Discurso durante a 203ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Entusiasmo com a reunião entre lideranças da China e de Taiwan ocorrida em Cingapura no último sábado.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Entusiasmo com a reunião entre lideranças da China e de Taiwan ocorrida em Cingapura no último sábado.
Publicação
Publicação no DSF de 13/11/2015 - Página 90
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Indexação
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, PARTICIPAÇÃO, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, TAIWAN, LOCAL, SINGAPURA, ELOGIO, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RELAÇÃO, POLITICA INTERNACIONAL.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem nos ouve na Rádio Senado, quem os assiste pela TV Senado, aqueles que visitam a Casa hoje, meus cumprimentos.

    Queria iniciar cumprimentando V. Exª, Presidente, pelo pronunciamento recente que fez aqui a respeito da palestra do ex-Presidente Bill Clinton. De fato, é animador vermos alguém com tanta experiência, alguém que governou por duas vezes o país que tem a maior influência econômica no mundo se referir ao nosso País com tanto otimismo. Então, queria saudar V. Exª por ter registrado desta tribuna, de forma tão imediata, porque a palestra foi de manhã...

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Estava lá e fiz minhas anotações. Depois, a imprensa repercutiu, até elogiei, ipsis litteris, porque ele tinha...

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Foi quase em tempo real com a imprensa a sua fala aqui. Quero parabenizá-lo.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu estou mandando, como combinado, para os 80 Senadores.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Que ótimo!

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu acho que é importante, nesta hora, refletirmos um pouco sobre o olhar de alguém que vem de fora, gosta do Brasil, que veio 11 vezes ao País, conhece os problemas do mundo inteiro. Ele fez um posicionamento muito interessante para nossa reflexão.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Com certeza! Não tenho dúvidas disso, até para a gente se contrapor um pouco ao pessimismo reinante, porque parece que o Brasil é o País com os maiores problemas do mundo, que nós não temos saída, que a crise é a maior. Precisa vir alguém de fora para falar que não é isso, que nós temos questões muito positivas, importantes, e um futuro muito promissor.

    Mas hoje eu falo também de um tema que V. Exª conhece bem, e tem sido meu companheiro nessa discussão, tanto na Comissão de Relações Exteriores como também no relacionamento com o País. No sábado passado, Sr. Presidente, o mundo voltou a presenciar um acontecimento histórico na diplomacia mundial. Depois de 66 anos, os principais líderes da China e de Taiwan se reuniram em Cingapura - depois de 66 anis!

    É para nós comemorarmos, assim como comemoramos aqui o reatamento das relações entre Estados Unidos e Cuba. É importante lembrar que, em abril deste ano, também um sábado, como eu disse, igualmente entraram para a história os Presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, que se encontraram pela primeira vez em 50 anos na Cidade do Panamá. No caso da China com Taiwan, foi depois de 66 anos. E, sete meses depois, neste mesmo ano de 2015, o mundo presencia este encontro diplomático de tão grande relevância entre os Presidentes da China, Xi Jinping, e de Taiwan, Ma Ying-jeou. Trata-se do primeiro encontro entre líderes da China continental e da Ilha Formosa desde o fim da Guerra Civil Chinesa, que levou à proclamação da República Popular da China por Mao Tsé-Tung e fez com que os aliados do General Chiang Kai-shek se retirassem do continente para Taiwan.

    Por décadas, as relações entre estes dois povos, que são irmãos em sua origem, têm sido delicadas e, por vezes, até hostis. Porém, entendo que a simples ocorrência do encontro deste último sábado demostra a possibilidade de um futuro diferente, um primeiro passo para que, através da diplomacia, seja possível uma solução negociada que satisfaça a todos os interesses envolvidos.

    O tema chama minha atenção, porque tive o privilégio de conhecer ambos os países. Em 2013, na condição de Ministra-Chefe da Casa Civil, estive em missão oficial na China Continental, mais especificamente nas cidades de Pequim e Xangai. E pude constatar a força e a importância da economia chinesa, além da riqueza cultural do seu povo.

    Mais recentemente, muito influenciada pelo Senador Jorge Viana, estive também visitando Taiwan, desta feita, como Senadora, atendendo a um convite do governador taiwanês. E tive a grata satisfação de conhecer um povo muito hospitaleiro e que, diante de suas condições limitadas de recursos naturais, decidiu investir de forma estratégica nos seus recursos humanos, transformando sua economia numa das mais avançadas do mundo na área de tecnologia e de informação. Um exemplo que deveríamos aqui, no Brasil, estudar e tentar seguir.

    Somos e seremos sempre parceiros estratégicos da China. Afinal, além da relação bilateral intensa que elevou o país ao posto de principal parceiro comercial brasileiro - a China é o maior importador do Brasil -, estamos juntos no BRICS, um bloco que, na minha avaliação, a cada dia cresce em importância na agenda diplomática do Brasil e dos demais membros, como a própria China, a Rússia, a Índia e a África do Sul.

    Sendo assim, depois de ter conhecido Taiwan e suas oportunidades para a economia brasileira, e sabendo da importância fundamental da China para o nosso País, eu vejo com muita satisfação este primeiro encontro entre Líderes da China e de Taiwan, que poderá ser o primeiro passo para um novo momento nas relações entre os dois povos. Tanto este encontro histórico do último sábado quanto o que ocorreu na cidade do Panamá, entre os Presidentes Barack Obama e Raúl Castro, são exemplos muito positivos da verdadeira diplomacia, baseada na busca do diálogo, que tradicionalmente o Estado brasileiro apoia e pratica.

    Diferentemente do que alguns têm afirmado, entendo que a política externa da Presidenta Dilma Rousseff tem se mostrado muito efetiva na defesa dos interesses brasileiros, dando continuidade à estratégia de ampliar as nossas relações comerciais com os mais diversos países e ainda promovendo o nosso relacionamento bilateral com as principais economias do mundo. Cito como exemplo dos resultados positivos da política de ampliar nossos parceiros comerciais o que alguns insistem em tratar de forma pejorativa como política Sul-Sul, a participação do Ministro Mauro Vieira, nos dias 9, 10 e 11 de novembro, em Riade, na Arábia Saudita, da quarta cúpula de chefes de Estado e de governo de países da América do Sul e países Árabes. O evento assinala os dez anos do mecanismo criado na Cúpula de Brasília, em 2005, período em que o comércio entre as duas regiões cresceu 183%, tendo passado de 13,7 bilhões, em 2005, para 34,8 bilhões, em 2014.

    Não por acaso, ontem, a Arábia Saudita liberou a importação de carne bovina brasileira. As compras tinham sido suspensas, três anos atrás, depois que foi registrado, aqui no Brasil, um caso atípico da doença da vaca louca. Com o fim do embargo, o setor estima que vai aumentar as exportações em 50 mil toneladas de carne por ano e arrecadar mais US$170 milhões - não posso deixar de comemorar esse feito; o Paraná é um Estado exportador de carne bovina.

    De outro lado, no que se refere ao relacionamento com as principais economias globais, basta analisar como foi a agenda de encontros oficiais da Presidenta Dilma, neste ano de 2015. Nossa Chefe de Estado reuniu-se e ainda se reunirá, em agendas bilaterais, com todos os principais líderes do mundo. Esteve com o Presidente da China, aqui no Brasil; esteve com o Presidente Barack Obama, nos EUA; recebeu a Presidenta Angela Merkel, também no Brasil; e ainda estará, no Japão, com o Presidente daquele país, até o final do ano; trata-se das quatro maiores economias globais.

    Além disso, o Brasil tem participado, ativamente, das principais reuniões de cúpula do Planeta. A Presidenta esteve na Rússia, na Cúpula dos BRICS de 2015, em que viu avançar os projetos do Banco e do Fundo de Reservas do Bloco, ambos assinados na cidade de Fortaleza, no ano passado, exatamente quando o Brasil exercia a presidência do grupo.

    A Presidenta Dilma também esteve presente na Cúpula das Américas. Participou e discursou na Assembleia Geral da ONU. E, agora, no início da próxima semana, nos dias 15 e 16, participará da Cúpula do G20, na cidade de Antália, na Turquia.

    É importante ressaltar que, desde a crise de 2008, quando o grupo foi elevado a foro de alto nível, o G20 se notabilizou como fórum central de debates entre as principais economias do mundo, em busca de soluções coordenadas, para o enfrentamento da crise financeira internacional. Aliás, desde então, transformou-se no palco principal das discussões econômicas mundiais.

    Ao longo dos anos, as discussões do grupo passaram a incorporar outros temas de caráter econômico à agenda de debates, com destaque recente para a temática do desenvolvimento econômico-social.

    Em muito boa hora, em 2015, a Cúpula G20, sob a presidência turca, elegeu a inclusão como tema de trabalho comum às várias instâncias do grupo, escolha que o Brasil não apenas apoia, como saúda.

    Inclusão, nesse caso, significa reduzir a distância entre países ricos e pobres, e ainda promover em cada país sociedades menos desiguais. E, nesse caso, todos sabemos que a inclusão social promovida nos governos Lula e Dilma é um exemplo a ser seguido mundialmente. Temos, portanto, grandes interesses e muito o que dizer sobre o tema na Turquia.

    Além da questão da inclusão em 2014, os líderes do G20 acordaram um conjunto de princípios para a colaboração em energia, sendo adotado o compromisso de assegurar energia acessível e segura para todos.

    Novamente o Brasil pode dar sua colaboração, pois o acesso à energia também é uma prioridade nacional para o Brasil. Em 2003, nós lançamos o Programa Luz para Todos com o objetivo de universalizar o acesso à energia do nosso País. E, desde então, 3,3 milhões de famílias de brasileiros, num total de mais de 15 milhões de pessoas, foram beneficiadas pelo programa. Atualmente mais de 99% da população têm acesso à energia elétrica no Brasil - 99%! Mesmo com as dimensões continentais que tem o nosso Brasil, mesmo com a Amazônia, mesmo com tantas regiões longínquas, 99% da população têm acesso ao serviço de energia.

    O esforço de universalização do acesso à energia deve ser ambientalmente sustentável. E, neste, o G20 está apresentando um conjunto de opções de políticas para expandir o uso das energias renováveis e apoiar o objetivo de aumentar, substancialmente, sua participação na matriz global de energia nas próximas décadas.

    O Brasil já faz uso significativo das energias renováveis e conta com longa prática no uso de biocombustíveis. São, certamente, experiências que podemos e queremos partilhar com nossos parceiros.

    Outras contribuições importantes esperadas do G20 em 2015 referem-se à segurança alimentar, à geração de empregos e às novas estratégias de investimentos, com atenção especial aos chamados "negócios inclusivos", ou seja, aqueles que incorporam populações de baixa renda na cadeia de produção ou se direcionam a tais segmentos como consumidores.

    Também estão previstas, e merecem atenção especial de todos, discussões sobre o terrorismo e a crise de refugiados da Síria.

    Voltando ao segmento econômico, eixo central da Cúpula do G20, outros temas recorrentes na agenda do grupo - como a regulação financeira, a questão dos impostos internacionais, as ações anticorrupção e a tão importante Reforma do Fundo Monetário Internacional - também devem ser tratados nessa reunião, nesse encontro.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, diante da importância das pautas previstas para a Cúpula de Antália e considerando o atual momento mundial, entendo que o principal desafio do G20 na próxima semana é manter a neutralidade e a objetividade necessárias para enfrentar, de forma construtiva, as temáticas em debate e, assim, sem desviar do seu foco, demonstrar a capacidade de traduzir aspirações e necessidades globais em ações eficazes, em benefícios de todos. Que os ares de 2015, que têm propiciado avanços importantes na diplomacia mundial, nos encontros históricos dos líderes da China e de Taiwan, e também dos Estados Unidos e de Cuba, possam mover a Cúpula do G20 na Turquia.

    Se conseguirmos avançar focados nas temáticas propostas na agenda do grupo - e penso que o Brasil, através de suas próprias experiências com a inclusão social, segurança alimentar e universalização da energia, Sr. Presidente, possa ajudar muito neste sentido -, estaremos verdadeiramente trabalhando para fazer do G20 um instrumento efetivo e construtivo da governança econômica mundial e do desenvolvimento sustentável em benefício de todos.

    Obrigada, Sr. Presidente

    O SR. PRESIDENTE (Elmano Férrer. Bloco União e Força/PTB - PI) - Agradecemos as palavras da Srª Senadora Gleisi Hoffmann,...

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/11/2015 - Página 90