Discurso durante a 202ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a Comemorar os 120 anos da assinatura oficial das relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão (120 anos de Amizade Brasil-Japão).

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Sessão especial destinada a Comemorar os 120 anos da assinatura oficial das relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão (120 anos de Amizade Brasil-Japão).
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2015 - Página 20
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, ASSINATURA, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, RELAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO.

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Eu ia lhe dizer exatamente isso! É para que ele não nos receba lá da forma como recebeu V. Exª!

    Saúdo o Presidente, Senador Wellington Fagundes. Saúdo também o Senador Jorge Viana, Vice-Presidente do Senado Federal e que até este momento presidia a sessão solene em que comemoramos os 120 anos das relações diplomáticas e de amizade entre o Brasil e o Japão.

    Cumprimento também o Senador Hélio José, que foi o primeiro signatário do requerimento da presente sessão; o Senador Wellington Fagundes, que preside, como disse, neste momento a sessão; o Sr. Embaixador do Japão Kunio Umeda; o responsável pelo Templo Budista de Brasília, Sr. Monge Shôjo Sato; a fundadora e presidente da Rede Blue Tree de hotéis, Srª Chieko Aoki; o Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, Deputado Federal William Woo; o Cônsul-Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, Sr. Wilson Brumer, ex-presidente da Companhia Vale, que tem uma ligação muito estreita e importante com o meu Estado, o Estado do Pará, e uma relação também estreita com o Japão, em vários empreendimentos que foram implantados em parceria com empresas japonesas - aqui foram citadas algumas delas, como é o caso da Albrás e várias outras no Estado do Pará - o Sr. Tenente-Coronel Evaldo Soares Vieira, que representa o Comandante da Polícia Militar do Distrito Federal; a Deputada Federal por São Paulo, Srª Keiko Ota; os Srs. Embaixadores; os senhores representantes do corpo diplomático, as senhoras e os senhores presentes.

    Há 120 anos os Governos do Brasil e do Japão celebraram, na cidade de Paris, o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação que marcou o começo de nossas relações diplomáticas recíprocas.

    Recuando no tempo, observamos que, antes da celebração do referido Tratado, as relações entre o Brasil e o Japão eram quase inexistentes, senão nulas.

    Contudo, os esforços diplomáticos empreendidos à época para que se chegasse a um texto que atendesse as expectativas dos dois países frutificaram e resultaram, ao longo dos anos, em benefícios inequívocos para ambas as sociedades.

    Foi o Tratado, por exemplo, que propiciou o início, nos primeiros anos do século XX, da imigração japonesa para o Brasil, sendo fundamental para a formação dos laços de amizade que hoje unem os dois povos.

    De fato, precisamente em 18 de junho de 1908, a embarcação Kasato Maru aportou na cidade de Santos, transportando 165 famílias de imigrantes japoneses, que deixaram seu país para enfrentar, na sua maioria, o trabalho árduo da lavoura cafeeira.

    Em 2008, quando foi comemorado o centenário da imigração japonesa no Brasil, estava eu, com muita honra, como Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, juntamente com o Deputado William Woo, que àquela altura era o presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão. À época, tivemos a honra, a alegria e a felicidade de receber a família imperial para uma série de compromissos em razão da data comemorativa.

    Lembro que marcamos o fato com um quadro feito com origamis, que se encontra no salão da Câmara Federal e que mostra a bandeira do Japão e a bandeira do Brasil - feita em origamis. Se não me falha a memória, há alguma coisa como 500 mil origamis, que foram produzidos no Brasil e no Japão - no Brasil, em várias cidades onde a colônia japonesa se fazia presente, inclusive no meu Estado, o Pará. Esse quadro se encontra lá na Câmara Federal como testemunho da amizade entre os dois povos irmãos, o brasileiro e o japonês.

    No meu Estado do Pará, a imigração japonesa tem como marco o dia 16 de setembro de 1929, quando um grupo de 43 famílias japonesas desembarcava em Belém, capital paraense. O fluxo migratório continuou ao longo do século XX, basicamente, durante dois períodos: de 1929 a 1937; e depois, de 1952 a 1962. Vários foram os aspectos que atraíram a população japonesa ao Estado do Pará.

    No primeiro período migratório, a grande motivação para atrair famílias japonesas se dava pela possibilidade de o povo oriental se tornar proprietário de 25ha de terras no meu Estado do Pará. Para o governo do Estado, na época, a chegada dos japoneses era importante, porque a Amazônia e o Pará precisavam ser povoados e precisavam do auxílio do povo irmão, para que pudessem ajudar os paraenses de nascimento a desenvolver aquele rincão do nosso Brasil. Já para o governo japonês, o fluxo seria a saída para o grande número de camponeses com dificuldades, desde a reforma Meiji, em 1868.

    A comunidade japonesa, no Estado do Pará, estabeleceu-se mais fortemente - e até hoje - no Município paraense de Tomé-Açu, onde ajudaram a fortalecer a economia local, introduzindo o cultivo da pimenta-do-reino, a partir de sementes por eles compradas em Cingapura.

(Soa a campainha.)

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - No Pará, em pouco tempo, a pimenta-do-reino se tornou o maior produto de exportação regional, depois da borracha. O sucesso retumbou como um gongo, entre as comunidades japonesas. No final da década de 1950, o Município de Tomé-Açu já produzia mais de 5 mil toneladas de pimenta-do-reino por ano, chegando a ser conhecido como o "diamante negro da Amazônia".

    Em Tomé-Açu, Município do meu Estado, o Pará, as tradições japonesas se mantêm preservadas em plena Floresta Amazônica. O Distrito de Quatro Bocas é onde se encontra a maior colônia japonesa do Pará.

    E, Sr. Embaixador, V. Exª sabe...

(Interrupção do som.)

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - ... que a colônia de descendentes de japoneses no Pará é a quarta do Brasil - a primeira é São Paulo; depois, Paraná, Mato Grosso e Pará.

    Como dizia, no Distrito de Quatro Bocas, onde se concentra a maior colônia japonesa do Pará - aí é importante e interessante destacar isto, de que tenho certeza de que o Sr. Embaixador tem conhecimento -, há uma escola em que o ensino é ministrado em japonês e os esportes mais populares são o sumô, o beisebol e o golfe. Lá, na Amazônia brasileira, no meu Estado do Pará, no Município de Tomé-Açu, no Distrito de Quatro Bocas, existe essa escola onde o ensino é feito na língua japonesa.

    Realmente, trata-se de um feito espetacular o de conseguir manter e disseminar a língua, as festas, a religião, enfim, a cultura e as tradições nipônicas em território amazônico, êxito que somente pode ser alcançado, porque a comunidade se manteve unida ao longo dos mais de 85 anos de presença na região.

    Para comemorar a presença nipônica em solo paraense ao longo dessas oito décadas, recebemos agora, no início de novembro, no nosso Estado, a visita do Príncipe Akishino, filho mais novo do Imperador Akihito, do Japão, e da sua esposa, a Princesa Kiko, que cumpriram, por dois dias, uma intensa agenda de compromissos, dividida em encontros com autoridades e com representantes da comunidade Nikkei e visitas a pontos turísticos da cidade.

    É importante ressaltar que a contribuição dos imigrantes japoneses vai muito além do setor agrícola. Conforme lembrou recentemente o Embaixador do Brasil no Japão, Sr. André Corrêa do Lago, na esteira das comemorações dos 120 anos do estabelecimento das relações diplomáticas nipo-brasileiras, foi decisiva a demanda da indústria siderúrgica japonesa, a partir dos meados dos anos 50, para a consolidação da mineração de ferro no Brasil. Daí vem, como me referi no início, a relação do governo do Japão, via empresas japonesas, com a companhia Vale do Rio Doce - hoje Vale.

    Neste ano de 2015, por diversos fatores, inclusive pela continuidade da queda do preço do minério de ferro, há uma tendência de inversão na balança comercial entre o Brasil e o Japão, que sempre foi superavitária para o Brasil, e que, neste ano, deverá apresentar um resultado contrário: será superavitária para o Japão, nas trocas comerciais. De qualquer forma, as relações comerciais e a cooperação tecnológica com o Japão permanecerão sólidas.

(Soa a campainha.)

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Eu quero destacar que a relação do Japão com o Brasil, em especial com o meu Estado, é para nós paraenses de fundamental importância, pela amizade, pelas relações culturais e também pela ajuda que o povo japonês que migrou deu e continua dando ao Pará para o nosso desenvolvimento. Ainda agora, o Governo japonês, através da sua agência de desenvolvimento, a Jica, está financiando o Governo do Estado do Pará para a instalação do BRT na região metropolitana da capital da nossa cidade de Belém.

(Interrupção do som.)

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - O convênio já foi assinado, os recursos já estão disponibilizados, e as obras devem se iniciar no início do próximo ano. É, sem sombra de dúvida, uma obra de importância vital para o nosso Estado e para a região metropolitana de Belém.

    É importante, Embaixador. O Brasil, lamentavelmente, vive um tempo de crise.

    O Senador Hélio José - que foi o primeiro subscritor do requerimento - é funcionário do Ministério de Minas e Energia, engenheiro da área de infraestrutura, que é um dos maiores ou talvez o maior problema para o desenvolvimento do Brasil. Aí nós temos muito o que aprender com o Japão. Lembro que, quando ocorreu, lamentavelmente, o tsunami em Fukushima, a estrada que foi interrompida foi corrigida em dez dias e a recuperação ocorreu num tempo, em relação ao que ocorre aqui no Brasil, infinitamente menor, o que demonstra as condições de desenvolvimento do Japão, que tem muito a oferecer para que nós possamos aprender com a disciplina milenar do povo japonês.

    Muito falei sobre a imigração japonesa para o Brasil, mas também não posso deixar de mencionar o movimento emigratório de dezenas de milhares de brasileiros nipo-descendentes, que, em diversos momentos da estagnação da economia brasileira, foram acolhidos no Japão, onde puderam trabalhar e construir suas vidas. Hoje, mais de 170 mil brasileiros vivem no Japão - muitos dos quais remetendo mensalmente recursos financeiros para familiares no Brasil -, e outros já retornaram, trazendo consigo suas economias com o objetivo de aqui investir em novos negócios.

    Os laços de amizade e de identidade entre o Brasil e o Japão, reforçados pelo fluxo migratório entre as nossas nações, têm o condão da perenidade, cujo marco inicial se registrou há 120 anos, com a assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação.

    Ao concluir, eu quero fazer um registro final e uma homenagem à colônia japonesa do meu Estado. Eu gostaria de poder citar todos os meus amigos descendentes japoneses no meu Estado, mas não tenho espaço para isso. Então, vou fazê-lo em nome do Yuji Ikuta, que é o Presidente da Associação Pan-Amazônica Nipo-Brasileira, e do Michinori Konagano, que é o Presidente da Camta (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu), exatamente aquele Município a que me referi ainda há pouco.

(Soa a campainha.)

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Quero também saudar o Sr. Gilberto Yamamoto, Presidente da Sociedade de Beneficência Nipo-Brasileira da Amazônia. E, por último, vou saudar uma família de imigrantes japoneses que construiu um grupo de empresas no Pará. A imigração para o Pará tem alguma coisa em torno de 86 anos, e a empresa tem 60 anos que foi fundada no Estado do Pará, que é o Grupo Y.Yamada. Faço a homenagem ao Grupo Y.Yamada em nome do Fernando Yamada, nosso amigo, que hoje é o Presidente da Associação Brasileira de Supermercados.

    Em nome desses amigos da...

(Interrupção do som.)

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - ... colônia japonesa no meu Estado, eu quero saudar a todos descendentes, a todos os integrantes da colônia japonesa no meu Estado do Pará, que são paraenses e que nos ajudam a desenvolver, com seu trabalho, com a sua inteligência, com o seu amor - isso que é importante - pelo Brasil e, em especial, pelo Pará.

    Muito obrigado. (Palmas.)

 

     O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Gostaria de parabenizar o Senador Flexa pelo seu conhecimento. Ele fez um pronunciamento com muito conhecimento de causa vivida. Eu só acho que ele se esqueceu de falar um detalhe extremamente importante: ele tem uma nora japonesa.

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - É verdade! E uma neta descendente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2015 - Página 20