Discurso durante a 161ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com indício de epidemia de dengue no estado de São Paulo no verão; e outro assunto.

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Autor
Marta Suplicy (S/Partido - Sem Partido/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Preocupação com indício de epidemia de dengue no estado de São Paulo no verão; e outro assunto.
CULTURA:
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Publicação
Publicação no DSF de 17/09/2015 - Página 319
Assuntos
Outros > SAUDE
Outros > CULTURA
Indexação
  • REGISTRO, APREENSÃO, INFORMAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ASSUNTO, RISCOS, EPIDEMIA, DOENÇA TRANSMISSIVEL, AEDES AEGYPTI, LOCAL, SÃO PAULO (SP), NECESSIDADE, AUMENTO, OPERAÇÃO, PREVENÇÃO, MUNICIPIOS, PAIS.
  • ANUNCIO, LANÇAMENTO, LIVRO, ASSUNTO, BIOGRAFIA, ARCEBISPO, LOCAL, SÃO PAULO (SP), RELEVANCIA, VIDA PUBLICA.

            A SRª MARTA SUPLICY (S/Partido - SP. Sem revisão da oradora.) - Eu queria dar uma notícia que é bastante grave para a maioria dos Estados brasileiros e para o meu Estado em especial, o Estado de São Paulo.

            O Jornal O Estado de S. Paulo informou, no dia 4, que a ocorrência de dengue no inverno, em centenas de Municípios paulistas, e a presença das larvas do mosquito Aedes aegypti, mesmo no período mais frio do ano, indicam que o Estado de São Paulo poderá viver uma nova epidemia da doença no próximo verão, com explosão do número de doentes três meses antes do período esperado.

            A Secretaria Estadual da Saúde informou que mais de 200 das 645 cidades paulistas estão registrando transmissão do vírus durante o inverno, o que não é usual. O índice de infestação de larvas do mosquito da dengue em imóveis de 373 Municípios revelou que sete cidades já estão em situação de risco por causa da presença do vetor, e outras 86, em condição de alerta.

            Assim, o quadro de infestação, feito com base em dados de julho deste ano, é similar ao observado no levantamento de outubro do ano passado, o que indica que a proliferação do mosquito está ocorrendo mesmo no período mais frio do ano e que as medidas adotadas não estão tendo nenhuma repercussão. Em um ano normal, a partir de janeiro ou fevereiro é que se inicia a elevação no número de casos. Estamos em risco de o aumento de casos acontecer a partir de agora, outubro e novembro.

            O Estado de São Paulo está dobrando o número de agentes de combate à dengue, com a contratação temporária de 500 desses profissionais para atuar nos próximos três meses. Estão reunindo 350 Prefeitos de cidades paulistas para apresentar o cenário de transmissão e definir estratégias de combate, como medidas de eliminação dos criadouros e capacitação de profissionais. Mas a trágica situação é que o Estado de São Paulo bateu o recorde do número de mortos pela doença. São Paulo teve já, este ano, 372 óbitos, Senador Omar! Foram 372 mortes. O que é isso?!

            Em maio, o Ministério da Saúde informou que uma em cada quatro cidades do Brasil registrou epidemia este ano. São Paulo foi considerado o Estado em situação mais crítica: 82% dos Municípios paulistas estão em situação de epidemia.

            Bom, há outra coisa muito ruim, que é outro alerta feito pela Secretaria aos Prefeitos, porque está relacionado ao aumento de casos do sorotipo 2 da dengue. Em São Paulo, o tipo predominante é o nº1, e a maioria das pessoas não está imune ao tipo 2. Essa é uma preocupação ainda, porque o novo sorotipo pode causar na população que já teve dengue formas muito mais graves da doença.

            Agora, quero dizer para os caros colegas Senadores que o Ministro da Saúde, Arthur Chioro, esteve duas vezes em audiências da Comissão de Assuntos Sociais. Cobramos dele celeridade, providências, pois o País estava atrasado na testagem e aprovação da vacina. Houve mil explicações, e alguma coisa andou, mas o fato é que o Ministro disse que, antes de 2018, não haverá vacina. As autoridades estaduais dizem o mesmo: já não há vacina. Se não há vacina já, o que estamos fazendo com as armas de que dispomos? Porque, se já morreram 362 pessoas em São Paulo, vão morrer mais e, ano que vem, mais ainda.

            Então, temos que intensificar no País todo, não somente no Estado de São Paulo, as operações de prevenção nos Municípios: pulverizações, operação cata bagulho, mutirão de limpeza. As prefeituras têm que entrar com tudo, capitaneando o cuidado com a cidade. Temos que fazer coisas que só prefeito pode fazer - como catar bagulho, esse tipo de limpeza também -; temos que transformar, temos que ter ideias, informação; levar às escolas, colocar a criançada nas ruas vendo caixa d’água, tocando campainha. Temos que fazer alguma coisa.

            Essa é uma parte do que eu gostaria de dizer, que é uma parte que provoca tristeza, preocupação, mas há uma parte de alegria. Vou falar de um grande arcebispo, Cardeal de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, que agora vai ter um livro lançado, dia 4, em São Paulo. Ele resgata a história de D. Paulo, que tanto fez pelo Brasil, pelos pobres e pelo povo da minha cidade de São Paulo.

            Muitos colaboraram para que esse livro fosse escrito, e ele foi financiado pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo para chegar gratuitamente às mãos das pessoas de quem ele mais cuidou e favoreceu.

            O que chama mais atenção na história de D. Paulo, Senador... Ele está com 95 anos, vivo, lúcido a maioria do tempo, e vai comparecer - se a saúde permitir - a esse lançamento, que vai acontecer na Paróquia São Francisco de Assis, na Zona Leste de São Paulo, em Ermelino Matarazzo.

            O que mais caracteriza D. Paulo é a sua simplicidade, a sua determinação, o apego aos mais necessitados, mas, acima de tudo, a sua coragem pessoal.

            Não foi à toa que D. Paulo recebeu o título de Cidadão Honorário em 38 localidades do Brasil, 43 medalhas, 31 prêmios - inclusive, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz -, 24 diplomas Honoris Causa, entre nacionais e internacionais. E ele valorizava as mulheres. Eu lembro quando a Margarida Genevois, que depois foi presidente da Comissão de Justiça e Paz, foi representá-Io num Congresso Ecumênico em Moscou, provocando espanto nos participantes, que eram todos clérigos. Ele acreditava e praticava o ecumenismo, incentivando o diálogo inter-religioso nas atividades da Catedral da Sé.

            Ele teve uma importância gigantesca no combate à Ditadura, pela sua coragem, mas também na Teologia da Libertação, que provocava tanta resistência nas forças mais conservadoras do País. Ele ajudou no processo de conscientização dos marginalizados para terem alternativas de reivindicação, criando mais de 2.000 Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). E esse apoio foi muito importante, porque foi um apoio simbólico, porque foi contra a Ditadura, numa época difícil, nos anos 60; político, porque protegeu os presos políticos; e material, porque, além de condições materiais, fornecia, disponibilizava pessoas intelectualmente preparadas para fazer essa conscientização. Foi um aporte gigantesco, num período muito importante da nossa História.

            Quero terminar lembrando que nós temos à frente um Papa inovador, de enorme coragem, sensibilidade. Os grandes do mundo, que se preocuparam com os carentes, com as famílias brasileiras atingidas pela perseguição da Ditadura, os que lutaram pela Anistia, os mais pobres de São Paulo sabem da grandeza de D. Paulo Evaristo, da diferença que pode fazer um Cardeal da Igreja destemido e engajado nas grandes causas e da influência libertadora e visionária de um grande Papa.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/09/2015 - Página 319