Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem aos Srs. Dirceu Mendes Arcoverde e Petrônio Portella Nunes.

Autor
Ciro Nogueira (PP - Progressistas/PI)
Nome completo: Ciro Nogueira Lima Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem aos Srs. Dirceu Mendes Arcoverde e Petrônio Portella Nunes.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2015 - Página 331
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, MEDICO, ADVOGADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

DISCURSO ENCAMINHADO À PUBLICAÇÃO, NA FORMA DO DISPOSTO NO ART. 203 DO REGIMENTO INTERNO.

            O SR. CIRO NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PP - PI. Sem apanhamento taquigráfico.) - Senhor Presidente, Senhoras Senadoras e Senhores Senadores, venho aqui hoje para lembrar o nascimento, 90 anos atrás, de dois grandes piauienses. Nascidos em setembro de 1925, ambos os homens forjados no estudo, na labuta e na crença do mérito como instrumento essencial de formação humana. Falo de Dirceu Mendes Arcoverde e de Petrônio Portella Nunes.

            Os dois foram governadores do Piauí, os dois ocuparam cadeiras nesta Casa, eleitos pelo povo de meu Estado, os dois falecidos precocemente, certamente antes que realizassem mais pelo Piauí e pelo Brasil.

            Dirceu e Petrônio tiveram suas vidas políticas e pessoais entrelaçadas. O primeiro, médico, formado no Rio de Janeiro, nasceu em 7 de setembro de 1925 em Amarante, cidade do Médio

            Parnaíba. Amarante, terra do poeta Da Costa e Silva, está a pouca distância de Valença, uma das mais antigas cidades do Piauí, onde em 12 de setembro de 1925 nascia Petrônio Portella Nunes. A exemplo de Dirceu, Petrônio Portella também estudou no Rio de Janeiro, mas escolheu o Direito como profissão.

            Penso ser um imperativo prestar homenagem aos dois neste mês em que celebrariam, se vivos, 90 anos de nascimento. Cada um a seu modo e a seu tempo honrou o Piauí e deu ao Estado contribuições suficientemente grandes para serem definitivas.

            Dirceu Mendes Arcoverde estudou em Belém e no Rio de Janeiro, para estudar Medicina, foi pensionista da União Nacional dos Estudantes. Médico formado, fez o caminho de volta ao Piauí, onde foi pioneiro no ensino da Medicina, tornando-se professor da Faculdade de Medicina. Foi um dos professores fundadores da Universidade Federal do Piauí. Como secretário de Saúde entre 1971 e 1975, deu início à criação de uma rede hospitalar pública no interior do Estado. Depois, já governador do Estado, entre 1975 e 1978, construiu e ampliou sistemas de abastecimento de água na capital e no interior, construiu escolas e mais hospitais, fez mais de 23 mil casas, estradas e lançou a ideia simples, mas necessária, de que ao governo cabia cuidar das pessoas. Dirceu Arcoverde era, antes de qualquer coisa, um humanista.

            Eleito senador em 1978, morreu em 16 de março de 1979, aos 53 anos, após um acidente vascular cerebral quando fazia seu primeiro discurso na tribuna do Senado. Sua morte deixou nos piauienses a sensação de luto e vazio, porque o senador Dirceu Arcoverde tinha ainda muito a fazer.

            Essa impressão de vazio ao ver que alguém morreu antes que fizesse além do muito que já fizera também se deu com a perda de Petrônio Portella Nunes. O mais importante político piauiense da segunda metade do século XX morreu aos 54 anos, menos de um ano após a morte de seu colega de Senado, Dirceu Arcoverde. A prematura morte de Petrônio Portella em 6 de janeiro de 1980 somente não criou uma sensação de vazio ainda maior porque Petrônio pareceu viver em dose dupla. Sua atividade política e capacidade de articulação sempre foram tão intensas, que seus anos de atividade pública pareciam ser contados em dobro.

            Lembrar Petrônio no Senado é honrosamente necessário, porque ele presidiu esta Casa por duas vezes e engrandeceu como poucos o Senado Federal. Petrônio Portella foi mais que apenas um político piauiense, era um homem de Estado, com uma visão bastante ampla do que deveria e poderia ser feito dentro de uma conjuntura de dificuldades.

            Sua história pessoal se confunde com a História do Brasil entre os anos 50 e a abertura política do final dos anos 70 e, até sua morte, em 6 de janeiro de 1980.

            A política certamente corria em suas veias, porque o pai, Eustáquio Portella, foi por duas vezes prefeito de Valença, uma das sete primeiras cidades piauienses e que viu surgir uma estrela na política, um piauiense que se formou em Direito no Rio de Janeiro, com muito esforço pessoal. Antes de tornar-se bacharel e trilhar o natural caminho do sucesso para quem trabalha com esse objetivo, Petrônio Portella foi funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

            Ao graduar-se em Direito, exerceu a profissão no Piauí, sendo reconhecido pela eloquência de sua oratória. Isso fez dele também professor da Escola Técnica de Comércio do Piauí e lhe abriu caminho para a política.

            Em 1950, tentou uma cadeira de deputado estadual. Não obteve êxito, ficando como suplente. Porém, quatro anos mais tarde foi eleito para a Assembleia Legislativa e, em 1958, elegeu-se prefeito de Teresina, cargo que deixaria em 1962 para ser candidato a governador do Piauí, eleito por ampla maioria.

            A partir daí, seguiu por uma bem sucedida carreira política como senador da República eleito por duas vezes; presidente do Senado; e ministro da Justiça, cargo que exerceu de março de 1979 a janeiro de 1980. Pouco tempo, mas no caso de Petrônio Portella o bastante para uma costura política que resultou na abertura política que trouxe em seu bojo a anistia dos presos políticos, volta dos exilados, o pluripartidarismo, a escolha dos governadores por eleições diretas e, evidentemente, o próprio fim do regime autoritário.

            Embora o futuro não possa ser previsto e tampouco o passado possa ser alterado, parecia natural durante a transição para a democracia que Petrônio Portella seria o homem certo para tomar-se o primeiro presidente civil pós-1964. Era um homem de diálogo, essencialmente, como registra um de seus biógrafos, o jornalista Zózimo Tavares, e também Elio Gaspari, jornalista e escritor.

            Petrônio foi um construtor de pontes num momento espinhoso e difícil da vida política do país - quando havia supressão de liberdade e havia uma necessidade sempre premente de interlocutores em um sistema político bipartidário. Petrônio foi um fiador desses diálogos, nem sempre produtivos, mas que por insistência de quem estava conversando, terminariam por desaguar no fim do próprio regime.

            Mas, mesmo tendo vivido tão intensamente que pareceu viver em dobro, mesmo tendo uma obra política tão complexa quanto importante, este notável político brasileiro, nascido no Piauí, duas vezes presidente do Senado, ministro da Justiça, artífice do fim do regime autoritário no país, ainda não recebeu todo o reconhecimento que merece.

            Petrônio Portella formou, com ex-presidente Ernesto Geisel e com o ministro da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, um trio fundamental para pôr fim ao regime autoritário. Tiveram participação decisiva para o fim do regime tanto quanto também tiveram dois dos mais notáveis opositores, o ex-presidente Tancredo Neves e o doutor Ulysses Guimarães.

            Foram mentes habilidosas, sensatas e pacientes como as de Petrônio e Tancredo que concorreram para apressar a abertura democrática, algo que ainda carece de muito estudo, mas que lembramos aqui, nos 90 anos de nascimento de Petrônio Portella, para que sua figura notável seja sempre lembrada e homenageada.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2015 - Página 331