direita, são golpistas, embora não tenham o brilhantismo e a oratória de Getúlio Vargas, multiplicam-se aos montes, aqui neste Senado, na Câmara dos Deputados, e por aí afora. E a grande imprensa, em cima da meia-verdade, em cima da mentira, da calúnia, conduziu à situação de suicídio de Getúlio Vargas, que foi um ato de absoluta coragem. Para impedir que uma ditadura militar fosse implantada, ele ofereceu a sua própria vida; e, com isso, nós conquistamos mais 10 anos de democracia naquele momento.

    Novamente, sob a força da mentira, sob a força de uma aliança que envolvia mídia, direita e alguns outros setores conservadores, derrubou-se o Governo de João Goulart. E àquela época havia manifestações de rua. Colocavam-se contra um governo que tinha a legitimidade da eleição do seu condutor, pois era Vice de Jânio Quadros, que havia renunciado, e representava aquilo que era um projeto a que o povo brasileiro almejava. O mais importante é que hoje os desmascaramos. Apesar de serem movimentos de rua, não representavam o pensamento da maioria. Ao contrário, estudos recentes e pesquisas de opinião na época divulgadas mostram que, na verdade, João Goulart tinha o apoio massivo da população brasileira. E foi exatamente a mesma cortina de fumaça que tentam colocar hoje que criou as condições para que os militares de então implantassem o regime de 1964.

    Nós nos sentimos herdeiros de Getúlio Vargas também, por tudo que ele construiu e legou a outros que levaram adiante a sua história, a exemplo de João Goulart, de quem eu tive oportunidade de falar aqui, e outro grande brasileiro, Leonel Brizola. Da união daqueles que defendem ideias semelhantes é que nós haveremos de construir realmente um novo Brasil.

    Avançamos bastante nos últimos anos, dentro de uma visão semelhante da inclusão social, do desenvolvimento autônomo, independente do Brasil, e precisamos avançar muito mais. E isso nós vamos conseguir construir se formos fiéis a esse legado de Getúlio Vargas e a outro legado dele, que é o de unirmos todos aqueles que pensam dessa mesma maneira.

Muito obrigado, Sras. Senadoras, Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DCN de 26/08/2015 - Página 22