Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do esgotamento do modelo político adotado no País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SISTEMA POLITICO:
  • Registro do esgotamento do modelo político adotado no País.
Aparteantes
Antonio Anastasia, Elmano Férrer, Omar Aziz.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2015 - Página 279
Assunto
Outros > SISTEMA POLITICO
Indexação
  • REGISTRO, CRISE, POLITICA, RESPONSABILIDADE, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DETERIORAÇÃO, COMPROMISSO, DEMOCRACIA, ESTABILIDADE, POLITICA MONETARIA, AUMENTO, INFLAÇÃO, IMPOSSIBILIDADE, EXPANSÃO, ATENDIMENTO, PROGRAMA DE GOVERNO, BOLSA FAMILIA, NECESSIDADE, SUSTENTABILIDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO, CONVOCAÇÃO, GRUPO, GOVERNO ESTADUAL, LUTA, REFORMA POLITICA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srªs e Srs. Senadores, nós assistimos há pouco tempo a um discurso, Senador Anastasia, da Senadora Vanessa, que eu considero muito interessante porque ouvi a Senadora Vanessa reconhecendo que vivemos, atravessamos uma crise econômica.

            Até pouco tempo atrás, os Parlamentares da Base de Apoio não reconheciam crise nenhuma. Quando eu aqui, mais de uma vez, falei em crise, publiquei, escrevi, fui tratado como pessimista, “Cassandra”. Não havia, Senador Medeiros, o reconhecimento de que o Brasil caminhava para uma crise muito profunda.

            Mas ela ainda não reconheceu aqui a crise política, ainda tratou a crise política como sendo algo criado pela oposição contra a Presidente Dilma. Há uma crise mais do que política, a meu ver. Nós estamos vivendo o esgotamento de um modelo do País. O esgotamento de um modelo que vai além do Governo atual, que vai atravessar o próximo governo, seja ele substituindo a Presidente Dilma agora, seja esperando o fim do seu mandato.

            Há 20 anos nós temos algo muito positivo no Brasil, um modelo. Um modelo que atravessou o Presidente Itamar, o Presidente Fernando Henrique, o Presidente Lula, o primeiro mandato da Presidente Dilma, que tem quatro pilares, a meu ver.

            O compromisso com a democracia está se esgotando, Senador Anastasia. Está se esgotando, porque a gente não está conseguindo dar respostas aos problemas que o País enfrenta democraticamente. Nós temos que reconhecer, começam a aparecer faixas pedindo a volta dos militares. Isso é uma prova de esgotamento.

            Aqui ao lado, a 15 ou 20 metros, está o Juiz Moro, um juiz que está aqui sendo elogiado, como deve ser - felizmente a gente tem o Moro -, porque está prendendo políticos. Isto é um esgotamento. Felizmente está acontecendo. Mas é um esgotamento, é uma crise profunda que a gente atravessa.

            A democracia, como ela está aí, nós aqui não estamos dando a resposta para enfrentar este problema, este momento. Tanto é que aqui alguns falam em impeachment. Aí outros dizem que não há argumentos legais ainda. Mas os que não defendem o impeachment sabem que não dá para continuar o Governo como está aí por mais três anos e meio, e a gente fica sem saber como será.

            Está se esgotando, sim, outro pilar desses últimos 20 anos, que é a estabilidade monetária. Vamos ter dois dígitos de inflação provavelmente. E aí ninguém controla mais, Senador José Agripino. Está se esgotando. A ideia da estabilidade monetária construída com o Plano Real, para surpresa de muitos e oposição até do PT à época, esse pilar está se esgotando. A maneira como ela foi mantida não está dando resposta.

            O terceiro pilar positivo na sociedade brasileira, os programas generosos de transferência de renda, que começam desde o Sarney, as pessoas se esquecem, de maneira simples, com leite; que Itamar consolida; que Fernando Henrique lança com o nome de Bolsa Escola, para 4 milhões; que Lula leva para 12 milhões - esgotou-se. Esgotou-se, em primeiro lugar, porque a inflação está corroendo.

            Desde o último aumento da Bolsa Família para hoje, 15%, pelo menos, já foram corroídos do valor. Não dá para aumentar mais o número de famílias com o Bolsa Família, e, sobretudo, o esgotamento que vem de que ela não deu a porta de saída para que as famílias não precisem mais da Bolsa Família, que era a ideia inicial, quando Fernando Henrique iniciou, vinculando à educação.

            E o outro esgotamento, o outro pilar que se esgota é o crescimento econômico baseado apenas ou sobretudo na indústria metal-mecânica e no agronegócio. Está se esgotando. Já não responde mais às exigências, Senador Fernando, do mundo moderno. Temos que ter uma economia de alta tecnologia, temos que ter uma economia sustentável ecologicamente. Pois bem, é mais do que uma crise econômica e uma crise política; é um esgotamento de um tempo, como a gente teve em 64; um esgotamento como teve em 30.

            E a saída disso? Aí é que vem talvez o pior dos momentos. Nós não temos tido imaginação para encontrar um rumo novo, um modelo alternativo que enfrente inclusive a crise política de um Governo sem credibilidade e a crise econômica de um Governo sem projeto. E aí é em que eu queria concentrar a minha fala com uma pergunta: onde estão os governadores, Senador José Agripino? Onde estão os governadores de hoje?

            Em 64, eu era muito jovem, mas vi. Quem fez a saída, de um lado, era o Lacerda, o Magalhães Pinto; do outro lado, era Arraes e Leonel Brizola. Esses eram os nomes do momento, eles que davam rumo para a gente, mais do que aqui dentro desta Casa. E agora? Onde é que estão os nossos governadores que eu não os vejo falando da crise por que atravessamos? Por um lado, que estão tão mergulhados na crise financeira dos seus Estados, como no Rio Grande do Sul, como no Distrito Federal e como nos outros Estados também, que eles não têm tempo de ver além da fronteira do seu Estado e além dos livros da contabilidade do seu secretário da fazenda. Não é verdade? É capaz de a gente dizer que hoje a gente não tem mais governador; a gente tem secretário da fazenda. Todo governador hoje é um secretário da fazenda.

            Mas eles precisam entender que só por meio da contabilidade não vão encontrar saída, só dentro dos limites da fronteira dos seus Estados eles não vão encontrar saída. A saída virá de uma alternativa nacional, de uma alternativa ao Governo que aí está, com ou sem ele, melhor, com Ela ou sem Ela, mas um outro Governo. E através de um novo rumo para o País.

            Tenho estado com os Governadores ultimamente e lamento dizer que não os estou vendo como protagonistas na crise histórica por que o País atravessa. Sem eles fica difícil, aqui dentro não vamos encontrar caminhos sozinhos. Vejo aqui alguns ex-governadores, como eu também, pelo menos quatro estão aqui na minha frente, comigo cinco, e não vejo a geração atual de Governadores presentes, dizendo: é preciso encontrar um novo rumo. O caminho pode ser esse, nem que eles não se encontrem juntos, não todos os 27, mas alguns, e falem à Presidente: “Presidente, a senhora precisa mudar.” Ou alguém vai ter que dizer que precisa mudar a Presidente.

            Queria que isso ficasse como um chamamento aos Governadores. Onde estão os Governadores do Brasil, no momento desta profunda crise histórica por que atravessamos? Estive recentemente com um dos mais notáveis, de quem gosto muito, ele está preocupado, mas não dá o salto! Liguei para outro, está preocupado, mas não dá o salto! Estão amarrados, presos no dia a dia. Não haverá futuro preso no dia a dia. O futuro só começa no amanhã, não começa no hoje.

            Quero, sim, deixar aqui um apelo aos Governadores: eles precisam assumir um protagonismo neste momento, como os Governadores do passado que sempre estiveram presentes.

            Gostaria, Senador, de passar a palavra ao Senador Alvaro Dias, depois ao Senador Anastasia, que pediram apartes.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Oposição/PSDB - PR) - Senador Cristovam, primeiramente meus cumprimentos a V. Exª, sempre de forma didática, expondo os problemas do País e, obviamente, tentando encontrar caminhos que signifiquem soluções. A conclusão a que chegamos, Senador Cristovam, é de que o Governo, o PT e o Governo construíram um monstro e se tornaram reféns desse monstro. Esse monstro é o sistema de governança implantado no País, esse modelo de promiscuidade, que acabou sendo clonado em alguns Estados, tornando-se inclusive suprapartidário. Eu não vejo alternativa para o País a não ser a do sepultamento desse modelo. E V. Exª convoca agentes essenciais para essa mudança de modelo: os governadores. Nós, no passado, Senador Ataídes, batizávamos de República dos Governadores, porque eles exerciam grande influência nas decisões nacionais. Hoje, como focaliza V. Exª, os governadores estão distantes do Governo central. Mas eu indago, e V. Exª pode inclusive refletir e responder: de quem é a culpa, não é de quem preside o País? Certamente a responsabilidade maior é de quem preside o País, que deveria estar convocando os governadores para o debate dos problemas nacionais e a busca de solução. A Presidente Dilma não tem vocação política, não tem capacidade de liderança, não consegue se articular politicamente e, por isso, afasta aqueles que poderiam ser os seus colaboradores imediatos. Até por que quem governa um estado coloca sempre em primeiro plano o interesse administrativo da unidade que preside na Federação. V. Exª traz para o debate, portanto, uma questão fundamental neste momento de crise que vive o País.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador Alvaro. Eu quero dizer o seguinte, primeiro que, realmente, a culpa e a responsabilidade são da Presidente Dilma, a pele é nossa. Agora, ela não faz esse papel. Um dos governadores com quem conversei recentemente foi convidado por ela, esteve numa reunião, e disse - não vou citar o nome dele - que teve vontade de se levantar e ir embora, porque ela chamou, fez um discursozinho e pronto, mandou dois Ministros falarem e pronto!

            Ela tinha que ouvir os governadores. Agora, eles tinham que chegar aqui com posições também, com posições firmes de para onde ir o Brasil, com sugestões claras do que é que ela deve fazer, Senador Aziz. Não, ela chamou, falou qualquer coisa e pronto, e ele me disse: “Eu tive vontade de me levantar e ir embora.” Então, aí, não adianta.

            Ela não está cumprindo o seu papel, mas, já que ela não está cumprindo, outros têm que cumprir; nós tentamos aqui. Eu acho que os governadores têm uma responsabilidade. E eu estava olhando aqui, praticamente metade dos que estão presentes já foram governadores, então, entendem bem isso.

            Eu lamento que não tenham assumido uma posição de protagonistas que neste momento a História exige dos governadores. Eles têm o direito de dizer que nós também não estamos tendo a competência suficiente para cumprir o nosso papel e levar adiante o que achamos que devemos. Mas eles são governadores e também devem tê-la.

            Senador Anastasia.

            O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque. Primeiro, eu queria cumprimentar também V. Exª pela lucidez de seu pronunciamento, corroborar igualmente com o aparte do eminente Senador Alvaro Dias e dizer a V. Exª que o seu pronunciamento é perfeito, porque se enquadra de maneira adequada à fragilidade, à tibieza da Federação brasileira, que lamentavelmente vivemos no dia de hoje. O papel dos governadores de fato reduziu-se, devido a um processo agudo de centralização política, tributária, financeira e de competências, na esfera federal, agravado pela atual liderança que hoje existe no Brasil. E isso é patente e reconhecido por todos. Se no passado tivemos, na história republicana brasileira, a famosa política dos governadores, tanto ao tempo da República Velha, como também sob a égide da Constituição de 46 e na redemocratização pós-85, figuras fulgurantes de governadores, como Tancredo, Franco Montoro, Pedro Simon - eu poderia citar aqui tantos, e não quero fazê-lo exatamente para não cometer equívoco -, é exatamente pelo fato de que os governadores tinham protagonismo político relevante. Hoje, lamentavelmente, como V. Exª disse muito bem, os governadores, desprovidos de meios, converteram-se em contadores de poucos recursos, como disse V. Exª, não são secretários da Fazenda, mas da Administração, como lembrava aqui o Senador Cássio Cunha Lima. A fragilidade da Federação é, pois, a pedra angular a ser revertida. No momento em que nós devolvermos aos Estados federados brasileiros atribuições, competências, instrumentos de forma de atuação, é claro que os governadores terão um protagonismo maior e, evidentemente, dependendo sempre de uma liderança nacional comprometida com esse quadro, e não com o modelo atual, de uma centralização que quer converter Estados, Municípios e, portanto, governadores e prefeitos em súditos de um governo central que se torne extremamente centralizador. Quero, portanto, cumprimentar V. Exª pelo belo e oportuno pronunciamento.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª permitiria um aparte?

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Com a palavra V. Exª, Senador Cristovam.

(Intervenção fora do microfone.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Nem de crédito eles conseguem ter. Mas, de qualquer maneira, eles têm que se insurgir até contra essa realidade.

            Senador Aziz.

            O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - V. Exª traz uma prática que, nos últimos anos, tem acontecido no Brasil, mas eu não diria que vem acontecendo nos últimos 12 anos, 13 anos. Os governadores são chamados às reuniões com o Presidente e lá são comunicados, pelo Presidente, sobre quais são as obras que vão fazer. E vem piorando, porque se esvaziou o poder dos Ministérios, para se criarem programas, como o PAC 1, o PAC 2, o PAC 3, em que todo o bolo do recurso vai para alguns poucos, que vão definir o que é importante para os Estados brasileiros. Os governadores são comunicados, como eu fui, como governador, várias vezes, comunicado. Dizem: “Olha, vamos fazer isso lá no Amazonas.”

(Soa a campainha.)

            O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Uma vez, numa reunião com a Presidenta Dilma, ela me mostrava que o Ministério da Educação tinha decidido fazer escolas técnicas, o Ifam, em alguns Municípios. Quando ela foi me mostrar os Municípios, eu disse: “Presidente, mas esse Município daqui, no mapa, parece pertinho, mas, de barco, demora-se três dias para chegar. Então, é impossível a senhora fazer um núcleo do Ifam aqui, e os outros Municípios serem contemplados, porque não há como eles se locomoverem.” É um exemplo. Eu me lembro de várias reuniões com a Presidenta Dilma e com o Presidente Lula - e isso eu estou falando como governador - em que os governadores são comunicados. Eles não são comunicados, nem são ouvidos, na hora em que você tem que cortar recursos que são distribuídos para os Estados, como aconteceu diversas vezes. E se fez muita festa com dinheiro dos Estados e dos Municípios. Tanto é que hoje você vê os Municípios quebrados, os Estados quebrados, todos na...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM. Fora do microfone.) - ... Lei de Responsabilidade Fiscal.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Pediria a V. Exª, porque é um caso preocupante para todos nós, muito preocupante. Mas V. Exª coloca uma coisa: eu não conheço líder que se transformou numa grande liderança e entrou para história, Senador Cristovam, na época de bonança. Os grandes líderes se tornaram grandes líderes dos seus países numa época de dificuldade. É isto que, na primeira reunião em que eu estive com a Presidente Dilma, eu disse a ela: “A senhora precisa nos liderar.” A liderança, num momento de muito dinheiro, de emprego pleno, passa pelo governo, não marca uma história, mas aqueles líderes que tiveram que tomar decisões que, a curto e médio prazo, a nação viu que prosperaram, mesmo que sejam decisões negativas naquele primeiro momento, se tornaram grandes homens das nações que governaram. Isso está na história do Brasil, está na história americana, está na história dos grandes países do mundo. Então, eu acho que este é o momento. Que a Presidenta Dilma tenha a reflexão de que ela poderia liderar um processo para retirar o Brasil desta crise, mas não dá para escamotear, não dá para mentir, não dá para eu me sentar, no início do ano, com o Ministro da Fazenda, o Ministro Levy, com o Ministro do Planejamento, eles contarem uma estória, e agora virem com outras estórias para que a gente embarque nelas. Não, nós queremos uma estória verdadeira para este País, e essa estória verdadeira só com uma pessoa liderando, seja homem ou mulher - não estamos aqui dizendo -, mas a Presidenta Dilma precisa fazer o papel da grande líder para tirar este País, senão, nós vamos debater aqui a crise, e não as soluções para ela.

            O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - Senador Cristovam.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado Senador. Eu vou passar para o Senador Elmano.

            Só quero dizer que, realmente, Senador Aziz, quando a gente está nos momentos fáceis, a gente pode até melhorar o currículo, mas a biografia a gente só constrói nos momentos difíceis. Muito raramente se constrói uma boa biografia nos momentos de fartura e facilidade.

            Senador Elmano; depois, o Senador José Agripino.

            O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - Senador Cristovam, V. Exª sempre tem qualificado este Senado pela isenção, pela independência, pela contundência dos seus pronunciamentos, enfim, tem engrandecido esta Casa. V. Exª invocou os atuais governadores. Eu gostaria de listar dez governadores presentes a esta sessão, neste exato momento, começando por V. Exª, Cristovam Buarque, Antonio Anastasia, Tasso Jereissati, Cássio Cunha Lima, José Agripino Maia, o nosso Blairo Maggi, Alvaro Dias, Omar Aziz, João Capiberibe, enfim...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Cássio Cunha.

            O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - Cássio já citei. Enfim, há dez governadores presentes. E, no meu entendimento, todos aqui, homens experientes, que governaram com muita sabedoria os seus Estados. Creio que é desta Casa - que, por a iniciativa do nosso Presidente, convocou os governadores, para discutir o Pacto Federativo; os prefeitos, principalmente os das capitais, mas convocou a todos, para discutir o mesmo tema; lançou, recentemente, uma Agenda Brasil - a responsabilidade pela Federação e, consequentemente, pelos destinos da União, dos Estados federados e Municípios, e do próprio Estado brasileiro, que, no meu entendimento, tenho insistido nisso, vive uma profunda crise. Nós temos uma crise do Estado brasileiro, haja vista o que ocorre no Rio Grande do Sul, que, embora caracterize uma crise de parte da Federação, terá, inexoravelmente, o efeito cascata. O que o Rio Grande do Sul passa hoje muitos Estados deverão passar em breve, e nós não podemos esperar que o desastre aconteça. Nós temos que tomar, no meu entendimento, a iniciativa agora. Nós estamos com o Estado brasileiro em crise e uma Federação...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - Enfim, no meu entendimento, meu nobre e estimado Senador Cristovam Buarque, aqui há ex-governadores nesta Casa, ex-Ministros de Estados. Então, temos que buscar uma saída. Nós falamos muito, eu ouvi muitos discursos, mas temos participação, e é desta Casa, do Senado ou do Congresso Nacional, no meu entendimento, que devem sair as soluções. Então, eu creio que é oportuno V. Exª invocar os governadores atuais, mas eu invocaria os ex-governadores que têm assento aqui nesta Casa, para que tomem uma iniciativa junto à Presidência, ao Conselho da República. Enfim, é necessário que busquemos uma saída para o País aqui nesta Casa. É o apelo que queria fazer. Sei que os ex-governadores - aqui temos presidentes dos partidos mais representativos da vida nacional - e tenho certeza de que, com os governadores presentes aqui - eu listei dez, e temos outros -, poderíamos, no meu entendimento, com um Presidente sensível, já tomou a iniciativas brilhantes aqui neste momento, com relação ao destino da nossa Federação e, consequentemente, do Estado brasileiro... É um apelo que faço a V. Exª e a todos que estão aqui: que busquemos agora, não deixemos para o amanhã! O Brasil exige isso. Não podemos testemunhar como espectadores, e não como atores esse processo que está aí. Eram as considerações que eu tinha que fazer. E estou chegando a esta Casa, acreditando na democracia, acreditando, sobretudo, na experiência dos Srs. Senadores que estão nos ouvindo neste instante, nesta hora. Era a consideração que eu tinha a fazer, Sr. Presidente.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador Elmano.

            Eu quero dizer que o senhor fez duas sugestões interessantes: uma é que, já que eu fiz um chamamento aos Governadores, o senhor fez um chamamento aos Senadores que foram Governadores.

            A segunda coisa eu achei ainda mais interessante: existe na Constituição uma coisa chamada Conselho da República, que é para ser chamado nos momentos graves que o País atravessa, sobretudo de ameaças externas, mas também de ameaças internas, como nós estamos vivendo. Eu creio que é uma sugestão que deveria ser levada à Presidente Dilma: “Convoque o Conselho, dialogue com ele, diga o que está achando. Não faça uma meia culpa, faça uma mea-culpa ao Brasil inteiro, de verdade, reconhecendo seus erros”.

            Duas sugestões interessantes.

            Presidente, eu passo a palavra ao Senador José Agripino, que foi o último que pediu um aparte.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª, que está sempre abordando temas oportunos, aborda a importância dos Governadores neste momento e a dificuldade pela qual passa o País. Eu botei a carapuça no chamamento do Senador, nosso colega Elmano Férrer, do Piauí. Eu era Governador em 1985; só que, naquela época, nós não vivíamos um momento como o que o Brasil hoje. O Brasil vive hoje uma crise tríplice: uma crise econômica, uma crise política e uma crise ética. Em 1985, eu era Governador. Eu tinha sucedido Lavoisier Maia, que tinha deixado o meu Estado, o Rio Grande do Norte, em situação equilibrada. Eu vinha governando com relativo equilíbrio. Não havia crise econômica e havia, portanto, liberdade. Foi por conta dessa liberdade que aconteceu, por exemplo, a transição democrática. O candidato a Presidente da República do Presidente Figueiredo não era Tancredo nem era Andreazza, que era o meu candidato: era Paulo Maluf. E eu disse a ele: “Se Paulo Maluf for o candidato do meu partido, o senhor pode estar certo de que eu voto contra ele no Colégio Eleitoral”. Naquela época, era o Colégio Eleitoral. Cada Governador tinha seis votos no Colégio Eleitoral, independentemente dos votos dos Parlamentares. E assim foi. Houve uma manobra, e Paulo Maluf resultou candidato do meu Partido, que naquela época era o PDS. Eu tentei comunicar o Presidente, que não me recebeu, fez todo tipo de grosseria comigo, lamentavelmente, e eu rompi. Eu fui o primeiro Governador de Estado pequeno, como o Rio Grande do Norte, a publicamente declarar o meu rompimento, porque eu não votaria em um candidato que não tivesse compromisso com a redemocratização, com a realização de eleições diretas para Presidente da República. Maluf não tinha. E eu apoiei Tancredo. E, depois de mim, vieram todos os outros Governadores do Nordeste, e Tancredo ganhou no Colégio Eleitoral, por conta daquele gesto de um Governador de um Estado pequeno, mas que tinha alçada para fazer. Então, eu vesti a carapuça daquele chamamento de Elmano Férrer para prestar esta colaboração. O Brasil de hoje, Senador Cristovam, é o Brasil do Governador Sartori. O Rio Grande do Sul é o Estado modelo de colonização, de economia, mas está passando vexames que a imprensa livre mostra: as greves, o quebra-quebra, ausência de serviços públicos, falência dos serviços públicos, falência das finanças públicas do Estado do Rio Grande do Sul. E vou lhe dizer uma coisa: Brasília, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia são o Rio Grande do Sul de amanhã. Vão todos eles... Por conta de quê? Da crise econômica gerada pelo desgoverno do PT, que está levando a economia a uma escalada descendente e irrefreável. A perda do ICMS, a perda do Fundo de Participação dos Estados é proporcional à perda da receita federal. O que é preciso é que os Governadores acordem cedo e se unam! Unam-se para tomar uma providência com as suas próprias Bancadas federais para que haja uma tomada de posição pela salvação nacional, pela salvação do País! O Brasil está no plano inclinado, em queda livre, e os Governadores, que estão em grandes dificuldades, assistindo também a perspectiva de sua queda livre, precisam acordar. Daí a importância do discurso de V. Exª para chamar a atenção dos Governadores, seja de Minas Gerais, seja de São Paulo, seja da Bahia, seja do Rio de Janeiro, onde vai haver as Olimpíadas - e precisa da ação e do apoio do Governo Federal, que eu não sei se vai vir, se vai acontecer, ou não vai acontecer. Mas o discurso de V. Exª é muito oportuno por isso. É um chamamento à responsabilidade nacional, e eu falo com a autoridade de quem viveu esse momento. No meu primeiro governo, em 1985, eu tinha 40 anos de idade, tinha 39-40 anos de idade, e tive a oportunidade de tomar a iniciativa em benefício daquilo que eu julgava oportuno: apoiar um candidato que fizesse, como fez, a transição. Eu apoiei Tancredo, e Tancredo morreu, mas ficou Sarney, que fez a transição. Foi nesse governo, em seguida, que ocorreu a primeira eleição direta para Presidente da República. Está na hora de o Brasil acordar e os Governadores entenderem que eles são parte da responsabilidade de um projeto de salvação nacional. Cumprimentos a V. Exª pelo oportuno pronunciamento desta tarde.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

            Eu quero dizer que, quando falei em 1964, lembrei que, dos dois lados, havia governadores. Realmente o senhor me trouxe a lembrança de 1985, muito mais próximo a mim, quando dois governadores foram fundamentais: Tancredo e Montoro.

            Mas foi na reunião da Sudene, em Montes Claros, quando Tancredo apresentou a sua proposta para o Nordeste e na qual o senhor estava presente com outros governadores, que houve a viabilização da eleição de Tancredo. Até ali era uma hipótese. A partir daquela reunião, graças à mudança de lado - o lado do novo, do que era necessário - dos governadores do Nordeste, é que se fez possível a redemocratização. Isso é mais uma prova do protagonismo dos governadores na história do Brasil, o que não está havendo hoje, apesar dos grandes nomes dos nossos governadores.

            Era isso, Sr. Presidente.

            Agradeço o tempo que me concedeu. Estou pronto para a sessão que o senhor vai presidir.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2015 - Página 279