Fala da Presidência durante a 26ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada a homenagear o centenário de nascimento de Djalma Maranhão.

Autor
Fátima Bezerra (PT - Partido dos Trabalhadores/RN)
Nome completo: Maria de Fátima Bezerra
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Sessão solene destinada a homenagear o centenário de nascimento de Djalma Maranhão.
Publicação
Publicação no DCN de 17/11/2015 - Página 9
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • LEITURA, DOCUMENTO, AUTORIA, JOSE SERRA, SENADOR, ASSUNTO, HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, POLITICO, PROFESSOR, JORNALISTA, EMPRESARIO, ORIGEM, MUNICIPIO, NATAL (RN), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).

     A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Apoio Governo/PT-RN) - Agradecemos a presença e a participação do Senador José Agripino, ao tempo em que vou convidar para fazer uso da fala o Senador Cristovam.

     A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Apoio Governo/PT-RN) - Enquanto o Senador se aproxima da tribuna, eu quero dar conhecimento da mensagem que foi enviada pelo Senador José Serra.

     Passo a ler a mensagem:

     “Minha prezada Senadora Fátima Bezerra, não sendo possível estar presente em Brasília nesta manhã do dia 16 de novembro, queria cumprimentá-la pela iniciativa de homenagear o político potiguar Djalma Maranhão no centenário do seu nascimento.

     Conheci Maranhão quando era presidente da UNE, em 1963 e 1964. Eu tinha 21 anos; ele, uns 50. A UNE era uma das principais forças integrantes da Frente de Mobilização Popular que congregava a Frente Parlamentar Nacionalista, o Comando Geral dos Trabalhadores, representantes dos partidos de esquerda, intelectuais e dirigentes políticos de alcance nacional, como Leonel Brizola, Miguel Arraes.

     Com frequência, Djalma, Prefeito da cidade de Natal, comparecia às nossas reuniões. Era conhecido, respeitado e ouvido como grande administrador, popular e inovador, não apenas pelas suas obras, mas também devido às suas ações no combate ao analfabetismo, que, no Rio Grande do Norte, atingia cerca de 60%

da população acima de 14 anos! ‘Dé pé no chão também se aprende a ler’ era o lema do Prefeito, que ecoou como exemplo em todo o Brasil.

     Eu era militante da Ação Popular, organização de origem cristã, e tomara conhecimento da qualidade e do ímpeto do trabalho de Djalma por intermédio do Marcos Guerra, o guru da minha geração em matéria de educação popular.

     Quero lembrar que, como Presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, e depois da UNE, eu enfatizava e promovia campanhas de alfabetização, uma das tarefas centrais do movimento estudantil junto à sociedade, sempre na perspectiva da educação inclusiva, na linha do Centro Popular de Cultura, que criei na UEE e que fortalecemos na UNE.

     Com o golpe militar, Djalma foi preso e internado em Fernando de Noronha, junto com Arraes e o Governador também cassado do Rio Grande do Norte, Aluísio Alves. Ele exilou-se depois no Uruguai, a fim de escapar da condenação a 18 anos de prisão.

     Eu também fui condenado e exilado, primeiro na Bolívia, depois no Chile e, em seguida, nos Estados Unidos. Voltei ao Brasil depois de 14 anos, em 1978, mas nunca mais revi o Djalma. Ele morrera com apenas 56 anos de idade, em 1971, em Montevidéu.

     Seu desaparecimento prematuro nos privou de um extraordinário potiguar e um grande brasileiro. E o privou também de um grande desgosto, que foi a prisão, a tortura feroz e o assassinato do seu irmão, Luiz Maranhão, professor de geografia e dirigente do PCB, a quem eu conhecera antes do golpe de 64. Sua morte teria ocorrido na infame Casa da Morte, em Petrópolis, e seu corpo queimado na fornalha de um engenho desativado, em Campos, no Rio de Janeiro. Marcelo Cerqueira, que fora Vice-Presidente da UNE, na nossa gestão, foi seu advogado e nos dá até hoje o testemunho da tragédia.

     Luiz foi assassinado durante a fria ofensiva do regime militar para exterminar a direção do PCB, apesar de que ela se opunha à estratégia da luta armada e defendia a participação da oposição ao regime no processo eleitoral. O que a ditadura não queria era precisamente o fortalecimento da resistência democrática.

     Não revi nunca Djalma, mas sofremos um incidente conjunto durante o exílio. A ditadura militar nunca deixou que os exilados tivessem passaporte brasileiro, e o Itamaraty sempre se esmerou nessa antitarefa. No Chile, a Embaixada brasileira se recusou até a registrar meus filhos, que lá nasceram, como brasileiros. Pois bem,

em determinado momento de 1969, eu soube, por um diplomata amigo, que o Consulado brasileiro estava cedendo passaportes a exilados conhecidos, por pura desorganização administrativa. Lá fui eu, e obtive o meu. O mesmo também foi feito pelo exilado Almirante Cândido Aragão, que, em seguida, foi ao Uruguai e passou

a dica para Djalma Maranhão, que veio ao Chile tirar o seu. Os serviços de inteligência da ditadura no Uruguai captaram essa informação, que chegou à mesa do então Presidente, General Garrastazu Médici, que puniu os servidores responsáveis e cassou os nossos legítimos passaportes.

     Enfim, Senadora Fátima, eis aqui o meu depoimento pessoal, de pequena importância diante de outros, mas muito significativo para mim, sobre essa grande figura, hoje homenageada pelo Congresso Nacional, graças à sua feliz iniciativa.

Senador José Serra”

     Agradeço ao Senador José Serra o belo depoimento.


Este texto não substitui o publicado no DCN de 17/11/2015 - Página 9