Discurso durante a 198ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações acerca dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e destaque à importância do evento para a valorização da cultura indígena.

Autor
Donizeti Nogueira (PT - Partido dos Trabalhadores/TO)
Nome completo: Divino Donizeti Borges Nogueira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Considerações acerca dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e destaque à importância do evento para a valorização da cultura indígena.
Aparteantes
Lasier Martins.
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2015 - Página 241
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Indexação
  • ELOGIO, REALIZAÇÃO, OLIMPIADAS, PARTICIPAÇÃO, GRUPO INDIGENA, AMBITO INTERNACIONAL, LOCAL, CIDADE, PALMAS (TO), REGISTRO, GOVERNO FEDERAL, PATROCINIO, EVENTO, APOIO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO TOCANTINS (TO), COMENTARIO, IMPORTANCIA, CAMPEONATO MUNDIAL, REFERENCIA, PROMOÇÃO, CULTURA, COMUNIDADE INDIGENA, DEFESA, REJEIÇÃO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, ASSUNTO, DEMARCAÇÃO, RESERVA INDIGENA.

    O SR. DONIZETI NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PT - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Dário Berger, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, eu estou me inscrevendo para fazer um breve registro do que foram os primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, um evento extraordinário na grandiosidade com que se apresentaram os povos indígenas de diversos países do mundo.

    O Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, liderado pelos irmãos Carlos e Marcos Terena, realizou um evento magnífico, único e de extrema importância para a valorização da cultura dos povos indígenas ao redor do mundo.

    O evento contou com o patrocínio do Governo Federal e com o apoio do Governo do Estado de Tocantins e da Prefeitura de Palmas, em parceria com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Sebrae, o Senac e o MDA. Inúmeras outras instituições apoiaram como parceiras.

    E cantou a grande compositora e intérprete Margareth Menezes a música do compositor Caetano Veloso Um Índio. Com sua voz vibrante e seus sentimentos, ao cantar, só com a voz, sem nenhum instrumento, ela calou a arena dos Jogos dos Povos Indígenas, com mais de 5 mil pessoas.

Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante

De uma estrela que virá numa velocidade estonteante

E pousará no coração do Hemisfério Sul, na América, num claro instante.

Um índio preservado em pleno corpo físico

Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro

Em sombra, em luz, em som magnífico.

    Ainda durante a abertura, fomos surpreendidos com um momento de civismo e beleza singular, ouvindo o Hino Nacional cantado em língua ticuna pela cantora Djuena.

    Vale destacar, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, a presença da Presidenta Dilma na abertura dos jogos, ao lado dos Ministros George Hilton, do Esporte, Kátia Abreu, da Agricultura, e José Eduardo Cardozo, da Justiça, e dos Governadores Wellington Dias, do Piauí, e Marcelo Miranda, do nosso Estado do Tocantins, além dos Senadores Vicentinho Alves, Donizeti Nogueira, Telmário Mota, de Deputados Federais e do Presidente da Funai, João Pedro.

    Os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas permitiram a integração de vários povos de diferentes nacionalidades. Cerca de 1,8 mil atletas indígenas, dos quais 1,1 mil de 24 etnias brasileiras e 700 provenientes de etnias de 23 países ao redor do globo, se uniram para disputar, em clima de fraternidade, diversas modalidades esportivas.

    Durante os dez dias, mais de 170 mil pessoas visitaram a vila dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e foram acolhidos por um batalhão de voluntários que estavam lá, para garantir a agenda de convergência celebrada entre o Governo Federal e os governos estadual e municipal, em defesa dos direitos e proteção das crianças, adolescentes, deficientes e idosos.

    Acompanhei com o público as competições esportivas na Arena dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, pude ver jogos tradicionais como a corrida de 100m, arremesso de lança e arco e flecha e vi a força e a empatia dos jogos coletivos de integração que levou o público ao delírio, com a disputa do cabo de guerra e a corrida de tora.

    Todo o evento e seus espaços físicos mostraram a profundidade da cultura e da diversidade dos povos indígenas nacionais e internacionais.

    Uma manifestação de força, coragem e determinação era evidenciada a cada resultado positivo nas competições. Era maravilhoso ver a alegria estampada em seus rostos, suas danças comemorativas acompanhadas da vibração da arquibancada na comemoração de vitórias e, nas derrotas, a manifestação de respeito dos derrotados aos vencedores e dos vencedores aos derrotados.

    Outro aspecto que merece aplausos de todos nós é a realização da Feira Mundial do Artesanato Indígena, organizada pelo Sebrae, que, nos dez dias, faturou mais de R$1 milhão. E ainda a realização da II Feira Nacional da Agricultura Tradicional Indígena, oportunidades em que os povos indígenas e os demais brasileiros ali presentes trocaram experiências sobre como fazer produção sustentável. Do ponto de vista dos negócios, as duas feiras foram muito importantes, mas, Senador Lasier, penso que elas foram muito mais importantes pela possibilidade de os povos indígenas mostrarem para o Brasil e para o mundo a capacidade de produção que têm no artesanato e mesmo na agricultura com sustentabilidade para o seu sustento.

    Uma celebração como os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas promove a reafirmação da identidade cultural das etnias indígenas no Brasil e no mundo, possibilitando trocarem informações a respeito de suas práticas culturais, econômicas e sociais, com o objetivo de incentivar a valorização das manifestações culturais de cada etnia.

    Foi muito importante, para nós tocantinenses, que um evento dessa magnitude acontecesse na cidade de Palmas, a mais nova capital do nosso País, não somente por colocar a cidade e o Estado do Tocantins em destaque no mundo, mas por oportunizar a celebração no ambiente de diversidade e levantar a possibilidade de o mundo viver em paz, permitindo a convivência na singularidade de todos.

    Palmas merece ser destacada pela sua capacidade de acolher bem seus visitantes. Durante esses dias, foram extraordinários os resultados alcançados. A rede hoteleira ficou completamente lotada. Os bares e restaurantes apresentaram números inéditos de movimentação financeira de mais de R$ 4 milhões.

    No entanto, nem tudo foi festa.

    Os povos indígenas, conscientes da importância do seu papel, aproveitaram os jogos para trazem para a agenda do País a sua pauta em defesa dos seus direitos e para se colocarem contra a Proposta de Emenda à Constituição nº 215, que altera as regras para a demarcação de terras indígenas. Como Parlamentar, é meu dever trabalhar pelas questões humanas, sociais, econômicas, políticas das mais diversas, e, desde já, eu me posiciono contra essa PEC.

    Uma preocupação tem me tomado desde que comecei a acompanhar a preparação para os jogos. Qual será o legado para os povos indígenas do Brasil que os jogos vão deixar? Para Palmas, ficará uma piscina olímpica, ficará uma área. E há a ideia de se fazer um bosque dos povos indígenas, onde já foram plantadas 200 mudas no encerramento dos jogos. Mas, para os povos, para eles resolverem...

(Soa a campainha.)

    O SR. DONIZETI NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - ...seus problemas e suas dificuldades, o que vai ficar?

    Penso que os realizadores dos jogos conseguiram duas coisas extraordinárias. Primeiro, conseguiram dar no evento uma demonstração de civilidade, de fraternidade, de solidariedade, de confraternização e de celebração. Conseguiram também fazer com que sua agenda transpusesse as barreiras do País. Lá havia mais de 200 veículos de comunicação, Senador Lasier, de diversos países do mundo. A maioria, inclusive, era de países estrangeiros. Foi uma excelente oportunidade para que essa agenda pudesse ser transposta às fronteiras do País.

    O Sr. Lasier Martins (Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Permita-me um aparte?

    O SR. DONIZETI NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Cedo um aparte ao Senador Lasier, com muita honra.

    O Sr. Lasier Martins (Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Exatamente por esse item de seu oportuno discurso, Senador Donizeti, é que eu queria congratular V. Exª, porque V. Exª está trazendo isso ao grande público que nos assiste pela televisão, dando demonstração do respeito que os organizadores tiveram e têm pelos jogos das comunidades indígenas. Isso nos permite observar a civilidade que eles também nos apresentam, mas, sobretudo, a civilidade brasileira, ao promover esses jogos no Brasil. Isso é muito oportuno. Vimos pela televisão e ficamos admirados com a competitividade dos participantes. Agora, V. Exª nos traz mais detalhes. Cumprimentos!

    O SR. DONIZETI NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Obrigado, Senador Lasier. Faço constar do meu discurso o seu aparte, com muita alegria.

    Senador Lasier, só quero registrar que só houve uma vez em que o Estádio Nilton Santos ficou lotado, isso se deu num jogo do Atlético Mineiro com alguém lá.

(Soa a campainha.)

    O SR. DONIZETI NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Mas, durante os Jogos dos Povos Indígenas, quando os xerentes, que são de Tocantínia, no Estado do Tocantins, consagram-se campeões mundiais de futebol indígena, frente aos índios bolivianos, o estádio estava completamente lotado. Foi preciso, inclusive, que a segurança fechasse os portões em determinado momento, para não se correr risco de algum acidente. Assim foi todos os dias na arena onde aconteceram as competições não relacionadas ao futebol.

    Os xerentes foram os campeões; os bolivianos, vice-campeões. As canadenses foram as campeãs do futebol feminino; as vice-campeãs foram as jogadoras de futebol da tribo dos xerentes.

    O evento chamou a atenção do mundo, e temos a oportunidade ideal de colocar na agenda pública os problemas dos indígenas brasileiros, que precisam ser discutidos e vistos como prioridade.

(Soa a campainha.)

    O SR. DONIZETI NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Precisamos pensar em algo, como o legado dos jogos, que fique para o cotidiano, não só para o momento.

    Caminhando para terminar meu pronunciamento, Senador Dário Berger, quero dizer que os resultados dos jogos mostram a garra dos povos indígenas, que precisa ser valorizada.

    Na canoagem, a etnia emberá, do Panamá, ganhou. Na natação, no masculino e no feminino, ganhou o povo gavião. Na corrida de rua e no futebol feminino, o melhor resultado foi do Canadá. No futebol masculino, a vitória foi do povo xerente, de Tocantins. No arco e flecha, venceu o povo karajá de xambioá, de Tocantins. No arremesso de lança, a melhor equipe foi a dos índios pataxó, da Bahia. No cabo de força feminino, venceram as maori, da Nova Zelândia; no masculino, os bakairi, do Pará, se não me engano.

    Jorge Ben Jor cantou:

Antes que o homem aqui chegasse

As Terras Brasileiras

Eram habitadas e amadas

Por mais de três milhões de índios

Proprietários felizes

Da Terra Brasilis

Pois todo dia era dia de índio

Todo dia era dia de índio

Mas agora eles só têm

O dia 19 de Abril

    Vou concluir, dizendo que eles merecem, como nós merecemos, uma vida com dignidade e com qualidade. É responsabilidade da sociedade como um todo e, inclusive, deles construir essa vida.

    Quero terminar ainda com a música "Um Índio", de Caetano Veloso, tão bem cantada pela cantora Margareth Menezes. Como profetizou Caetano, em sua canção, foi um índio que desceu do céu. Os jogos representam o índio.

    Palmas é um ponto equidistante, no hemisfério sul, entre o Atlântico e o Pacífico. As coisas que nos disseram, eu sei, fará "o que não sei dizer assim de um modo tão explícito, e aquilo que nesse momento se revelou a nós nos surpreendeu, por não serem exóticos". É isso, índio é gente, índio tem cheiro, tem cor, tem luz, tem paz, tem inteligência e tem amor. Todo dia é dia de índio.

    Muito obrigado pela oportunidade e pela complacência com o tempo, Senador Dário Berger. Valeu!

 

     O SR. PRESIDENTE (Dário Berger. PMDB - SC) - Agradeço a V. Exª.

    Concedo a palavra ao Senador Lasier Martins. Ao digno representante do nosso Estado do Rio Grande do Sul concedo a palavra.

    V. Exª está com a palavra.

    O SR. DONIZETI NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Peço só um minutinho, Senador. Faltou eu dizer que estão marcados os próximos Jogos Mundiais Indígenas para daqui a dois anos no Canadá. Os jogos serão realizados de dois em dois anos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/11/2015 - Página 241