Discurso durante a 163ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o bom desempenho da economia de Rondônia nos últimos anos; e outros assuntos.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
  • Comentários sobre o bom desempenho da economia de Rondônia nos últimos anos; e outros assuntos.
ECONOMIA:
Aparteantes
Cristovam Buarque, Raimundo Lira.
Publicação
Publicação no DSF de 18/09/2015 - Página 137
Assuntos
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, AGROPECUARIA, ENFASE, SOJA, CAFE, CACAU, PISCICULTURA, MINERAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, ESTADO DE RONDONIA (RO), SIMULTANEIDADE, CRISE, ECONOMIA NACIONAL.
  • DEFESA, REDUÇÃO, NUMERO, MINISTERIOS, OBJETIVO, MELHORIA, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, COMENTARIO, NECESSIDADE, INTERRUPÇÃO, CRIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, CRITICA, PREÇO, TAXA, JUROS, BANCOS.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Elmano, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, minhas senhoras e meus senhores, nos últimos meses, as manchetes econômicas no Brasil andam repletas de más notícias. Quase todo dia, só se ouve falar em inflação alta, aumento de desemprego e encolhimento do PIB.

            Subi à tribuna para tratar de economia, mas, na contramão do noticiário, eu trago boas notícias. Vim falar do bom desempenho econômico de Rondônia, meu Estado.

            Ouvi aqui, atentamente, a fala da Senadora Gleisi Hoffmann, até porque estava presidindo a sessão, e estava aqui presente, como ela já disse, a Presidente da Comissão de Orçamento, Senadora Rose de Freitas. Eu também sou membro da Comissão e estou relatando a área setorial de justiça e defesa. Ano duro, ano difícil, mas temos saída. As crises são passageiras, são cíclicas no mundo inteiro. Elas vêm e vão.

            Certa vez, Sr. Presidente, um rei que estava com dificuldade, Senador Raimundo Lira, mais de dez anos de dificuldade no reino, de pobreza, de miséria, de recessão, foi se aconselhar com um sábio, Senadora Gleisi.

            Chegando lá, o sábio pegou um caderninho e anotou uma frase na primeira página, mas não o deixou ler; anotou outra na última página do caderninho e disse: “Quando você chegar em casa, leia o que está escrito na primeira página. Quando sentir vontade, leia a última página, mas não precisa ser agora. Daqui a algum tempo, leia a última página.”

            Chegando em casa, ele abriu o caderno e leu a primeira página. Estava escrito: “Isso não vai continuar assim. Logo virá um período de fartura.” Porque a crise já estava longa, lógico que iria acabar, e assim são as crises no mundo inteiro.

            E ele esqueceu a última página. Depois de oito ou dez anos de fartura no reino, prosperando, ele lembrou e, por curiosidade, foi ler o que estava escrito na última página. Estava escrito: “Isso também não vai continuar assim, a fartura não vai ser eterna. Logo virá outro período de crise.”

            Então, isso é para preparar que as crises são sazonais, são passageiras. O Brasil já enfrentou crises talvez muito piores do que essa. O meu pai, que trabalhou durante mais de 50 anos para criar sua família na roça, em Santa Catarina, criando 14 filhos com a minha mãe, falava sempre em crise. Desde quando me entendi por gente, ouvia meu pai falando da dívida com o Banco do Brasil, que ele não conseguia pagá-la, era uma safra e outra, e ia rolando a dívida. No final das contas, ele teve que vender pedaço da sua terra, que ele havia adquirido com muito custo, com muito sacrifício. Isso há 40 anos, teve que vender parte da terra para pagar a conta do Banco do Brasil, porque estava em crise, a agricultura sempre vivia em crise.

            Hoje, a agricultura vive um período extraordinário, Senador Cristovam. O Brasil, graças ao agronegócio, agricultura e pecuária, está ainda se mantendo e poderia estar numa situação ainda pior. Falo do meu Estado, que é agropecuário. Lá, graças a Deus, a crise chegou com ventos soprando bem leve, não chegou soprando forte como em parte do mundo e em outras partes do Brasil.

            Sr. Presidente, a economia rondoniense tem apresentado uma expansão consistente e vigorosa nos últimos anos. Na década passada, ela teve o quarto maior crescimento do PIB entre os Estados da Federação, com uma alta de 71% entre os anos de 2000 e 2010.

            De 2010 para cá, o desempenho econômico do nosso Estado continua a acelerar, avançando a uma taxa de 7% ao ano. Se Rondônia fosse um país, o crescimento de sua economia estaria em patamares semelhantes aos das melhores nações emergentes, como a China e a Índia.

            O progresso de nosso Estado tem sua espinha dorsal na produção de alimentos. A agricultura, a pecuária e a piscicultura têm sido os motores do nosso desenvolvimento. Falando sobre agricultura, gostaria de destacar a produção de soja, café e cacau em nosso Estado. Desde a época em que fui Governador, criamos as bases com a construção do Porto Graneleiro de Porto Velho. Grande parte da safra de Mato Grosso e de Rondônia hoje é escoada por Porto Velho, via hidrovia do Madeira, até o Porto de Itacoatiara, no Amazonas, onde atracam os navios de grande calado.

            Os campos de soja de Rondônia tiveram, na safra passada, a maior produtividade do Brasil, gerando quase 3.200 quilos de grãos por hectare. Para este ano existe a expectativa de que aumentemos a nossa produção total em cerca de 20%, atingindo 730 mil toneladas do produto. Já as lavouras cafeeiras em Rondônia foram responsáveis, em 2014, pela segunda maior safra de café Conilon do país, com quase 1,5 milhão de sacas produzidas, um volume de grãos que faz do nosso Estado o quarto ou o quinto maior produtor de café do Brasil.

            A cultura do cacau, por sua vez, produziu 14 mil toneladas dessa amêndoa em 2013, levando o Estado ao terceiro lugar no ranking nacional. Há dois anos a produtividade dos cacaueiros rondonienses ultrapassou os 500 quilos por hectare. Em breve, esse número deve subir para até 3 toneladas por hectare. Com a introdução, neste ano, de novas espécies de cacau no Estado, a Embrapa tem feito um trabalho extraordinário na área do cacau, na área do café, criando lá uma variedade própria do nosso Estado, chamada BRS Ouro Preto, que está produzindo até 160 sacas por hectare. Com a introdução, este ano, de novas espécies de cacau no Estado, a produção vai para 3 mil toneladas.

            O outro motor de nosso desenvolvimento, a pecuária, também mostra números excelentes! Perto de 13 milhões de cabeças de gado pastam no Estado de Rondônia, com a preservação ambiental devidamente controlada.

            V. Exª gostaria de um aparte?

            Concedo um aparte a V. Exª, com muito prazer.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, interrompendo um pouco a parte sobre Rondônia, eu quero tocar na parte em que o senhor falou que o Brasil sempre viveu crises. É verdade. Eu já cheguei a uma idade em que posso dizer que me lembro da crise de 1964. Há uma diferença, Senador Raupp, entre esta crise e as outras. É possível que em cada uma alguém dizia o mesmo, mas veja bem, Senador Elmano, nas crises anteriores havia alternativa, esperanças diferentes. Hoje eu não estou sentindo isso. O debate, nos momentos de crise, era entre posições alternativas, Senador Raimundo. Em 64, de um lado estavam os que acreditavam na saída pelos militares, aqueles que acreditavam numa saída pela revolução socialista. Em 85, os que acreditavam que o Governo Militar tinha que continuar dando ordens, os que acreditavam que a democracia ia carregar o Brasil para um futuro melhor. Neste momento o debate não está entre alternativas. Tanto é que naqueles momentos os governadores tinham voz muito forte, cada um. Sempre os governadores no Brasil foram elementos fundamentais, desde a Constituição mesmo da República. Hoje os governadores são nada! Que me desculpem eles. Eu falo com eles e ligo para cobrar deles posições. Eles estão envolvidos nas suas crises financeiras sem uma voz em relação ao Brasil inteiro. Ou o governador se destaca hoje com uma proposta de para onde levar o Brasil? Não temos. E nós aqui também não estamos fazendo isso. E quando eu digo nós, eu digo nós todos. Nós estamos num momento sem propostas alternativas de Brasil, tanto é que o nosso debate é o orçamento, é o ano de 2016. Ninguém está falando em 2026, 2036, 2046. Estamos sem propostas, sem lideranças concretas. Nós estamos sem governadores que falem. A crise é outra, diferente da anterior. E a divisão do País, apesar dos avanços sociais que conseguimos, parece que o aparthaid social é mais forte. As cidades são verdadeiras monstrópolis e não metrópoles mais no Brasil. Então essa crise exige mais da gente do que as anteriores exigiram dos líderes daquele momento. Mas eu lamento dizer que nós, os líderes - sou um deles, deveria ser -, não estamos dando encaminhamento para que as pessoas saibam: eu vou ficar deste lado ou eu vou ficar desse. Aí o Brasil se divide em quê? Os que são do Fla e os que são... O Flamengo e o Fluminense, o PT e o PSDB. Os que querem que a Dilma saia antes de concluir o mandato dela - e acho que essa é a solução - e os que acham que o Governo Dilma continuar, mesmo como está aí, é a solução. Nenhum dos dois está trazendo a solução. E a gente não está conseguindo apresentar. Não é nem dar um rumo. Apresentar. Por isso esta crise, a meu ver, é mais grave do que as que o seu pai, como o senhor disse, falava, como a crise decorrente dos financiamentos da agricultura pelo Banco do Brasil. A agricultura está indo bem. E tem diversos setores do Brasil indo bem, mas a nação como um todo, a meu ver, ela não está indo bem nesses anos que nós estamos vivendo agora. Não está indo.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO) - Obrigado, nobre Senador Cristovam Buarque.

            O Brasil é a sétima potência do mundo, o Brasil é a sétima economia do mundo. Eu não acredito que a sétima economia do mundo vai quebrar. A sétima economia do mundo, entre quase duzentos países, terá capacidade de se reerguer. Eu acredito muito nisso. Agora, que o Estado está pesado, está. Eu falo o Estado, a Nação. A Nação está pesada. A Nação precisa ser tornada mais leve, precisa fazer cortes, precisa fazer enxugamentos. E, realmente, o Governo ainda não fez. Eu acho que ele deveria ter feito isso. Eu sou da base do Governo, mas de vez em quando também quero ter o direito de criticar, dar sugestões.

            O Sr. Raimundo Lira (Bloco Maioria/PMDB - PB) - Quando for oportuno, Senador, eu gostaria de um aparte. Quando for oportuno a V. Exa.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO) - Com muito prazer, nobre Senador Raimundo Lira.

            Há quanto tempo, mesmo antes da crise, Senador Cristovam, muito antes da crise, há uns quatro, cinco anos, eu já vinha cobrando a redução da quantidade de Ministérios, o enxugamento da máquina pública.

            São 39 ministérios hoje no Brasil. Eu fiz uma pesquisa mundo afora, eu pedi para a minha assessoria fazer uma pesquisa. Na Alemanha, se não me falha a memória, são 14 ministérios. É a segunda ou a terceira potência mundial, Alemanha. Eu acho que na Inglaterra são 16 ou 17. É outra potência mundial. O Japão não é muito diferente disso.

            As grandes potências mundiais não têm a quantidade de ministérios que tem o Brasil. Talvez nem a quantidade de partidos. Eu sou um crítico ferrenho dessa quantidade exagerada de partidos. A nossa democracia não vai suportar um País com 50, 60 partidos daqui a pouco. Quem tem um partido quer dois. Tem gente que tem um partido e está criando outro, quer dois partidos. Uma pessoa quer dois partidos, quando um partido como o meu, o PMDB, tem mais de 2,4 milhões filiados, é o maior partido do Brasil em número de prefeitos, vereadores, governadores, Deputados Federais, estaduais e Senadores. Quer dizer, é um partido para o Brasil. Agora, tem gente que quer dois, três partidos, porque partido virou um negócio. Hoje há 32 partidos em atividade, mas há mais 27 na fila. Depois, vão para cinquenta, sessenta... Aí, tem que haver 39 ministérios, porque um partido que tem dez Deputados quer dois ministérios, quer um ou dois ministérios. Nós não vamos suportar isso.

            Agora, o Governo precisa urgentemente diminuir o tamanho da máquina. Ainda tem coisa para se desfazer. Tem muita coisa da qual o Brasil pode se desfazer, inclusive arrecadando para poder cobrir, nesse momento de dificuldade, esse buraco do orçamento. Mas o Brasil é lento, o Governo é lento até para fazer isso.

            Eu estava lendo hoje uma reportagem de uma economista, não lembro o nome dela agora, acho que é Elena Landau, que foi Presidente do BNDES do Governo de Fernando Henrique. Ela dizia que...

(Soa a campainha.)

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO) - ... o que salvou o Governo Fernando Henrique naquela época foi a venda das telecomunicações e de outras áreas do governo. Isso fez caixa, senão teria dificuldade. E olhe que terminou o governo com apenas 28 bilhões de superávit. Perdão, de reservas. Vinte e oito bilhões de reservas.

            O Brasil hoje tem R$370 bilhões de reservas e está nessa dificuldade. É claro que não devemos queimar nossas reservas, mas temos que diminuir o tamanho do Estado para poder colocar a despesa dentro da receita. O que é que o País precisa fazer? Colocar a despesa dele dentro da receita. Se nós não temos receita para bancar uma despesa desse tamanho, vamos enxugar a máquina, vamos enxugar o tamanho do Estado. Isso eu defendo, a redução de Ministérios, defendo corte do que for preciso, para poder ajustar e colocar realmente a despesa dentro da receita.

            Voltando ao meu pronunciamento, em 2013, Sr. Presidente, o Estado possuía o sétimo maior rebanho do Brasil e, no ano passado, as exportações de carne totalizaram US$600 milhões. A piscicultura também se destaca na economia rondoniense. Em 2013, ocupávamos o primeiro lugar na produção de tambaqui, com pouco menos de 19 mil toneladas. A produção de peixes no Estado evoluiu de 10 mil toneladas, em 2012, para 80 mil toneladas no ano passado, um aumento de oito vezes em apenas dois anos. As perspectivas em nosso Estado são bastante animadoras. Espera-se que a produção de peixes atinja 200 mil toneladas nos próximos quatro anos.

            O sucesso da atividade agropecuária tem estimulado de forma decisiva a atividade industrial no Estado. Para que se tenha uma ideia da vinculação entre essas duas áreas, vale lembrar que, em 2013, as três maiores manufaturas de Rondônia estavam ligadas à pecuária e faturaram perto de R$4 bilhões. No ano passado, a indústria teve receita de cerca de US$6 bilhões. Para este ano, a expectativa é de um crescimento na casa de 2%, apesar da recessão brasileira.

            O crescimento de Rondônia também tem decorrido de práticas acertadas do Governo estadual, como a decisão de estimular a recuperação de terras degradadas com vistas à produção de alimentos. Isso trouxe um duplo benefício: incentivou a indústria de calcário, utilizado na correção do solo, a implantar seis novas usinas e criou condições para ampliar a oferta de alimentos sem necessidade de aumentar a área de desmatamento.

           Embora a produção alimentícia seja preponderante em Rondônia, a mineração é uma fonte de receita com grande potencial para o Estado. No ano passado, produzimos 10 mil toneladas de cassiterita, que adicionaram US$21 milhões à nossa economia. E o reflorestamento e a floresta plantada também vêm crescendo no Estado de Rondônia.

           Sr. Presidente, as boas notícias não param por aí. Graças ao seu desempenho econômico, Rondônia foi o Estado brasileiro que apresentou a maior queda de endividamento público no primeiro semestre deste ano.

           Além disso, os indicadores sociais de Rondônia têm acompanhando suas melhorias econômicas: o índice de Gini do Estado, que mede a desigualdade social, é o terceiro melhor do País. O nosso índice é o terceiro melhor do País. o déficit habitacional é o quinto menor do Brasil e a renda per capita rondoniense é a maior entre os Estados do Norte e do Nordeste.

           Mesmo com dificuldades relacionadas à logística e ao alto custo da energia elétrica, nosso Estado tem mostrado que é possível crescer em um cenário adverso como o que vem apresentando o Brasil. O povo rondoniense vem demonstrando que, com trabalho, inteligência e perseverança, é possível vencer a crise.

           Nobre Senador Raimundo, V. Exª gostaria de um aparte?

           Concedo um aparte, com muito prazer, a V. Exª.

           O Sr. Raimundo Lira (Bloco Maioria/PMDB - PB) - Senador Valdir Raupp, nós, latinos, somos muito criticados pelos setores acadêmicos, pelos estudiosos em economia do mundo desenvolvido, pelo fato de que não temos a cultura, o hábito de construir o País para o futuro. Nós não temos a cultura de fazer o planejamento de longo prazo, com começo, meio e fim. V. Exª está mostrando ao Brasil dados excelentes em relação à economia do seu Estado de Rondônia, porque todos nós aqui do Senado Federal temos conhecimento e sabemos que V. Exª foi um Governador que plantou as bases econômicas do seu Estado para o futuro. E hoje o Estado está colhendo os seus resultados positivos. Nós tivemos, no Brasil, um Presidente que fez isso, que foi Juscelino Kubitschek. Ele acreditava no País, acreditava no potencial que o País tinha e tomou todas as providências que lhe eram possíveis naquele momento, dentro do sistema democrático e dos recursos disponíveis, vivenciando também crises financeiras do País, mas sonhou com o Brasil do futuro. Nós não temos feito isso. Rememorando um pouco nossa história recente: em 1988 - cheguei aqui em 1987 -, como Constituinte, tivemos o grande privilégio histórico de construir uma nação para o futuro, através da construção de uma Constituição que fosse voltada, sobretudo, para o crescimento econômico, crescimento social, principalmente para o desenvolvimento econômico e social. Por quê? Muitas vezes, fazemos o discurso que estamos defendendo o interesse do trabalhador brasileiro, mas estamos tomando uma medida macroeconômica que prejudica o crescimento e que, muitas vezes, consolida, de forma permanente, o subdesenvolvimento. Então, estamos dando com uma mão pequena ao trabalhador e tomando com uma mão grande, porque estamos preparando a estabilidade e o crescimento do futuro dos nossos trabalhadores e da nossa população em geral. Naquele momento em que estávamos aqui, na época da Constituinte, tínhamos exatamente um caso semelhante na Europa, que foi a Revolução dos Cravos, a revolução portuguesa, que tirou o país de uma ditadura de mais de 40 anos, com alegria, com a vontade do povo português de viver numa democracia. Era uma alegria tão grande que foi denominada Revolução dos Cravos, porque o povo, na rua, levava um cravo para entregar aos militares naquele momento em que estavam libertando o país de uma ditadura. Eles fizeram a Constituição, e, 11 anos depois, chegou a vez de nós fazermos a nossa Constituição. Em vez de corrigirmos os erros que os portugueses, no seu entusiasmo, no seu patriotismo, cometeram naquela Constituição, fomos pelo mesmo caminho. Então, Portugal fez uma Constituição, aprovou uma Constituição, e 11 anos depois o país estava em profunda recessão, em profunda crise social. Passei por Portugal e vi as pessoas dormindo debaixo dos viadutos, nas calçadas, como se fosse um país de terceiro ou do quarto mundo. Mas nós também fizemos a nossa Constituição com o mesmo calor, com a mesma emoção, pensando que iríamos resolver os problemas do País de forma imediata e no curto prazo. Cometemos tantos erros que a nossa Constituição, com 25 ou 26 anos, já foi objeto de 89 emendas constitucionais. Essas emendas são boas, vieram para corrigir, mas poderíamos ter feito essa correção no passado, para que o País não tivesse uma transição tão longa em seu período de estabilidade.

(Soa a campainha.)

           O Sr. Raimundo Lira (Bloco Maioria/PMDB - PB) - Na década de 90, tivemos o Plano Real, que foi a decisão econômica mais importante que nós tivemos nos últimos anos, mas, para contrapor os resultados positivos do Plano Real, que foi conter uma inflação que assolava todos os brasileiros, que inviabilizava o funcionamento das empresas brasileiras no longo prazo, para contrapor isso, cometemos um erro político injustificável, que foi, também na década de 90, imitando outros países latinos, implantar a reeleição para Presidente, Governador e Prefeitos. Essa reeleição fez com que as eleições para Prefeito, Governador e Presidente da República do nosso País se tornassem, possivelmente, as mais caras do mundo. Essa reeleição criou demandas políticas e econômicas para governadores e prefeitos, porque, quando o governador era eleito, o outro dia, o primeiro dia era dia de festa, dia de posse, dia de comemoração da sua eleição. O segundo dia já era para traçar todas as estratégias da reeleição. “Vamos criar mais secretarias para atender aos partidos políticos, vamos trazer todos os prefeitos dos Municípios para o nosso lado, vamos trazer, se possível, a totalidade dos Deputados Estaduais das Assembleias Legislativas”, no mínimo, dois terços. Isso passou a ter um custo político e econômico formidável, que fez com que as nossas reservas, as nossas energias fossem exauridas. Essa crise que nós estamos vivenciando agora é sistêmica, é uma crise que nasceu há vários anos, é uma crise que foi construída por vários governos. Se este Governo cometeu muitos erros - e cometeu, de fato -, foi em função de um sistema político e econômico que nos levou à situação em que nós estamos. Verificamos hoje que os nossos Estados estão quebrados. Os nossos Estados estão a demandar recursos extras. Por isso nós estamos recebendo, aqui em Brasília, a pressão dos governadores, que, conforme falou o grande Senador Cristovam Buarque, já não têm a importância política que tinham no passado. Por quê? Porque não existe independência política sem existir independência econômica. Se o Estado não tem independência econômica, ele não tem independência política. Então, Senador Cristovam Buarque, os nossos governadores, que eram os amortecedores das crises cíclicas que nós tínhamos no Brasil, perderam força. A exemplo dos prefeitos, eles sempre viveram, nos últimos anos, aqui, com pires na mão, atrás de algum recurso extra do Governo Federal, pressionando o Congresso Nacional para novas dotações. Por quê? Porque tudo isso foi resultado de erros políticos e econômicos do passado recente da nossa história. Vamos ver se agora o Brasil acorda dessa crise, para que possamos criar um planejamento e uma estruturação para o futuro, dar estabilidade ao povo brasileiro, mostrar um cenário de longo prazo aos nossos empreendedores, um cenário de logo prazo para aquele bom capital estrangeiro, para o investidor que acredita em nosso País, a fim de que ele tenha a segurança e a confiança de que está fazendo um bom investimento no País. Então, não vamos somente ajudar a resolver essa crise momentânea, mas vamos pensar no Brasil do futuro. Nós temos um grande pensador neste País, que é o ex-Ministro Reis Velloso, que sempre faz seus seminários pensado no Brasil do futuro.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Raimundo Lira (Bloco Maioria/PMDB - PB) - Mas não tem a repercussão que deveria ter. Senador Cristovam Buarque, V. Exª foi lá, portanto confirma a importância do trabalho do ex-Ministro Reis Velloso, que me parece que já tem mais de 80 anos, mas é como se ele fosse viver eternamente, pensando no futuro do nosso País. Senador Raupp, eu quero me congratular com o que V. Exª plantou no Estado de Rondônia.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO) - Obrigado a V. Exª.

            Eu peço apenas mais um minuto para concluir.

            Eu não sei se peço para incorporar o seu aparte ao meu pronunciamento ou se a Mesa vai colocá-lo como um grande pronunciamento. V. Exª fez uma explanação muito, muito inteligente, muito balizada pelo conhecimento que V. Exª tem da política e da economia brasileira.

            Obrigado, Senador Raimundo Lira.

            A Senadora Gleisi falou aqui dos juros, e eu já tenho cobrado algumas vezes da tribuna do Senado, nos últimos tempos, essa questão dos juros. Nós não temos mais o nosso querido José Alencar para cobrar. Alguém tem que cobrar.

            Senador Cristovam, não é possível, isso não está correto! Nós tivemos, até há pouco tempo, juros de 7%. Já foi dito aqui que cada 1% significa R$15 bilhões ao ano. São R$15 bilhões ao ano! Então, se, no próximo ano, a equipe econômica, o Banco Central e o Ministério da Fazenda ajustassem esses juros para 10% - não precisa voltar a 7%, como era, não; a 10% -, isso daria uma economia de mais de R$60 bilhões, o dobro do que veio faltando no orçamento.

            Então, não é possível! Como é que uma economia fraca como está agora, decrescendo a mais de 2%, com taxa negativa de mais de 2%, pode ter juros de 14,15%?! Esses juros estão estratosféricos! Quer dizer, as empresas que mais estão lucrando, neste momento, são os bancos. O Bradesco e o Itaú deverão lucrar em torno de R$20 bilhões cada um este ano. Qual empresa brasileira que se aproxima disso? Nenhuma, nem chegam perto! A maioria vai fechar no vermelho, e os bancos vão fechar com o maior lucro da sua história.

            Alguma coisa está errada nisso. Nós precisamos baixar esses juros até para o Brasil pagar menos dívidas, pagar menos o serviço da dívida.

            Fica aqui esse apelo, Sr. Presidente.

            Muito obrigado pela tolerância.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/09/2015 - Página 137