Pela Liderança durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao atual Governo e considerações sobre as crises política e econômica por que passa o País.

Autor
José Medeiros (PPS - CIDADANIA/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao atual Governo e considerações sobre as crises política e econômica por que passa o País.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/2015 - Página 133
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • APREENSÃO, RELAÇÃO, SITUAÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA, CRITICA, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, ESTELIONATO, CAMPANHA ELEITORAL, AUSENCIA, ESTABILIDADE, MANDATO ELETIVO, REALIZAÇÃO, AJUSTE FISCAL, DEFESA, NECESSIDADE, MODERNIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA, INVESTIMENTO, OBRA PUBLICA, DISCUSSÃO, GOVERNO FEDERAL, OPOSIÇÃO, OBJETIVO, SOLUÇÃO.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Cumprimento a Srª Presidente, as Srªs e os Srs. Senadores e todos os que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado e aqui na Casa também.

    O histórico da evolução política dos povos revela a necessidade da existência de mecanismos para enfrentar crises institucionais.

    Contextos há, no Brasil ou em qualquer outro país, em que as dificuldades de governança degeneram para o âmbito do ingovernável, e os sistemas políticos lidam melhor com tais contextos quando apresentam saídas legais para as crises.

    Nesse sentido, parece-me incontestável o fato de nos encontrarmos, atualmente, em severa crise política. Severa em sua profundidade e, pior, heterodoxa, incomum em seu nascedouro.

    É possível afirmar, sem receio, que a presente instabilidade política tem por fonte imediata o processo eleitoral do ano passado.

    Com efeito, meses de malabarismo contábil, aliados a mágicos esforços de marketing eleitoral, serviram para a apertada vitória nas urnas.

    Todavia, o pleito, idealizado como o instrumento maior de legitimação do exercício do poder, acabou, ao revés, por se tornar o epicentro de todo o abalo político que ainda reverbera no País.

    A campanha vitoriosa em 2014 conseguiu reescrever, em linguagem publicitária, os quatro anos anteriores, escondendo a latente incorreção da política econômica, a patente inaptidão política e a crescente ineficiência administrativa da candidata reeleita.

    Mais do que isso, o período eleitoral projetou um cenário artificial, conveniente em termos eleitorais, mas altamente frágil em suas possibilidades - donde se falar tanto, hoje em dia, em estelionato eleitoral. Vendeu-se uma ilusão; comprou-se gato por lebre; amargura-se a frustração e o sentimento de vazio político.

    O certo é que, por mais ardilosa que possa ser uma estratégia de campanha, o máximo que ela pode garantir é uma vitória política meramente nominal. Aritmética e fugaz. Momentânea e frágil. Uma verdadeira bolha eleitoral, pronta para estourar em face da imposição do cotidiano político.

    Nobres colegas, todo processo de legitimação política principia pelo voto, pelo sufrágio - e isso não se discute. Mas a sua consolidação se dá mesmo é pela conquista permanente da confiança, pela aglutinação contínua dos "fatores reais de poder" - para me valer da famosa expressão de Ferdinand Lassalle.

    Essa nota essencial o atual Governo não possui. Como bem lembrou o Ministro Ayres Britto em recente entrevista, o Presidente da República exerce, teoricamente, uma tripla chefia: comanda a administração pública; representa, internacionalmente, o Estado brasileiro; e lidera o governo propriamente dito.

    Pergunto: é possível reconhecer alguma dessas qualidades em nossa Presidente?

    A despeito da inexplicável fama gerencial, a estrutura administrativa federal caminhou, nos últimos anos, para um quadro de acentuada ineficiência: inchaço, irracionalidade e altas doses de disfunção burocrática.

    Assistimos ao lançamento de inúmeros programas governamentais, até valorosos em sua intenção, porém desacompanhados do mínimo de preocupação com controle e métrica de resultados. Instrumentos de retórica gerencial que tanto têm custado aos brasileiros...

    No plano internacional, a postura estratégica cedeu passo à afinação ideológica, resultando num crescente processo de isolamento do Brasil e do deteriorado Mercosul. O último capítulo dessa história foi a assinatura plurilateral do Tratado de Livre Comércio Transpacífico - preocupante isso. Sobre ele pude falar aqui desta tribuna recentemente.

    É na seara do governo, contudo, da condução política do País mesmo, que a situação se afunila para um prenuncio de insustentabilidade.

    Quanto à política econômica, assistimos ao fracasso de um ciclo. Um Estado ingenuamente projetado para comandar o crescimento econômico logo revelou a sua genuína vocação para âncora. Sentimos, agora, a ressaca dessa aventura, na terrífica mescla entre inflação e recessão.

    Presenciamos, ainda, Srª Presidente, o vexame do reconhecimento velado desse fracasso. Velado, pois nunca vocalizado. Nunca objeto de discurso, mas causa direta do desesperado recurso a um declarado eleitor de seu adversário no pleito para o comando da economia.

    Da nova matriz econômica da Presidente Dilma, restou apenas a profunda cicatriz do ajuste fiscal, agora posto na conta do Ministro Levy pelo próprio comissariado do Partido presidencial.

    Vale, aqui, abrir um parêntese para mencionar dados recém-divulgados pela Receita Federal que ilustram o descontrole fiscal dos últimos anos: de 2010 a 2018, o Brasil terá acumulado R$501,4 bilhões em desonerações. Aproveito para citar o ilustre jornalista Fernando Rodrigues, "para acabar com essa farra, seria necessário um governo forte, popular e bem articulado politicamente para enfrentar os lobbies. Não é o caso neste momento", fecho aspas.

    Pois bem. A luta fratricida do Partido dos Trabalhadores e o caos econômico bem revelam a inaptidão do núcleo duro do Governo para ditar os rumos do País. Bem, pelo menos o que deveria ser o núcleo duro, pois sabemos que a canhestra figura da "terceirização do governo" passou a constar do anedotário nacional.

    São emendas liberadas por decreto e a toque de caixa para a alteração da meta fiscal; dança das cadeiras no comando da articulação política; reforma ministerial por encomenda; delivery de cargos à minguada Base aliada. Tudo resultando no amesquinhamento da grande Política - aquela com P maiúsculo.

    E o pior, nem numa perspectiva pragmática essa estratégia tem dado o retorno esperado: o Governo continua a experimentar o dissabor de frequentes derrotas neste Parlamento. Nem mesmo a flexibilidade disfuncional e perversa do presidencialismo de coalização serve mais como tábua de salvação.

    Vivemos tempos desafiadores, Srªs e Srs. Senadores. Lembro-me de ouvir, não muito tempo atrás, o alerta do Senador Aloysio, em citação ao inesquecível Brizola, no sentido de que "governar é vaquejar".

    Este, mais do que nunca, é o desafio que se impõe ao comando central do País. É preciso reunir os tais "fatores reais de poder". É necessário indicar aos mais diversos planos do espectro socioeconomico a firmeza indispensável à construção de saídas e soluções.

    Isso se faz com espírito público aberto e ferrenha determinação cívica, sempre precedidos do mais desembaraçado diálogo.

    Numa frase, o que o momento requer é engajamento profundo, sob pena de o penhor popular conferido pelas urnas ceder lugar ao inevitável pendor das ruas pela substituição do poder.

    É hora de pôr as rédeas no tempo e dar carona ao destino, como dizia o poeta. De outra forma, assistiremos à história empurrar a Presidente Dilma...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - ... por quem nutro genuíno respeito e admiração pessoal, da admirável condição de predestinada, que costuma marcar aqueles que alcançam a Presidência, à vexaminosa posição de predestinada, de quem tenta se esconder do futuro, mas é pego pelo presente. E política é momento, é o eterno agora.

    As inconsistências do atual Governo falam por si: estão estampadas nas manchetes dos jornais de todo dia, de todo momento, de todo agora. São posturas e medidas que assumiram um tom de agravo e ofensa à consciência média dos cidadãos brasileiros exatamente porque o Partido da Presidente surgiu, no início dos anos 1980, sob a bandeira da ética na política e provou-se, não obstante, o protagonista das mais graves crises de ética que conhecemos nas últimas décadas.

    O momento é grave para todos os que sonhamos com um Brasil melhor, e o Congresso Nacional haverá de agir, em fina sintonia, com a vontade popular. Cada Parlamentar fazendo a sua parte.

    O Governo, e o que resta de sua Base aliada, foram eleitos para liderar - e este é um ponto muito importante, Srªs e Srs. Senadores -, conduzir, dar rumo à coisa pública. Os Parlamentares de oposição foram igualmente eleitos, mas para fiscalizar, apontar os erros, desvios e até desmandos do Governo. Não cabe a esses apontar o rumo e a saída. Não cabe a esses governar. Cabe, sim, a quem foi eleito para isso. Essa é a dialética inerente à política. Sem que o fiel cumprimento do dever de oposição possa ser qualificado como golpismo, numa tentativa desesperada da situação de jogar uma cortina de fumaça sobre a sua inaptidão para o governo.

    Se o Governo não funciona, se padece da paralisia que acomete os desprovidos de legitimação do poder popular substancial, é preciso que este Parlamento suba à ribalta e dê voz ao povo. Mas suba ao palco para encarnar, e não encenar, o espírito das ruas. E o roteiro para tanto não é outro senão o mais valioso monumento jurídico-político que este Congresso mesmo produziu.

    É nos marcos dela, Constituição da República, que haveremos de encontrar a saída para a crise que experimentamos amargamente.

    É nos ditames da Magna Carta, conciliadora entre o trabalho e a livre iniciativa, que devemos tomar a frente da discussão econômica, por exemplo.

    O que nos cabe, mais do que nunca, é discutir, convocar os responsáveis pela condução da economia, questionar, propor, deliberar, aprovar, rejeitar. Enfim, atuar com a mais vitalizada proatividade política e a mais responsável mentalidade cívica.

    Nesse ponto, Sr. Presidente, destaco a louvável e oportuna iniciativa do Presidente Renan Carneiros com a sua sistematizada Agenda Brasil. Trata-se de um inequívoco sinal à população de que, a despeito da instabilidade política, os esforços não podem parar.

    Esforços, por sua vez, que - entendo - na atual conjuntura, devem ser direcionados à recuperação e à modernização da infraestrutura.

    Após a desastrada escolha do estímulo pela via superficial do consumo, já passou da hora de levarmos a cabo, com efetividade, uma verdadeira revolução estrutural em nosso País. Até agora, foram muito tímidas as iniciativas adotadas pela Presidente Dilma. E, a julgar pela paralisação das obras do PAC, continuarão da mesma forma. Aproveito para fazer um parêntese e cobrar, como disse que faria cada vez que subisse nesta tribuna, o término das obras da BR-364, que liga Rondonópolis a Cuiabá.

    É nos trilhos da Constituição, Sr. Presidente, ainda, que devemos encarar, de frente, a crise política, contábil, ética, de responsabilidade, enfim. Cabe-nos, nos limites da legalidade constitucional, defender justamente a Carta da República de ataques institucionais que ela esteja a sofrer.

    No exame das contas presidenciais, por exemplo, haverão de estar otimizadamente conjugadas responsabilidade e coragem - e aqui...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - ... eu me refiro ao que V. Exª disse hoje no Colégio de Líderes: a responsabilidade que teremos para este momento que o País passará - para defendermos essa conquista republicana tão subestimada que responde pelo nome de transparência fiscal.

    Já me encaminho para o final, Sr. Presidente.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - O impasse político é da vida dos povos e próprio da democracia. Se há motivos para o impeachment, em qualquer sistema, é papel do Parlamento, sem descurar da legitimidade jurídica, examinar a conveniência política de tal desdobramento, mas somente na perspectiva de que este instrumento constitucional venha a oferecer ganhos ao País. Ganhos de legitimidade; ganhos institucionais; ganhos de maturação política; ganhos, enfim, da nossa consciência coletiva enquanto Nação.

    Cumpre-nos fazer deste Congresso o ponto de unidade do País em uma quadra de tamanho acirramento político e ideológico. Diante da força dos fatos que se avolumam, não podemos nos esquivar.

    Mais do que o bom combate, devemos travar o mais qualificado debate, pois é dele que emergirão os novos rumos para o País.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2015 - Página 133