Discurso durante a 196ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque à necessidade de investimento na recuperação econômica e na preservação de empregos no País.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Destaque à necessidade de investimento na recuperação econômica e na preservação de empregos no País.
Aparteantes
Jorge Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/2015 - Página 185
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • REGISTRO, DIFICULDADE, FINANÇAS PUBLICAS, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO FEDERAL, PREJUIZO, ATENDIMENTO, SAUDE PUBLICA, CRESCIMENTO, DESEMPREGO, DEFESA, INVESTIMENTO, RECUPERAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, PRESERVAÇÃO, EMPREGO, PAIS.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, acho que há, por parte do País, certa alienação com o tamanho da crise que estamos vivendo. Eu falo do País porque acho que há uma alienação por parte do Governo e de setores da Oposição também, com relação a várias crises que vivemos: uma crise política, uma crise econômica, uma crise social.

    Com relação à crise política, nós aliviamos um pouco aquela pressão sobre o impeachment da Presidenta Dilma, e a situação melhorou com a nova articulação política montada pelo Governo. No entanto, a crise econômica se agrava, e a crise social começa a mostrar os seus reflexos, na minha avaliação.

    Andando pelo Rio de Janeiro, Senador Fernando Bezerra, nota-se que há uma piora sensível dos serviços públicos, eu diria, em especial, da saúde. Nós sabemos que as prefeituras estão com grande dificuldade orçamentária, os Governos Estaduais também, assim como o Governo Federal. Há três ajustes que acontecem ao mesmo tempo. O que ocorre na ponta é o que tenho visto no Rio de Janeiro: postos de saúde fechando, farmácias populares fechando, falta de profissionais, de médicos. Por outro lado, temos o aumento do desemprego.

    Em particular, impressionaram-me muito algumas conversas que tive na semana passada, em Brasília, sobre projeções da nossa crise econômica. Infelizmente, os números pioram a cada semana que passa. Há aqueles que estão fazendo avaliação de recessão de 3,4% este ano e de uma recessão superior a 3%. Há aqueles que falam em 16% de desemprego.

    Na semana passada, citei, aqui, a pesquisa do Ibope, porque muita gente fala da avaliação do Lula, da Dilma, do PT. "O Governo está nas profundezas, em relação à avaliação do seu Governo", mas também veio uma pesquisa do Ibope mostrando as principais lideranças da oposição: Senador José Serra, com 54% de rejeição; Alckmin, com 52% de rejeição; Ciro Gomes, 52% de rejeição; Marina Silva, 50% de rejeição; Senador Aécio, 47% de rejeição.

    Falei com o Senador Aécio, e ele até se irritou comigo, mas não foi para provocá-lo. Estou fazendo uma análise do quadro geral. É uma rejeição a toda política. Com o Senador Aécio, o caso é mais emblemático, Ribamar, porque, quando se disputa eleição com outro candidato, e o que ganha é mal avaliado, a pessoa surfa em popularidade. Não está acontecendo isso no País.

    Agora, acho que a situação vai piorar, e piorar muito, com o agravamento dessa crise econômica e social, Senador Jorge Viana. A minha preocupação, a grande preocupação do País, hoje, é a recuperação econômica e a preservação dos empregos, porque, se o clima está assim este ano, como é que estará com o desemprego de 12%? Acho que a situação mais parecida com essa para a qual estamos caminhando é a da Argentina, naquela crise em que houve vários presidentes da república em poucos dias, que o povo argentino entoou a palavra "que se vão todos". Podemos estar gerando essa situação aqui, no próximo ano, porque, se há 50% de rejeição a todas as lideranças agora, quando o desemprego é 7,6%, como é que vai ser quando estiver em 12%?

    Senador Jorge Viana.

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu queria cumprimentá-lo mais uma vez, Senador Lindbergh. V. Exª tem se preparado e trazido para a tribuna do Senado temas que, para alguns, podem até ser espinhosos, mas com a história de vida, apesar da pouca idade que V. Exª tem, são temas necessários para debatermos aqui. E vi a preocupação, quando V. Exª estava se levantando, e acho que eu estava presidindo, quanto à pesquisa, que mostra uma rejeição generalizada por parte da opinião pública às lideranças políticas do País. Para um país como o Brasil, continental, com 205 milhões de pessoas, que já está vivendo uma crise econômica que se agrava, as consequências deste enfrentamento é a pior notícia, porque boa parte da nossa crise é de confiança. Por mais que tenhamos questões importantes a serem enfrentadas, e até deveriam ter sido enfrentadas antes, não há como fugirmos de uma questão básica. Qualquer crise no mundo, em qualquer país do mundo, do ponto de vista econômico, a primeira medida é chamar os líderes políticos para sentar e encontrar caminhos para enfrentar essa crise econômica. Aqui, no Brasil, acho que estamos vendo, primeiro, o resultado de uma ação perversa, de uma ação dirigida, que começou contra o PT, depois passou a ser contra a Presidenta Dilma. Lembre-se bem que, no primeiro mandato da Presidenta Dilma, nos dois primeiros anos, ela foi blindada por setores da imprensa e até da oposição. Era a faxineira! Era elogiada todo dia como a faxineira da República, que estava limpando a sujeira que o Lula tinha deixado. Tentavam atingir o Lula. Depois, a Presidenta resolveu ser candidata à reeleição. Eu não quero nem entrar nesse mérito, que é para não passar a minha opinião, que sempre foi bem diferente da de muitos - não é esse o ponto -, e resolveram, então, partir para cima da Presidenta Dilma, de novo tendo o PT como alvo principal. Essa situação foi tão forte de setores da grande imprensa, de setores da elite brasileira, inclusive que muito se beneficiou, que atingiu o País, atingiu o cidadão. Eu vivo toda semana no Acre, conversando com as pessoas. Está lá embaixo! Eu conversava com um pequeno industrial no Acre, o Antônio Carlos. Ele produz refrigerantes de linha muito popular, essa linha alternativa, as tubaínas. Ele tem uma indústria no Acre. Caiu mais de 20% a venda dele. Quem compra aquele refrigerante são as pessoas mais pobres da nossa sociedade. Se queriam atingir o PT, o Governo, estão atingindo a população brasileira. Estamos vendo aí o ovo da serpente, que está vindo, está sendo gestado, e isso é gravíssimo, porque a desmoralização é geral. Se a ficha da oposição não caiu, tem que cair. Não é só o Lula e o PT que estão sofrendo. Isso é fato. Quem está sofrendo fortemente hoje é toda a classe política. E o que vai ser feito com Eduardo Cunha? Do seu Estado. Era o líder que a oposição usava - dirigente de uma instituição importante, que é a Câmara dos Deputados - como instrumento para botar a pá de cal em cima do Governo da Presidenta Dilma. Ele passou a ser um problema grave. Faz um discurso dúbio, tentando dar sinal para Governo e para a Oposição, mas quem prometer salvar Eduardo Cunha não vai entregar essa mercadoria. A sociedade brasileira está clamando. Então, nós temos que ir por partes, mas um problema grave hoje se instala na Comissão de Ética na Câmara. Um problema grave é: o que o País vai fazer com o Presidente da Câmara dos Deputados? Como é que o Brasil vai enfrentar uma crise grave dessa, inclusive política, com o terceiro homem na sucessão passando pelo que está passando, o Sr. Eduardo Cunha? Qual é a resposta? Então, era a hora de os Líderes... Eu ouvi uma entrevista do Presidente Fernando Henrique Cardoso ao Roberto d'Ávila. Ouvi com atenção. Por que o Presidente Fernando Henrique Cardoso está sendo tão procurado pela grande imprensa? Repito: por que o Presidente Fernando Henrique está sendo tão procurado pela grande imprensa? Porque a oposição, os Líderes convencionais e formais não estão tendo voz, nem diante da grande imprensa. E, aí, é o Presidente Fernando Henrique, que já não é mais candidato a nada, que é usado. Mas ele é um homem experiente, deveria fazer parte desse arranjo e de nós tentarmos consertar o País. Ele, o Presidente Lula e outras figuras importantes. É essa a esperança, sinceramente, que eu tenho, porque a situação está chegando a um ponto que não tem saída, a não ser os que não concordam com nada, uns com os outros, sentarem...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... para tratar dos interesses do País. Agora, temos, primeiro, que começar a resolver as questões como... Não é a Dilma! Dilma foi eleita legitimamente. Não há nada que pese contra a Presidenta Dilma do ponto de vista pessoal. Há do ponto de vista político, e isso faz parte. O Sr. Eduardo Cunha é outra coisa. E ele é peça-chave nesse processo, nesse jogo de intriga, de briga e de confronto que o País vive. Desculpa por ter-me alongado, mas eu queria parabenizar V. Exª e dizer: a oposição não está entendendo que o problema que nós estamos vivendo, político, não é só do PT, nem do Lula, nem da Presidenta Dilma. É dela, especialmente, porque ela não tem nada para pôr no lugar e tem um problema a resolver, chamado Eduardo Cunha.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não, eu só agradeço o aparte. Foi muito bom, Senador Jorge Viana.

    Eu sempre falei aqui. Tenho criticado, desde o começo do ano, o rumo da política econômica.

    Eu não estou querendo jogar só no colo da oposição. Agora, sem sombra de dúvida, esse comportamento da oposição com a ideia fixa de impeachment, esse processo começou desde o começo do Governo da Dilma Rousseff...

(Interrupção do som.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Esse processo da oposição está tendo influência, sim, no clima econômico, na recuperação de confiança. E o que está passando para o povo, sabe o que é? Volto a dizer: o povo está tendo a piora nos serviços públicos, porque isso é real, nós sabemos, em cada Município do Brasil, em especial na saúde; aumento do desemprego; corrupção, que ele vê todo dia nos jornais; inflação alta. E ele olha para Brasília: só briga. É como se fosse uma briga pelo poder desmedida, sem noção. Então, eu acho que todos nós aqui temos que refletir.

    E eu queria só entrar no último ponto, para encerrar. Eu sempre fui um crítico dessa política econômica, mas eu acho o seguinte: o nosso prazo está encurtando. Se alguém acha que a gente vai conseguir segurar as rédeas deste País com 12% de desemprego no meio do ano... Nós sabemos como vai ser difícil, porque é uma regressão social violentíssima em um ano e meio. Em um ano e meio, a gente tinha a época pré-Lula.

    E aqui vou entrar nos pontos - para encerrar, Senador Fernando Bezerra - do fracasso dessa política econômica. Saiu na semana passada o relatório do Banco Central sobre a política fiscal. Há alguns pontos... Veja bem: o ajuste foi feito para melhorar a situação das contas públicas. O déficit nosso, no final do ano, foi de 6,7%. Foi alto. Sabe quanto está agora, Senador Fernando Bezerra? Em 9,5%. Desses aí, 8,89% - estou lendo o Banco Central - do PIB em pagamento de juros. Nós pagamos, no acumulado de setembro a setembro, 510 bilhões de juros. O orçamento da saúde é 100; o orçamento da educação, um pouco menos de 100 bilhões.

    Mais grave, olhem o termo que se usa aqui para comparar este ano com o ano passado: no acumulado do ano, os juros nominais totalizaram 408 bi, comparativamente a 209 bi no mesmo período do ano anterior - quase 200 bilhões a mais.

    Aí, ele fala sobre o déficit nominal este ano: 416 bi. Só que 408 de pagamento de juros.

    Eu, inclusive, estou trabalhando em um artigo e fiz um gráfico mostrando o seguinte: que todos os indicadores pioraram. Piorou o déficit nominal, piorou o que pagamos de juros, piorou o desemprego, que está piorando muito, piorou a inflação. Você podia até questionar a política da Presidenta Dilma de ter segurado o preço da gasolina e o preço da energia elétrica, mas não precisava fazer um choque de tarifas de uma vez só. Aquilo derrubou a popularidade da Presidenta Dilma e colocou a inflação nesses níveis. Nós poderíamos ter feito uma operação mais gradual.

    Eu falo tudo isso para dizer o seguinte: nosso prazo está se esgotando. Nós temos que, de alguma forma, em vez do samba de uma nota só do ajuste fiscal, voltar a pensar em crescimento econômico, em preservação do emprego, porque a crise é muito maior do que o que a gente está pensando. E o alerta aos Srs. Senadores e às Srªs Senadoras é que essa crise vai pegar em cheio a política, de uma forma geral, e nós podemos estar vivendo algo semelhante ao que viveu a Itália depois da operação Mãos Limpas, porque quem afundou na Itália foram todas as estruturas partidárias, e surgiu o novo. E o novo foi um novo terrível, que foi um novo como o Berlusconi. Se a gente não tiver cuidado com o que vai acontecer aqui no Brasil, vamos ter o agravamento da crise econômica e social, com consequências terríveis, a meu ver, para a democracia brasileira. O que está em xeque não é o partido A ou o partido B, é a democracia brasileira.

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Por isso, neste grau de alienação em que eu acho que vive uma parte do País, chamo atenção do Governo e do meu Partido, o PT, para que a gente consiga fazer a virada na economia, de forma a preservar os empregos e o crescimento econômico.

    Muito obrigado, Senador Fernando Bezerra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/2015 - Página 185