Discurso durante a 170ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Responsabilização do Governo Federal pela atual crise pela qual passa o País; e outro assunto.

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Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Responsabilização do Governo Federal pela atual crise pela qual passa o País; e outro assunto.
HOMENAGEM:
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Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2015 - Página 201
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, INSTITUTO, DEMOCRACIA, LIBERDADE, LOCAL, ESTADO DO PARANA (PR), ASSUNTO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, RESPONSABILIDADE, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REGISTRO, RECEBIMENTO, ORADOR, TITULO, CIDADÃO, MUNICIPIO, ITABIRA (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Oposição/PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, se ficarmos sempre aqui, neste plenário, ouvindo alguns discursos e depois formos aos Estados do País, aos Municípios, para estabelecer o contraste entre o discurso que ouvimos e a realidade a que assistimos, indagaremos: que País é este? Qual é o país do discurso? Certamente, não é o país da realidade a que assistimos.

    Neste final de semana, tive a oportunidade de visitar dois Estados. Fui ao Paraná e a Minas Gerais.

    Em Minas Gerais, tive a honra de receber o título de cidadão honorário de Itabira, a cidade do poeta Carlos Drummond de Andrade. Aproveito para agradecer aos mineiros, especialmente aos residentes em Itabira, a acolhida cordial e a honra que me proporcionaram.

    Fui ao Paraná. No Paraná, participei de um debate no Instituto Democracia e Liberdade. Esse instituto está surgindo agora em razão do idealismo de alguns empresários paranaenses, que entendem o delicado momento vivido pelo País e que desejam oferecer uma inteligente contribuição do setor privado ao debate nacional, na busca de solução para os problemas aflitivos que sacodem esta Nação.

    Nesse debate, há indignação. O País está vivendo uma crise monumental, e é evidente, nós sabemos, que a causa não é a crise externa, como pretende o Governo agora asseverar.

    Houve uma crise em vários países que se safaram da crise com medidas competentes adotadas; outros ainda, evidentemente, procuram resolver os seus problemas internos.

    Mas nós sabemos que a crise brasileira tem origem no desgoverno e, sobretudo, num modelo alicerçado num grande balcão de negócios que se instalou em Brasília há 13 anos, para negociar apoio político, obviamente estabelecendo essa relação de promiscuidade imbatível e histórica, que deu origem ao mensalão, ao petrolão e certamente a tantos escândalos de corrupção, porque aqui em Brasília se instalou uma usina de escândalos e de governos incompetentes - eu digo governos incompetentes porque esse modelo consagrado aqui pelo PT foi clonado e transportado para outros Estados e Municípios, tornando-se suprapartidário.

    O que se vê hoje é insinceridade, encenação, mistificação, sobretudo quando se liga a TV no horário político. Partidos que estão no Governo, partidos que participaram do loteamento realizado em Brasília, partidos que tiveram sempre a boca grande, com muito apetite fisiológico, tentando arrancar o máximo possível do Poder Público brasileiro, esses partidos hoje chegam à televisão e fazem oposição, criticam o Governo. Mas, antes de criticar o Governo, não foram ao Planalto devolver os cargos que ocupam. Eu não faço referência a esse ou àquele. Quem está me ouvindo agora e tem assistido aos horários na televisão sabe do que estou falando. Não é um, nem dois.

    Há uma contradição. Isso faz me lembrar sempre - eu já repeti aqui inúmeras vezes - Janus, de duas faces. Esses partidos agem desta forma, esses políticos agem desta forma: duas faces, uma para abiscoitar vantagens junto ao Governo, e a outra, na esperança de ficar bem com a opinião pública, porque há uma insatisfação nacional em relação a este Governo. E eu fico, meu caro Presidente, me lembrando de que, nesses 13 anos, em determinados momentos, fazer oposição era um ato solitário. Nós tivemos, ao longo desses anos, a menor oposição da nossa história.

    Eu dizia aqui que a oposição ao governo Lula e ao Governo Dilma era uma oposição menor àquela existente na Venezuela ao governo Hugo Chávez, numericamente insignificante. Pois bem, hoje nós não sabemos mais quem é oposição; não sabemos, porque há uma geleia geral. No dia de hoje, o próprio PT critica o Governo, uma ala petista critica a política econômica do Governo, mas obviamente os dissidentes de hoje foram os louvadores de ontem, os apoiadores de ontem, os sustentáculos desta política econômica que levou o País ao fundo do poço.

    Naquele momento em que se falava em espetáculo do crescimento, nós dizíamos que o governo brasileiro estava desperdiçando oportunidades preciosas de crescer porque a economia internacionalmente vivia um tempo de céu de brigadeiro, bonança, não a tempestade de hoje, e o País desperdiçava oportunidades preciosas de crescimento. Tinha um crescimento pífio, chegou a crescer menos do que o Haiti. Imaginem crescer menos do que o Haiti! Um país lançado na amargura da violência, da pobreza, da miséria absoluta crescia proporcionalmente mais do que o Brasil em um tempo em que o País não poderia desperdiçar as oportunidades que tinha de crescer mais.

    Quantas vezes alertamos que o governo estava armando uma bomba-relógio de efeito retardado que inevitavelmente explodiria no colo do País a médio prazo. Agora dizem que a responsabilidade é da crise internacional. Mas que crise é esta? A crise é nossa! Era marolinha. Lembram-se? Brincavam, debochavam. Era marolinha.

    Mas, enfim, eu creio que esta tempestade devastadora que se abate sobre o Brasil nesta crise econômica sem precedentes para os mais antigos, comparável à crise pós-29 - recessão, essa contração brutal da economia, a inflação, o desemprego que atormenta -, faz com que as pessoas ainda fiquem mais indignadas, quando, em um cenário de infortúnio como este, assistem à Presidente da República dar continuidade ao loteamento, como se estivéssemos em início de Governo.

    Se alguém chega de fora do País, depois de muitos anos, e lê, nos jornais brasileiros, noticiários sobre a distribuição de Ministérios, fica com a impressão de que estamos iniciando o mandato da Presidente Dilma.

    Então, há o loteamento; depois, há uma renovação do loteamento e, depois, esse loteamento não satisfaz seus beneficiários, e a Presidente o renova. E, agora, distribui Ministérios para atender ao apetite fisiológico de alguns que aproveitam o desgaste político da Presidente, o seu enfraquecimento, para cobrar vantagens.

    Isso é uma afronta ao cidadão brasileiro, é ofensa demais! É uma vergonha para quem governa o País comportar-se dessa forma, mas é um castigo incomensurável para os brasileiros que pagam impostos e assistem ao dinheiro do imposto, que pagam com muito sacrifício, ser utilizado no desperdício de um Governo perdulário para atender o apetite fisiológico com estruturas que são instituídas, criadas, mantidas e sustentadas para agradar os apaniguados que apoiam o Governo.

    Ora, esse é um sistema deplorável! Esse sistema de governança faliu e levou o Governo à falência. É um Governo que, hoje, gasta a metade de seu orçamento para pagar juros e serviços da dívida. Portanto, este é um Governo falido! Se fosse uma empresa privada, já teria sua falência decretada. Mas essa falência é consequência deste modelo de promiscuidade que só interessa aos mensaleiros, aos sanguessugas, aos chupins da República.

    Esses são os beneficiados com esse modelo. Sobreviveram durante esses anos, alimentados por um modelo desonesto, que é a causa, sim. Essa, sim, é a causa. A causa não vem de fora. Essa é a causa, a causa da crise. Eu não tenho dúvida nenhuma. Tenho dito e vou repetir incansavelmente - é a opinião modesta de quem tem as suas limitações para interpretar o momento nacional, mas é uma opinião sincera -: se esse modelo não for definitivamente sepultado, não temos chance de recuperar a capacidade de crescer, e o Brasil não alcançará índices de crescimento econômico compatíveis com as suas potencialidades. Nós ficaremos amarrados ao atraso. Nós seremos o país do retrocesso. Nós caminharemos a passos de tartaruga na direção de um futuro que, lamentavelmente, será de frustração. Aliás, não é por outra razão que os brasileiros vão às ruas e exigem o impeachment da Presidente da República, a razão é esta: a paciência se esgotou. A população não quer esperar três anos. Não suporta este momento dramático de crise. Quer se ver livre dele o mais rapidamente possível. E por isso implora por impeachment da Presidente, é claro que, imaginando que o impeachment por si só resolverá todos os problemas do País. Mas nós temos que respeitar, nós temos que entender, nós temos que ser solidários diante desse clamor, porque, sem dúvida, nós não podemos ser avalistas deste caos.

    Ao final, Sr. Presidente, ao tempo em que cumprimento Edson Ramon, Presidente do Instituto Democracia e Liberdade, no Paraná, e todos os seus colegas que instalaram esse instituto como uma ferramenta política para o debate dos problemas nacionais, ao tempo em que os homenageio, homenageio também todos os brasileiros resistentes, que esperam mudar este País democraticamente. Esse é o nosso desejo.

    E aos mineiros que me honraram com essa homenagem, a homenagem quem deve fazer somos nós, já que os mineiros são subscritores de páginas fascinantes da história deste País, através de líderes fantásticos, que deixaram exemplos notáveis, como Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Itamar Franco, e tantos outros.

    As nossas homenagens aos mineiros, com o agradecimento pela honraria que recebi na cidade de Drummond de Andrade, Itabira.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2015 - Página 201