Discurso durante a 204ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar o 156º aniversário da Igreja Presbiteriana do Brasil e 145º aniversário da Instituição Mackenzie.

Autor
Roberto Rocha (PSB - Partido Socialista Brasileiro/MA)
Nome completo: Roberto Coelho Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a comemorar o 156º aniversário da Igreja Presbiteriana do Brasil e 145º aniversário da Instituição Mackenzie.
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2015 - Página 26
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, IGREJA EVANGELICA, BRASIL, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, VINCULAÇÃO, IGREJA, ELOGIO, IMPORTANCIA, ATIVIDADE, INSTITUIÇÃO RELIGIOSA, PAIS.

    O SR. ROBERTO ROCHA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente; Srªs e Srs. Senadores; Sr. Presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil, Rev. Sr. Roberto Brasileiro Silva; Sr. Presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Sr. Maurício Melo de Meneses; Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, Sr. Benedito Guimarães Aguiar Neto; Sr. Presidente do Conselho Deliberativo Mackenzie, Sr. José Inácio Ramos; Sr. Secretário Executivo da Igreja Presbiteriana do Brasil, Rev. Sr. Juarez Marcondes Filho, muito bom dia, quase boa tarde a todas e a todos!

    Quero cumprimentar todos que estão aqui na pessoa de um querido amigo conterrâneo, que veio também, como eu, de São Luís especialmente para esta sessão solene, que, em boa hora, o Senador José Medeiros apresenta a esta Casa.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesta feliz homenagem, duas palavras que têm o mesmo sentido, embora diferentes origens, estão reunidas: a palavra grega presbyteros, que significa ancião, e a palavra latina senatus, que tem o mesmo significado. Portanto, senadores e presbíteros, na origem, são a mesma coisa. Ambos remetem à sabedoria dos mais velhos, dos experientes, daqueles que aconselham os caminhos para os mais jovens.

    A título de curiosidade, lembro que a palavra "senil" tem a mesma raiz que a palavra "senado". E o nome científico da chamada vista cansada, que acomete os mais velhos, é "presbiopia", da mesma raiz de "presbítero".

    Vejam, então, colegas Senadores e ilustres representantes da Igreja e do Instituto Presbiteriano, que nós temos a responsabilidade de preservar o sentido etimológico que nos une, não pela condição de mais velhos, mas pela de mais sábios ou, dizendo de outra maneira, não como um status, mas como um valor.

    E é exatamente sobre valores que eu gostaria de falar, ao evocar os 156 anos da Igreja Presbiteriana do Brasil e o 145º aniversário do Instituto Presbiteriano Mackenzie, tão oportunamente lembrado aqui pelo Senador José Medeiros, a quem presto minhas homenagens.

    Pois é disso que se trata. Não se está aqui simplesmente homenageando o grandioso percurso institucional do Mackenzie, seus 45 mil alunos, suas unidades educacionais, seus prestigiados cursos. O que estamos louvando é a proeza de crescer, graças ao adubo dos valores plantados na sua fundação, há mais de um século. E o primeiro valor é a tradição humanista, na concepção calvinista, que afirma que a ética não pode ser uma imposição moral autoritária. Dessa perspectiva calvinista, a fé relaciona-se com a disposição ao trabalho disciplinado, com adesão ao pensamento racional, à capacidade de inovar e de correr riscos.

    Esse senso ético valoriza aspectos como a honestidade, a confiança, a tolerância, o autodomínio, a honra e a perseverança. Nesse sentido, a educação do Mackenzie, de raiz confessional, excluía o proselitismo religioso, acreditando firmemente que os valores cristãos são ensinados pelo exemplo, não pela doutrinação.

    No conceito calvinista de educação, a ética deriva da fé. Nesse sentido, não é a escola que está a serviço da instituição eclesiástica; é esta que está a serviço da escola, uma escola que formasse homens sábios na mente, prudentes nas ações e piedosos no coração.

    Está aí a origem do formidável sucesso do Mackenzie, não pela capacidade gerencial ou empreendedora dos seus fundadores apenas, mas pela capacidade de injetar valores em todo o seu ideário. Não é à toa que muitos desses valores deram ao Mackenzie o prestígio de um pioneirismo singular para os padrões da nossa sociedade excludente e desigual.

    Por exemplo, o valor da Igualdade, que, desde sempre, mesclou nas salas de aula alunos de diversas origens sociais. Não havia nas salas de aula preconceito de cor, credo, classe social; não havia o castigo físico, a temida palmatória, símbolo maior do modelo educacional que perdurou no Brasil por mais de um século.

    Outro valor cristão sempre presente: a compaixão, que resultou no pioneirismo da instituição das bolsas de estudo para aqueles que não podiam pagar. Ainda hoje, quase 20 mil alunos desfrutam de algum tipo de benefício com a bolsa.

    O Mackenzie também foi o primeiro centro de ensino do Brasil que fundou um centro acadêmico para dar representação aos alunos. Também foi das primeiras escolas a contar com biblioteca própria e ginásio de esportes. Aliás, a primeira partida de futebol oficial de São Paulo foi Mackenzie x Germânia, clubes que, inclusive, não existem mais.

    Em 1929, quando o crash da bolsa quebrou os cafeeiros, o Mackenzie perdoou a inadimplência dos filhos dos plantadores de café. Em 1932, o ginásio virou enfermaria para os feridos da revolução paulistana; nesse mesmo ano, dez anos antes do Senai, criou uma escola técnica de química industrial, mecânica e eletricidade.

    São esses valores, preservados ao longo da história, que ainda hoje mantêm o chamado Mackenzie, solidário, com frentes de assistência jurídica, acolhimento de crianças em vulnerabilidade social, treinamento de professores de outros Estados e de povos indígenas.

    Portanto, o Mackenzie é o fruto da conjugação da ética do trabalho com os valores cristãos da tolerância, da compaixão, da humildade, da sagrada igualdade entre todos os humanos, valores tão necessitados nos dias de hoje em todo o mundo, especialmente lá, onde aprendemos o significado de liberdade, de igualdade e de fraternidade.

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO ROCHA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - MA) - Sr. Presidente, vivemos tempos de intolerância, de exclusão, de ambições e de vaidades.

    Ainda estamos atônitos com a escalada de violência, alimentada pelos discursos da fé. A grande lição que o Mackenzie nos dá é que não só é possível conviver com diferentes visões de mundo, mas é possível também afirmar sua própria visão pelo exemplo, sem imposição de verdades, sem proselitismo e com genuína aceitação da diferença.

    Meus cumprimentos a todos que fazem a Igreja Presbiteriana e a Escola Mackenzie. Como disse no início, cumprimento, ao final, em nome de todos vocês que estão aqui neste plenário, o meu querido companheiro, advogado, César Freitas.

    Um abraço a todos.

    Parabéns, Presidente! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2015 - Página 26