Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque para a exposição sobre a obra do folclorista potiguar Câmara Cascudo, a ser inaugurada em 20 de outubro no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo; e outro assunto.

Autor
Fátima Bezerra (PT - Partido dos Trabalhadores/RN)
Nome completo: Maria de Fátima Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CULTURA:
  • Destaque para a exposição sobre a obra do folclorista potiguar Câmara Cascudo, a ser inaugurada em 20 de outubro no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo; e outro assunto.
HOMENAGEM:
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2015 - Página 142
Assuntos
Outros > CULTURA
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • ANUNCIO, REALIZAÇÃO, EXPOSIÇÃO, OBRA LITERARIA, AUTORIA, LUIS DA CAMARA CASCUDO, LOCAL, MUSEU, LINGUA PORTUGUESA, CAPITAL DE ESTADO, SÃO PAULO (SP).
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, PROFESSOR, ELOGIO, TRABALHADOR, EDUCAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, PROFISSÃO.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Senador Telmário. (Fora do microfone.)

    Nós queremos, mais uma vez, cumprimentar o Senador Telmário, o Senador Randolfe, o Senador Cristovam, os ouvintes da Rádio Senado e os telespectadores da TV Senado.

    Dois registros, Senador Telmário.

    Primeiro, quero fazer um registro de que quem visitar a cidade de São Paulo nos próximos quatro meses, depois do dia 20 de outubro, não pode perder a exposição sobre a obra do folclorista, intelectual e etnógrafo potiguar Câmara Cascudo.

    Pela primeira vez, o universo de Câmara Cascudo, Senador Cristovam, ocupará um dos mais importantes centros culturais da América Latina. Refiro-me ao Museu da Língua Portuguesa, situado na Estação da Luz.

    Pois bem, Câmara Cascudo chega ao Museu da Língua Portuguesa em uma mostra interativa que contou com o apoio integral da família do escritor. A ideia dessa exposição é fazer o público se sentir como se estivesse na própria casa de Cascudo, tocando na sua máquina de escrever, lendo suas inúmeras cartas e ouvindo o próprio escritor ler seus escritos em voz alta.

    Eu posso adiantar, realmente, que a exposição será linda. Eu vi o projeto que eles idealizaram.

    Luís da Câmara Cascudo, natalense que soube representar com maestria o que é ser brasileiro, foi capaz de retratar a memória coletiva do povo brasileiro, descrevendo desde o nosso folclore até os aspectos antropológicos e etnográficos que constituem a história da nossa alimentação. Tenho convicção de que, daqui a centenas de anos, estudiosos terão nas obras de Câmara Cascudo as principais referências no resgate de nossos hábitos e costumes.

    Entre suas mais de 150 obras, o pesquisador abordou a história de Natal, Mossoró e do nosso querido Rio Grande do Norte, os elementos que compõem as culturas brasileiras, escreveu sobre importantes figuras de sua época e de outros tempos, destrinchou a riqueza de nosso folclore como ninguém, em seu famoso dicionário do folclore brasileiro e nos presenteou com aquela que é considerada a mais completa obra sobre os elementos que compõem a nossa cultura alimentar, o livro "História da Alimentação no Brasil".

    O projeto, ou seja, a exposição interativa Câmara Cascudo no Museu da Língua Portuguesa, é realizado em parceria com o Instituto Ludovicus e a Casa da Ribeira, ambos do Rio Grande do Norte.

    Eu quero parabenizar a Casa da Ribeira por intermédio de Gustavo Wanderley, pela seriedade e pela dedicação nessa parceria. Quero também parabenizar toda a família por intermédio da neta do folclorista, Daliana Cascudo, que é Presidente do Instituto Ludovicus.

    Como ela mesma já destacou, a exposição é a realização de um antigo sonho da família. Segundo Daliana Cascudo, neta de Câmara, a intenção com essa exposição é aproximar Cascudo, vivo e atual, do grande público, não só tornando-o conhecido, como merece, mas também levando as riquezas do Rio Grande do Norte para o resto do País e do mundo.

    É importante lembrar que Cascudo nunca quis sair do Estado que amava, da sua terra natal, o Rio Grande do Norte, definindo-se, portanto, como um provinciano incurável, como dizia ele.

    Tenho certeza, senhores e senhoras, de que quem visitar a exposição de Câmara Cascudo, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, a partir deste dia 20, se reconhecerá na obra de Câmara Cascudo, por se tratar de um mergulho não só no universo literário, mas também na cultura popular, na gastronomia e no idioma dos diversos brasis que Cascudo soube tão bem retratar.

    Senador Cristovam, pois não, com o maior prazer.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Quando achar melhor.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Concedo um aparte a V. Exª.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu queria fazer apenas uma referência. Primeiro, somos três nordestinos os que restaram esta noite: dois pernambucanos e uma rio-grandense-do-norte. E nós somos nordestinos, porque ali nascemos, mas somos também pela maneira como nós vemos o Nordeste. E nós vemos não pelo que nossos olhos mostram, mas pelo que alguns intelectuais pensadores nos mostraram. O Nordeste que conheço vem de Câmara Cascudo. Eu, ainda muito novo, lia as obras dele e via o exemplo de vida dele, via o sentimento do patriotismo regionalista que ele tinha. Via isso em Gilberto Freire também, embora com uma diferença grande no sentido da elitização, digamos, do objeto a ser estudado, como também em Celso Furtado, que nos mostrou o que é o Nordeste. Eu devo a Câmara Cascudo a maneira como vejo o Nordeste. Descobri o Nordeste lendo, entre outros, Câmara Cascudo. Por isso, fico muito ansioso em poder visitar essa exposição a que a senhora está se referindo. Confesso que eu não sabia que ela estava em marcha. Essa será uma oportunidade para nós. Eu gostaria muito que todo mundo pudesse assistir a essa exposição, para saber o que foi um grande pensador local, que viu, a partir do local, o mundo inteiro nas obras que ele escreveu. Muito obrigado pela indicação, Senadora Fátima.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Senador Cristovam, não é à toa que Cascudo, com a sensibilidade que tinha, com a sabedoria, com a inteligência... Enfim, essa exposição, na verdade, vai permitir ao Brasil e ao mundo conhecer não só o universo literário de Cascudo, mas também a cultura popular, o Dicionário do Folclore Brasileiro, de autoria de Cascudo, e o seu livro História da Alimentação no Brasil.

    Cascudo é considerado um dos maiores folcloristas não só do Brasil ou da América Latina, mas do mundo. Sua obra é de uma magnitude extraordinária. Daí quero dizer, como norte-rio-grandense, da alegria e do orgulho que temos em ver Cascudo, por exemplo, adentrar o museu de São Paulo. É muito importante para nós e, sem dúvida, para o Brasil conhecê-lo, repito.

    Quero dizer a V. Exª que se prepare para visitar a exposição, que começa no dia 20 - no dia 19, será a abertura - e que vai até fevereiro, no Museu da Língua Portuguesa.

    Mais uma vez, Senador, quero aqui parabenizar a família Cascudo pela garra e pela disposição, bem como a Casa da Ribeira, porque foi a Casa da Ribeira e o instituto Ludovicus, administrado pela família de Cascudo, que, de fato, toparam encarar essa aventura. O senhor há de convir que não é simples, de maneira nenhuma, não só levar uma exposição como essa para uma casa da dimensão do Museu da Língua Portuguesa, mas, sobretudo, mantê-la.

    Aqui, também quero destacar a participação do Governo Federal, em boa hora, através dos Correios - quero aqui agradecer ao seu Presidente, Wagner Pinheiro - e da Petrobras - agradeço ao seu Presidente. Senador Randolfe, tanto os Correios como a Petrobras deram uma contribuição muito importante no que diz respeito a assegurar e a viabilizar essa importante exposição de Cascudo.

    Enfim, estou muito ansiosa. Senador Cristovam, assim como como V. Exª, estou muito ansiosa para chegar lá e ver Cascudo no Museu da Língua Portuguesa. Certamente, será visitado. Será uma exposição muito prestigiada, muito visitada por todo o Brasil, por todo mundo, inclusive pelo nosso Rio Grande do Norte.

    Outro registro, Sr. Presidente, Senador Randolfe, quero aqui fazer rapidamente. Amanhã, dia 15 de outubro, Senador Cristovam, é o Dia do Professor e da Professora. É evidente que tanto eu como V. Exª temos de render nossa...

    O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP. Fora do microfone.) - Somos três professores aqui.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Somos três professores. O senhor também o é. Então, temos de render nossas homenagens, Senador Randolfe, a esses profissionais que desempenham atividade tão importante para a formação de cada um de nós.

    Fico pensando, Senador Cristovam: quem de nós não guarda na lembrança a figura de um professor que, de repente, fez diferença no rumo, no destino das nossas vidas?

    Os professores, na verdade, exercem um papel muito singular, muito singular mesmo. Eles desempenham um papel de caráter muito estratégico no contexto da sociedade. É um papel muito singular, muito especial, porque o professor trabalha com a formação, trabalha com o saber e com o ensino. Ele aprende e ensina. Como dizia Paulo Freire, os professores não só ensinam, não só transmitem o saber; os professores são, antes de tudo, os pedagogos da esperança.

    Paulo Freire dizia que os professores são, antes de tudo, Senador Randolfe, os semeadores da utopia, daquela utopia que nos alimenta, que alimenta a sociedade, em que seja banido qualquer tipo de preconceito, de intolerância, de discriminação, de opressão.

    Então, quero me antecipar, já que amanhã é o dia 15 de outubro, Dia do Professor, para render nossas homenagens aos professores, mas também aos demais profissionais de educação, já que os demais servidores das nossas escolas são responsáveis pela educação e pela formação dos nossos meninos e meninas.

    Quero dizer, Senador Cristovam, que homenagear o Dia do Professor nesse 15 de outubro de 2015 é reafirmar, sobretudo, nossa convicção, nosso compromisso de dar continuidade à luta em defesa da educação.

    Neste momento, nesse 15 de outubro, quero homenagear os professores, destacando nosso compromisso, nosso empenho, inclusive, na Comissão de Educação e Cultura do Senado, da qual V. Exª é um integrante muito especial, como também o Senador Randolfe.

    Então, neste dia, quero dizer aos professores e às professoras do Brasil que, mais do que nunca, em 2015, vamos estar, Senador Randolfe, com os olhos voltados para as Metas 15, 16, 17 e 18 do Novo Plano Nacional de Educação. Quais são essas metas? A Meta 15 é a que determina o estabelecimento da Política Nacional de Formação para os Profissionais da Educação. A Meta 16 prevê a formação continuada para os professores em sua área de atuação. A Meta 17 determina a equiparação dos rendimentos médios dos profissionais da educação com os valores médios dos demais profissionais com escolaridade equivalente. A Meta 18, Senador Cristovam, é a que assegura planos de carreira para todos os profissionais da educação. Isso tem de ser concluído, tem de ser efetivado, de acordo com a Meta 18 do PNE, no prazo de dois anos.

    Quero, portanto, destacar essas quatro metas do PNE, que são a alma do professor. Por que são a alma do professor? Por que são as metas que falam não só da melhoria salarial, mas também da formação e da carreira do professor.

    Esses são elementos essenciais para que possamos realmente avançar no que diz respeito à dignidade e à valorização do magistério brasileiro.

    Quero dizer, Senador Cristovam, olhando para V. Exª, que V. Exª sabe que lutamos muito. Tenho muito orgulho de, na época em que eu era Deputada Federal e em que V. Exª estava nesta Casa, termos tido a parceria que tivemos, por exemplo, para aprovar o Fundeb. V. Exª sabe que, sem o Fundeb, não poderíamos ter dado aquele outro passo importante do ponto de vista de início da luta, que resultou na aprovação da Lei nº 11.787, inclusive de sua autoria - o Presidente mandou um projeto de lei para cá, que foi, na verdade, anexado ao projeto de autoria de V. Exª.

    Então, assim, veio o Fundeb e, depois, a Lei nº 11.738, da qual, graças a Deus, fui uma das idealizadoras no debate em torno do Plano Nacional da Educação. Aquela lei nos custou muito, como o senhor lembra, para garantir a questão de um terço destinado para a carga horária. Nós, inclusive, na época, construímos uma frente. Lembra-se disso?

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Lembro.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Era a Frente Parlamentar pelo Cumprimento do Piso Salarial do Magistério. O piso, ou a lei, tinha sido sancionado pelo Presidente Lula, mas, em seguida, infelizmente, num gesto de tamanha infelicidade, alguns governadores entraram com uma ação no Supremo. Nós criamos aquela frente - eu estava na Câmara, e o senhor estava aqui, no Senado -, mas o fato é que, enfim, conseguimos preservar a lei, porque, depois, o Supremo reafirmou a constitucionalidade de lei. É evidente que, infelizmente, em muitos lugares pelos País afora, não se cumpre essa lei na sua integralidade.

    Mas, mais do que isso, vamos olhar para o futuro. E, no futuro, Senador Randolfe, temos de nos preparar para que as Metas 15, 16, 17 e 18 do novo PNE sejam realmente cumpridas. Há a meta, inclusive, que vai garantir ao professor do nosso Brasil um salário melhor, que não é ainda o ideal. Mas vamos avançarmos do ponto de vista da melhoria salarial.

    Então, eu quero terminar.

    Pois não, Senador.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senadora, permite-me um aparte? A essa altura, acho que, em homenagem aos professores, vale a pena a gente quebrar o ritual de ser apenas um aparte para cada orador.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Além do mais, Senador Randolfe, com sua compreensão, ao falar do Dia do Professor, um aparte do Senador Cristovam, com a biografia, com a história que ele tem de luta e de compromisso em defesa da educação, na realidade, enriquece muito a nossa reflexão.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senadora. Quero apenas reafirmar meu orgulho desta lei que nós construímos juntos, com o apoio do Presidente Lula, a lei do piso salarial. Digo que essa lei poderia ser a Lei Bezerra-Buarque ou a Lei Buarque-Bezerra. É uma lei que, a meu ver, deu um passo fundamental na criação da primeira unidade nacional para a educação de todas as crianças brasileiras. Nessa homenagem aos professores, quero dizer aqui que tenho, com muita satisfação, na parede da minha sala no Senado, a foto de sete professores que marcaram minha vida, começando pela minha primeira professora. Está lá a foto dela na minha parede, Senador Randolfe, ao lado da foto de outros professores que estiveram presentes até minha última etapa de formação, no meu doutorado, na França. Coloquei a foto de cada um deles, porque eles é que fizeram a gente. Nós seres humanos nascemos duas vezes. Uma vez, nascemos graças à nossa mãe e ao nosso pai, que, obviamente, deu uma contribuição muito grande. Ali a gente nasce biologicamente. Mas os outros animais também nascem assim; naquele momento, não há diferença. A gente nasce outra vez quando entra na escola. O professor ou a professora é o segundo pai ou a segunda mãe da vida da gente. É ele ou ela o pai ou a mãe intelectual. Quero aqui agradecer a todos esses que me ajudaram a nascer uma, duas, três vezes, que foram os professores que tive ao longo da minha vida.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Muito obrigada, Senador Cristovam. Faço minhas as suas palavras também de agradecimento.

    A minha primeira professora, que me ensinou o ABC, foi minha prima chamada Marisinha. A partir daí, passei por Nova Palmeira e por Picuí, na Paraíba, e, depois, pelo Rio Grande do Norte, que me acolheu, sempre na rede pública.

    Portanto, reafirmo nosso compromisso com a luta pela valorização do professor, em defesa da educação.

    Nós seremos, Senador Cristovam, Senador Randolfe, não tenho nenhuma dúvida, sempre incansáveis na luta em defesa da educação, por saber o que significa a educação para o projeto de desenvolvimento com sustentabilidade, que nós queremos. E promover a educação significa olharmos com todo o carinho, mas com muito carinho mesmo, para o professor, para o magistério.

    Portanto, o meu abraço a todos os professores e professoras do meu Estado e do Brasil pelo dia 15 de outubro, Dia do Professor.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2015 - Página 142