Discurso durante a 189ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 120 anos do Jornal “Correio do Povo”.

Autor
Lasier Martins (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RS)
Nome completo: Lasier Costa Martins
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 120 anos do Jornal “Correio do Povo”.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/2015 - Página 20
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, CORREIO DO POVO, ORIGEM, PORTO ALEGRE (RS), RIO GRANDE DO SUL (RS), COMENTARIO, HISTORIA, EMPRESA JORNALISTICA.

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Apoio Governo/PDT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

    Srªs e Srs. telespectadores da TV Senado; senhores ouvintes da Rádio Senado; eminente Senador Wellington Fagundes; Deputado Perondi; Sr. Cleber Nascimento Dias, Diretor Executivo do nosso jornal aniversariante, Correio do Povo; prezado amigo José Otaviano Fonseca, que tantos esforços tem desenvolvido em favor do nosso Rio Grande do Sul; também saúdo a representante da Governadora do Paraná, Srª Maria Aparecida Borghetti; a assessora do Escritório de Representação do Paraná, Srª Taina Ribas; representando a Governadora do Estado de Roraima, Srª Suely Campos, aqui presente o eminente ex-Senador Mozarildo Cavalcante, que aprendemos a admirar durante muitos anos na tribuna do Senado, pela TV Senado; Diretor da Associação dos Diplomatas Brasileiros, também nosso conterrâneo do Rio Grande do Sul, Sr. Henrique Moraes; Assessor de Relações Corporativas do Grupo RBS, prestigiando-nos aqui também; a empresa Record; o Henrique Pires; o gerente-geral do Banrisul, Agência Brasília, Marcelo Famil Britto; o Gerente de Negócios do Banrisul, Agência Brasília, Fabrício Amaral; meu particular amigo e brilhante jornalista do Jornal do Comércio, Edgar Lisboa, senhoras e senhores, estamos aqui para homenagear os 120 anos festivos do longevo, respeitado, conhecido e importante jornal brasileiro Correio do Povo, de Porto Alegre, fundado no dia 1º de outubro de 1895, poucos anos depois da proclamação da República e poucos anos depois da abolição da escravatura.

    À época, Porto Alegre contava apenas 63 mil habitantes, e o Rio Grande do Sul estava dividido, ainda cicatrizando as feridas da Revolução Federalista, uma guerra civil entre maragatos, de lenço vermelho, e pica-paus ou ximangos, os seguidores de Júlio de Castilhos, de lenço branco. Era um período em que os jornais também duelavam. A imprensa, sobretudo a gaúcha, caracterizava-se pelas fortes tendências políticas, influindo diretamente na opinião pública local, de acordo com os interesses partidários.

    Havia, naquela época, uma fartura de jornais no Rio Grande do Sul, entre eles A Federação, que difundia os ideais positivistas de castilhismo; A Reforma, porta-voz dos maragatos, fundado justamente pelo líder do Partido Federalista, Gaspar Silveira Martins, que também se opunha ao Governador Júlio de Castilhos; A República, que defendia o ideal conquistado em 15 de novembro de 1889; O Mercantil, que se caracterizava como jornal abolicionista; O Jornal do Comércio, em favor do liberalismo. O Deutches Desbuches Volkshlatt, escrito em alemão, que pregava o catolicismo dos jesuítas.

    Então, senhores e senhoras, naquela diversidade de jornais, surgia o Correio do Povo, fundado por Francisco Antônio Caldas Júnior, sergipano, que poucos anos antes viera para o Rio Grande do Sul por transferência de seu pai, juiz de órfãos, como chamado à época. Caldas Júnior, com 27 anos de idade e tendo ao lado como companheiros um dos primeiros jornalistas negros no Estado, o experiente gráfico, hoje nome de rua e de bairro em Porto Alegre, Paulino de Azurenha e Mario Totta, jovem poeta, com vocação e aspirações de repórter.

    Caldas Júnior, para fundar o jornal, levantara 20 contos de réis com economias próprias e ajuda de investidores amigos. Utilizando papel importado da Europa e impresso numa então moderna máquina Alanzet, mandava às ruas, numa terça feira, 1º de outubro de 1895, com uma tiragem de dois mil exemplares, a primeira edição do jornal com quatro páginas, como era comum na época. E o editorial do seu dono, assinalando que seria um jornal "noticioso, literário e comercial. E para ocupar-se de todos os assuntos de interesse geral, obedecendo à feição característica dos jornais modernos e só subordinado aos seus intuitos às aspirações do bem público e do dever inerente às funções da imprensa livre e independente."

    A partir dali e até hoje, o Correio do Povo tem se voltado ao interesse coletivo, cultivando o bom jornalismo, buscando a verdade com independência, livre, sem compromissos, sem lados ou bandeiras.

    Caldas Júnior não era político, mas ambicioso no bom sentido, e decidiu remar contra a maré, fundando o jornal, conforme suas próprias palavras, "que não terá uma causa específica ou envolvimento partidário".

    E para destacar que estava equidistante das duas correntes da época, o jornal era impresso em tom róseo, nem vermelho nem branco, mas róseo, alcunha com que ficou conhecido por longo tempo. Caldas Júnior se jogou naquela aventura, que deu certo. Em quatro anos, o Correio do Povo já era o jornal de maior circulação no Estado.

    Desde então, passou a ostentar no cabeçalho os seguintes dizeres: "O jornal de maior circulação e tiragem do Rio Grande do Sul". Também teve a primeira impressora rotativa do Rio Grande do Sul, em 1910, período em que atingiu uma circulação já de 10 mil exemplares.

    A história do Correio do Povo, senhoras e senhores, está contada atualmente em dois livros de dois brilhantes jornalistas gaúchos e amigos: Um Século de Poder, de Walter Galvani, e o recém lançado Correio do Povo: A Primeira Semana de um Jornal Centenário, de Juremir Machado da Silva, hoje colunista do jornal e muito destacado jornalista gaúcho.

    Com a morte prematura do fundador, em 1913, sua viúva Dolores Alcaraz Gomes assumiu o controle. O jornal passou por dificuldades econômicas que só cessaram em 1935, quando a direção da Companhia Jornalística Caldas Júnior foi assumida por seu filho, Breno Alcaraz Caldas, nela permanecendo por mais de cinquenta anos.

    Em 1946, o Correio do Povo se mudou para o Edifício Hudson, sede atual do jornal e da Rádio Guaíba, na rua que hoje leva o nome do fundador, Caldas Júnior. Antes, o jornal ocupava um sobrado na Rua da Praia ou Rua dos Andradas. Circulou ali durante 89 anos - aliás, a vida do jornal -, de forma ininterrupta, entre 1895 e junho de 1984, reiniciando sua publicação em agosto de 1986.

    Ao longo de sua trajetória, o Correio do Povo noticiou incontáveis passagens da vida política nacional, estadual e local. Nomes marcados do governo do País e do Estado, como os de gaúchos ilustres que figuravam constantemente no Correio do Povo, como Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Raul Pilla, Flores da Cunha, Getúlio Vargas, Jango (João Goulart), João Neves da Fontoura, Leonel Brizola, entre outros. Figuraram constantemente - repito - nas páginas do Correio, assim como a permanente atualização dos grandes avanços sociais e científicos, as descobertas da Medicina, as conquistas do espaço sideral, a chegada das revolucionárias tecnologias, grandes eventos esportivos, acontecimentos históricos, heroicos ou trágicos do passado, além da Revolta da Chibata, as Primeira e Segunda Guerras Mundiais, a Guerra das Malvinas, entre outros conflitos e eventos de toda natureza.

    Em suma, senhoras e senhores, as histórias locais, regionais, nacionais e mundiais vêm passando pelas páginas do Correio do Povo há 120 anos. Entre outros, também um grande marco tem a ver com esta cidade, local onde estamos celebrando o jornal neste momento. Foi justamente a inauguração de Brasília que mereceu um caderno especial de dez páginas, na edição do dia 21 de abril de 1960.

    Em síntese, diga-se, também, que o Correio sempre se destacou como um jornal de vocação cultural, assim como ligado ao campo, ao homem rural, setor que tem recebido, periodicamente, páginas especiais.

    Em 1987, o Correio do Povo mudou o formato standard e passou a ser tabloide. Vinte anos depois, em 2007, o Correio do Povo foi adquirido pela Central Record de Comunicação, revigorando-se e iniciando uma nova fase, conquistando mais e mais leitores e qualificando seus quadros, entre eles respeitados colunistas e repórteres. Em 1º de outubro de 2010, já sob a atual e abnegada direção, o Correio do Povo passou por uma nova reforma gráfica, totalmente impresso no processo full color, com todas as 64 páginas e uma tiragem especial de 200 mil exemplares em cores.

    Ao lado de tantas transformações ao longo de 120 anos, até hoje o Correio do Povo segue informando seu público leitor, propiciando a formação de opiniões, cultuando os mesmos valores de sua fundação, mantendo altivez e a independência, nos momentos mais conturbados da vida política, como disse recentemente o Presidente do Grupo Record no Estado, Reinaldo Gilli.

    Particularmente, Sr. Cleber e convidados desta cerimônia, quero dizer que tive também a honra de haver trabalhado no Correio do Povo, onde dignificaram personagens como Machado de Assis, Érico Veríssimo, Paulo Brossard e tantos outros intelectuais brilhantes. Trabalhei no Correio do Povo de 1976 a 1984, como colunista esportivo diário, assim como meu falecido irmão Lupi lá trabalhou, como repórter, por mais de dez anos. Foi um prazer enorme e uma responsabilidade escrever no Correio do Povo, tão tradicional e histórico, período em que fiz inclusive a cobertura de duas Copas do Mundo de Futebol: em 1978, na Argentina, e, em 1982, na Espanha.

    Tenho, ainda, a vaidade de dizer, Sr. Diretor Cleber, que, ao final do dia, escrevia minha coluna numa máquina Remington, usada durante à tarde por Mário Quintana, o nosso poeta maior, que, desde 1953, publicava sua coluna diária, máquina que hoje se encontra no memorial em homenagem a ele, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre.

    Enfim, senhores homenageados, com suas honrosas presenças, e diretores, o Sr. Cleber Nascimento, Diretor Executivo do Correio do Povo e Vice-Presidente da Rede Record; Carlos Alves, Diretor-Geral da Record de Brasília; Éverton Machado, Superintendente da Record em Brasília; presentes nesta sessão, já me encaminhando para o final, quero dizer que é merecedor da homenagem do Senado Federal, que defende incondicionalmente a liberdade de imprensa e, portanto, a liberdade do Correio do Povo, com sua linha de independência, amor à democracia, pregação da ética em todas as ações e atividades, a moralidade pública, o respeito à ordem e o ideal de progresso.

    Hoje, essa essência secular está de cara nova. O Correio ganhou, no último dia 1º de outubro, um novo projeto gráfico, mas a linha editorial segue a mesma.

    A modernização gráfica é uma prova de que o Grupo Record está sempre preocupado em renovar e investir no jornal, mantendo uma trajetória de inovação, que se iniciou em 2008, quando o periódico passou a ser totalmente colorido.

    Com apoio da Celulose Riograndense, o Grupo Record também investe na digitalização do arquivo do jornal, uma forma de preservar a história dos gaúchos.

    O dramaturgo norte-americano Arthur Miller disse: "Um bom jornal é uma nação falando consigo mesma". Pois o Correio do Povo é o Rio Grande do Sul falando com o povo gaúcho.

    Feliz aniversário, Correio do Povo! Votos de mais um século com fidelidade e o mesmo compromisso com a verdade, em favor de seus leitores e do Brasil.

    Obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/2015 - Página 20