Pronunciamento de Lindbergh Farias em 09/11/2015
Discurso durante a 199ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Preocupação com o agravamento da crise econômica e social no Brasil; e outros assuntos.
- Autor
- Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
- Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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IMPRENSA:
- Preocupação com o agravamento da crise econômica e social no Brasil; e outros assuntos.
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ECONOMIA:
- Publicação
- Publicação no DSF de 10/11/2015 - Página 77
- Assuntos
- Outros > IMPRENSA
- Outros > ECONOMIA
- Indexação
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- CRITICA, IMPRENSA, MOTIVO, DIFERENÇA, DIFUSÃO, INFORMAÇÃO, REFERENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ACUSAÇÃO, TENTATIVA, DIFAMAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, SITUAÇÃO, OCORRENCIA, REPRESALIA, PATRUS ANANIAS, MINISTRO.
- COMENTARIO, AGRAVAÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, ECONOMIA, POSTERIORIDADE, JOAQUIM LEVY, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), REFERENCIA, AUMENTO, DESEMPREGO, INFLAÇÃO, JUROS, REDUÇÃO, REMUNERAÇÃO, TRABALHADOR.
O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Cristovam Buarque, tenho a honra de falar neste plenário com V. Exª presidindo esta sessão. E vou falar sobre as minhas preocupações sobre o agravamento dessa crise econômica e social.
Na verdade, eu vou ler aqui hoje um discurso que foi um artigo escrito por mim e pelo Prof. Jaldes Menezes, da Universidade Federal da Paraíba, sobre a crise econômica e esse novo componente, o acirramento da crise social.
Mas antes, Sr. Presidente, de começar o meu discurso, eu quero trazer a tema um assunto que, graças às redes sociais, foi bem abordado nesse final de semana. Eu falo de um tratamento seletivo, um tratamento diferenciado, dispensado ao PT e ao Presidente Lula.
Primeiro, eu trago uma matéria do jornal O Estado de São Paulo, em que, em uma página, na parte de cima da página, tem: "Lula recebeu quase 4 milhões da Odebrecht, diz Polícia Federal". Na parte de baixo da mesma folha de O Estado de São Paulo, está o seguinte: "Empreiteira doou 975 mil a Instituto Fernando Henrique Cardoso, aponta laudo".
Observem as duas matérias abaixo, estão na mesma página. A notícia sobre o ex-Presidente Lula recebe destaque, está no alto, embora as doações já fossem conhecidas. O título sugere que foi Lula, pessoa física, quem recebeu o dinheiro, e não o Instituto Lula, o que faz muito diferença. A empresa é nomeada, está aqui inscrito, Odebrecht. E quem faz a afirmação tem nome também: "afirma Polícia Federal". É uma estratégia discursiva que pretende garantir legitimidade à afirmação.
Vamos agora ver a parte de baixo, do Fernando Henrique Cardoso. Primeiro, a matéria vem embaixo, bem abaixo, com uma matéria menor sobre o tema, embora o fato novo, jornalisticamente falando, seja esse do Fernando Henrique Cardoso, não o do Presidente Lula. Ele não diz que o Fernando Henrique recebeu da Odebrecht, o nome da empreiteira não é citado. É o Instituto Fernando Henrique Cardoso que recebe. "Aponta laudo", a fonte é desconhecida.
Impressionantes são as fotos: a foto do Lula é um Lula agressivo; a foto do Fernando Henrique Cardoso é um Fernando Henrique calmo, sereno.
Esse é o tratamento que está havendo por parte da imprensa brasileira, da mídia brasileira. Eu quero entrar, logo depois, no jornal O Globo, porque se colocou na capa de O Globo de domingo, 15 dias atrás, uma manchete: "Baiano diz que pagou contas de Lula". E ontem, no domingo, o jornal reconhece que O Globo errou, mas O Globo errou, vem aqui, de lado, e o Lula... "Baiano diz que pagou as contas do filho de Lula." Está aqui, era a chamada de domingo do jornal.
É uma campanha sistemática, seletiva, dirigida ao PT e ao Presidente Lula, de difamação, para tentar desgastar a imagem do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Trago outro ponto, Senador Cristovam: a situação do mensalão mineiro. Já vai fazer dez anos do início da investigação, e o processo continua parado. Apenas alguns jornais trouxeram essa informação na semana passada. O mensalão mineiro começou quando? Em 1998. Começou a investigação sete anos depois, em 2005. Estamos em 2015. Dez anos de investigação, e o processo está parado em Minas Gerais.
Nesse caso do mensalão mineiro do PSDB, é preciso que se diga também do tratamento diferenciado por perto do Supremo. Na hora em que foi analisada a discussão do mensalão, quando se tratava do PT, houve uma votação, porque, à época, o Advogado Márcio Thomaz Bastos argumentou o seguinte: para quem não tem foro privilegiado, o processo tem que ser desmembrado. Eram 38 membros. Houve votação no Supremo, que decidiu que não, tem que ficar tudo no Supremo, o processo não ia ser desmembrado. Na hora do julgamento do mensalão tucano, eram 15 pessoas, 13 não tinham foro privilegiado. Houve a mesma discussão no Supremo, e o Supremo tomou uma decisão diferente: ele desmembrou para os 13. Depois o Eduardo Azeredo renunciou e o processo foi para Minas Gerais.
Há um artigo muito bom, de 2012, do Jornalista Janio de Freitas, sobre esses fatos, que diz o seguinte:
A incoerência do Supremo Tribunal Federal, nas decisões opostas sobre o desdobramento, é apenas um dos seus aspectos comprometedores no trato do mensalão mineiro. A propósito, a precedência no julgamento do mensalão do PT, ficando para data incerta o do PSDB e seus dois parlamentares, carrega um componente político que nada e ninguém pode negar.
Por fim, Senador Cristovam, quero também vir aqui hoje trazer minha solidariedade ao grande brasileiro Patrus Ananias, que foi vítima de um constrangimento ontem, ele explica aqui, nessa sua postagem do Facebook, de um gesto fascista - eu o considero fascista - que está se espalhando pelo País, de agressão no meio de um restaurante na capital mineira. Esse fascismo é disseminado, sim, por essa campanha de certos setores da mídia, de criminalização do PT, da esquerda brasileira.
Então, faço questão de trazer a minha solidariedade aberta a esse grande brasileiro, respeitado por gente de todos os partidos, por todo mundo que milita na política brasileira. E o Ministro Patrus Ananias foi de extrema dignidade ao enfrentar aquela situação no dia de ontem.
Eu quero ler a postagem dele no Facebook.
Esse não vai ser o país do ódio. Ninguém vai nos tirar das ruas de Belo Horizonte. Estive há pouco na Cervejaria Bar Brasil, um bar tradicional de Belo Horizonte, com minha esposa, Vera, com Carlão Pereira e sua esposa, Jussara. Estávamos ali conversando entre amigos, sendo tratados com toda a gentileza pelos garçons. Pagamos a conta e levantamos para sair, quando um homem em uma mesa próxima à porta começou a gritar, fazendo acusações de corrupção e levantando um daqueles cartazes "Fora PT. Fora Dilma". Me aproximei e pedi 30 segundos para conversarmos. Ele retrucou que iria me conceder 10 segundos. Respondi que colocasse um papel e assinasse todas as acusações sem provas em relação a mim, que amanhã mesmo eu entraria com uma ação contra ele. Então, a conversa mudou, com ele dizendo que eram acusações em relação ao PT. Uma câmera já estava posicionada desde o início, esperando para flagrar o momento espontâneo. Algumas mesas ao redor, articuladas a essa primeira, começaram a ampliar o barulho, tentando nos intimidar. Não arredamos o pé. Respondemos às acusações sem fundamento. Exigimos respeito, mantivemos a firmeza. O acusador da primeira mesa rapidamente foi embora em silêncio, enquanto nós permanecemos ali. Tivemos uma conversa altiva e buscamos negociação e diálogo, como convém a uma sociedade democrática. Fizemos isso porque ninguém vai nos tirar das ruas e dos bares de BH. Nenhuma reação de uma manifestação organizada, travestida de espontânea, vai nos intimidar e limitar o nosso direito de sentar com os amigos e a família em um bar, numa tarde de domingo em qualquer cidade, porque esse não vai ser o país do ódio generalizado, mesmo que esse seja o sonho de tantos que não conseguiram vencer democraticamente. Esse não vai ser o país onde se toma o poder pela força, usando mentiras e calúnias sem fundamento. Esse não vai ser o país onde quem grita mais alto tem razão. Esse vai continuar sendo o país da democracia, de quem sabe ouvir, compreender e debater.
Grande Patrus Ananias, saiba da nossa solidariedade! Eu, que comecei muito jovem na política, sempre acompanhei sua história, sua trajetória. V. Exª é um desses homens públicos de rara dignidade neste País. V. Exª é um dos homens públicos comprometidos com as suas causas, as causas das transformações sociais, da mudança da vida desse povo mais pobre. Então saiba do nosso apreço.
E eu quero aqui, na tribuna do Senado, expressar esse reconhecimento em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores. Falo em nome de todos os Senadores do PT, porque este foi um ato que atingiu a todos nós, Senadores. Eu me senti atingido como petista, mas como militante da causa política brasileira, da democracia brasileira, ao ver um homem como Patrus Ananias! Depois o Senador Eduardo Suplicy, vosso colega! Outro que foi vítima também de uma agressão fascista na Livraria Cultura, lá no Estado de São Paulo! Eduardo Suplicy!
Então, esse tipo de coisa nós não podemos admitir. Antes de começar o meu discurso, eu tinha que trazer essa palavra de solidariedade ao grande brasileiro Patrus Ananias.
Senador Cristovam, para mim é uma honra começar este discurso. Na verdade, eu faço uma análise dessa conjuntura, tendo V. Exª como Presidente. V. Exª é um dos principais debatedores aqui no Senado da questão econômica também, da crise que nós vivemos. Eu fiz esse artigo porque eu sou do PT, sou contra o golpe contra a Presidenta Dilma, agora não dá para nós termos uma postura de alienação frente ao agravamento dessa crise. Nós temos que saber que a crise econômica, nós vamos ter um agravamento dela. E as repercussões na vida das pessoas são muito fortes. A crise social... Em 2016 a discussão não é nem crise econômica, é a crise social que nós vamos enfrentar neste País.
Permitam-me começar com uma citação tão conhecida como pouco compreendida. Marx, logo na primeira frase do clássico “18 Brumário de Luís Bonaparte”, adaptando uma frase original de Hegel, de que todo acontecimento histórico verdadeiro se reitera muitas vezes, ironicamente afirmou que a história, por assim dizer, se repete duas vezes, primeiro como tragédia e depois como farsa.
Sei que é preciso parcimônia com as analogias. Por enquanto, não chegamos à fase da farsa neste Brasil de 2015. Talvez estejamos na iminência de ver acontecer a tragédia que, todavia, pode ser evitada.
O maior problema macroeconômico era o déficit nas contas do Governo, que foi alto. As causas do déficit, em 2014, são bem conhecidas: elevação dos gastos públicos com pagamento de juros aos rentistas - comprometemos 6,1% do PIB, em 2014, com pagamento de juros; excessivas desonerações aos empresários; e fraca arrecadação, devido ao baixo crescimento. Trataremos desse assunto em outras ocasiões.
Pois bem, o Ministro Joaquim Levy assumiu a Fazenda em janeiro, prometendo fazer um ajuste das contas públicas, ou seja, equilibrar o orçamento do Governo. Tomou diversas medidas, e nada, nada está dando certo. Para piorar, trouxe a inflação e o desemprego de volta. Estou aqui, Senador Cristovam, com dificuldade à procura de um gráfico que quero mostrar a V. Exªs. Trouxe a inflação e o desemprego de volta.
Para ilustrar, vejam o gráfico abaixo - estou pegando aqui o gráfico. Ele mostra uma linha vermelha, que representa - está aqui o gráfico, achei. Vai ficar para os nossos telespectadores difícil de acompanhar -, mas traça uma linha vermelha que mostra claramente que o déficit nas contas do Governo, que foi 6,7% no ano passado, não para de subir, depois que o Levy assumiu. Hoje, no acumulado de 12 meses, em setembro, está 9,5%. A saída para resolver o problema do gasto público era, principalmente, fazer a economia crescer, reformatar as desonerações e reduzir as despesas com juros. Nada disso foi feito.
O ajuste Levy preferiu seguir uma perigosa vereda alternativa: promover uma recessão que resultou numa vertiginosa queda da economia e da confiança na economia.
A primeira medida do então novo Ministro foi promover um tarifaço, para reduzir as despesas públicas: aumentou o preço da gasolina, diesel e energia elétrica. Isso causou inflação. Em dezembro de 2014, a inflação ficou dentro da meta, foi 6,4%; hoje, já está em 9,5%, quando são considerados os últimos 12 meses. Aqui, há, também, um gráfico da inflação, mostrando a subida da inflação, depois da posse de Joaquim Levy.
Ora, explicam vários economistas com os quais concordamos, em contraponto: em vez de tarifaço deveria ter sido adotada uma linha de aumento gradual, o que não levaria a inflação a crescer abruptamente, derrubando a popularidade da recém reeleita Presidenta Dilma, alta...
(Soa a campainha.)
O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - ... até aquela medida.
Dando continuidade às barbeiragens na condução da política econômica, ato contínuo, o Banco Central, supostamente para conter a inflação, passou a elevar os juros. As despesas com juros dispararam e já alcançaram R$510 bilhões ou quase 9% do PIB nos últimos 12 meses. Para efeito de comparação: os orçamentos anuais da saúde e da educação, somados, não alcançam R$200 bilhões.
A análise não seria completa se não passasse, em seguida, à análise das perversas repercussões sociais do ajuste, abordando as questões do aumento do desemprego e da contenção dos programas sociais.
Quais as repercussões sociais do ajuste? Um dos fios da meada pode ser localizado, além do tarifaço inflacionário, no plano do Ministro Levy de corte de gastos públicos, em todas as áreas, em todos os ministérios. É aritmética básica da economia: corte de gastos em obras públicas, políticas e programas sociais causam desemprego.
A dinâmica é simples. O empreiteiro quando reduz a velocidade de execução de uma obra precisa de menos trabalhadores e, portanto, faz demissões. Quando beneficiários de políticas e programas sociais deixam de receber o que recebiam, deixam de gastar o que gastavam. Na outra ponta, alguém deixa de vender o que vendia e deixa de produzir o que produzia. O resultado são mais demissões de trabalhadores. O desemprego que, em dezembro de 2014, era 4,3%; hoje alcançou 7,6% .
Esse é o índice de desemprego quando tratamos as seis principais regiões metropolitanas do País. O índice de desemprego pelo PNAD contínuo, que pega todas as cidades brasileiras, já está em mais de 8%, 8,5%.
O gráfico mostra - este gráfico aqui - a economia brasileira antes e depois do Ministro Levy. Em alta, estão: o desemprego, que aumentou 3,3%; a inflação, que deu um salto de 3,1%; o déficit público, que foi elevado em 2,63%, e as despesas de juros, que sofreram acréscimo de 2,81%. Em baixa estão: os rendimento dos trabalhadores, redução de 4,3%, de agosto de 2014 para agosto de 2015 - está havendo uma redução salarial dos trabalhadores -; o emprego com carteira assinada - o fechamento de 651 mil postos de janeiro a setembro; o volume de serviços - queda de 3,5%, de agosto de 2015 contra agosto de 2014; as vendas no comércio varejista - diminuição de 3%, acumulada em 2015; e a arrecadação do Governo - queda de 3,72%, acumulada no ano.
O que necessitava aumentar está diminuindo e o que precisava ser contido está aumentando. São os números que dizem, a política econômica do Governo está totalmente errada.
Tenho me preocupado em tempo integral com os rumos da economia brasileira, fazendo bom combate na tribuna do Senado, compondo a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, conversando com segmentos dos trabalhadores e do mercado, bem como com economistas desenvolvimentistas da Unicamp, da UFRJ, mas também com economistas com visão mais liberal, que trabalham no mercado. Tenho conversado com todos sobre a situação da crise econômica brasileira. Posso dizer que nunca, como hoje, e todos os meus interlocutores são uníssonos em dizer isto: mantida a política econômica, as projeções para o ano de 2016 são terrificantes!
A leitura diária dos jornais virou uma agonia! A produção industrial brasileira caiu 1,3% só no mês de setembro. Órgãos de pesquisa do Governo e consultorias do mercado estimam já para este ano recessão de 3,4%.
(Soa a campainha.)
O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - E uma recessão superior a 3% no próximo ano. A recessão resulta em desemprego, sem dúvida o maior dos problemas. Vários analistas preveem que, na virada de janeiro a fevereiro do próximo ano, o desemprego atingirá a simbólica casa dos dois dígitos, 10%, e que, no meio do ano, estará em torno de 11,5% a 12%, podendo chegar a 13% no final do ano. Pior, há gente que fala em até 16% de desemprego em 2017!
Além do desemprego, o caldo de cultura da crise social é exponencializado ao cubo com a piora dos serviços públicos na ponta, em especial dos serviços de saúde. As prefeituras estão quebradas, os Estados também, cada um fazendo o seu ajuste.
Eu tenho inúmeras notícias de postos de saúde que estão se fechando no Rio de Janeiro, farmácias populares, com falta de remédios, falta de profissionais... Então há uma piora. Além do desemprego, há uma piora clara na qualidade dos serviços públicos que atendem à população brasileira.
Para comprovar o que digo, basta ler e interpretar - afora a visita direta aos serviços públicos - as mensagens de orçamento que os prefeitos, os governadores estão enviando às câmaras municipais e assembleias legislativas. Sem exceção, em virtude da arrecadação baixa, os orçamentos indicam crescimento nominal vegetativo, abaixo da inflação. Descendo do Olimpo dos orçamentos para a terra dos homens, sou testemunha de várias situações no Rio de Janeiro de fechamento de postos de saúde e farmácias populares. Em São Paulo, o Governo estadual está fechando escolas.
O cotidiano do brasileiro hoje pode ser resumido da seguinte maneira: aumento do desemprego, piora dos serviços públicos e, quando você liga a televisão, é corrupção atrás de corrupção! Ninguém aguenta.
Para completar o circuito de problemas, a crise interrompeu abruptamente o processo de afluência social de milhões de brasileiros pobres que estavam formando uma nova classe trabalhadora, nos termos das importantes pesquisas do sociólogo Jessé de Souza, atual Presidente do Ipea.
No Estadão, em 31 de setembro, lê-se a seguinte notícia: "Crise joga três milhões de famílias da Classe C de volta à base da pirâmide". Conforme estudo da consultoria Tendências, citado na matéria,
[...] a recessão derrubou parte da nova classe média, a população da classe C, para a base da pirâmide social.
Entre 2006 e 2012, no boom do consumo, 3,3 milhões de famílias subiram um degrau, das classes D e E para a classe C, segundo um estudo da Tendências Consultoria Integrada. Eles começaram a ter acesso a produtos e serviços que antes não cabiam no seu bolso, como plano de saúde, ensino superior e carro zero.
Agora, afetadas pelo aumento do desemprego e da inflação, essas famílias começam, infelizmente, a fazer o caminho de volta. [...] De 2015 a 2017, 3,1 milhões famílias da classe C [dez milhões de brasileiros] devem cair e engordar a classe D/E.
Está-se brincado com fogo. Não se interrompe regressivamente um processo de afluência social sem graves consequências, inclusive no campo da política. Lembremo-nos do verso da canção de Chico Buarque e do meu conterrâneo Paulo Pontes: "pode ser a gota d'água".
É preciso traduzir os números, aparentemente frios, de nosso debate intelectual sobre a recessão econômica na carne e osso da vida real e suada de homens e de mulheres. E, principalmente, é preciso retirar conclusões visando à ação. Em primeiro lugar, se a crise é política e econômica, os números em elevação do desemprego perspectivam a proximidade do agravamento da dimensão social da crise. Depois, e não é de hoje, várias experiências históricas do passado confirmam que...
(Soa a campainha.)
O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - ...quando a crise bate no social, a política entra em curto-circuito, e sobrevém a desesperança.
Por tudo isso, os números da pesquisa do Ibope divulgados na semana que passou, conquanto tenham caído como uma bomba atômica entre os agentes do sistema político em Brasília, jamais a quem acompanha os sinais emitidos das ruas, poderiam ser recebidos como um raio em céu azul.
Mais que partido A ou B, a pesquisa Ibope descortinou o sistema político brasileiro. Esse sistema político se encontra na UTI. Todos os hipotéticos candidatos à Presidência em 2018 - Lula, Aécio, Serra, Alckmin, Marina e Ciro -, de quase todas as vertentes políticas e ideológicas, amargam altíssimos índices de rejeição.
Quem semeia ventos colhe tempestade. A Oposição, principalmente PSDB e DEM, pensava que, fazendo um combate sem tréguas nem princípios ao Governo Dilma - desgastado em virtude da política econômica -, como por osmose, estaria credenciada a ocupar em breve a Presidência da República, na qual foi derrotada em quatro eleições seguidas.
Era só cumprir tabela e correr para o abraço, calculavam os maus alunos que não entenderam as verdadeiras intenções de Maquiavel.
Engano da oposição. Não se faz política sem esperança. Todos sabem, e a população tem essa intuição, que o programa econômico da oposição é o mesmo de Joaquim Levy, um programa de desesperança.
Poderia citar muitos exemplos históricos de situações parecidas. Fico com a vizinha Argentina de finais do governo Carlos Menem, em dezembro de 1999. Resultado de uma política econômica desastrada de paridade 1/1 da moeda local, o peso, e a moeda internacional, o dólar - vale dizer que lá, Senador Cristovam, eles colocaram isso na Constituição -, depois de um período de euforia de consumo nas classes médias, logo sobreveio a realidade da falsidade do artifício da âncora cambial. Aconteceu uma corrida bancária de retirada de depósitos em peso em compra de dólares. A crise social se agravou, a taxa de desemprego chegou a 20%, o governo caiu. Novos Presidentes foram empossados pelo Congresso - houve três Presidentes em poucos dias. A desesperança era absoluta, e ninguém virou portador credenciado da política. A sociedade, por um tempo, recusou a política, tanto que cunhou um conhecido refrão: "que se vão todos".
Queremos questionar, ainda na fase da tragédia, qual seria o efeito do lema "que se vão todos" no Brasil? Na Argentina, depois de um tempo de agonias, em razão das raízes do peronismo na sociedade e de o lema "que se vão todos" expressar justa indignação, mas não um projeto político, as coisas começaram a se acomodar a partir da eleição de Néstor Kirchner, em fevereiro de 2003.
Outro resultado perverso da crise de desesperança pode ser a chegada, de surpresa, de um personagem novo, um outsider alheio ao sistema político. Foi o que aconteceu na Itália, com a assunção do empresário de mídia e dono de time de futebol Silvio Berlusconi, na esteira da débâcle débil do sistema político italiano, na década de 1990, com as consequências da Operação Mãos Limpas.
A corrupção precisa ser combatida sem tréguas, e os culpados precisam ser condenados.
Entretanto, como no pior passado brasileiro (lembremo-nos do combate da UDN a Getúlio Vargas), não podemos instrumentalizar a justa bandeira do combate à corrução para provocar um clima de intolerância e destabilização de governo, como tem sido, durante o ano inteiro, a malograda - como atesta a pesquisa Ibope - estratégia da oposição. Mirava em algo específico - o PT e o Governo Dilma - e acabaram por atirar em si próprios. É na crise que aparece a palavra. A crise já é um somatório em combustão.
(Soa a campainha.)
O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Vou concluir, Senador Cristovam.
Ela é política, econômica e agora social, em agravamento. Insisto nessa caracterização porque detecto um certo grau de alienação dos meios institucionais, até mesmo do PT, sobre a gravidade da crise. Por um lado, nas batalhas políticas recentes, conseguimos afastar o perigo imediato do impeachment. Por outro lado, eu não tenho a menor dúvida em afirmar que o agravamento da crise econômica e da crise social vai trazer de novo, lá na frente, os ataques especulativos do impeachment golpista.
Falta a palavra. Certos setores do PT insistem, corretamente, em fazer a defesa da democracia ameaçada. Porém, ao privilegiar a política, esquecendo a necessidade da mudança na economia, cometem grave erro estratégico.
(Interrupção do som.)
O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Fora do microfone.) - Já vou acabar.
(Soa a campainha.)
O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Mais uma vez, Senador Cristovam, insisto no que já virou meu mantra: política e economia são inseparáveis. Logo, lutar pela democracia, ser contra o impeachment e defender a mudança da política econômica compõem a síntese que permite superar, em termos progressistas e de esquerda, a difícil conjuntura brasileira de hoje.
Anima saber que não somos personagens de uma tragédia grega, na qual o destino é traçado de antemão. É possível refazer roteiros já traçados. Não sou profeta para saber da exata palavra que nos falta no futuro, mas vivi, como todo o povo brasileiro, as agruras de 2015 o suficiente para saber que outra palavra, outro verbo, precisa irromper, antes que seja tarde.
Muito obrigado.
(Interrupção do som.)
O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Fora do microfone.) - Eu agradeço a tolerância.