Discurso durante a 188ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa de um Programa de Estado de apoio à agropecuária e ao enfrentamento da crise hídrica do Semiárido nordestino.

Autor
Benedito de Lira (PP - Progressistas/AL)
Nome completo: Benedito de Lira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
  • Defesa de um Programa de Estado de apoio à agropecuária e ao enfrentamento da crise hídrica do Semiárido nordestino.
Aparteantes
Raimundo Lira.
Publicação
Publicação no DSF de 23/10/2015 - Página 158
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, FEIRA AGROPECUARIA, LOCAL, ESTADO DE ALAGOAS (AL), ENFASE, PRODUÇÃO, LEITE, DEFESA, NECESSIDADE, CRIAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, ASSUNTO, INCENTIVO FISCAL, PEQUENO PRODUTOR RURAL, AGRICULTURA FAMILIAR, APREENSÃO, RELAÇÃO, SECA, REGIÃO NORDESTE, SITUAÇÃO, DESTRUIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, AUSENCIA, AGUA POTAVEL, FORNECIMENTO, POPULAÇÃO.

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta Casa tem, ao longo desses últimos meses, tratado dos mais diversos assuntos, políticos principalmente. Tem tratando do ajuste fiscal e tem tratado das divergências de caráter político.

    O País não pode viver em função destas teses: oposição/Governo, Governo/oposição. Esta Casa tem de desviar essa conduta para tratar aqui de assuntos pertinentes mais sérios para atender à sociedade brasileira, principalmente a sociedade que produz, mas que, infelizmente, o resultado do seu trabalho não está dando sequer para viver com dignidade.

    Eu sou de uma região sacrificada ao longo da história deste País, o Nordeste brasileiro, onde está encravado o Semiárido, também do Brasil. Essa tem sido uma região castigada não apenas pela natureza, mas sobretudo pela ineficiência dos governos com relação à qualidade de vida daquelas pessoas. Não é apenas investimento no Bolsa Família que vai resolver a situação e a vida dos nordestinos, principalmente, repito, daqueles que vivem no Semiárido brasileiro.

    Pois bem, Sr. Presidente, amanhã, dia 23, no meu Estado se instalará mais uma feira agropecuária, a 65ª. São 65 anos de muita luta, são 65 anos em que os produtores rurais, quer na pecuária leiteira, quer na pecuária de corte, têm feito um esforço muito grande para tentar sobreviver, porque, infelizmente, os programas hoje vigentes dão com uma mão e tiram com a outra.

    Eu sempre disse e vou continuar dizendo: a agricultura e a pecuária leiteira com especialidade, que é a pecuária do pequeno produtor, daquele que é hoje agricultor familiar, não deveriam ter majoração de juros. Nós deveríamos ter um programa de atenção básica a fim de incentivar o pequeno produtor a produzir mais para viver melhor.

    Pois bem, Sr. Presidente, refiro-me, especialmente, na tarde de hoje, à produção de leite no Semiárido brasileiro e, particularmente, de Alagoas.

    Na exposição agropecuária que se inicia amanhã, aqueles pequenos produtores de leite e da pecuária de corte farão a exposição de seus animais.

    Num determinado momento, lá no Sertão de Alagoas, Sr. Presidente, um pequeno produtor, um produtor da agricultura familiar, estava muito orgulhoso - e com razão -, porque se dedicou à produção de leite, e uma de suas vacas leiteiras teve uma produção recorde, acima de 45kg, 48kg de leite/dia. Realmente, para um agricultor familiar, isso é da maior importância. Esse fato ocorreu graças à sua vontade, ao seu esforço, à sua determinação, porque a região não lhe proporciona oportunidade para que ele possa ter o rebanho melhorado, com qualidade genética e, ao mesmo tempo, sem dificuldades de alimentação para os animais.

    Não resta dúvida, Sr. Presidente, de que o leite é importantíssimo para a nutrição humana, e, com toda a certeza, a produção de leite tem um grande valor para a economia brasileira e, particularmente, para a economia do Nordeste.

    A pecuária leiteira é uma atividade relevante para a geração de emprego e renda, contribuindo, de forma decisiva, para o combate à extrema pobreza por ser uma das poucas atividades econômicas sustentáveis, até mesmo nas condições climáticas mais adversas. Na Região Nordeste, foram produzidos quase 4 bilhões de litros de leite, lá atrás, em 2010. Apenas no Estado de Alagoas, foram produzidos mais de 230 milhões de litros de leite no mesmo período, gerando receita de quase R$150 milhões. São cerca de 20 mil propriedades rurais que produzem leite em Alagoas, a maioria delas administradas por agricultores familiares.

    A produção por propriedade alagoana, Sr. Presidente, por dia, foi de apenas 34 litros em 2006, contra 87 litros verificados em cada propriedade da Região Sudeste. A média nacional é de 52 litros por propriedade por dia.

    Em termos de produtividade por animal, o Brasil tem enormes contrastes. Entre as regiões geográficas, a maior produtividade é encontrada na Região Sul, onde a produção foi de 2.388kg/vaca/ano, quantidade bem superior à Região Sudeste, segunda colocada, que apresentou produtividade de 1.410kg/vaca/ano. Na Região Centro-Oeste, a produção por vaca/ano foi da ordem de 1.220kg, enquanto na Região Nordeste a produção anual por vaca foi de apenas 811kg. A menor produtividade do rebanho está na Região Norte, onde a produção por vaca/ano é de baixíssimos 673kg.

    De modo geral, a produtividade média do rebanho no País ainda é muito baixa, evidenciando a pouca evolução tecnológica nas propriedades leiteiras.

    Alagoas, no entanto, tem do que se orgulhar. Não faz muito tempo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores - e meu caro Senador Raimundo Lira, que também é de uma região onde se pratica a atividade leiteira, que é o glorioso Estado da Paraíba -, não ultimamente, pois temos passado por algumas dificuldades enormes, nós já fomos a maior e a mais organizada bacia leiteira do Nordeste. Em se tratando da Região Nordeste, nosso Estado ocupa a primeira colocação em produção por vaca/ano, na média de 1.549kg. Pernambuco aparece na segunda posição, com produção de 1.523kg de leite/vaca ordenhada/ano.

    Apesar de nos orgulharmos desse dado, não estamos satisfeitos com ele, pois há muito que podemos fazer para melhorar a produtividade de leite em nosso Estado.

    O desenvolvimento da produção de leite é importantíssimo para o progresso e a evolução da qualidade de vida da população no Semiárido alagoano, sobretudo para os pequenos e médios produtores rurais daquela região. É preciso melhorar, entretanto, o valor baixíssimo que é pago ao produtor rural, Senador Lira.

    Raimundo, não é admissível, a essa altura do tempo, que um produtor rural ou um produtor de leite do Semiárido receba, em média, cerca de R$0,90 por um litro de leite produzido. Os custos para a produção desse leite, eu acredito que o custo para produzir é superior à produção. Eu me lembro muito bem que, em um passado não muito distante, eu comecei produzindo leite na propriedade que eu tinha no Semiárido. Anos depois, eu tive que encerrar a atividade porque, àquela época, eu gastava R$0,35 para produzir um litro de leite, que era vendido por R$0,25.

    Como é que pode uma coisa dessas hoje? O produtor rural, o produtor de leite, o homem do campo recebe apenas R$0,90 para vender um litro de leite da sua produção.

    Tenho muito prazer em conceder um aparte a V. Exª.

    O Sr. Raimundo Lira (PMDB - PB) - Senador Benedito de Lira, V. Exª é um grande defensor, não só da Região Nordeste, mas, sobretudo, do seu querido Estado de Alagoas. V. Exª faz parte, hoje, conosco, da Comissão Temporária para Acompanhamento das Obras da Transposição e Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, e V. Exª defende o Rio São Francisco com amor, V. Exª sofre no seu próprio coração o sofrimento do Velho Chico. V. Exª tem descrito aqui, com muita propriedade, como era o Rio São Francisco e como hoje estão as condições precárias do Rio São Francisco. Portanto, nós defendemos juntos, não só a transposição, mas, sobretudo, a revitalização do Rio São Francisco. Eu até apresentei um projeto para que as empresas que geram energia usando a água do São Francisco, sobretudo a Chesf, paguem um percentual do seu faturamento para que a revitalização seja permanente, como é permanente, há mais de cem anos, a revitalização do Mississippi, nos Estados Unidos. A revitalização do Mississippi funciona de segunda a segunda. Não tem feriado, não tem dia santo. Todos os dias são para a revitalização do Rio Mississippi. É o que precisamos fazer no Rio São Francisco porque, senão, daqui a 20, 25 anos, todo esse esforço humano e financeiro para a transposição do Rio São Francisco será inócuo, porque o rio não vai fornecer água para transposição. V. Exª é um grande defensor dessa tese da revitalização. Sem dúvida, não teremos nada no futuro além de boas notícias. Dentro do assunto que V. Exª está falando agora há uma coisa exótica. No Brasil, uma garrafinha de 300ml de água mineral - que está em abundância na natureza pelo Brasil afora - é mais cara do que um litro de leite, cuja produção exige esforço humano, o uso intensivo de mão de obra e de capital. Custa mais do que um litro de leite, que é o alimento mais completo do mundo, principalmente para as crianças. Um litro de leite é mais barato do que uma garrafinha de 300ml de água mineral. Portanto, Senador Benedito de Lira, temos muitas contradições em nosso País. Essa questão, essa defesa de V. Exª da produção do leite, sobretudo pela remuneração correta, justa a esse trabalho de homens e mulheres, de famílias inteiras dedicadas a produzir leite, com muito sacrifício... Deixam de viver no conforto das grandes cidades e de aumentar as levas de desempregados das grandes cidades, ficam no campo produzindo com sacrifício, com esforço. Os incentivos para essa atividade ora vão, ora ficam e não dão estabilidade a esses produtores, a esses trabalhadores, a essas famílias patrióticas e trabalhadoras que tanto amam o Brasil e que tanto amam o seu trabalho.

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL) - Muito obrigado a V. Exª, Senador Raimundo Lira, e eu queria, apenas para complementar o seu aparte, dizer o seguinte, Wellington, uma garrafinha de água mineral custa quase três vezes mais, ou até quatro vezes mais, que um litro de leite. Um cafezinho pequeno, uma xícara de café pequeno, do tamanho dessa que eu tomei agora, neste instante, você paga por aí afora R$3,00, R$4,00, R$5,00.

    Como é que você pode conviver com esse tipo de comportamento, esse tipo de atitude com que nós, infelizmente, convivemos no País?

    O Governo terá que ter o compromisso, não o compromisso de dar, mas o compromisso de proporcionar oportunidades para esse homem que produz, porque a produção dele não é apenas para que ele possa sobreviver, mas a produção dele ajuda a manter a saúde, como disse o Senador Raimundo Lira, da criançada do mundo inteiro.

    Pois bem, o Rio São Francisco - como bem disse V. Exª, nós fazemos parte de uma comissão - foi degradado ao tempo de toda a história do Brasil. As barragens foram construídas sem nenhum compromisso - sem nenhum compromisso em nenhuma delas - em cuidar do rio. O Rio São Francisco hoje faz pena!

    Eu acho que V. Exª foi muito otimista em dizer que, nestes próximos 20 ou 25 anos, se nós não cuidarmos do rio, ele morrerá. O rio já está na UTI, Senador Wellington Fagundes! O Rio São Francisco, eu me lembro muito bem quando eu era mais jovem e chegava a uma cidade muito conhecida no Brasil, que era centro turístico, a cidade de Piranhas, que é tombada pelo patrimônio nacional. Pois bem, o senhor não atravessava de jangada nem de lancha porque a correnteza do rio podia levar a embarcação. Hoje nós atravessamos de Alagoas para Sergipe a pé. É uma coisa tenebrosa.

    Pois bem, o que é que deveríamos fazer aqui? Ao invés de estarmos aqui em muitas e muitas tardes, três, quatro, cinco horas, debatendo aquilo que não chega a lugar nenhum, quem é mais ou quem é menos, quem fez ou quem deixou de fazer, quem ganhou ou quem perdeu a eleição...

    Aqui eu disse, recentemente, Senador Raimundo, que esta Casa já foi palco dos grandes debates nacionais e que hoje, infelizmente, os assuntos mais importantes para a sobrevivência e para desenvolver a economia do País não têm importância.

    Pois eu dizia, há poucos instantes, veja que absurdo, que contradição, se pagar R$0,90...

(Soa a campainha.)

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL) - Senador Wellington, eu peço paciência a V. Exª, porque o assunto, eu acho interessante e eu confesso a V. Exª que eu me emociono quando trato desse assunto, porque eu já fui do campo, já tive roça, já tentei produzir leite, já vivi da agricultura, hoje pratico a pecuária e a agricultura, porque eu gosto do setor.

    Pois bem, agora, onde estão, por exemplo, os programas do Governo? Vou fazer um apelo aqui à Ministra Kátia Abreu, que tem uma cabeça diferente, que ela possa colocar em prática, exatamente, essa ação efetiva, no sentido de abrir um espaço, mas não um espaço de favor, e sim um espaço de vigor, para que o produtor de leite do Semiárido possa viver com dignidade, Senador Wellington Fagundes. Que ele possa trabalhar, porque ele começa a trabalhar às 4 horas da madrugada. Ele trabalha o dia inteiro. No Semiárido, ele anda catando, com o seu rebanhozinho, pelas propriedades e pelas estradas, cortando capim para alimentar os animais.

    Veja a contradição. O Rio São Francisco banha o Estado de Alagoas todo, estamos fazendo uma obra gigantesca, o Governo Federal com o Governo do Estado, o conhecido Canal do Sertão, que corta o sertão alagoano todo, 240km, para levar água para o Semiárido. Nós já temos mais de 100km prontos, a água passando pelo canal. Agora, sinceramente, Senador Wellington Fagundes, a água não tem serventia ainda, porque a 300m, de um lado e do outro do canal, o sertanejo não tem água potável para beber. Dois, três quilômetros povoados, ele não tem água para beber, bebe água de carro-pipa, porque os Governos Federal e Estadual não se preocuparam paralelamente, ao construir o Canal do Sertão, em que já gastamos quase R$2 bilhões.

    Esqueceram de fazer as pequenas adutoras de alcance de 2km ou 3km, com cano de 25cm ou 30cm, para poder levar água para aquele homem, para aquela mulher, para aquela criança que está no Semiárido bebendo água de barreiro. Isso é inacreditável, inadmissível, mas é isso que nós vivemos no Brasil.

    Por essa razão, eu estou fazendo aqui um apelo ao Governo, através do Ministério da Agricultura, para incentivar o pequeno produtor e o produtor da agricultura familiar, e, ao mesmo tempo, do Ministério da Ação Social e de Combate à Fome, para que possa fazer um projeto, um programa de governo capaz de remunerar quem trabalha, o homem que vive no Semiárido, que tem duas, três, quatro, cinco vaquinhas, que hoje está perdendo, porque a seca é braba. E ao lado do Canal do Sertão.

    À época do governo passado, eu sugeri a ele que fizesse uma composição com os proprietários daquelas terras áridas e plantasse capim, plantasse forrageira para atender àqueles que produzem, àqueles que criam. Vejam o clamor de um homem, de um agricultor, que tem 15 ou 20 vacas, Senador Wellington Fagundes. Nessa época, quando ele vai ao campo, o animal está prostrado, morrendo. Ele olha para o outro lado, estão as ossadas, e ele não tem o que fazer, porque infelizmente o meu País, até hoje, não se preocupou em cuidar da convivência com a seca. Ninguém acaba com a seca, é verdade, porque é um fenômeno da natureza, mas o cara convive com ela, promove os meios.

    Infelizmente nós fomos enganados desde a época de Dom Pedro II, quando, numa das suas farras, andando por este País, numa bravata, ele disse o seguinte: "Venderei a última joia da coroa para resolver o problema da água no Semiárido". Foi embora, já não existe mais, é história, e nós continuamos morrendo de sede e com os animais se acabando.

    Por isso, eu queria pedir aqui à Ministra Kátia Abreu que olhasse para esse setor, ela que é da área, não só como Ministra da Agricultura, mas como Presidente Nacional da Confederação Nacional da Agricultura, que não deve cuidar apenas do agronegócio, das grandes e megapropriedades, mas também deve cuidar do pequeno agricultor, deve cuidar daquele que tem dez vaquinhas para tirar leite para sobreviver, numa fazenda ou sítio que produz 30, 40, 50 litros de leite por dia, mas que é a sua sobrevivência.

    Mas, infelizmente, como pode sobreviver um homem desses, uma família recebendo R$0,90 por um litro de leite?! Vá comprar uma garrafa de cachaça para saber quanto custa! A cachaça só faz mal e só traz consequências para a família, mas custa 20 vezes, 30 vezes ou até 40 vezes o valor de um litro de leite.

    Pois bem, Sr. Presidente, eu desejaria, nesta tarde, que pudéssemos aqui, no Senado da República, diminuir os embates das discussões estéreis que não chegam a lugar algum e tratar dos temas para atender a sociedade brasileira, para cuidar disso que acabamos de falar agora, e não apenas dizer "vamos revitalizar o Rio São Francisco" de boca, "vamos revitalizar o Rio São Francisco" com palavras.

    Sei do esforço de V. Exª presidindo essa comissão, mas, muitas e muitas vezes, nós nos tornamos impotentes, incapazes, porque não encontramos o respaldo necessário para tocar o projeto de revitalização do Rio São Francisco, porque ou fazemos daqui a alguns dias, daqui a alguns anos, ou não teremos água para beber, porque o Rio São Francisco será apenas história.

    Senador Wellington, V. Exª é de uma região diferente da minha, mas lembro-me, quando eu era mais jovem, de quando construíram a ponte sobre o Rio São Francisco, ligando Alagoas a Sergipe. Certo dia, debrucei-me no parapeito da ponte e tive medo, Senador Raimundo, de cair ali dentro, porque o rio descia a uma velocidade não menor do que 60km, 70km. Hoje, é uma tristeza quando se chega à margem desse rio, o rio da unidade nacional, que deixamos que morresse.

    Por isso, bem disse V. Exª: as represas têm responsabilidade com a revitalização do Rio São Francisco. Agora, é preciso que todos nós aqui tenhamos a coragem de fazer com que elas possam pagar parte daquilo que elas já lucraram ao longo de anos e, agora, dar um pouco a ele, porque só tiramos dele até hoje.

    Eu tenho uma preocupação muito grande com a transposição do rio levando água lá para o Estado de V. Exª, para Pernambuco, para a Paraíba, para o Rio Grande do Norte, para o Ceará, se não cuidarmos dele. Quantos bilhões estão sendo gastos nessa obra? E amanhã ela não vai ter serventia se não cuidarmos do rio, porque estão só tirando, só tirando, e nada de revitalizarem os seus afluentes, para que ele possa realmente voltar a ser o que era.

    Então, eu queria conclamar os Senadores do Brasil, não os Senadores do Nordeste, os Senadores do Brasil: os que têm muito têm que pensar nos que não têm nada. Quem tem muita água, graças a Deus! E quem não tem água para beber?

    Eu vou contar um episódio aqui para encerrar, Sr. Presidente. Em 1995, eu me elegi pela primeira vez Deputado Federal - em 1994, melhor dizendo; vim para a Câmara dos Deputados em 1994, juntos, eu e V. Exª. Nessa época, havia uma cidade no meu Estado - vejam que coisa absurda -, que era conhecida no Brasil - se não fosse isso, ninguém sabia nem se existia no mapa - pela mortalidade infantil. Era a cidade de Teotônio Vilela, no meu querido Estado de Alagoas.

     Senador Wellington, morria mais criança naquela cidade, cerca de 20 anos atrás, 15 anos passados, do que mosca quando você coloca Baygon. O que era? Eu perguntei o que era aquilo, eu já Deputado Federal. E me informaram, através da Secretaria de Saúde de Alagoas, que o motivo da morte das criancinhas era água, porque, em cada porta, na rua, as pessoas que não tinham onde buscar água cavavam uma cacimba, como é conhecida lá na minha região, 10, 12, 15 metros. A água da enxurrada da chuva ia para dentro daquela cacimba, com todos os dejetos, com todas as impurezas. E aquela água fermentava. As mães, coitadas, sem nenhuma orientação, pegavam aquela água e, em vez de ferver, coavam e davam à criança. Em 72 horas, a criança tinha uma crise de diarreia e morria. E assim, sucessivamente, quatro, cinco, oito, dez caixõezinhos de anjo passavam pelas ruas diariamente.

    Então, ao perguntar à Secretária - repito -, ela me disse que era a água. Eu fui ao prefeito e disse: "Vamos fazer um projeto?" Foi feito o projeto, e eu vim para Brasília e consegui botar emenda de Bancada. Àquela época, a emenda de Bancada valia alguma coisa; hoje está desmoralizada. O Congresso ficou tão fraco que uma emenda de Bancada apenas consta no Orçamento por constar, mas, nesses últimos anos, elas não foram pagas. Na época, era paga uma emenda de Bancada; você fazia uma emenda de Bancada para a obra A ou B, no seu Estado, ela era paga - se não 100%, mas 50%, 70%, 80% -, e a obra começava e terminava.

    Pois bem, assim foi feito. Fizemos uma adutora com a captação de água da própria região, sem utilizar a água do São Francisco, nem tampouco da Casal, que é o órgão responsável pelo abastecimento de água do Estado, meu caro Senador Raimundo. Fizemos a adutora, o Governo Federal em parceria com o Município de Teotônio Vilela. A água potável começou a chegar às casas das pessoas, e acabou a mortalidade.

    Sabe quanto foi gasto nisso, Senador Wellington, para salvar milhares e milhares de crianças, sexagenários, seres humanos? Um pouco mais de R$20 milhões. O que é isso para o Governo Federal? E isso está faltando hoje no Semiárido.

    Eu tenho dito sempre que tenho tido oportunidade: não é admissível mais - e faz vergonha a nós que fazemos política - uma criatura humana beber água de barreiro, misturada com mijo de cavalo, de boi, de vaca, com fezes, etc, sem nenhum tratamento, porque infelizmente nós não fizemos um projeto de Estado. Não é um projeto de governo, que hoje faz e amanhã, não. É um projeto de Estado, para cuidar da convivência com a seca.

    Por essa razão, Sr. Presidente, eu encerro as minhas manifestações, agradecendo a V. Exª pela paciência, pela tolerância e pela duplicidade do tempo, porque o assunto realmente requer atenção desta Casa e do País. Nós estamos falando para o Brasil!

    Com isso, eu queria alertar a Presidenta Dilma, a Ministra da Agricultura, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, todos esses órgãos juntos: por que não fazemos um projeto decente para atender essa sociedade, para atender esses brasileiros que, com muito sacrifício, vivem naquele torrão ressequido, mas não o abandonam, porque é de lá que eles tiram o sustento da sua família? Infelizmente, daqui a algum tempo mais, o cidadão não vai mais tirar o sustento, porque morre ele e a família toda, com água e alimentação, e os bichinhos de estimação que eles criam também se acabam, porque o Governo não se preocupou em fazer um programa de Estado.

    Se houver um programa de Estado, hoje a Presidente da República é Dilma; depois de amanhã, é Manoel; no outro período, é João, e o projeto continuará sendo feito, porque não é projeto de governo nenhum, mas é projeto do Estado brasileiro.

    Muito obrigado, Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Esta Presidência gostaria de parabenizar o Senador Benedito de Lira, principalmente pela sua emoção, pela força com que defende a sua terra e a sua gente. O seu discurso me fez lembrar muito da minha história.

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Eu sou filho de nordestinos também, baianos, meu pai e minha mãe. Meu pai saiu da Bahia para Mato Grosso a pé, e a minha mãe saiu pelo Rio São Francisco, pelo vapor, pela embarcação, até São Paulo. Então, como mudou!

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - E, como médico veterinário, também quero dizer que V. Exª tem muita razão. Eu sou do Estado de Mato Grosso, um Estado gigantesco, com 900 mil quilômetros quadrados, o Estado de maior produção das commodities agrícolas, o maior produtor de soja, o maior produtor de milho, o maior produtor de algodão, de carne.

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL) - Novecentos quilômetros quadrados?

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Novecentos mil quilômetros quadrados!

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL) - Novecentos mil quilômetros! Sabe quantos tem o meu? Vinte e sete mil!

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Vinte e sete mil! Então, a diferença é muito grande!

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL) - Deste tamanhinho!

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Mas, mesmo o Estado de Mato Grosso...

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL) - O seu dá 30 vezes o meu, ou 40.

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Mesmo o Estado de Mato Grosso sendo campeão da produção nas commodities agrícolas, o pequeno também está, há muito tempo, relativamente abandonado. E é o pequeno que precisa do apoio do Governo. Infelizmente, o Governo promoveu muito a produção agrícola, que isso é importante para a exportação brasileira, mas o pequeno tem dificuldade de acesso ao crédito. Enquanto o grande tem as empresas para fazer os grandes projetos, o pequeno depende da assistência técnica, o pequeno precisa de orientação sobre o que produzir, como produzir e, principalmente, sobre a comercialização.

    E aí V. Exª toca na questão do leite. Há poucos dias - há dois meses -, eu estive com a Ministra Kátia Abreu no Japão e na Rússia. E lá fomos tratar exatamente da exportação da carne brasileira e do leite. O Brasil aumentou a sua produção de leite nos últimos anos, mas o consumo diminuiu.

    Então, nós temos que encontrar a fórmula de estimular não só a produção, mas também de garantir o consumo. De que adianta o produtor acordar de madrugada, na lama, na chuva, no sol, produzir o leite e, às vezes, não ter para quem vender? Isso é que faz com que...

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL. Fora do microfone.) - Faz com que o preço seja de R$0,90.

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Daí por que o preço tão baixo.

    Então, eu quero também me somar a V. Exª, inclusive na Comissão de Agricultura, em que V. Exª é um atuante Senador, para que busquemos inclusive fazer um programa, como V. Exª colocou, de Governo para o pequeno produtor.

    Na Europa, um produtor, para manter uma vaca no pasto, tem estímulo: ele chega a receber US$1 mil por ano por uma vaca que ele mantém no pasto. Agora mesmo, estive nos Estados Unidos, e, lá, quem mantém os animais tem um incentivo nos impostos, e, às vezes, até em áreas urbanas se mantêm pequenas propriedades, exatamente através do incentivo.

    Então, eu quero parabenizá-lo, e vamos somar esforços para que façamos mais justiça, principalmente ao pequeno produtor brasileiro.

    O SR. BENEDITO DE LIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL) - Muito obrigado, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/10/2015 - Página 158