Discurso durante a 202ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a Comemorar os 120 anos da assinatura oficial das relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão (120 anos de Amizade Brasil-Japão).

Autor
Hélio José (PSD - Partido Social Democrático/DF)
Nome completo: Hélio José da Silva Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Sessão especial destinada a Comemorar os 120 anos da assinatura oficial das relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão (120 anos de Amizade Brasil-Japão).
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2015 - Página 14
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, ASSINATURA, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, RELAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO.

    O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Quero cumprimentar o Vice-Presidente do Senado Federal, Sr. Jorge Viana, Senador da República pelo Estado do Acre, pela condução dos trabalhos e por estar aqui presente, representando a todos nós, como instituição, a Casa, e representando o nosso Senador Presidente, Renan Calheiros - que não pode vir aqui, também, e deixa um grande abraço a todos.

    Quero agradecer ao Embaixador do Japão, Sr. Kunio Umeda, que gentilmente me recebeu na Embaixada. Dialogamos, fizemos um almoço e conversamos sobre uma série de assuntos fundamentais com relação à tecnologia, com relação à infraestrutura, a energias renováveis e a uma série de ações que a relação Brasil-Japão só tende a acentuar.

    Quero agradecer também ao meu amigo, responsável pelo Templo Budista de Brasília, de que eu tenho muito orgulho, o Monge Shôjo Sato, que é um orientador espiritual de muitas pessoas aqui neste País, principalmente em Brasília.

    Quero agradecer à fundadora e presidente da Rede Blue Tree de Hotéis, Srª Chieko Aoki, o extraordinário discurso que a senhora fez aqui. Orgulha-nos muito a força da mulher.

    Quero agradecer ao Cônsul Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, Sr. Wilson Nélio Brumer, cuja exposição demonstra o quanto estamos corretos em cada vez mais acentuar e melhorar essa relação Brasil-Japão.

    Quero agradecer a presença, também, dos representantes da Polícia Militar do Distrito Federal, uma das melhores deste País, o nosso querido Comandante da PM, Coronel César, e o Sr. Tenente-Coronel Evaldo Soares Vieira, que nos orgulham muito por estarem aqui presentes.

    Quero agradecer aos nossos Deputados William Woo e Keiko a presença; o nosso Senador e Líder do PMDB e do Bloco da Maioria, Senador Eunício Oliveira; o nosso Senador Flexa Ribeiro, muito bem já aqui colocado; e demais Senadores que passaram pela Casa, neste momento ou um pouco antes, como o Senador Fagundes e outros.

    Quero também cumprimentar neste plenário o Heitor Kanegae, primeiro nissei a nascer em Brasília - ele está aqui presente -, afilhado de JK e pioneiro na região da Fazenda Sucupira, que está aqui nos dando este apoio; e todas as mulheres, como Marinete Blanco, uma pessoa que me representou muito lá, no meu gabinete, no dia a dia como Senador.

    Quero dizer que, inicialmente, esta sessão seria no dia 5, quando da visita do casal imperial, mas, devido ao acúmulo na agenda, acertamos com o Embaixador, que foi muito gentil e cordial no trato com o Senado Federal, para realizá-la no dia de hoje, uma grande alegria para todos nós, porque pudemos fazê-la com mais calma, com mais tranquilidade, embora na Casa, neste momento, também estejamos todos apertados no tempo pelo excesso de votações, mas tentarei dizer algumas palavras sobre esta importante ação.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, em Brasília, temos dois eventos marcantes da cultura nipo-brasileira: a Festa do Morango, em Brazlândia, que acolhe 200 mil pessoas por ano e já está na sua 20ª edição; e a quermesse do Templo Budista, no Plano Piloto, em sua 42ª edição, sempre comandada pelo nosso Sato. Ambos representam um pouco da riqueza que nossos irmãos orientais compartilharam conosco; ambos alimentos: um, para o corpo; outro, para o espírito.

    A quermesse, por sinal, retomou no DF uma tradição de 2,5 mil anos, criada para prestar homenagem aos antepassados, como se os pais e os avós representassem Deus, por conta de todo o bem que fazem aos familiares.

    Essa dupla presença, da cultura e da agricultura, com todos os encontros destas, incluindo o gastronômico, deve-se ao visionário Juscelino Kubitschek e seu escudeiro-mor, Israel Pinheiro, o primeiro prefeito de Brasília.

    Em 1957, com a construção da nova capital, onde tudo seria importado, incluindo os alimentos, Israel Pinheiro convidou famílias já residentes em Goiânia, Belém e São Paulo para virem fertilizar o solo do Cerrado, plantando hortaliças e legumes para os candangos. Das poucas dezenas de pessoas há, hoje, 2.200 famílias de descendentes japoneses em nossa Brasília, e mais da metade deles ainda são lavradores nos campos aqui de Brazlândia, Planaltina, Paranoá e etc.

    Falando em presença cultural, em São Paulo temos um dos maiores festivais da tradição japonesa, reunindo centenas de milhares de pessoas no Bairro da Liberdade, em São Paulo. No Paraná, as cidades de Londrina, Maringá e Curitiba igualmente hospedam belos exemplares da arquitetura japonesa, assim como as festas e o melhor da contribuição gastronômica de nossos irmãos - isso lá no Paraná, em Londrina e em Maringá.

    É desta maneira, lembrando os marcos culturais, que desejo iniciar esta homenagem aos 120 anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão.

    Sendo o Brasil uma Nação constituída, predominantemente, por povos que para cá migraram, é com muita satisfação que identificamos mais de 1,5 milhão de descendentes japoneses no Brasil, ao mesmo tempo em que podemos localizar quase duas centenas de milhares de brasileiros, nipo-descendentes, morando e trabalhando lá no Japão.

    A japonesa é a segunda maior colônia de brasileiros no exterior, sendo a primeira a dos Estados Unidos; é a quarta maior comunidade estrangeira no Japão, estando os chineses, coreanos e filipinos nas três primeiras posições, respectivamente.

    Sendo o Japão uma das nações mais desenvolvidas do mundo, não apenas em termos do peso do Produto Interno Bruto (PIB), mas também em dimensões filosóficas, científicas e culturais, há muitas vantagens para nós brasileiros na manutenção dessa amizade e no desdobramento desta entre outras frentes para o futuro.

    Em um mundo, agora, marcado pela força dos blocos econômicos, é com muita satisfação que vemos o interesse do Japão em estabelecer a parceria econômica com o Mercosul, com a Aliança do Pacífico e com a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, em especial com relação à questão das energias alternativas, que é o futuro para o nosso País e para vários países da América Latina.

    As economias do Brasil e do Japão estão profundamente conectadas. Dos primeiros migrantes, que vieram para o interior de São Paulo e Paraná para ocuparem-se da lavoura do café, aos dias de hoje, em que notamos um padrão tecnológico de televisão digital, há muitos episódios que consolidaram essa cooperação. Naqueles primeiros anos, tanto o Brasil carecia de trabalhadores quanto o Japão necessitava realocar parte de seus nacionais, enviando-os aos Estados Unidos, ao Peru e também ao Brasil. Para a nossa economia, aquela chegada do Kasato Maru, em 1908, foi providencial.

    Já em décadas mais recentes, em 1958, teve início a operação da Usiminas, com o apoio de capital e tecnologia japonesas. De 1965 a 1972, tivemos a instalação de grandes corporações japonesas, as quais trouxeram não apenas empregos e bens, mas também tecnologia. As tão conhecidas Toshiba, Panasonic, Yakult, NEC, Yamaha, Honda, Sharp e Sony são apenas algumas dessas empresas que participaram do boom industrial brasileiro e estão presentes no cotidiano dos brasileiros do transporte ao entretenimento, passando pela mesa de jantar. Então, essas palavras viraram comum para nós, porque tomaram conta do mercado.

(Soa a campainha.)

    O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF) - Já na década de 1970, o início da cooperação tecnológica e econômica com o Brasil criou o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer), uma iniciativa que revolucionou o uso do solo em nosso País e que é um dos fatores de liderança que o Brasil tem nas exportações de commodities.

    Eu, como Vice-Presidente da Frente Parlamentar do Cerrado, quero deixar claro que é muito importante a colaboração japonesa nas tecnologias de produção no nosso Cerrado brasileiro, que é um importante bioma e que nós temos que procurar preservar.

    Essa aliança de 120 anos levou o Japão, em 2014, a ser o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Ásia, com intercâmbio comercial de US$12,6 bilhões. A cooperação econômica nos últimos tempos ocorre, por exemplo, na indústria naval, sobretudo pelas perspectivas de exploração das reservas do pré-sal...

(Interrupção do som.)

    O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF) - ... e pela demanda por petróleo e gás. Essa parceria ocorre, principalmente, pelo pioneirismo e maestria da indústria naval japonesa, que tem demonstrado interesse não apenas em investir no Brasil, mas também em transferir tecnologia, o que é essencial para a sustentabilidade de nosso País.

    Dessas relações econômicas, naturalmente, advêm ganhos de natureza educacional, científica e tecnológica, pois o Japão é um dos mais relevantes parceiros nas áreas de cooperação técnica: em 38 anos, investiu no Brasil aproximadamente U$100 milhões. Além da já mencionada TV Digital, há outras áreas de cooperação científica e tecnológica, como as de oceanografia e ciências do mar, biotecnologia, ciências médicas, nanotecnologia, novos materiais, satélites, tecnologia espacial e tecnologia da informação e comunicação.

(Soa a campainha.)

    O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF) - E, agora, há a tão propalada necessidade de investir nas energias alternativas, que queremos ver - a questão da energia solar, a questão da produção de inversores.

    Em um programa fundamental para a juventude brasileira, o governo japonês tem demonstrado grande interesse em receber estudantes e pesquisadores brasileiros no âmbito do Programa Ciência sem Fronteiras, com uma meta de ofertar 1,3 mil vagas para os brasileiros.

    Numa de nossas áreas de excelência, a pesquisa agropecuária, a Embrapa e o Centro Internacional Japonês para Pesquisas em Ciências Agrícolas (Jircas) assinaram acordo para a criação do Labex Japão, um laboratório virtual da Embrapa, com o propósito de aprofundar a cooperação entra a empresa brasileira e o Jircas, uma experiência que teve início em 1995. Um dos projetos é o de desenvolvimento de tecnologia de engenharia genética para culturas com tolerância à degradação do meio ambiente global, com ênfase na soja modificada com grande resistência contra secas; e outro é o de desenvolvimento de tecnologias de cultivo para melhoramento da produção e oferta estável de culturas em altitude.

    Vou considerar como lida parte do meu discurso por causa do avançar da hora.

    Quero dizer o seguinte.

    Srªs e Srs. Senadores, só há motivos de júbilo para esse feliz encontro de culturas. Esperamos, sobretudo, que a harmonia que tem marcado essas relações sirva como um parâmetro para que o mundo inteiro repense os movimentos migratórios que hoje fervilham, principalmente na Europa.

    Sem pretensões de dar lições a qualquer nação, entendemos que a postura do Brasil perante esses fenômenos migratórios tem sido de grande proveito para todos: para os que vêm e para os já aqui chegados.

    Sem entrar no mérito das injustiças históricas com nossos indígenas, primeiros moradores, o Brasil é marcado por ser um país de migrantes. Desde os primeiros europeus que aqui aportaram, sob o signo do domínio; passando pelos africanos forçados a vir trabalhar em cativeiro; inovando com alemães, italianos e japoneses, de imigração estimulada, nos séculos XIX e XX. Por outras razões, particularmente as dificuldades em seus países de origem, tivemos a vinda de sírios, libaneses, palestinos e jordanianos, cujos descendentes, aqui chegados desde o início do século XX, somam um milhão de brasileiros; também do Oriente Médio, vieram os judeus, com colônia de mais de 100 mil pessoas.

    Mais recentemente, 50 mil haitianos também enxergaram no Brasil oportunidades de refazer suas vidas - grande parte, inclusive, entrando pelo Acre.

(Soa a campainha.)

    O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF) - Por fim, ultimamente, segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), 2.077 sírios receberam status de refugiados do governo brasileiro de 2011 até 2015 - um número que pode chegar a 50 mil, nas palavras do Professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas Oliver Stuenkel.

    Enfim, o que quero dizer é que a tolerância tem sido uma marca dos brasileiros, e esperamos que siga sendo, assim como esperamos que esses padrões de convivência, fraternidade e colaboração sejam um espelho para os movimentos migratórios.

    Eram essas as minhas palavras de homenagem aos 120 anos de amizade entre Brasil e Japão, com meus desejos de que ela se sustente pelos próximos séculos.

    Teria muito mais a dizer, por isso é que fiz questão de ser o primeiro signatário, de defender esta audiência pública para homenagear esses irmãos que tanto têm nos ajudado a avançar na tecnologia, no desenvolvimento e, principalmente, na harmonia entre os povos.

    Quero homenagear minha esposa, que está aqui no plenário, Edy Gonçalves Mascarenhas, homenagear minha filha Izabella Tainá, que é uma apaixonada pela cultura japonesa, minha filha Potira, minha outra filha Maíra e o meu filho Hélio Gabriel, deixando um grande abraço a todos e desejando um sucesso imenso.

    Peço licença ao nosso Presidente, porque eu tenho que correr para a CMO, que está com problema de quórum - fiz questão de ficar até o momento da minha fala aqui, mesmo que a toda hora estivessem me pressionando para eu ir para lá.

    Então, muito obrigado, Sr. Presidente, e um abraço a todos.

    Que Deus nos ajude. Um abraço. (Palmas.)

 

     SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR HÉLIO JOSÉ.

    O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD-DF. Sem apanhamento taquigráfico.) -

    Sobre a celebração dos 120 anos do tratado de amizade do Brasil com o Japão.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores:

    Em Brasília, temos dois eventos marcantes da cultura nipo-brasileira: a Festa do Morango, em Brazlândia, que acolhe 200 mil pessoas por ano e já está em sua 205 edição; e a Quermesse do Templo Budista, no Plano Piloto, em sua 42- edição. Ambas representam um pouco da riqueza que nossos irmãos orientais compartilharam conosco; ambos alimentos: um para o corpo, outro para o espírito. A quermesse, por sinal, retomou no DF uma tradição de 2,5 mil anos, criada para prestar homenagem aos antepassados, como se os pais e os avós representassem Deus, por conta de todo o bem que fazem aos familiares.

    Essa dupla presença, da cultura e da agricultura, com todos os encontros destas, incluindo o gastronômico, deve-se ao visionário Juscelino Kubitscheck e seu escudeiro-mor, Israel Pinheiro. Em 1957, com a construção da Nova Capital, onde tudo seria importado, incluindo os alimentos, Israel Pinheiro convidou famílias já residentes em Goiânia, Belém e São Paulo para virem fertilizar o solo do cerrado, plantando hortaliças e legumes para os candangos. Das poucas dezenas de pessoas, há, hoje, 2.200 famílias de descendentes de japoneses em nossa Brasília, mais da metade deles ainda lavrando os campos.

    Falando-se em presença cultural, em São Paulo, então, temos um dos maiores festivais da tradição japonesa, reunindo centenas de milhares de pessoas, no Bairro da Liberdade. No Paraná, as cidades de Londrina, Maringá e Curitiba igualmente hospedam belos exemplares da arquitetura japonesa; assim como as festas e o melhor da contribuição gastronômica de nossos irmãos.

    É desta maneira, lembrando os marcos culturais, que desejo iniciar esta homenagem aos 120 anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão.

    Sendo o Brasil uma nação constituída, predominantemente, por povos que para cá migraram, é com muita satisfação que identificamos mais de um milhão e meio de descendentes de japoneses no Brasil; ao mesmo tempo em que podemos localizamos quase duas centenas de milhares de brasileiros - nipodescendentes - morando e trabalhando no Japão. A japonesa é a segunda maior colônia de brasileiros no exterior, sendo a primeira a dos Estados Unidos; e a quarta maior comunidade estrangeira no Japão, estando os chineses, coreanos e filipinos nas três primeiras posições, respectivamente.

    Sendo o Japão uma das nações mais desenvolvidas do mundo, não apenas em termos do peso do Produto Interno Bruto (PIB) mas também em dimensões filosóficas, científicas e culturais, há muitas vantagens para nós, brasileiros, na manutenção dessa amizade e no desdobramento desta em outras frentes para o futuro. Em um mundo agora marcado pela força dos blocos econômicos, é com muita satisfação que vemos o interesse do Japão em estabelecer parceria econômica com o Mercosul, com a Aliança do Pacífico e com a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos.

    As economias do Brasil e do Japão estão profundamente conectadas. Dos primeiros migrantes, que vieram para o interior de São Paulo e Paraná para ocuparem-se da lavoura do café, aos dias de hoje, em que adotamos um padrão tecnológico de televisão digital, há muitos episódios que consolidaram essa cooperação. Naqueles primeiros anos, tanto o Brasil carecia de trabalhadores quanto o Japão necessitava realocar parte de seus nacionais, enviando-os aos Estados Unidos, ao Peru e também ao Brasil. Para nossa economia, aquela chegada do Kasato Maru, em 1908, foi providencial.

    Já em décadas mais recentes, em 1958, teve início a operação da Usiminas, com apoio de capital e tecnologia japoneses; de 1965 a 1972, tivemos a instalação de grandes corporações japonesas, as quais trouxeram não apenas empregos e bens, mas também tecnologia: as tão conhecidas Toshiba, Panasonic, Yakult, NEC, Yamaha, Honda, Sharp e Sony são apenas algumas dessas empresas que participaram do boom industrial brasileiro; e presentes no cotidiano dos brasileiros, do transporte ao entretenimento, passando pela mesa de jantar.

    Já na década de 1970, o início da cooperação tecnológica e econômica com o Brasil criou o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer), uma iniciativa que revolucionou o uso do solo em nosso País e que é um dos fatores da liderança que o Brasil tem na exportação de commodities.

    Essa aliança de 120 anos levou o Japão, em 2014, a ser o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Ásia, com intercâmbio comercial de US$ 12,6 bilhões.

    A cooperação econômica nos últimos tempos ocorre, por exemplo, na indústria naval, sobretudo pelas perspectivas de exploração das reservas do pré-sal e pela demanda por petróleo e gás. Essa parceria ocorre, principalmente, pelo pioneirismo e maestria da indústria naval japonesa, que tem demonstrado interesse não apenas em investir no Brasil, mas também em transferir tecnologia, o que é essencial para a sustentabilidade de nosso País.

    Dessas relações econômicas, naturalmente, há ganhos de natureza educacional, científica e tecnológica, pois o Japão é um dos mais relevantes parceiros nas áreas de cooperação técnica: em 38 anos, investiu no Brasil aproximadamente U$ 100 milhões. Além da já mencionada TV Digital, há outras áreas de cooperação científica e tecnológica, como as de oceanografia e ciências do mar, biotecnologia, ciências médicas, nanotecnologia, novos materiais, satélites, tecnologia espacial e tecnologia da informação e comunicação.

    Em um programa fundamental para a juventude brasileira, o governo japonês tem demonstrado grande interesse em receber estudantes e pesquisadores brasileiros, no âmbito do Programa Ciência sem Fronteiras, com uma meta de ofertar 1.300 vagas para os brasileiros, até 2010.

    Numa de nossas áreas de excelência, a pesquisa agropecuária, a Embrapa e o Centro Internacional Japonês para Pesquisas em Ciências Agrícolas (Jircas) assinaram acordo para a criação do Labex Japão, um laboratório virtual da Embrapa, com o propósito de aprofundar a cooperação entra a empresa brasileira e o Jircas, uma experiência que teve início em 1995. Um dos projetos é o de desenvolvimento de tecnologia de engenharia genética para culturas com tolerância à degradação do meio ambiente global, com ênfase na soja modificada com grande resistência contra secas; e outro é o de desenvolvimento de tecnologias de cultivo para melhoramento da produção e oferta estável de culturas em altitude.

    Na área de computação de alto desempenho, tem sido intensificada a cooperação entre os dois países, com a capacitação de recursos humanos, desenvolvimento tecnológico para gerenciamento de grandes sistemas e uso de computação para modelagem e monitoramento de mudanças climáticas.

    Como destaca o Itamarati, a dimensão humana reveste-se da maior importância nessas relações com o Japão, como já demonstrado pelas presenças de brasileiros naquele País e de seus descendentes entre nós.

    Desde 1964, Nara Leão e Sérgio Mendes já haviam iniciado esse encantamento; na década de 1970, Elis Regina e Hermeto Paschoal voltaram a cativar os japoneses; na década de 1980, foi a vez de eles apreciarem Gal Costa, Djavan, Clara Nunes, João Bosco. Na música popular, um dos fenômenos mais recentes é a audiência da cantora Tsubasa Imamura, cuja conta no YouTube, criada há dois anos, tem 85 mil seguidores, sendo que alguns vídeos chegam a ter 700 mil visualizações, como o caso do cover de "Pais e Filhos", da banda Legião Urbana. Se somarmos às visualizações de "Malandragem", de Cássia Eller, os brasilienses podemos nos orgulhar de mais de um milhão de visualizações de ídolos que moraram e iniciaram suas carreiras de sucesso no DF. Isso quer dizer que, além da sagração e consagração da bossa nova e do samba, outros compositores brasileiros se afirmam na Terra do Sol Nascente.

    Para representar a riqueza dessa dupla recepção, alegramo-nos, também, com a admiração dos japoneses pelo futebol brasileiro, a ponto de um dos nossos maiores ídolos do futebol ser um quase herói naquele país. Não por acaso, foram escolhidos como Embaixadores da Boa Vontade dos 120 anos de Amizade Brasil-Japão o Arthur Antunes Coimbra, nada menos que o Zico; e a Márcia Nishie, descendente de japoneses de Mogi das Cruzes, São Paulo, que é a primeira cantora nipo-brasileira a fazer sucesso no circuito profissional de música japonesa.

    Neste lado do mundo, tem sido igualmente relevante a contribuição dos japoneses para nossa cultura. Nomes como o de Manabu Mabe (1994-1997) se tornaram célebres no Brasil, como exemplo de maestria nas artes plásticas. À semelhança de outros imigrantes, veio para trabalhar na lavoura, em 1934. Decidido a ser pintor, dedicava-se à sua arte quando chovia e não podia ir para a lavoura. A atuação de Manabu Mabe e de seu colega Tikashi Fukushima (1920-2001) foram essenciais para a afirmação e desenvolvimento do abstracionismo no Brasil. Com brilhantismo semelhante, Tomie Ohtake destacou-se também, vindo a ser considerada a dama das artes plásticas brasileiras. Todos eles nascidos no Japão, naturalizados brasileiros, brasileiros de coração, porque deixaram um legado para a identidade da cultura brasileira.

    Na arquitetura, a influência da cultura japonesa tem-se revelado marcante, uma vez que a busca pela integração com a natureza é fundamental naquele país. Entre nós, como um dos mais belos exemplares dessa influência, está o Memorial da Imigração Japonesa no Brasil, construído sobre um espelho d'água em um grande parque ecológico de Belo Horizonte. A obra de arte que é o edifício, símbolo do centenário da imigração japonesa no Brasil, representa essa aliança entre os dois países.

    Na literatura, a forma tradicional japonesa do haikai muito influenciou alguns de nossos melhores poetas, estudiosos profundos do tema, como o célebre Guilherme de Almeida, ainda na década de 1930; e, mais recentemente, o polêmico e talentoso Paulo Leminski, a poeta Alice Ruiz e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari. Grandes marcas desse modo de fazer versos estão presentes no concretismo brasileiro e em outros diálogos poéticos.

    Enfim, Srªs e Srs. Senadores, só há motivos de júbilo para esse feliz encontro de culturas. Esperamos, sobretudo, que a harmonia que tem marcado essas relações sirva como um parâmetro para que o mundo inteiro repense os movimentos migratórios que hoje fervilham, principalmente na Europa.

    Sem pretensões de dar lições a qualquer nação, entendemos que a postura do Brasil perante esses fenômenos migratórios tem sido de grande proveito para todos: para os que vêm e para os já aqui chegados.

    Sem entrar no mérito das injustiças históricas com nossos indígenas, primeiros moradores, o Brasil é marcado por ser um país de migrantes. Desde os primeiros europeus que aqui aportaram, sob o signo do domínio; passando pelos africanos forçados a vir trabalhar em cativeiro; inovando com alemães, italianos e japoneses, de imigração estimulada, nos séculos XIX e XX. Por outras razões, particularmente as dificuldades em seus países de origem, tivemos a vinda de sírios, libaneses, palestinos, jordanianos, cujos descendentes, aqui chegados desde o início do século XX, somam um milhão de brasileiros; também do Oriente Médio, vieram os judeus, com colônia de mais de 100 mil pessoas.

    Mais recentemente, 50 mil haitianos também enxergaram no Brasil oportunidades de refazer suas vidas.

    Por fim, ultimamente, segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), 2.077 sírios receberam status de refugiados do governo brasileiro de 2011 até agosto de 2015. Um número que pode chegar a 50 mil, nas palavras do professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Oliver Stuenkel.

    Enfim, o que quero dizer é que a tolerância tem sido uma marca dos brasileiros, e esperamos que siga sendo; assim como esperamos que esses padrões de convivência, fraternidade e colaboração sejam o espelho para os movimentos migratórios.

    Eram essas minhas palavras de homenagem aos 120 anos de amizade entre Brasil e Japão, com meus desejos de que essa se sustente pelos próximos séculos.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2015 - Página 14