O SR. RAIMUNDO LIRA (Bloco Maioria/PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão especial, Senador José Maranhão; Sr. Senador Cássio Cunha Lima; Srª Mabel Mariz e familiares do homenageado, Antonio Mariz; Srs. Deputados Federais da Bancada da Paraíba: Benjamin Maranhão, Veneziano Vital do Rêgo, Manoel Junior e Hugo Motta; demais membros da Mesa Diretora; meus senhores e minhas senhoras; na passagem dos 20 anos do falecimento do paraibano Antonio Mariz, eu não poderia deixar de participar das homenagens que hoje o Senado Federal e a Paraíba têm de render àquele que foi uma das grandes figuras públicas de nossa história recente.

    Antonio Mariz foi um homem íntegro e coerente. Mesmo durante algum dos maiores desafios institucionais que o nosso País enfrentou, o Prefeito, o Secretário de Estado, o Deputado Federal, o Constituinte, o Senador, o Governador Mariz não deixou de estampar, sempre que necessário, a coragem, a dignidade e a solidariedade humana que lhe eram inerentes.

    Seu currículo acadêmico e político era invejável. Foi respeitado jurista, hábil negociador e grande humanista. Do interior da Paraíba até o Congresso Nacional, a carreira de Antonio Mariz sempre foi pautada pelo conhecimento da função coletiva do poder político, do respeito aos brasileiros e, sobretudo, pela visão de futuro.

    Mariz, Sr. Presidente, soube apontar as incoerências e as fragilidades do regime militar. Mesmo filiado ao partido governista, não se absteve de contrariar orientações partidárias, tampouco deixou de dar voz aos brasileiros e demandar soluções aos históricos problemas da Paraíba.

    A sua ideologia política estava além do bipartidarismo, era o respeito ao povo, somente ao povo. Foi assim quando era Prefeito de Sousa, divulgando à população da cidade os novos direitos trabalhistas e conferindo transparência à Administração. Foi assim quando era Secretário de Educação da Paraíba, ampliando a rede estadual de ensino básico e universitário. Foi assim, Sr. Presidente, quando esteve na Assembleia Constituinte, considerado um dos Parlamentares mais comprometidos com os anseios dos brasileiros.

    Na Constituinte - aliás, como já falou o Senador José Maranhão -, chegou a receber o título de Constituinte nota dez, conferido pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Foi um reconhecimento de sua atuação em favor do cidadão e do trabalhador brasileiro. E aqui, Senador Maranhão, Senador Cássio, Constituintes, eu gostaria de rememorar o nosso inesquecível Senador Humberto Lucena, que chamava Mariz de Deputado nota dez, carinhosamente. (Palmas.)

    Ele apoiou o tratamento constitucional de inúmeros direitos trabalhistas, como a jornada de trabalho de 40 horas semanais e o aviso prévio, e também defendeu diversos outros direitos sociais e fundamentais, tolhidos durante o regime militar.

    Vale ressaltar, Sr. Presidente, que foi essa centralidade da preocupação com o povo que lhe custou o governo do meu Estado em 1978. Sua honestidade e compromisso com a sociedade não foram aceitos pela cúpula militar e política da Paraíba naquela época. Foi somente em 1994 que a democracia veio a corrigir esse desvio da história, garantindo sua aguardada vitória eleitoral com 16 anos de atraso.

    Sr. Presidente, a doença ceifou-lhe a vida quando ainda se encontrava na juventude de atuação política. Apesar dos 32 anos de atividade político-partidária, tinha apenas 57 anos de idade. Antonio Mariz ainda tinha muito a contribuir e a ensinar para a Paraíba e para o nosso País.

    Como salientou em seu discurso de posse no governo da Paraíba, um de seus últimos pronunciamentos, ele queria - abro aspas - "um governo voltado, antes de tudo, para a solidariedade que faz da dor de cada um a dor de todos e da alegria de todos a alegria de cada um. A solidariedade tem como primeira e absoluta prioridade o resgate da cidadania. E esse resgate começa pela eliminação da pobreza extrema" - fecho aspas.

    Senhoras e Senhores, como seu conterrâneo e contemporâneo, eu não poderia deixar de mencionar que minha vida política se associa à de Antonio Mariz. Eu ingressei no PMDB de Antonio Mariz, de Humberto Lucena, de José Maranhão, de Ronaldo Cunha Lima, de Cássio Cunha Lima, de Raymundo Asfóra, em 1986. Compartilhamos o desejo de mais democracia e mais transparência na vida pública. Fomos todos parceiros na campanha de 1986, a mais memorável da redemocratização do nosso País, quando elegemos para governar a Paraíba a dupla Tarcísio Burity e Raymundo Asfóra.

    Eu tive a satisfação de trabalhar em sua companhia nesta Casa, de 1991 a 1994. E, aqui, fazendo um pequeno adendo, quero rememorar que a sua filha Adriana trabalhava comigo na Comissão de Assuntos Econômicos. Quando Mariz chegou aqui ao Senado, falou comigo para que Adriana fosse para o seu gabinete, e, apesar de, naquele momento, Maranhão, nós estarmos em campos opostos da política, eu fiz um apelo a Mariz para que a Adriana continuasse comigo na Comissão de Assuntos Econômicos, o que foi aceito por ele.

    Sempre buscamos entendimentos para superação dos desafios da Paraíba e do Brasil. Felicitei-o pela eleição para o governo do meu Estado.

    Sou testemunha de sua simplicidade, de seu rigor ético e de sua moral. Mariz deixou uma preciosa herança de compromisso com a vida pública que, mesmo 20 após o seu falecimento, permanece ativa.

    Ao incrível político, administrador e jurista Antonio Mariz, minha profunda reverência, a reverência de alguém que aprendeu a admirá-lo como amigo e como exemplo de competência nos inúmeros cargos que ocupou.

    Sua biografia será para sempre um exemplo a ser trilhado pelas futuras gerações de paraibanos que queiram seguir o seu nobre legado.

    Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, senhoras e senhores convidados.

    Muito obrigado. (Palmas.)