Discurso durante a 175ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apelo à Anvisa pela liberação da fosfoetanolamina sintética como forma de combate ao câncer; e outro assunto.

Autor
Ivo Cassol (PP - Progressistas/RO)
Nome completo: Ivo Narciso Cassol
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Apelo à Anvisa pela liberação da fosfoetanolamina sintética como forma de combate ao câncer; e outro assunto.
Aparteantes
Reguffe.
Publicação
Publicação no DSF de 06/10/2015 - Página 439
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • REGISTRO, PEDIDO, TRIBUNAL DE JUSTIÇA, LOCAL, SÃO PAULO (SP), JULGAMENTO, REFERENCIA, AGENCIA NACIONAL DE VIGILANCIA SANITARIA (ANVISA), OBJETIVO, LIBERAÇÃO, MEDICAMENTOS, COMBATE, CANCER, COMENTARIO, DISPOSIÇÃO, FUNDAÇÃO INSTITUTO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ), CONTINUAÇÃO, PESQUISA.

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, é com alegria que quero aqui cumprimentar os senhores, as senhoras; especialmente, mandar o meu abraço e a minha gratidão ao Senador de Brasília, Reguffe, que acabou de usar a tribuna desta Casa; aos meus amigos e amigas dos quatro cantos do Brasil e do meu grande Estado de Rondônia, que, sempre, quando vão à igreja ou mesmo em casa, nas suas orações, têm pedido por mim. Agradeço de coração.

    Ontem, eu me desloquei de Brasília para Porto Velho. E, voltando hoje, o senhor não imagina, nosso Presidente, Senador Paim, a alegria do povo, dentro do avião, quando cumprimenta, passa essa energia positiva e parabeniza a luta constante que a gente sempre está enfrentando, especialmente essa nova luta. Mas, antes de falar dessa nova luta contra o câncer, eu quero daqui mandar o meu abraço a todos os meus amigos e amigas de Porto Velho, porque, na última sexta-feira, a nossa capital do Estado de Rondônia estava fazendo 101 anos de emancipação política; também da cidade de Ariquemes e de outras cidades do Estado de Rondônia que estarão com as nossas festas de emancipação. Então, a todos os nossos amigos e às nossas amigas dos quatro cantos do Estado de Rondônia, fica o nosso abraço.

    Eu vou voltar aqui, Sr. Presidente, num assunto, digamos, infelizmente, por alguns. Não queria nem que existisse essa palavra, que é o câncer, porque a toda hora, a todo instante essa doença está ceifando vidas; a toda hora, a todo instante essa doença está entrando nas residências e, sem avisar ninguém, Senador Reguffe, leva embora.

    Eu, às vezes fico me perguntando... Usei a tribuna na terça-feira da semana passada, quando eu descobri. Um amigo meu de muitos e muitos anos, que é da minha cidade, Rolim de Moura, o cabeleireiro Cláudio, como é conhecido - e que está me assistindo nesse instante -, é aquele cara crítico na cidade, mas é aquela pessoa crítica que faz a crítica construtiva. Eu liguei para ele há mais ou menos um mês para saber se ele podia cortar meu cabelo. Ele já preparou a pen drive e, quando cheguei para cortar o cabelo, já me mostrou a matéria, me falou o que era e me entregou a pen drive.

    Ele falou: Cassol, eu sei que você é um guerreiro. Você consertou, fez a nossa cidade ser uma das melhores do Brasil, a cidade de Rolim de Moura. O Estado de Rondônia, quando muitos políticos não davam conta de pagar o salário ou de arrumar uma estrada, você voltou, fez a diferença e devolveu a credibilidade. E, nessa luta contra o câncer, que está publicada aqui no G1 e que tenho em mãos, se não for alguém para pegar em cima e brigar de verdade, não vai conseguir quebrar a máfia que existe também na área da saúde.

    Daí, eu falei: mas você já sabe tanto assim, Cláudio? Estava lá a manicure que trabalha com ele, e ele falou: sei, porque eu sei o que passam meus amigos, eu sei o que passam minhas amigas quando descobrem que estão com câncer ou quando perdem alguém da família. Então, estou te dando na tua mão, Ivo, para você começar essa luta.

    Eu aqui quero deixar meu abraço, agradecer de coração ao Deputado Estadual Rodrigo Moraes, do Estado São Paulo, filho do meu amigo e Deputado Federal José Olímpio. Ele me acompanhou, me pegou lá no aeroporto de Viracopos, em Campinas, e me acompanhou até a cidade de Araraquara, perto de São Carlos. Lá também encontrei o Deputado Estadual Roberto Massafera, outro guerreiro. Então, quero aqui deixar meu abraço ao Rodrigo Moraes e também o Roberto Massafera.

    Quero agradecer também, Sr. Presidente, Senador Paim, aos pesquisadores que descobriram a fosfoetanolamina sintética - eu tenho pouco dificuldade dobrar a língua. É um medicamento que marca as células doentes e o próprio corpo. Com isso, as células boas combatem as doentes.

    Eu quero deixar meu abraço ao Dr. Gilberto, que me atendeu - um químico, aposentado pela USP de São Paulo. Ele me atendeu até na empresa dele, em Araraquara.

    Quero cumprimentar também outro grande profissional, o químico Salvador Claro Neto. Ele continua trabalhando, Senador Paim, na USP de São Carlos. É o químico de lá, que estava produzindo, até poucos dias atrás, esse medicamento, para distribuir, Senador Reguffe, para os pacientes com liminares judiciais. Foi distribuído para milhares e milhares.

    Ao mesmo tempo, também quero agradecer ao Renato Meneguelo. Ele é médico e, de tão desanimado que ficou, saiu de São Paulo e foi trabalhar na divisa com o Piauí, no Ceará, porque a pesquisa dele tem dificuldade em todos setores que vai. Ele saiu de lá, do rincão da Caatinga, e foi participar da reunião, na última quinta-feira, em Araraquara. Ele fez parte da Uniesp, de Bauru, no Estado de São Paulo.

    Também quero aqui deixar meu abraço e agradecer outro pesquisador desse time de cinco profissionais: Durvanei Maria, bioquímico do Instituto Butantan, do Estado São Paulo. Ele fez todas as experiências desse medicamento com os ratos e tem toda a documentação, tudo. Ele também saiu de São Paulo, da capital, do Instituto Butantan, e esteve conosco lá em Araraquara, discutindo e apresentando toda a documentação de tudo isso.

    O Sr. Reguffe (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Ivo Cassol, permite-me um aparte?

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - Com certeza, Senador Reguffe.

    O Sr. Reguffe (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu queria, em primeiro lugar, parabenizar V. Exª pela discussão desse tema, que é muito importante. Hoje, no início da tarde, eu pedi que a minha assessoria ligasse, inclusive, no seu gabinete para saber mais sobre isso. Eu, no final de semana, fui procurado por algumas pessoas que estão em tratamento oncológico, em tratamento de câncer, e, sem dúvida alguma, essa decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo foi contra essas famílias. O que acontecia? Trezentos e sessenta e oito pacientes com câncer estavam, através de liminares, conseguindo esse medicamento na Universidade de São Paulo - que é esse medicamento que V. Exª falou, a fosfoetanolamina sintética -, e simplesmente o Tribunal suspendeu essas liminares, e as pessoas tiveram que parar o tratamento. Na minha concepção, há aí um descaso por parte da Anvisa, que é a agência reguladora. A Anvisa deveria acelerar os procedimentos para dizer se o remédio presta ou se ele não presta. Agora não dá é para essas famílias, que estavam tendo melhoras no tratamento, de acordo com os depoimentos, simplesmente terem o tratamento interrompido porque o Tribunal de Justiça resolveu decidir que não pode mais continuar esse tratamento. Então, são 368 famílias. Eu soube que V. Exª tinha pedido uma audiência pública aqui e pedi para minha assessoria ligar no seu gabinete. E quero aqui parabenizar V. Exª por trazer esse tema a esta Casa, porque é um tema muito importante. Não se brinca com a vida das pessoas, com a saúde das pessoas. Cabe à Anvisa decidir se o remédio pode ou não pode. Agora não dá é para deixar essas famílias desassistidas, como elas estão neste momento. Isso, na minha opinião, é muito grave, e acho que esta Casa não pode se omitir em relação a isso. Eu queria parabenizar V. Exª por trazer esse tema.

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - Obrigado, Senador Reguffe.

    Tanto isso é verdade que eu até vejo uma solução, que continua passando pela Justiça. Eu tenho aqui depoimentos de pessoas humildes, simples; tanto pessoas que estão fazendo tratamento como outras que já se trataram, depoimentos de pessoas que já estão curadas. Então, eu peço aqui a todos aqueles que conseguiram as liminares, e que foram derrubadas, que recorram.

    Para vocês terem uma ideia, quem já está com câncer já está carimbado. Quem está com câncer já está, infelizmente, aguardando o dia do seu falecimento. Tantos amigos e pessoas que eu conheço estão aí de pé lutando, e dão tudo, dão tudo - eu fiz agora há pouco um aparte ao Senador Humberto Costa, que foi Ministro de Saúde -, e perderam. O José Eduardo Dutra...

    Com certeza, se ele tivesse tomado esse medicamento, ele estaria curado hoje. Sabia, Senador? Ele estaria curado hoje.

    O Sr. Reguffe (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas, Senador Cassol, existem muitas pessoas que se curam do câncer. Morrer todos nós vamos um dia, mas o câncer é uma doença que tem cura. Agora, precisa ser bem tratado.

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - Com certeza, mas a cura com a quimioterapia, a cura com o sistema que está aí hoje, infelizmente, acaba atraindo para outras doenças. O paciente acaba perdendo a resistência do corpo. Enfim, o tratamento debilita a pessoa.

    Então, eu fiz a pergunta para os cientistas, eu fiz a pergunta para os pesquisadores: “Com esse medicamento, tem cura?”. Ele falou: “Tem". E tem cura e cura, só que depende de cada organismo. Um organismo é com 30, com 60, outro com 90.

    Eu recebi uma ligação. Eu só não posso falar aqui na tribuna desta Casa porque o dono de uma clínica, um médico que trabalha nessa área falou: “Eu vou lhe passar tudo. Eu só pediria que você não divulgasse o meu nome.” E ele, provavelmente, está me assistindo. Fica o meu abraço a esse médico oncologista, um guerreiro, que disse: “E não estou olhando pelo lado financeiro; se eu tivesse olhando pelo lado financeiro, eu jamais estaria ligando para você. Eu estou ligando pelo lado humano.”

    Eu sei porque muitos pacientes conseguiram esse medicamento por intermédio da Justiça, outros conseguiram por intermédio do Dr. Carlos Kennedy, lá da cidade de Pomerode, em Santa Catarina. Ele distribuiu para mais de 800 pacientes, e essas pessoas estão curadas. Mas o medicamento depende da reação de cada organismo.

    Então, o que nós estamos vendo hoje é que, a cada instante, está morrendo um amigo nosso, uma pessoa. E nós aqui estamos todos bem de saúde; mas quem garante amanhã, Senador Paim, que nós não estaremos enfermos? Quem garante que amanhã nós não teremos alguém da família doente? Eu perdi uma tia, irmã do meu pai, nova, com 50 e poucos anos de idade, com câncer de mama. E com esse medicamento aí na frente para poder tratar. E um paciente que já está já marcado, aceita o medicamento, porque não há doença pior do que o câncer; pior do que o câncer, não há; então, o medicamento que for dado...

    Eu quero fazer um pedido ao Tribunal de Justiça de São Paulo, às demais instâncias em que será julgado: vamos ver o lado humano, gente! "Ah, mas a Anvisa..."

    A Anvisa não está acima das nossas vidas! A Anvisa não está acima da vida do nosso semelhante! A Anvisa não está acima!

    Eu quero fazer uma pergunta aqui para a Anvisa: qual é o medicamento registrado pela Anvisa? O registro desse medicamento não se faz em cinco anos.

    Esse grupo de pesquisadores, Sr. Presidente, já esteve na Anvisa várias vezes. Eu tenho aqui documento assinado quando receberam lá. Mas, infelizmente, existe uma dificuldade. Sabe o que acaba acontecendo? Existe um esquema em que os tratamentos de saúde... Existe muita coisa que o pessoal não pode falar, porque uns vão perder isso, vão perder aquilo, vão cortar até os convênios, porque quanto é uma quimioterapia?

     Aqui os servidores desta Casa... Na semana passada, muitas pessoas vieram e disseram para mim: "Senador, você bateu na ferida de todo mundo". Sabe quanto custa a quimioterapia? Custa de R$20 mil, R$25 mil a R$30 mil. Há um medicamento que custa R$240 mil! Está aqui: o Yervoy é um medicamento importado. O SUS não paga por ele. São cinco ampolas. Só para dar uma sobrevida no paciente, custa R$240 mil! Estão fazendo um teste com ele no Brasil e estão gastando mais de R$16 milhões! Quer dizer, se esse medicamento custasse R$50 mil o comprimido, com certeza, já estaria aprovado.

    Então, eu já solicitei uma audiência com o presidente da Anvisa. A Presidente Dilma... Eu entrei em contato com o Giles no sábado, porque eu queria que ele marcasse para já mostrarmos todos os depoimentos dessas pessoas, desses pesquisadores, para que a nossa Presidente Dilma, que já teve problema de saúde, interagisse com eles e colocasse o Ministério da Saúde. O Giles até falou para colocar o novo Ministro junto. Na hora, eu passei para ele. O próprio Giles já puxou o G1. Para quem não sabe, pesquise no G1, veja as matérias que estão publicadas, pegue a entrevista que foi feita com o professor. Já há muitos resultados na mão de cura. Para vocês terem uma ideia, eu tenho cada depoimento aqui. A Fiocruz teve uma reunião.

    Eu vou precisar de um pouquinho de tempo a mais, Presidente, porque isto aqui é importante para toda a humanidade; não só para o Brasil e para o povo do nosso País, mas para todos.

    Eles estiveram, no dia 21 de novembro de 2013, na Fiocruz, que se mostrou interessada na pesquisa, mas com uma condição: queriam que se providenciasse o termo de cessão do direito da patente. Sabe o que esses cientistas, esses pesquisadores querem? Sabe o que eles estão querendo? Eles só querem, na verdade, um centro de pesquisa para continuarem desenvolvendo o trabalho deles! Presidente Paim, Senador Reguffe, sabe o que eles querem? Eles querem dar para o SUS, eles querem dar para o Governo Federal.

    Nós estamos aqui na iminência de aprovar uma PEC para aumentar a CPMF. Eu vi ontem, quando o Ministro Levy foi embarcar num voo aqui em Brasília, o povo xingando ele, metendo a boca nele por causa da CPMF.

    Com certeza, se se colocar esse medicamento no mercado, o gasto vai diminuir não milhões: vai diminuir bilhões de reais. Esse recurso vai poder fazer uma saúde mais decente, especialmente para quem tem problema de fratura. Vão se economizar milhões na saúde básica, em todas as outras áreas.

    Eu sei que existe laboratório, eu sei que existe indústria para quem vale muito mais o dinheiro; mas eu queria que esses que só pensam no dinheiro sentissem na pele, dentro da família deles, o que essas outras famílias estão passando por falta de um tratamento, por falta de medicamento, Senador Capiberibe - nosso Presidente que assumiu agora -, para a cura do câncer.

    Se eu estou usando a tribuna desta Casa, eu já estou convicto porque eu acompanho. Eu tenho visto, como eu vi na semana passada em São Paulo, quando fui ao interior; eu fui de carro, voltei, cheguei de madrugada. Na sexta-feira de manhã, eu estive também com o apóstolo Valdemiro Santiago. Quero mandar um abraço para o apóstolo Valdemiro Santiago, como para outros líderes religiosos que Deus usa para fazer milagres.

(Soa a campainha.)

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - Mas nós também não podemos dispensar chances, Sr. Presidente. E eu vou pedir ao senhor aqui, encarecidamente, um tempo maior para concluir o uso da minha palavra em cima disso.

    Nós não podemos dispensar, de maneira nenhuma, Sr. Presidente, todas as chances que nós tivermos para dar um alento e melhorar ainda mais a vida dessas pessoas.

    Para vocês terem uma ideia, quando eu falo aqui da questão da Fiocruz, eu tenho aqui o e-mail deles, e eles se interessaram desde que os pesquisadores passassem a patente para eles. E, aí, a quanto nós iríamos comprar? Mas a fundação é tocada por pessoal particular. Então, o Governo Federal tem que encampar isso, por favor, Srª Presidente da República, nossa Presidente Dilma. Aliás, quero parabenizar a senhora, que teve a coragem de diminuir esses ministérios, teve a coragem de diminuir cargos comissionados. Parabéns. Eu cobrei esses dias...

(Interrupção do som.)

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - Só pedir para a Casa...

    O SR. PRESIDENTE (João Capiberibe. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - V. Exª tem o tempo que julgar necessário.

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - Obrigado.

    Só para quem está em casa acompanhar, nós temos um tempo aqui, e, quando termina o tempo, cai o som, e nós temos que retomá-lo.

    Portanto, quero fazer um pedido aqui para a Presidente Dilma, quero fazer um pedido para o novo Ministro da Saúde, quero pedir aqui para o presidente da Anvisa, para os diretores lá de dentro: olhem para o seu semelhante! Não vamos esperar a burocracia que este Brasil tem. Não vamos esperar essa arrogância que muita gente tem. Vamos colocar a vida em primeiro lugar!

    Eu falei, Presidente, na semana passada, que esse esquema da saúde é pior do que o da Petrobras, porque a Petrobras roubou dinheiro do nosso povo. Aqui, infelizmente se estão roubando vidas. Quanto custa cada comprimido? Dez centavos.dez centavos!

    "Quantos depoimentos, Cassol, você já tem?" Eu tenho inúmeros. Esse mesmo médico oncologista, dono de uma clínica, já foi ameaçado. "Eu sei que isso aí deu certo." Eu falei: por que que você não fala? Ele disse: "Eu não posso". Aí me ligou outro profissional e também me disse isso. É e-mail, é telefonema toda hora, Sr. Presidente.

    E aí nós, com tudo isso na mão, vamos deixar esses pesquisadores irem para outro País, para comprarmos o mesmo remédio, igual a este aqui? Vejam: Yervoy. Vamos comprar esse medicamento por R$240 mil? Por isso que não se tem dinheiro para a saúde.

    Eu fui prefeito, fui governador. Com que é que mais se gasta neste Brasil? É com doença de câncer. E olhe que os pacientes sofrem. É de dor. Têm que tomar até morfina, se não me engano. Muitos pacientes ficam no meio do caminho. Quem não quer ter essa oportunidade? Quem que esteja já marcado para ir que não queira tomar? Qualquer um toma.

    Quais os efeitos colaterais? Até agora, pelos estudos, não há nenhum. Aí a Anvisa disse o seguinte: "Agora precisamos do Estudo 1, do Estudo 2, do Estudo 3. Infelizmente, qual é a unidade pública que tem interesse de colocar suas estruturas para fazer isso? Nenhuma tem. Por quê? Porque é o SUS que paga. Agora eu pergunto a vocês: quem é o SUS? Quem é o SUS? O SUS somos nós. É você que está me assistindo que faz o fundo do SUS, que faz o dinheiro do SUS. É vocês que pagam os impostos, que vêm para o Governo Federal e retornam para os hospitais.

    "Bom, mas como é que pode isso?" É assim mesmo, gente. Vocês já viram quantas entrevistas no Fantástico, de quem fez cirurgia sem necessidade, recebeu prótese sem necessidade? Quantas coisas já se fizeram? Pessoas que vendem para o hospital e não entregam? Quantas agem dessa maneira?

    Alguém vai dizer: "Cassol, você tem um monte de processos!" Eu quero mais um. Pode botar mais um! Mas eu estou, mais uma vez, defendendo o meu semelhante. Eu estou defendendo as pessoas. Estou defendendo a família. Eu não tenho nenhum processo por roubo. Eu não tenho nenhum processo por superfaturamento. Eu não tenho nenhum processo por desvio de dinheiro. Nada disso! O processo que está aí, em que eu estou sendo condenado, que está em embargos de declaração, é por fragmentação. E eu também não fragmentei, porque, em cada emenda parlamentar, eu fiz a licitação. A Comissão fez. O Acórdão nº 1.540 do Tribunal de Contas está aí, e faz justiça em cima disso. E eu só tenho buscado justiça.

    Portanto, um homem público que tem medo de processo não pode estar na vida pública, porque, infelizmente, ele tem que enfrentar se ele quer ajudar o seu semelhante.

(Soa a campainha.)

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - E eu estou aqui para contribuir, como Senador da República, naquilo que eu posso, Sr. Presidente.

    Fiz a solicitação, fiz o requerimento de uma audiência pública nos próximos dias. Os pesquisadores já estão à disposição para vir aqui, juntamente com a Comissão de Ciência e Tecnologia e a CAS (Comissão de Assuntos Sociais), com a Senadora Ana Amélia.

    O tanto que é importante a participação desta Casa para comprar essa briga! Eu não quero que vocês comprem essa briga do Ivo Cassol! Eu quero que vocês comprem essa briga de um irmão seu, de um tio seu, do seu pai, da sua mãe ou de um vizinho, de um amigo que está com câncer. Se você não tem ninguém, vá olhar na casa do vizinho, veja o que ele está passando.

    Eu pensei que aqui nesta Casa, no Senado, que é a Casa mais alta - como chamam aqui -, não havia problema nenhum. Quantas pessoas que trabalham aqui dentro disseram para mim: "está aqui, perdi um familiar meu estes dias". Outro perdeu em outros dias. E aí nós temos o medicamento e somos proibidos de usar!

    Proibido de usar é cocaína! Aí é proibido de usar! Proibido de usar é arma, que mata outro! Mas deixar de usar um medicamento? "Ah, mas a Anvisa..." A Anvisa que tire a bunda da cadeira - desculpe-me a expressão - e corra atrás disso! Corra atrás disso! O novo Ministro da Saúde pegue isso como desafio! Ou por acaso tem que voltar o José Serra e brigar de novo, igual o do genérico no passado? Não, ele não é mais o Ministro, mas é um parceiro guerreiro que fez um bem pela saúde quando brigou pelo genérico.

    Eu tentei marcar uma audiência com o Governador Geraldo Alckmin na semana passada, em São Paulo. Marcaram às 18h, mas eu não pude ir, tinha outro compromisso. Quero aqui pedir para o Governador Geraldo Alckmin, como médico: coloque a sua equipe, coloque seu time na praça! Pegue a USP - a USP, que eu saiba, é a Universidade de São Paulo, uma universidade estadual; não é uma universidade federal.

    Coloque essa estrutura inteira, Governador Alckmin, para poder produzir esse medicamento. Esse medicamento pode ser produzido em todos os Estados: pode ser produzido no Amapá, Senador Capiberibe; pode ser produzido em Rondônia; pode ser produzido em Santa Catarina, tanto é verdade que Carlos Kennedy, lá de Pomerode, do Estado de Santa Catarina, onde eu nasci, em Concórdia, para aqueles rincões, manipulou, produziu esse medicamento e o distribuiu para mais de 800 pessoas. E eu perguntei para ele: "E, dessas pessoas, quantas estão curadas?" "Venha aqui conversar com essas pessoas e venha ouvir o que elas dizem aqui, Cassol."

    Eu recebi inúmeros e-mails, inúmeros documentos de pessoas de todos os cantos do Brasil e aqui eu queria aproveitar para pedir para aquelas pessoas que ainda não mandaram, mandem para o Senador Ivo Cassol e-mail, você que já fez tratamento, você que brigou na Justiça. E para essas pessoas, Sr. Presidente, que a Justiça de primeiro grau determinou dar esse medicamento e o estão tomando, o risco é delas porque elas já estão marcadas para morrer. Esse comprimido não vai atrapalhar mais nada, já estão carimbadas. Então, não é justo.

    Eu quero aqui pedir às pessoas que mandem o documento para nós. Quem já foi curado que mande também. Vamos fazer um mutirão. Vamos fazer um abaixo-assinado em nível nacional. Não querem fazer um abaixo-assinado para mudar uma lei disso e existem não sei quantos milhões de assinaturas? Não existe um outro abaixo-assinado para não sei o quê? Vamos fazer também. Não existem não sei quantos milhões de assinaturas para fazer um partido novo? Então, vamos fazer um partido novo sim; é o partido da saúde! Vamos fazer esse partido contra o câncer. Vamos fazer esse partido em favor da vida, para defender a vida. Vamos fazer esse partido. E como podemos começar? Eu serei o cabeça disso para poder puxar. Vou junto com vocês alavancar tudo isso para que possamos quebrar todas essas pedras que estão no meio do caminho. Água em pedra dura bate, bate, bate, bate até que fura.

    Mas não é justo, Sr. Presidente! Não é justo! Olha, eu tenho conversado com amigos meus, pessoas que me ligam e falam: "Ivo, pelo amor de Deus, me ajude nisso." Eu falo: "Estou correndo atrás." Então, isso não é justo! Não é justo, por causa de dinheiro, só beneficiar a quimioterapia e esses outros remédios caros. Vamos juntos fazer uma frente. A você que já entrou na Justiça, recorra dessa decisão. Vamos juntos para cima. Vamos diminuir o custo da saúde do SUS, mas, para isso, nós precisamos de que todos os políticos abracem essa causa, todos eles, e principalmente a nossa Presidente do Brasil...

(Soa a campainha.)

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - ... que teve coragem, no meio de todas essas críticas, Sr. Presidente, de diminuir oito ministérios.

    Podia até diminuir mais, mas, infelizmente, nós sabemos que aqui há partidos que têm a boca maior que o corpo e que, infelizmente, essa Base não representa quase nada, porque toda hora está com a faca no pescoço. Mas tudo bem, Senhora Presidente, a senhora já mudou alguma coisa. A senhora já abonou para população brasileira que está querendo e quer fazer melhor. Eu sei o que a senhora quer. Eu conheço a senhora. A senhora é uma guerreira. A senhora é uma lutadora. A senhora quer o melhor para este País. A senhora sempre foi bem vista pela classe baixa, classe média, classe sofrida. E o câncer, Senhora Presidente, não vem só na classe baixa. O câncer, Senhora Presidente, não vem só na classe média. O câncer atinge também quem tem dinheiro, atinge até quem tem condições.

    Com certeza, a família do José Eduardo Dutra, o próprio PT, ajudariam em tudo que pudessem para poder curar o ex-Senador, ex-Deputado, ex-presidente do PT e ex-presidente da Petrobras. Quem não faria uma vaquinha para isso? Porque o que levamos desta vida? Nós só levamos o que estamos vivendo. O dinheiro ajuda no dia a dia, fora disso, não serve para nada.

    Mas, infelizmente, a podridão do mercado internacional prevalece. Aqui, Sr. Presidente, quase para encerrar, infelizmente, há muita coisa que eu queria falar e não posso. Eu não posso nem citar nomes. Mas nós temos unidades hospitalares aqui que dizem o seguinte - olha o que eles dizem. Eu não posso falar o nome, nem a unidade, nem o Estado, mas dizem o seguinte sobre esse tratamento: infelizmente não podem, de maneira nenhuma - eu quero ver se encontro aqui o documento. É tanta papelada, gente! -, precisa passar pelos laboratórios, precisa passar por outros países, precisa passar por outros setores internacionais, porque o sistema de tratamento é internacional. Ele precisa passar por uma tal de MD Anderson, alguma coisa assim, parecida - MD Anderson para os adultos, St Jude não sei o que para os menores. Até a comida, gente, para esses pacientes, tem que passar via França, via não sei onde. Tudo é esquema para dinheiro.

    Eu sei que há muitas unidades nossas no Brasil que fazem um trabalho de saúde extraordinário, de tudo quanto é lado.

    Mas está aqui, encontrei aqui. É tanto papel! A pessoa responde para um dos pesquisadores: "Eu sou obrigado a seguir as regras do jogo da Medicina - crianças no St Jude, adultos no MD Anderson". Ele falou: "É igual a você pegar uma franquia do McDonald's, você é obrigado a seguir a franquia."

    Então, se lá da (Expressão vedada pelo art. 19 do Regimento Interno do Senado Federal.) - desculpe a expressão - ou do inferno, vem uma medida, Sr. Presidente - desculpe a expressão, mas lá do inferno -, de que aqui tem que tomar veneno, e o pessoal tem de acompanhar, isso é um absurdo! Desculpe a expressão, para todo o mundo que está assistindo em casa, mas todo o mundo sabe, isso é um absurdo! Aí diz lá, então, vem de lá para cá, tem de tomar veneno porque está liberado lá não sei onde; então vai fazer aqui? Não, gente! Lá, nos Estados Unidos, matam as pessoas; aqui o pessoal não tem pena de morte. Então, é o contrário, gente!

    Eu estou aqui indignado porque está aqui, gente! Olha como é que é considerado esse sistema de radioterapia, de quimioterapia? É tudo com medicamento importado desses países que ditam a regra do jogo no nosso País, gente!

    E não vou aceitar calado! Não dá para aceitar! Olha que situação vivemos: enquanto estão liberando aqui o Yervoy, que é um medicamento de 240 mil, e um comprimido, Telmário, que vem aqui para poder curar as pessoas não pode ser distribuído. Está aqui, é depoimento de pessoas que não posso divulgar, que a situação é desse jeito. Esse pessoal, que comprou esses equipamentos e investe 8, 10, 15, 20 milhões para poder comprar um equipamento desses, depois quer tirar esse dinheiro. Desculpem-me as pessoas que investiram nesse negócio, investiram porque estão ganhando ou estão fazendo trabalho social, mas se, amanhã, o comprimido custar R$0,10, que percam esse equipamento, mas salvem os teus amigos, salvem a tua família, salvem a vocês mesmos! É só salvar a nós mesmos!

    Eu sempre digo o seguinte: ninguém de nós, seres humanos, pode dizer que dessa água não bebemos; amanhã podemos precisar.

(Soa a campainha.)

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - Então, Sr. Presidente, eu estou indignado.

    Eu quero aqui, se o senhor me permitir mais dois minutos, só ler dois depoimentos de pessoas que me mandaram e-mails, que são vários depoimentos, mas estes aqui são... Olhe aqui, olhe que situação aqui. Eu estou aqui com um depoimento que mandaram para o Senador Ivo Cassol:

Boa noite. Gostaria da sua atenção por um momento. Meu nome é Rosimari Cabral, casada há 20 anos e com uma filha de 11 anos. Meu marido é um homem trabalhador, teve uma infância pobre, mas resistiu, estudou e conseguiu um trabalho digno. Dedicou 42 anos da sua vida ao trabalho; se aposentou para curtir a filha caçula de 11 anos, três irmãos meninos e os netos. Mas o destino nos pregou uma peça, ele foi diagnosticado com câncer de reto, com metástase no pulmão, fígado e peritônio. Nosso chão se abriu como se fosse uma sentença de morte. Tínhamos duas opções: sentar e chorar, ou lutar. Escolhemos lutar pela vida, e assim tem sido nossa jornada, dia após dia, internação após internação, em meio à quimioterapia e seus efeitos colaterais.

    Olhe aqui:

E assim tem sido nossa jornada, dia após dia, internação após internação, em meio à quimioterapia e seus efeitos colaterais. E hoje venho aqui pedir a sua ajuda para milhares de brasileiros que lutam pela vida, que querem a oportunidade de criar seus filhos, de crianças que desejam crescer e serem felizes. Nos ajude com a nova medicação que pode ser um sopro de vida para milhares e milhares ou milhões de pessoas com câncer. Lute por nós, que seremos gratos. Fosfoetanolamina é o potencial de cura. Câncer tem cura. Vocês só precisam nos ajudar. Obrigada.

    São as palavras dela.

    E, com essas palavras, eu encerro e digo: o câncer tem cura!

    É ter fé em Deus e nos unirmos pelo mesmo propósito, porque, senão, amanhã, as vítimas seremos nós.

    Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (João Capiberibe. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - Senador Cassol, seu apelo realmente é dramático. Dá para perceber que V. Exª está apelando para que as autoridades liberem esse medicamento, e eu quero lhe dizer que sou solidário a essas pessoas. Conheço vários casos dramáticos também que exigem de nós uma tomada de posição.

    O SR. IVO CASSOL (Bloco Apoio Governo/PP - RO) - Obrigado, Sr. Presidente. Eu só gostaria aqui de dizer para quem ainda tem alguma dúvida que pesquise. Foi acompanhado, na última quinta-feira, à tarde, por dois jornalistas, um do G1 e outro da Globo, de Campinas, EPTV se não estou enganado, e estão sendo publicadas todas essas matérias.

    Se algum órgão público federal ou estadual tiver alguma dúvida, que participem junto com esses pesquisadores, mas essa descoberta não pode mais ficar embaixo do tapete. Essa descoberta não pode ficar no interesse particular. Essa descoberta é nossa, é do povo brasileiro.

    E sabem o que - o senhor não estava no começo - esses pesquisadores querem em troca? Eles só querem um centro de pesquisa, só querem um centro de pesquisa em troca da patente. Não querem mais nada. Já foram convidados para irem para o Rio Grande do Sul, com um deputado estadual que se prontificou a peitar tudo, e começarem a produzir lá, já foram convidados para outros países para levar essa patente para lá, e nós aqui vamos perder.

    Está acontecendo bem diferente, Santos Dumont era brasileiro e foi embora para poder colocar em prática o seu sonho. Aqui não, descobriram a cura do câncer. Por que não dar chance para quem está doente e que está me assistindo de tomar o medicamento? Por que não dar chance para os familiares terem entre eles, por muito mais tempo, essas pessoas?

    Eu ouvi um médico, esse mesmo médico que me falou e que é dono de uma clínica, falar: "Senador, quando ninguém morre prematuro, o que mais leva à morte são duas situações: uma, cardíaca, e outra, por câncer".

    Portanto, o dinheiro não pode se sobrepôr à vida. É por isso que estou aqui no plenário. Desculpem-me aqui a expressão que usei aqui, infelizmente, sei que é forte, mas não é justo outros países virem botar veneno para nós tomarmos e nós sermos obrigados a conviver.

    A quimioterapia ajuda, mas, infelizmente, deixa as pessoas até sem medula óssea, depois, precisam até de transplante. Ela acaba com as pessoas. E se nós temos um medicamento tão barato, que custa tão barato, não é justo sermos escravos do restante que está aí.

    Então, temos que colocar isso em pratica, porque, para quem já está com câncer, com certeza, esse medicamento só vai fazer bem, mal não vai fazer.

    Obrigado, desculpe-me todo mundo, e que Deus continue nos abençoando.

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/10/2015 - Página 439