Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da aprovação de projeto de autoria de S. Exª que obriga beneficiários de bolsas de estudos de programas da União a prestarem colaboração a estabelecimentos públicos de educação básica.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Defesa da aprovação de projeto de autoria de S. Exª que obriga beneficiários de bolsas de estudos de programas da União a prestarem colaboração a estabelecimentos públicos de educação básica.
Aparteantes
Ana Amélia, Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/2015 - Página 130
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • DEFESA, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, ASSUNTO, OBRIGATORIEDADE, REALIZAÇÃO, CONFERENCIA, LOCAL, ESCOLA PUBLICA, APRESENTAÇÃO, ESTUDANTE, MESTRADO, CURSO DE DOUTORADO.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho aqui para pedir apoio, Senadora, aos meus colegas, às minhas colegas do Senado para a votação, que provavelmente haverá hoje, de uma proposta minha, para a qual a Senadora Ana Amélia fez um relatório, no momento, muito positivo.

    É um projeto que tem uma história, uma historinha.

    Eu estava assistindo aqui, uma vez, Senador Reguffe, a uma palestra desse grande cientista brasileiro chamado Marcelo Gleiser, um dos maiores cosmólogos do mundo hoje, um dos brasileiros que caminham para o Nobel. No meio da palestra, aqui no Instituto Legislativo do Parlamento, ele falou que seria positivo, Senador Moka, para o Brasil, para a educação, se os nossos mestres e doutores, quando voltassem de seus cursos, fizessem palestras nas escolas públicas.

    Primeira razão de que isso seria bom: ele disse que quase a totalidade de nossas crianças jamais viu, em carne e osso, um cientista. Elas conhecem jogadores, políticos, artistas, mas não cientistas, diferentemente de muitos outros países. Essa simples aproximação de um cientista com nossas crianças traria um efeito positivo, uma admiração por algo que não inspira confiança, por não ser algo conhecido.

    Quando ouvi essa ideia do Marcelo Gleiser, ali mesmo preparei a minuta de um projeto de lei. Esse projeto de lei, Senadora, entrou no Senado cinco anos atrás, fez todo o percurso, passou pelas comissões. Foram cinco longos anos de debate para uma coisa tão óbvia, simples, que custa zero. Zero. O cientista mora na cidade, alguém paga a gasolina dele, e ele faz uma palestra ali.

    Pois bem, tudo feito, passou, de forma terminativa, pela CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça. Quando chegou aqui, o Líder do Governo pediu que fosse submetida ao Plenário. Todos sabem que, quando é terminativo, o projeto, depois de aprovado, já vai para a Câmara dos Deputados. Eu contava com mais três, quatro, cinco anos lá, para termos essa lei, que costumo chamar de Lei Gleiser.

    Foi parada. A matéria ficou parada.

    Ontem, o Partido dos Trabalhadores, a pedido - eu soube depois - do MEC, fez um documento contra esse projeto, pedindo que ele fosse impedido de seguir adiante, ou seja, que depois de todo o esforço de cinco anos, depois da aprovação pelo Senado, que fosse arquivado.

    Eu quero aqui fazer um apelo, porque ele está na pauta de hoje: que não parem esse projeto.

    Eu fiquei muito contente quando conversei com o Senador Humberto, que é Líder do PT, cujo gabinete fez esse documento, e ele próprio manifestou que não via nada pessoal contra o projeto, que tinha até simpatia por isso. Mas o MEC alegou uma razão: é que há um projeto de lei, que nada tem a ver com isso, Senadora, que não foi aprovado, que está aí rodando, mais atrasado do que o nosso, que diz que alunos formados na área de saúde deverão prestar serviço. É outra coisa. É prestar serviço, não é fazer palestra. E é da área de saúde, não das áreas científicas em geral, de que eu estou atrás. Eu quero é levar cientistas para as escolas. E esses cientistas vão, além de falar das suas ciências e dos seus trabalhos, se expor às crianças, e isso é extremamente positivo.

    Por isso, quero pedir à Senadora Simone Tebet que ajude a passar esse projeto, que não seja barrado aqui, como poderá ser, até por um descuido qualquer, porque não vejo nenhuma empolgação dos Senadores do PT ou do Governo para barrarem. Fizeram por algo simples vindo do MEC, que não estudou, que não analisou, que não apurou a realidade. Até porque, se há algumas ressalvas, como, por exemplo, Senadora, a ideia que eles reclamam agora é de que ali estariam só os alunos do Prouni e os alunos do Ciência sem Fronteiras, quando chegar à Câmara, a gente muda isso, se for o caso, mas não podemos parar. Porque eu darei entrada imediatamente a outro igualzinho, mas são cinco anos perdidos. E isso significa que as crianças das escolas brasileiras perderão cinco anos para ter esse contato com cientistas.

    Eu não estou pedindo isso em troca do dinheiro que esses cientistas receberam para os seus cursos. Não! Não é um pagamento que eles vão fazer pelo dinheiro que receberam dos seus cursos. Não, isso eles vão pagar com a ciência, vão pagar com o trabalho, vão pagar com o desempenho de suas funções.

    Eu quero é trazer um benefício para as crianças, e não podemos jogar isso fora.

    E antes de passar a palavra a V. Exª, Senadora Ana Amélia, eu não sei se V. Exª estava em uma reunião, quando realizamos uma audiência para discutir o Ciência sem Fronteiras, mas alguns alunos do Ciência sem Fronteiras manifestaram felicidade, satisfação, orgulho de terem feito o que estou defendendo em meu projeto de lei lá nos Estados Unidos durante o seu período. Mais de um disse: "Lá, nós somos levados a fazer palestras nas escolas públicas".

    Por que lá é bom e aqui é ruim? Eu, então, peço aos colegas Senadores e às colegas Senadoras, aos Senadores da Base do Governo, aos Senadores e às Senadoras do PT que, por favor, deixemos passar para a Câmara esse projeto simples e que poderá trazer grandes vantagens para as nossas crianças, na educação delas e naquilo de que o Brasil tanto precisa, que é a área de ciências.

    Senadora Ana Amélia.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador Cristovam, nossa Presidente, eu fico muito grata em poder saudar a presença da dona Fairte Tebet. Ela é viúva e um ex-Presidente desta Casa, o Senador Tebet, pai da nossa querida Simone, que, por coincidência - nada acontece por acaso -, está presidindo a sessão. Seja bem- vinda, com seus irmãos gêmeos. Sabemos que é o seu aniversário. Muitas felicidades. O Senador Cristovam, que é um apreciador das mulheres, muito bem casado,...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Amigo do Tebet.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - O Senador Moka está morrendo de inveja porque sou eu quem está fazendo a saudação para a Dona Fairte. Ele está ali impaciente, mas vai falar depois também. Seja bem-vinda. Feliz aniversário! Senador Cristovam, vamos usar estas palavras: solidariedade e compartilhamento do saber. Eu fiquei muito honrada em relatar o projeto de V. Exª, porque, na verdade, quem sabe tem o dever humanitário de compartilhar com os estudantes das escolas públicas, e mesmo das particulares,...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Isso.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... tudo aquilo que aprendeu na área das ciências, das ciências humanas e da ciência propriamente dita. E para aqueles que tiveram o privilégio, em nosso País de tantas injustiças, de fazer o Ciência sem Fronteiras, esta é uma grande oportunidade de compartilharem aquilo que receberam. Também isto tem que ser visto, Senador: não é retribuir, é compartilhar aquele saber que adquiriram fora, em tantos lugares. Podem até descrever o lugar onde viveram, a cultura daquele país. Não é preciso necessariamente falar sobre o aprendizado - é importante -, mas compartilhar tudo o que viram, tudo o que viveram com aqueles meninos de escolas públicas. E eu penso que isso é de uma riqueza muito grande, porque é um testemunho que eles irão dar. Então, V. Exª foi muito feliz, e eu quero dizer que estarei aqui no plenário para dar apoio à aprovação desse projeto, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senadora. A senhora trouxe algo que não estava nas minhas ideias, que é trazer a vivência deles no exterior.

    Realmente, isso é importante: um jovem desse contar em uma escola que o transporte público funciona bem já é alguma coisa; dizer que ele andava nas ruas sem medo de assalto já é uma coisa positiva. Passar essa imagem da vivência deles no exterior é uma das finalidades do Programa Ciência sem Fronteiras. Eu acho que essa é uma das vantagens.

    Por isso, vamos aprovar este projeto, que já deveria estar, há meses, lá na Câmara dos Deputados, mas que ainda está parado aqui.

    Senador Moka.

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) - Senador Cristovam, quero primeiramente dizer que regimentalmente foi requerido para passar aqui, mas tenho certeza de que V. Exª não vai ter nenhuma dificuldade no plenário. Até porque eu acho que é brilhante essa ideia de fazer com que um cientista vá a uma escola. Eu fico imaginando isto, eu que dei aula de Química durante 15 anos da minha vida: ter na minha sala a presença de um cientista, de alguém que realmente, no dia a dia, faz pesquisa, gera conhecimento.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) - Porque a educação é exatamente isso. As universidades têm a obrigação de gerar conhecimento, não só de transmitir. E normalmente quem faz isso, quem gera conhecimento, é o cientista, é o pesquisador. Ao tempo em que lhe digo que terá o meu apoio, eu aproveito para saudar... Já levei aqui... A Senadora Simone queria até que eu presidisse no lugar dela, mas eu disse: "Não, não quero presidir". Quer dizer, não sabia que a D. Fairte estaria aqui junto com o Rodrigo e com o Ramito, os seus irmãos. Tenho certeza de que o Ramez neste momento está muito feliz de ver a sua esposa ao lado de sua filha querida e, por coincidência, presidindo uma sessão aqui no Senado Federal da República. Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu é que agradeço, Senador Moka.

    Quero dizer da admiração que eu sempre tive por seu pai, Senadora, conversávamos muito aqui. Ele faz falta, a lembrança que nós temos dele nos traz à mente a falta de uma figura impecável, na maneira como andava, vestia, falava. Foi um grande Senador que nós tivemos.

    Era isso, Senadora.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2015 - Página 130