Discurso durante a 209ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento da Srª Iná Meireles; e outros assuntos.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ELEIÇÕES, PARTIDO POLITICO. HOMENAGEM. HOMENAGEM. :
  • Pesar pelo falecimento da Srª Iná Meireles; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 24/11/2015 - Página 87
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ELEIÇÕES, PARTIDO POLITICO. HOMENAGEM. HOMENAGEM.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, TRIBUNA DA BAHIA, ASSUNTO, HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, MULHER, ORIGEM, RIO DE JANEIRO (RJ).
  • ELOGIO, DERRUBADA, VETO (VET), PROJETO DE LEI, ASSUNTO, OBRIGAÇÃO, IMPRESSÃO, VOTO, URNA ELEITORAL, MOTIVO, CRIAÇÃO, POSSIBILIDADE, AUDITORIA, ELEIÇÕES.
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, PRESIDENTE, COMISSÃO, VERDADE, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, MULHER, LUTA, REGIME MILITAR, BRASIL, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, que preside esta sessão, Srs. Senadores, senhores e senhoras visitantes no Senado, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, faço uso da palavra, nesta tarde, para solicitar, Sr. Presidente, a transcrição, nos Anais do Senado Federal, do artigo do jornalista Vitor Hugo Soares, publicado no dia 14 passado, no jornal Tribuna da Bahia, de Salvador, e no blogue do Noblat, intitulado "Sandra Moreyra: jornalismo no Brasil perde encanto," no qual Vitor homenageia a jornalista, que faleceu no dia 6 passado.

    Solicito a transcrição, pois o artigo contém uma revelação que precisa ficar registrada para a História do Brasil. Em certo trecho, o jornalista Vitor Hugo escreve - abre aspas:

O que quero lembrar aqui, por inédito, é do telefonema que recebi em casa, num agitado fim de noite de novembro, depois do Jornal Nacional anunciar que a vitória do candidato Wellington Moreira Franco, sobre Brizola, estava prestes a se consumar, apesar de todas as pesquisas de boca de urna apontarem o contrário.

Na outra ponta da linha estava um querido amigo e colega (cujo nome omito porque ele segue em plena atividade). Ao seu lado, a voz apaixonada e inconfundível de Sandra Moreyra. [Aspas.] "Estamos saindo agora da redação da Band. Soubemos, de fonte segura, que a vitória de Brizola nas urnas está prestes a ser golpeada pela fraude na apuração da Proconsult. Se ele não botar a boca no trombone já, a vitória lhe escorrerá pelos dedos. Pensamos em você e nos contatos que tem com amigos próximos no exílio de Brizola [...] ouvi Sandra gritar ao lado.

Uma luz explodiu no [meu] cérebro. Pedi tempo. Em seguida, disquei para o jornalista Paulo Cavalcante Valente, "o exilado e amigo em quem meu pai mais confia", segundo ouvira de Neuzinha (filha de Brizola), no Uruguai. Ele morava próximo ao apartamento de Brizola, em Copacabana. Contei a conversa e as informações que acabara de receber. "Meu Deus, o que posso fazer?", perguntou.

Era a deixa que eu esperava. Pedi a Paulo Valente para ir depressa ao apartamento de Brizola levar a ele as informações. "Todos os correspondentes e melhores jornalistas do mundo estão no Rio, na cobertura da conferência mundial do clima e acompanhando as eleições. Fale para Brizola pedir, a seus assessores políticos e de imprensa, a convocação de uma entrevista coletiva com os jornalistas estrangeiros, para amanhã, o mais cedo possível. E bote a boca no trombone do mundo", concluí.

Dito e feito. O resto é o que todo mundo já sabe, incluindo a confirmação da vitória de Brizola nas urnas. Nunca havia falado de público ou escrito sobre este fato. Faço-o agora, em nome da verdade dos fatos e da memória de Sandra Moreyra.

    Fecha aspas.

    Por essa importante revelação, solicito a transcrição do artigo de Vitor Hugo Soares, mas peço a transcrição desse artigo a propósito de uma decisão tomada, na quarta-feira passada, quando o Congresso derrubou o veto da Presidente Dilma que consagra o voto impresso nas eleições do nosso País.

    Eu gostaria de explicar-lhes a importância dessa decisão, até porque a urna eletrônica, tal qual nós conhecemos no Brasil, é o voto que nós chamamos de voto às cegas. Nós votamos, digitamos o número ali, mas nós não temos certeza de para quem vai ser contabilizado esse número. Todos nós que já votamos sabemos disso. A dúvida é cruel. Todas as vezes em que eu entrava numa cabine, eu digitava o número do meu candidato, mas ficava na dúvida. "Será que vai realmente para o candidato escolhido por mim ou vai para aquele candidato que o programa definiu?"

    Portanto, eu acho que corrigimos uma importante distorção no voto eletrônico, porque agora nós teremos voto eletrônico, que continua exatamente igual, com uma maquininha acoplada nessa máquina que nós já conhecemos. Ali, então, vai sair o voto impresso. Caso haja necessidade de uma auditoria da eleição, através do voto impresso, isso pode ser comprovado.

    Depois, é necessário que se diga que a fraude eletrônica é conhecida no mundo todo. Os hackers são especialistas e invadem os computadores do Planalto, do Pentágono, dos centros de maior sigilo do mundo. Imaginem numa urna eletrônica brasileira.

    Era esse o registro que eu queria fazer. E solicito a inserção deste artigo nos Anais do Senado Federal.

    Também gostaria de fazer dois registros importantes, Sr. Presidente, sobre pessoas que se doaram por uma causa, pela causa da democracia do nosso País. Faço o registro do falecimento de Iná Meireles, que aconteceu na terça-feira passada. Iná Meireles, Presidente da Comissão da Verdade, em Niterói, nascida no Rio de Janeiro, foi médica, formada pela Universidade Federal Fluminense, e faria 67 anos na quinta-feira passada.

    Ela começou sua vida política cedo, integrando o movimento secundarista através do Grêmio do Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, e, desde os 15 anos de idade, esteve filiada ao Partido Comunista Brasileiro. É preciso que os jovens do presente saibam que, nessa época, filiar-se a um partido era colocar sua vida em risco. O simples fato de pertencer a um partido político significava um risco grande de sofrer danosas consequências.

    Em 1967, participou das divergências internas do Partido Comunista Brasileiro, que levariam à criação da Dissidência de Niterói e, posteriormente, ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro, de luta armada - aos moldes da guerrilha rural. Como militante do MR-8, Iná foi morar em Curitiba, no Paraná, onde foi presa pelo Departamento de Ordem Política e Social, em uma operação coordenada pelo Centro de Informações da Marinha.

    Ainda em Curitiba, foi barbaramente torturada e transferida, dias depois, para o Complexo Naval da Ilha das Flores, em São Gonçalo, onde - absolutamente incomunicável - passou 10 dias de torturas diárias.

    Já com o processo em andamento, Iná Meireles foi transferida, em 1970, para o Presídio São Judas Tadeu e, após, para a Penitenciária Talavera Bruce, em Bangu. Condenada ainda pelo Superior Tribunal Militar, cumpriu sua pena até 10 de dezembro daquele ano.

    Faço o registro também do falecimento de Zilda Xavier Pereira. Ela morreu, neste domingo, 22 de novembro, dia em que comemorava 90 anos. A companheira Zilda de Paula Xavier Pereira, assim o digo porque pertenceu à ALN, em que eu também militei nos anos da ditadura civil militar no Brasil. Fomos companheiros de organização de resistência à ditadura.

    Pernambucana destemida e abnegada, foi uma peça chave na construção da Ação Libertadora Nacional, onde militou sob o pseudônimo de Carmem. Destacando-se como uma das comandantes da organização, foi uma inspiração para os seus militantes e um exemplo para todos os que lutaram contra a ditadura civil militar em nosso País.

    Companheira inseparável de Carlos Marighella, após o golpe de 1964, fora casada com João Baptista Xavier Pereira, com quem teve três filhos: luri, Alex e Iara Xavier Pereira, todos engajados na luta pela democracia em nosso País.

    Chegou a ser presa e torturada, protagonizando uma fuga memorável e espetacular de um hospital onde fora internada para se recuperar das sevícias a que tinha sido submetida. Apesar dos perigos e dos percalços, nunca renunciou à determinação de se manter coerente à sua luta, aos seus princípios e à sua militância. Nas câmaras de tortura dos militares, foram assassinados os seus dois filhos, dois heróis da resistência democrática: Iuri, com 22 anos, e Alex, com 23 anos.

    Perdemos a nossa Comandante Carmem. Ela estará sempre presente na nossa memória e contará sempre com a gratidão daqueles que, neste século XXI, orgulham-se de termos conquistado a liberdade, em nosso País, após os anos de escuridão impostos pelos militares, nas décadas de 60 e 70.

    Faço esse registro, Sr. Presidente, para que as gerações do presente entendam o quanto custou a democracia e o quanto a democracia tem feito de bom e de bem para este País.

    Muito obrigado.

 

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR JOÃO CAPIBERIBE EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

    Matéria referida:

    - Artigo do jornalista Vitor Hugo Soares intitulado "Sandra Moreyra: jornalismo no Brasil perde encanto".


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/11/2015 - Página 87