Discurso durante a 162ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear Antonio Mariz, por ocasião dos 20 anos de seu falecimento, nos termos do Requerimento nº 969/2015, de autoria do Senador José Maranhão e outros Senadores.

Autor
Cássio Cunha Lima (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cássio Rodrigues da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear Antonio Mariz, por ocasião dos 20 anos de seu falecimento, nos termos do Requerimento nº 969/2015, de autoria do Senador José Maranhão e outros Senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 18/09/2015 - Página 11
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE MORTE, EX-DEPUTADO, ESTADO DA PARAIBA (PB), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

    O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão e Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania deste Senado, Senador José Maranhão, e Senador Raimundo Lira, meus cumprimentos; a minha saudação ao Deputado Federal Benjamin Maranhão, ao Deputado Hugo Motta e ao Deputado Veneziano Vital do Rêgo - o Deputado Manoel Junior aqui esteve, mas precisou se ausentar.Trago também a justificativa do Deputado Pedro Cunha Lima, que se encontra participando de um seminário do PSDB sobre economia - "Caminhos para o Brasil" -, com a participação de Gustavo Franco, Armínio Fraga e outros economistas de renome, o que foi, inclusive,a razão da minha chegada com um pouco de atraso, porque eu lá estava também.Meus cumprimentos ao Deputado Raniery Paulino e ao Subprocurador da República, meu amigo Luciano Mariz Maia; a minha saudação ao Deputado Lindolfo Pires, que aqui representa o Governador Ricardo Coutinho, e, de forma muito fraterna, a minha saudação à Mabel, à Adriana e à Luciana - fazia algum tempo que não nos víamos -, e a todos os familiares e amigos de Antonio Mariz que aqui comparecem neste instante em que falo, Sr. Presidente, com muita alegria, pela Liderança do PSDB, mas falo também pela memória do meu pai, Ronaldo Cunha Lima, que, se vivo estivesse, com absoluta certeza estaria aqui para talvez fazer um pronunciamento, como todos nós conhecíamos, marcado pela emoção, pelo sentimento d'alma e pelas relações fraternas que foram construídas com Antonio Mariz ao longo dessa trajetória.

    Hoje é um dia de saudades, um dia de lembranças.

    Eu também tinha uma peça escrita, mas, como os pronunciamentos do Senador Raimundo Lira e do Senador José Maranhão foram quase que completos na lembrança da trajetória do currículo de Mariz, porque é impossível ser pleno e completo ao descrever a vida de Mariz, vou optar por uma fala mais solta, mais improvisada, que eu acho que vai contribuir também para esta sessão.

    Eu conheci Mariz pelos idos de 1981. Era um período em que ainda morava no Rio de Janeiro, e meu pai ainda enfrentava o período da cassação imposta pelo regime militar. Desde cedo, eu sempre participei de movimento estudantil, sempre tive interesse pela política, e Mariz já era, para mim, uma referência mítica, apesar da pouca idade.

    Ele era a voz que, mesmo participando de um partido que dava sustentação à ditadura, abriu uma dissidência que foi fundamental para o processo de abertura democrática em que o País vivia. Então, Mariz era, desde cedo, Inaldo, uma referência de coragem, firmeza, altivez, ética, por ser um dos pioneiros, por ter uma postura progressista, de vanguarda, na luta pela redemocratização do nosso País.

    Eu me lembro bem do dia em que, pela primeira vez, estive face a face com Antonio Mariz. Foi na casa da minha avó Nenzinha, por isso o dia hoje é de lembranças e saudades; vou tentar aqui, de alguma forma, conter as emoções. A primeira coisa, Adriana, Luciana, Mabel - Mabel não terá ciúmes -, que me impressionou foi a tonalidade dos olhos de Mariz. Marcou-me muito a forma sempre muito serena, firme, dos olhos claros com que me deparava. Eu tinha, àquela altura, pouco mais de 19 anos, 20 anos, e foi um encontro que me marcou profundamente.

    Já havia uma discussão na política da Paraíba sobre se, após a anistia, em 1982, disputaria o Governo do Estado Antonio Mariz - como de fato ocorreu - ou o meu pai, Ronaldo, que também pretendia disputar o Governo naquele instante. Quanto aos partidos, enfim, tivemos a fusão do PP naquela época e decidimos todos marchar com a candidatura de Mariz.

    Se olhássemos hoje, Deputado Wilson Filho - quero saudá-lo neste instante -, talvez, pelas regras eleitorais impostas pela ditadura, Mariz representaria quase um anticandidato, porque as regras da campanha de 1982 tornavam impossível alguém ganhar a eleição dentro daquela estrutura que foi montada. Ao ponto, lembro-me bem - vejam se é possível isso -, de, em uma cidade, como foi o caso de Aguiar, em 1982, Mariz ter tido zero voto. Isso é inconcebível, porque todos os votos que ele obtinha e que não eram casados com os candidatos a prefeito, a vereador e a Deputado Estadual - porque era o tal do voto vinculado - eram anulados. É claro que Mariz foi votado em todas as cidades da Paraíba, mas a regra do processo eleitoral era de tal forma draconiana, casuística, que os votos eram simplesmente anulados.

    E Mariz continuou a sua resistência, a sua luta, até que, em 1986, nosso destino se cruzou de forma mais próxima ainda, quando ele, candidato a Deputado Federal Constituinte - o mais votado do Estado, com todos os méritos, e não poderia ser diferente - e eu, muito jovem, aos 22, 23 anos, também candidato a Deputado Federal graças à iniciativa de Raimundo Asfora, que me lançou como candidato... E aí faço também uma referência à memória de Asfora, com a chapa de Buriti para o Governo do Estado, Raimundo Lira, para Senador, ao lado do nosso querido Humberto Lucena, que é outra lembrança que está viva neste instante.

    E aí, ao chegar aqui, do outro lado deste complexo legislativo, à Câmara, procurei, dada a amizade que Mariz sempre teve com o meu pai, ter ali de Mariz alguns conselhos, algumas orientações. Mas eu era um jovem um tanto quanto irrequieto, insubordinado e nem sempre seguia as orientações de Mariz, que, certa vez, me disse: "Cássio, você é muito novo, você vai ter que aprender". Estávamos disputando, Luciano, uma indicação de comissões, e a Bancada majoritariamente tinha votado na indicação do saudoso Luiz Henrique - é mais uma saudade a ser lembrada do Senador Luiz Henrique, falecido recentemente - para líder na Câmara e depois na Constituinte. E eu tinha feito uma dissidência, votando em Mário Covas, também de saudosa memória. Fui vencido na Bancada, apesar de Covas ter sido o escolhido. Aí Mariz disse: "Cássio, você é muito jovem, você tem que aprender que aqui quem perde indicação de líder não tem direito sequer de escolher comissão". E ele ia tentando me trazer essa orientação pragmática.

    Muitas vezes eu sentava ao lado de Mariz no plenário da Constituinte para ter a sua orientação, porque a orientação dele - e não foi à toa que recebeu o título, já registrado aqui, de Constituinte nota 10 - tinha, primeiro, uma coerência política muito clara, porque, naquele instante, é bom lembrar, o Plenário da Assembleia Nacional Constituinte se dividia basicamente entre o Centrão e o MUP, que era o Movimento de Unidade Progressista, do qual participava Antonio Mariz e eu também, na esteira dele.

    Tivemos, então, uma convivência muito intensa nesse período da Constituinte e também, em 1990, com a candidatura do poeta, meu pai, ao Governo do Estado, tendo como seu companheiro de chapa Antonio Mariz para o Senado. E tivemos a alegria de ver a vitória dos dois. Mas, assim como havia acontecido em 82, em 90, houve uma discussão natural da política sobre qual seria a indicação do partido ou da coligação para a candidatura ao Governo do Estado.

    Aqui, ao lado de Hugo Motta, tenho outra memória nesta sessão de lembranças e saudades de Edivaldo Motta, que foi Constituinte conosco, com Lira, com José Maranhão - Edivaldo, aquela presença sempre espirituosa, descontraída, irreverente, extremamente irreverente. Certa feita, Edivaldo, passando por Campina Grande, lançou a candidatura do meu pai ao Governo do Estado e, de Campina Grande, seguiu para Sousa. Chegando lá, lançou a candidatura de Mariz ao Governo do Estado. Quando voltou para Campina, meu pai disse: "Edivaldo, que história é essa? Você, aqui, em Campina, lança meu nome para o Governo do Estado; em Sousa, lança o nome de Mariz." E Edivaldo, com aquela irreverência habitual, disse: "Ronaldo, tu não me conheces, tu não sabes que indo, sou um, voltando, sou outro?"

    Então, ele levava essas coisas com muita descontração. Até que tivemos a eleição de Ronaldo e de Mariz naquela memorável campanha de 1990, que permitiu uma série de transformações que a Paraíba experimentou.

    Chegamos, então, ao ano de 94, com a candidatura de Mariz ao Governo do Estado com a chapa de Humberto e de Mariz para o Senado. Eu, mais uma vez, estava disputando o mandato para Deputado Federal, e Maranhão, a essa altura, já disputava a Vice com Mariz - Maranhão, que tinha uma eleição para Deputado Federal sempre muito arrumada, digamos assim, foi convidado para ser o companheiro de chapa de Mariz, e foi uma eleição que começou muito difícil, como, de resto, costumam ser as eleições paraibanas -, quando Mariz, generosamente, me convida para, também, participar do núcleo central da campanha. Estávamos na reta final da eleição. Terminei deixando um pouco da campanha de Deputado propriamente dita, porque minha campanha estava bem encaminhada, e conseguimos uma vitória que foi importantíssima para a Paraíba e que teve desdobramentos que todos conhecemos na política do Estado e que nos permite, hoje, com muita alegria, estar reunidos em torno da figura e da memória de Antonio Mariz.

    Então, Mariz tem características que são muito marcantes na sua trajetória . Aqui já foi dito da ética, desse sentimento de solidariedade, da firmeza nas posições políticas, muitas vezes, não entendam a expressão como pejorativa, da intransigência na defesa daquilo em que acreditava, e isso é próprio dos grandes homens públicos.

    Dentre várias conversas que tive com Antonio Mariz, recordo-me de que, por duas ou três vezes, ele, já na fase da campanha de 94, e, depois da vitória, falava sempre - Mabel talvez se recorde disso - do desejo que ele tinha de um programa destinado para superdotados.

    Ele sempre tinha uma preocupação - era uma coisa curiosa - de pegar os nossos melhores talentos e oferecer-lhes uma educação diferenciada, além da preocupação sempre presente pelos que mais precisavam, pelos mais pobres nessa marca de solidariedade que veio a ser inclusive o slogan do seu governo. Ele sempre manifestava esse preocupação, e, por três, quatro vezes conversamos sobre isso.

    Mesmo não tendo ficado notabilizado como, digamos, o autor ou o mentor dos programas de renda mínima, há muito tempo, antes mesmo de se implantarem os programas de renda mínima no Brasil, eu vi Antonio Mariz defendendo a criação e a implantação de programas de renda mínima.

    Era um homem que sempre foi à frente do seu tempo, com coragem, e que sempre teve firmeza para atitudes até mesmo polêmicas, como foi - não pode deixar de ser lembrada aqui - a retirada do piso do Palácio da Redenção com a suástica. Logo que assumiu o governo, determinou a retirada do piso com a suástica daquela entrada aos fundos do Palácio da Redenção. Ponderações foram feitas, mas ele tinha uma decisão firme nesse sentido e cumpriu o seu objetivo, o seu desiderato, o que caracteriza bem essa personalidade forte, marcante, altiva, determinada, corajosa, competente, ética, honesta, decente, vibrante que sempre foi Antonio Mariz.

    Portanto, é uma honra, Mabel, Adriana, Luciana, todos os familiares, estar aqui falando em nome da Liderança do PSDB, mas falando naturalmente em meu nome pessoal e também reafirmando a amizade e o respeito que o meu pai sempre teve. Mesmo com divergências pontuais, que são absolutamente naturais na política, caminharam sempre juntos, de forma leal, de forma verdadeira, de forma companheira, amiga, fraterna. E é um privilégio poder estar aqui saudando a memória desse grande paraibano, desse homem extraordinário que foi Antonio Mariz, como também foi Humberto Lucena.

    Nesse dia de saudades e lembranças, despeço -me desta tribuna, lembrando aquela campanha tão bonita que fizemos em 1994, em que se dizia: No dia três, vote nos três. Quem se lembra disso? E concluíamos dizendo: A Paraíba é quem diz: Ronaldo, Humberto e Mariz. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/09/2015 - Página 11