Discurso durante a 166ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre as expectativas não atendidas pela reforma política; e outro assunto.

Autor
Walter Pinheiro (PT - Partido dos Trabalhadores/BA)
Nome completo: Walter de Freitas Pinheiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Considerações sobre as expectativas não atendidas pela reforma política; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 24/09/2015 - Página 322
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • CRITICA, CONGRESSO NACIONAL, MOTIVO, ADIAMENTO, DISCUSSÃO, VOTAÇÃO, REFORMA POLITICA, DEFESA, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, ENFASE, ENCERRAMENTO, REELEIÇÃO, AJUSTE, ECONOMIA NACIONAL, OBJETIVO, RETOMADA, DESENVOLVIMENTO, PAIS.

            O SR. WALTER PINHEIRO (Bloco Apoio Governo/PT - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, meu companheiro Elmano, que, de forma muito carinhosa (Fora do microfone.), é chamado pelos piauienses de “O Veín Trabalhador”, é uma alegria muito grande vê-lo, neste encerramento dos trabalhos, na Presidência da Casa. Esta é uma oportunidade de poder falar sob a Presidência de V. Exª.

            Meu caro Senador Elmano, eu diria que vamos fechar um período, talvez, não com uma lacuna, mas com uma expectativa relativamente frustrada. Refiro-me à reforma política, que todos esperavam, que todos desejavam, para que pudéssemos colocar algumas questões, eu diria, não só na linha, mas até em sintonia com o que foi o desejo de milhões e milhões de brasileiros, desejo este expresso desde junho de 2013, quando diversas manifestações tomaram conta das ruas do nosso País. E refiro-me a pontos cruciais, meu caro Elmano, óbvio que tivemos uma vitória excepcional pelo fato de o Supremo Tribunal Federal ter decidido pelo fim do financiamento privado, matéria esta que já havíamos, inclusive, votado aqui e que o Supremo também já havia até iniciado essa jornada, suspensa por conta de um pedido de vistas, e, agora, eu diria, já consagrada e liquidada a fatura. Portanto, uma importante conquista.

            Não dá para dizer de todo que fomos derrotados nesse processo da reforma; esta é uma conquista importantíssima, democratiza o pleito, cria as condições para que todos e quaisquer cidadãos possam disputar um processo eleitoral, nivela e, ao mesmo tempo, cria um processo de ligação entre o eleitor e o seu candidato. Portanto, agora, a relação tenderá a ser cada vez mais próxima ou até, eu diria, mais sintonizada na construção do programa.

            Mas, quando me refiro às frustrações, meu caro Senador Elmano, todas as pessoas que nos assistem pelo Brasil afora, refiro-me, por exemplo, ao desejo que sei toma conta de muita gente no País: acabar com esse negócio de eleição a cada dois anos no Brasil. Isso é ruim para a gestão pública, isso cria um processo permanente de inoperância da esfera pública e, ao mesmo tempo, introduzem-se anomalias no processo eleitoral, ou melhor, no processo de gestão. Ainda bem nem tomou posse um determinado Prefeito e, imediatamente, se prepara para enfrentar uma eleição. E alguém pode dizer: mas não é eleição dele. Mas é uma eleição em que ele se envolve. É uma eleição, meu caro Elmano, com todas as condições corretamente impostas pelo Ministério Público, pela própria legislação que aprovamos.

            Portanto, isso também leva a uma paralisia. O mesmo para governador. Agora nós tivemos isso. Os governadores saíram de uma eleição de 2014, vão completar o seu primeiro ano, só que a efervescência do processo eleitoral de 2016 já se apresenta agora. O prazo de filiação é amanhã - amanhã, num esforço de linguagem aqui -, mas entre o final de setembro e início de outubro. Então, consequentemente, as disputas já estão dadas, os partidos estão se movimentando. Portanto, isso interfere no processo de gestão, e o ambiente vira um ambiente eleitoral e não um ambiente de eleição. Ainda bem não disputou eleição, a cabeça do governante já está em outra eleição, e, quando chega ao processo seguinte, dois anos depois, o governante começa agora a se preocupar com sua própria eleição.

            Na realidade, essa foi uma lacuna.

            Eu apresentei, meu caro Elmano, uma emenda à Constituição em que um dos pontos que eu toco é exatamente este: eleições gerais.

            Poder-se-ia, por exemplo, sugerir, para essa eleição de 2016, a ampliação dos mandatos. Já que não achamos correto prorrogar mandato, chegarmos aqui e baixarmos um decreto - os mandatos dos prefeitos e vereadores, agora, serão mandatos de seis anos -, nós poderíamos, por exemplo, apontar para a eleição de 2016 e dizer que os mandatos eleitos, portanto escolhidos pelo povo, serão exercidos em seis anos. Portanto com isso, projetando esse mandato de seis anos a partir das eleições de 2016, nós teríamos, na eleição de 2022, eleições coincidentes, ou seja, os que estão no cargo agora, que se elegeram nas eleições de 2014, poderiam tranquilamente concorrer à eleição ainda em 2018, mas, no processo de 2018 para 2022, já encontraríamos, já provocaríamos a reunião ou a junção entre todos os mandatos no Brasil, e, em 2022, faríamos, portanto, as eleições gerais no País.

            E, aí, nós aproveitaríamos, digamos assim, essa questão, para, em 2022, também, além do fim de eleições a cada dois anos, também poderíamos introduzir o fim da reeleição, preservando efetivamente os mandatos dos que se elegerão em 2018. Em 2022, teríamos já consagrado o fim da reeleição.

            Então, na realidade, esses pontos são os pontos importantes. Ontem, por exemplo, tivemos a notícia da criação ou da autorização pelo TSE para criação do Partido Rede, partido que tem diversas Lideranças no Brasil, dentre elas a nossa companheira Marina Silva.

            Portanto, alguém pode dizer: “Pinheiro, você está contra a criação de partidos em uma das suas propostas?”. Não, não estou contra a criação de partido. O que fazem os companheiros e companheiras da Rede, na realidade, é a criação de uma instituição que nasce da base, com diversos quadros, com inserção política no Brasil.

            A única exigência que tentei colocar na reforma política é a de que partidos podem ser criados. Estou dando o exemplo da Rede, que foi criado ontem, mas o importante é que esses partidos tenham a disposição de acabar com as comissões provisórias.

            Portanto, sei que não é da índole de Marina isso. Pelo contrário, Marina, além da sua postura correta, além de firmeza na política, Marina tem coerência. Então, não cabe, por exemplo, para Marina Silva avaliar que Marina criou um partido para chama de seu. Portanto, tenho plena convicção de que esse partido, ontem, já com autorização para o seu funcionamento, estabelecerá as condições para que o diretório do Piauí, meu caro Elmano, o diretório do próprio Acre, Estado natal de Marina, tenham autonomia, não fiquem dependendo da Ata.

            Uma das propostas que coloquei ou tentei viabilizar na reforma política é de que os partidos, para continuarem tendo acesso ao Fundo Partidário, ao tempo de televisão ou ao programa, utilizando o sistema de radiodifusão do nosso País, deveriam estar constituídos em 50% mais 1 dos Municípios brasileiros com diretórios e não comissões provisórias.

            O nosso Relator, aqui, até que brincamos muito com ele dizendo que é o relator geral da República, Romero Jucá, levou minha proposta, junto com o Jorge Viana, e disse: “Pinheiro, não vai passar 50% mais um”, aí apostou na possibilidade de 10% dos Municípios, e, aí, graduando isso, jogando um pouquinho para a frente, para crescer, nem isso passou. Que dizer, passou aqui no Senado e, portanto, foi derrubado do outro lado.

            Então, agora, o sujeito pode ir em praça pública, pega 400, 500 mil assinaturas para formar um partido, mas depois não quer, nas mesmas cidades onde ele coletou assinaturas para criar o partido, ter diretório. Interessante, o sujeito vai na sua querida Teresina, chega lá, pega assinatura em praça pública, cria um partido em nível nacional e depois diz: “Elmano, lá em Teresina vou comandar o diretório a partir daqui”, com comissão provisória, ou com uma expressão que uso muito, que diz assim “quem manda é a ata”. O Cara bota a ata embaixo do braço e diz: “Aí é um partido para chamar de meu.” Não é um partido efetivamente constituído.

            Essa é uma outra lacuna. Eu diria que essa é uma derrota que nós sofremos. Não estou querendo tirar partido nenhum, nem proibir que se constituam partidos. Quem tem que decidir isso é o eleitor, e não a gente aqui com nenhum tipo de manobra. Mas, quando o eleitor decide, por exemplo, meu caro Elmano, que um partido não deve continuar existindo, e aí não lhe dá voto, não elege ninguém, então os partidos continuam tendo dinheiro do recurso do fundo partidário e tempo de televisão.

            Mas o eleitor foi lá e disse que esse partido ele não queria, tanto é que não votou. No entanto, os partidos continuam existindo nacionalmente, e, dessa forma, nós vamos trabalhando com essa enxurrada de partidos. Esse é um ponto que eu diria problemático e seria importante que pudéssemos vencer essa etapa.

            Então, na realidade, a expectativa minha na reforma política foi um pouco frustrada. Confesso isso. E ainda aqui assistimos muito a uma pressão para que aprovássemos a janela, a possibilidade de migração. Eu até sou favorável, Senador Elmano, sou favorável. Também não acho que temos que botar camisa de força em ninguém.

            Então se permitir um período em que, principalmente no final de um mandato, se um Parlamentar quer, por discordância programática, só não pode permitir é que todo dia o sujeito saia de um partido para o outro -, aí talvez essa regra tão dura impõe essa necessidade de todo dia alguém estar criando um partido, porque aí o sujeito pode entrar num partido: “Partido novo pode!”. Aí vai todo mundo correndo atrás de assinatura para criar um partido, como diz a velha música, “para chamar de meu”.

            Era melhor termos aprovado a janela e ter criado essas condições para o funcionamento efetivo de uma estrutura partidária condizente. Até porque não dá para você ficar botando camisa de força. Quando um partido muda de programa, por exemplo, o cidadão é obrigado a ficar no partido o tempo inteiro quando o partido anuncia um programa e depois passa a adotar outro.

            Portanto, esse é um prejuízo, assim como um outro aspecto para o qual quero chamar a atenção, que são as coligações proporcionais: juntamos todo mundo num “chapão”, como é chamado no processo eleitoral, e aí todo mundo se candidata a Deputado ali, numa alegria, numa chapa única. Depois, chega aqui no Congresso Nacional, a mesma chapa que foi eleita lá junta e aqui trabalha literalmente separada.

            Eu não estou falando da fidelidade a governo, eu estou falando da fidelidade a programa, ao que é votado, como é que se comportam os Parlamentares de uma chapa que anunciou na campanha que seguiria certo nível de atuação, a partir do programa que foi gestado nessa campanha. Aí, quando chega aqui dentro, diz: “Não, não, não, não. Agora é cada um no seu, cada um na sua, e a amizade continua.” Ora, cara pálida, então por que se juntaram na campanha? “Ah, não, é porque juntando na campanha, a gente aproveita a questão dos votos de legenda, a gente faz a junção”. Então, na realidade, a junção não é programática! Ela é uma junção para conquistar os lugares!

            Era importante que tivéssemos isso. Cada partido se apresenta na proporção com a sua fisionomia, com o seu programa. Então, isso era importante. Aí cada partido diz: “Olha, estou apresentando uma chapa de Deputados aqui, com esse, esse e esse programa.” Então juntamos diferentes na campanha, dizendo ao povo que é tudo igual, e depois vem aqui para dentro e cada um começa a usar das diferenças que, efetivamente, marcam os partidos, por isso, porque se os partidos são diferentes. Portanto, começamos a dizer de forma diferente aquilo que foi dito aparentemente igual na campanha eleitoral.

            Então, essa é outra lacuna que a reforma política deixa.

            Mas até o dia 02 de outubro vamos ter uma severa mobilização de gente que se filia aqui, que se filia acolá, movimentação, isso para a campanha, nas questões que envolvem as disputas.

            É óbvio que eu também tenho as minhas mobilizações. Eu tomei uma decisão, meu caro Elmano, de contribuir na campanha de 2016 não com a minha participação direta. Eu quero ajudar os companheiros em cada cidade. Vamos discutir programa. Mas eu, efetivamente, não quero ter a oportunidade de disputar a eleição. Se tivesse que disputar, efetivamente seria na cidade com a qual tenho o meu vínculo - não o vínculo eleitoral, mas a minha vinculação -, que é a minha querida Salvador.

            Sou soteropolitano, nascido no subúrbio ferroviário de Salvador, mas creio que posso dar uma contribuição importante, em 2016, para a minha querida Salvador, assim como para os outros 416 Municípios - portanto, com Salvador, compondo os 417 Municípios da Bahia. Então, há uma decisão firmada de não disputar essa eleição e também de discutir de forma muito ampla qual a nossa tarefa daqui para frente.

            Tenho dito a todo mundo que, na reforma política, por exemplo, eu enxergava um mecanismo para até buscarmos resolver diversas questões, como o drama que vivemos hoje aqui no Congresso, meu caro Elmano. É quando se fala de Base, que não sei o quê, de apoio, como vamos sair?

            No último período, tenho focado muito nessa expectativa de contribuir para sairmos dessa crise em que nos encontramos. Tenho insistido, de forma veemente até, que tenho obrigação de fazer isso - tenho obrigação! Até muita gente faz confusão. Toda vez que faço uma crítica ao Governo, as pessoas: “Não, é que ele está para sair do PT, sair da Base, vai não sei o quê.” Eu não estou discutindo sair da Base coisa nenhuma, até porque tenho a obrigação de buscar ajudar na gestão, porque fui para a rua fazer campanha. Portanto, tenho um compromisso com o povo do meu Estado e, diria, até do País. Então, encontrar alternativa.

            Então, eu tenho me posicionado quando algumas propostas são apresentadas,...

(Soa a campainha.)

            O SR. WALTER PINHEIRO (Bloco Apoio Governo/PT - BA) - ... eu tento apresentar a minha visão, tento dizer por que é que discordo. Em nenhuma delas eu disse “não” pelo “não”. Em todas elas, eu tenho apresentado, óbvio que sob a minha visão, qual é o caminho que eu gostaria que fosse adotado para este momento de crise que nós temos aí, no Governo, na economia. Portanto, eu tenho obrigação de ajudar como Senador.

            O meu foco é esse. Esse é o foco desse período. Portanto, minha cabeça não está na eleição de 2016, muito menos na eleição de 2018. O que vai acontecer daqui para 2018 ainda tem um tempo para refletir, eu diria, muito. 

            Mas todo mundo sabe, inclusive, até já de um certo nível de decepção que temos por esses pontos que eu citei aqui agora. Eu gostaria muito de poder voltar a disputar uma eleição em condições, eu diria, de regras e condições eleitorais completamente diferentes das que nós disputamos em 2010.

            Portanto, isso é um elemento até, eu diria, desanimador para qualquer um de nós no processo eleitoral. Mas, entre o desânimo dessa frustração de expectativa e o ânimo para contribuir com alternativas e com saída, eu fico com o ânimo porque o povo da Bahia me elegeu e me elegeu com essa tarefa. Então, não cabe a nós aqui ficarmos com análise das questões de caráter pessoal, muito menos ficarmos olhando para o umbigo, preocupados com o que eu vou fazer em 2016 e em 2018.

            A preocupação é o que está acontecendo do ponto de vista da geração de postos de trabalho, o que está acontecendo em cada rua, em cada cidade, em cada Estado deste País, como é que vamos conseguir apresentar uma proposta que retome a atividade produtiva, que criemos as condições para este Brasil voltar a crescer.

            Então, esse é o ânimo, esse é o desafio. Aprovar aqui na Casa... Por isso que eu tenho batido muito nessa questão da reforma do ICMS. Eu estou em uma linha e continuo insistindo nessa linha de que é muito melhor reduzirmos a carga tributária do que aumentar. 

            Eu posso até reconhecer o esforço, como diz lá o Ministro Joaquim Levy, do seu ajuste.

            Mas eu ainda prefiro a expectativa de que a gente possa começar a pensar neste País num pós-ajuste, respostas para o crescimento, para a gente não ficar tirando o oxigênio de quem ainda está de pé; que a gente tenha a capacidade de alimentar esses que ainda estão de pé e prover o oxigênio e as condições para que aqueles que estão cambaleando ou para que aqueles que estão fora possam voltar a produzir, a se soerguerem, para que este País tenha a capacidade de voltar a produzir. Então, eu tenho a obrigação de fazer isso. Seria até cômodo chegar e anunciar que estou agora fazendo oposição ao Governo Dilma, mas o sujeito na rua ia dizer: ô Pinheiro, você esteve aqui para fazer campanha.

            Então, você tem obrigação de fazer funcionar isso também; você é parte disso. Posso até não ser parte nas decisões que vêm de lá para cá, até porque nem consultados nós somos. Não estou querendo aqui que ninguém me consulte não, mas, como Senador, tenho obrigação de dar a minha contribuição, a partir daqui do Senado, como tenho feito de forma cotidiana na nossa Comissão do Pacto Federativo, com propostas, com emendas à Constituição. Tenho insistido enormemente que é fundamental retomar o incentivo e a produção na ponta.

            Os Estados estão padecendo, meu caro Elmano, a receita cai. Os Estados não estão tendo capacidade de fazer investimento. A atração de investimento é cada vez mais difícil. Como encontrar uma fórmula? Eu não sou dono da verdade e nem tenho uma fórmula pronta e acabada, mas é preciso também que o Governo e o meu Governo do outro lado da rua compreenda que, aqui, há 81 Senadores, mesmo os da oposição. Esta Casa tem condições de ajudar.

            É importante que a gente faça esse diálogo com Senadores, que a gente faça o diálogo com governadores, com prefeitos e, principalmente, com o povo, para tentar juntar as partes, auscultar. Auscultar é muito mais que escutar. Auscultar é examinar, é tentar ouvir de dentro, é tentar buscar do mais profundo.

            O Governo não pode ser capa de chuva, meu caro Elmano. Sabe como é capa de chuva? Bate e escorre. É impermeável. Toda vez que você fala, algumas pessoas do Governo... Aliás, há uma expressão que minha sogra usava muito. Ela dizia assim: alfinete de cuspe. Sabe? Melindroso. Toda vez que você faz uma crítica ao Governo ou apresenta uma proposta, o Governo se sente ferido, tocado.

            Mas a crítica aqui é a crítica de quem quer acertar, de quem quer contribuir, de quem quer ajudar. Esse é o aspecto.

            Já imaginou, Senador Elmano? Nós vimos para cá toda semana para quê? Para ficar aqui igual á vaca de presépio, balançando a cabeça? Ou para ficar igual àqueles bonecos infláveis de casa de autopeça, que o sujeito pega um ventilador e bota embaixo? Tome-lhe vento, e o bonequinho fica balançando os braços. Levanta o braço!

            Não há nenhum problema de acompanharmos a proposta de governo, mas também não há nenhum problema de não acompanharmos a proposta de governo, inclusive apresentando soluções.

            Eu ouvi aqui agora a minha companheira Fátima falar de um setor importante. Nós estamos aí com greve nas universidades, no INSS. Sei que é difícil o momento, mas é necessário também que se olhe para essas áreas, num processo de negociação.

            Enfrentamos ontem essa batalha da questão do veto em relação ao reajuste dos servidores do Judiciário. Até fomos derrotados na questão do fator. Hoje se aprovou a medida provisória, vamos ver como é que anda. Mas também tentar classificar essas coisas todas como coisas absurdas! Tudo isso virou “pauta-bomba” da noite para o dia, a suspensão dos concursos. Então, de uma hora para outra, tum! Aí é a velha história do disco arranhado - no mesmo lugar.

            Quer dizer, a mente criativa só aponta para um caminho. Então, é sempre no mesmo canto que eu tenho que tirar. É o abono permanência, é a suspensão de reajuste salarial, é a retirada de benefícios - a 664 e a 665, as duas medidas provisórias, foram isso -, é ali no fator. Está bom, é contribuir! É a introdução da idade mínima para o sujeito se aposentar. A Previdência está quebrada, está isso, está aquilo. Está bom, estamos tirando, tirando, tirando e botando o que no lugar?

            Será que também não é possível olhar, para dizer que tem que botar também na atividade econômica, tem que reestimular, tem que voltar a crescer? Porque tem uma hora em que você vai tirar, tirar, tirar, tirar, e a fonte vai secar.

            É com essa coisa que aqui, no Senado, nós estamos tentando contribuir o tempo inteiro. É o que estamos chamando de pós-ajuste. E aí, de vez em quando, somos classificados: “Ah, vocês estão batendo demais no Governo.”

            Eu não estou batendo em governo, não estou em luta de boxe. Nem com o Governo eu estou lutando. Nós estamos tentando lutar aqui para encontrar uma saída para o Brasil. E o Governo precisa também se permitir querer ser ajudado. Esta é uma coisa fundamental, o Governo precisa se permitir isso. O Governo precisa tirar a capa de chuva.

            Nem aqui há sabidos demais, quer dizer, os detentores da verdade, nem do outro lado da rua. Só aqueles e somente aqueles têm as condições para encontrarem uma saída. É esse o nosso papel, Senador.

            Então, fazemos uma crítica em relação a essa condução, porque é importante o funcionamento de uma máquina pública como universidade, atendimento à Previdência, os servidores do Judiciário, os servidores da Receita, os servidores da nossa Polícia Federal, do Ministério da Agricultura, enfim, esse servidor público que presta o serviço na ponta. Isso é fundamental para a estrutura de Estado atender o cidadão. Agora, não dá para atender precarizando completamente o trabalho e, de certa forma, pagando salários, eu diria, completamente ruins.

(Soa a campainha.)

            O SR. WALTER PINHEIRO (Bloco Apoio Governo/PT - BA) - Ontem, eu conversava com algumas pessoas da estrutura, engenheiros do setor elétrico , do setor da comunicação e técnicos, que me diziam: “Pinheiro, com esse salário é muito difícil que continuemos na estrutura pública. Vamos embora para a iniciativa privada, não tem como trabalhar aqui, ganhando salário desse tipo.”

            Então, queremos discutir com o Governo, queremos colaborar. Agora, não dá é para ficar o tempo inteiro dizendo “sim, senhor; senhor, sim”, quando também estamos vendo que o remédio que está sendo baixado não é um remédio tão bom assim.

            De dezembro para cá, meu caro Elmano, a palavra foi só “ajuste”. Tome-lhe buraco no cinto! Aperta o cinto! Aí é que fazemos a pergunta: e cadê o piloto dessa aeronave? Vamos lá sentar, dialogar.

            Volto a dizer: nós temos compromisso, mas queremos também ser parte. Fizemos isso aqui, com o Pacto, agora com a Pauta Brasil, tentando contribuir. Continuo insistindo nessa questão da reforma. Eu disse ao Presidente Renan: nós não podemos atravessar esse ano de 2015 sem o Senado aprovar aqui a reforma do ICMS.

            Vai ser uma derrota isso, vai ser uma derrota brutal. Na minha opinião uma grande derrota do Senado na contribuição, e, pior ainda, derrota para os Estados, porque essa história de dizer que os Estados vão voltar à guerra fiscal... Que Estados vão voltar à guerra fiscal?

O Rio Grande do Sul tem condições de dar incentivo a alguém para ir para lá hoje? O Rio Grande do Sul acabou de aprovar mudança no ICMS lá. Está pensando que dá para fazer a mesma coisa que fez ontem? A Bahia vai poder fazer a mesma coisa que fez no início dos anos 2000, final dos anos 90, início dos anos 2000? Não vai, a realidade é outra. Estive com o governador, que me disse: “Pinheiro, está difícil”. O governador está indo aqui e ali, vai fazer uma longa viagem em outubro, para atrair investimentos. E olha que a Bahia conseguiu fazer o seu dever de casa, mas a estrutura tem que começar daqui.

            Quero encerrar, meu caro Elmano, dizendo que minha expectativa na reforma política é que poderíamos ganhar efetivamente uma condição, para termos um funcionamento das Casas, onde o debate fosse mais importante que a ocupação de espaços. O que cabe para mim? O que cabe para o meu Partido? O debate dos partidos e a contribuição dos Parlamentares aqui para a economia, para o País, para a população, esse é o debate que é importante travarmos. Continuo convencido de que fui eleito para isso e não para resolver onde vou ficar, o que vai ter aqui para mim depois daqui, dali e de acolá. A população não elegeu os Senadores para virem para cá tentar resolver o seu problema, mas para que pudessem contribuir para a solução, digamos assim, de problemas do Brasil.

            Era isso, meu caro Senador Elmano. Espero que consigamos fazer isso.

            Hoje, conversei com o Senador Renan, que está com disposição de novamente convocar o Congresso Nacional, para continuarmos apreciando os seis itens da pauta de ontem. Alguns falam em o Congresso ser chamado ainda na terça-feira. Outros propõem que seja chamado na terceira terça-feira de outubro, que, portanto, cairá o dia 20 de outubro. Acho que é importante mesurarmos direitinho. Acabei de falar com o Líder do Governo aqui na Casa, Senador Delcídio, para ponderar. Continuo ainda na tentativa de diálogo com o Judiciário para resolvermos essa pendência. Vamos precisar de um entendimento. Acredito que até amanhã, pela manhã. O Senado, principalmente o Presidente Renan, até me disse, de forma muito correta, que não quer tomar a decisão sozinho, que quer consultar os diversos Líderes e os Parlamentares da Casa, para ver qual o melhor momento. O melhor momento não pode ser a tática de postergar nem tampouco de ganhar no tempo para ver se vamos derrotar A ou B.

            Eu acho que o melhor momento tem que ser o momento que se ajuste, para tentarmos resolver as coisas. Era importante que no dia de amanhã tivéssemos uma definição, meu caro Elmano, se chamaremos o Congresso para terça-feira ou se o Congresso será chamado somente na data prevista, que seria a terceira terça-feira de outubro.

            Portanto, agora, é hora de a gente imaginar isso. Quais os passos que daremos nesta Casa para buscar saídas e alternativas para a crise que se apresenta no Brasil? A nossa tarefa, volto a dizer e tenho dito sempre, não é salvar a pele de A ou B; nós precisamos salvar é o Brasil.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/09/2015 - Página 322